quinta-feira, 7 de maio de 2009

"i" de quê ?

O que significa o "i", título do diário hoje aparecido nas bancas ? As hipóteses são mais que muitas e cada um tirará, com o tempo, as suas próprias conclusões. À partida, todas as conjecturas não passarão disso mesmo. A pergunta, não é, pois, mais que um exercício de retórica, e não tem outro fim que não seja o de servir de intróito a este comentário.
Dentre as possíveis alternativas, admito, como resposta ao exercício, que o "i" tanto poderá ter o valor de informação ou de imprensa, (termos que, do ponto de vista do seu significado, terão de ser considerados como anódinos quanto à linha editorial que se pretende seguir) como o de independente. Como leitor gostaria que o verdadeiro significado do "i" fosse este, pois é evidente que existe um claro défice em matéria de independência na comunicação social escrita (e não só) que circula no nosso país, fenómeno que, aliás, se observa um pouco por todo o mundo. Ainda recentemente era salientado no relatório anual da Freedom House, datado de 2 deste mês, que a liberdade de imprensa tem vindo a decrescer. [Entre parêntesis diga-se que os diversos países se encontram divididos, consoante a liberdade de imprensa, em três categorias: " livres" onde se integram 70 países, incluindo Portugal, no honroso 18º lugar; "quase livres" categoria que engloba 61 países, incluindo, surpreendentemente a Itália, Israel, Brasil e Índia; e "países nada livres", categoria que conta com 64 países, incluindo a Rússia, China, Cuba, Coreia do Norte, Birmânia e Líbia (o que não é propriamente uma surpresa)].
O mesmo relatório dá conta que as pressões sobre os jornalistas não são hoje um exclusivo dos governos (lá onde existam) mas têm também origem nos que controlam o seu capital, como acontece em Itália (aqui citada, a título de exemplo) com a concentração dos media nas mãos de Berlusconi, factor que levou a Freedom House a fazer transitar a Itália de "país livre" para "país quase livre". A situação em Portugal não tem, como é evidente, paralelo com o que se passa em Itália, até porque não existe em Portugal a concentração verificada em Itália. Mas cá, como lá, as pressões dos donos da comunicação social (escrita e não só) existem e cá, como em todo o mundo, tais pressões tenderão a acentuar-se com a actual crise económica, porque esta coloca os jornalistas, sob a ameaça de desemprego, numa posição bem mais vulnerável. A perda de independência dos jornalistas põe, por sua vez, em crise a sua credibilidade, fenómeno que o jornalista Miguel Gaspar, na sua coluna do "Público" de hoje, não esconde, ao afirmar que " o jornalismo enfrenta uma crise aguda de credibilidade" e ao reconhecer que "a questão central para os jornalistas é hoje restaurar (a) credibilidade do seu trabalho (...). Ele, como jornalista do "Público", deve saber, bem melhor do que eu, do que fala.
Toda esta arenga a propósito de quê, perguntar-se-á o benévolo leitor e eu respondo: toda esta conversa serve para dizer, além do implícito, que qualquer jornal, incluindo o "i", que opte por seguir uma linha editorial independente (ou seja, livre de pressões) tem hoje fortes possibilidades de vingar, por falta de credibilidade da concorrência, incluindo o próprio "Público" que segue, actualmente, uma linha editorial definida pela "voz do dono" (em sentido amplo) e, como tal, comprometida. Qualquer leitor habitual, como eu, o pode confirmar. Hélas!

Sem comentários: