sábado, 19 de setembro de 2009

"Acabado Silva"

O comportamento de Cavaco Silva, no caso das suspeitas sobre as alegadas escutas, é indigno de um Presidente da República.
Explico-me: não sei se Cavaco Silva, em Abril de 2008, tinha ou não razão para suspeitar que os serviços da Presidência da República estivessem a ser vigiados por parte do Governo. Os dados até agora vindos a lume indiciam que não, pois a investigação levada a cabo pelo "Público" a pedido do Presidente, pelo interposto assessor Fernando Lima, acabou por concluir que as suspeitas que recaiam sobre Rui Paulo Figueiredo (adjunto do primeiro-ministro) careciam de fundamento.
Há, no entanto, dois pontos sobre os quais não tenho quaisquer dúvidas:
Primo:
É inadmissível que um Presidente da República exponha a um jornal, seja ele qual for, ainda que por interposta pessoa (que, no entanto, invoca o mandato presidencial) as suas suspeitas sobre um assunto de tamanho melindre e menos admissível é ainda que peça ao mesmo jornal que leve a cabo uma investigação sobre essas suspeitas e que as publicite. No mínimo, revela uma imprudência e uma falta de sentido de Estado incompatível com o cargo que ocupa. Se tinha dúvidas, podia e devia falar, antes de mais, com o primeiro-ministro, com quem reúne semanalmente, para expor as suas dúvidas e fundamentos ou podia recorrer a Serviços do Estado com competência na matéria, como a Procuradoria Geral da República. Isto, partindo do pressuposto de que tinha, ou tem, tais dúvidas e fundamentos, o que, pelo que acima fica dito, me parece altamente improvável. Já alguém, melhor informado que eu, falou em delírio e paranóia e não serei eu a contrariar tal opinião.
Secundo:
Perante as notícias publicadas pelo "Público", em 18 e 19 de Agosto, dando conta das alegadas suspeitas, Cavaco Silva, porque o seu nome era expressamente invocado, tinha a estrita obrigação de esclarecer se a notícia era ou não fundada. No caso de ser verdadeira, impunha-se que Cavaco Silva apresentasse os factos que sustentavam as suspeitas. No caso contrário, o desmentido e a imediata demissão do assessor eram imperativos. Não é preciso ser Presidente de coisa nenhuma para tomar uma ou outra decisão, consoante o caso. Qualquer pessoa honrada era assim que procederia. O seu silêncio permitiu e permite que se tenha instalado na vida política portuguesa um clima de suspeição generalizada que põe em causa todos os órgãos de soberania, a começar pela Presidência da República, facto tanto mais grave quando é certo que estávamos, na altura, e estamos, agora, em vésperas de um acto eleitoral de extrema importância para a vida do país. E, como é evidente, o seu silêncio e as suspeições, por ele geradas, afectam de forma grave a luta política, agora já sob a forma de campanha para as eleições legislativas. Assim sendo, é pelo menos, hipócrita, a atitude tomada por Cavaco Silva ao recusar comentar o caso, na sequência da história publicada ontem pelo Diário de Notícias, sob o pretexto de que estamos em campanha eleitoral. E é hipócrita, porque Cavaco Silva sabe que, quer ele queira, quer não, as suspeições continuam e o caso inquinou já o debate político, como se pode ver por várias e insistentes declarações da sua "pupila" Ferreira Leite, facto que parece indiciar que é isso mesmo o que Cavaco Silva deseja e quer.
Perante o comportamento do actual Presidente da República, a personagem de ficção "Acabado Silva" desceu ao mundo real. O Presidente Cavaco Silva acabou. Para mim, pelo menos.
(Imagem foi tirada daqui, mas suponho que os direitos de autor pertencem às "Produções Fictícias" a quem cumprimento e felicito pelo acerto da sua premonição)

1 comentário:

capitolina disse...

Estou inteiramente de acordo consigo, Francisco. Há aqui uma indignidade que não cabe no comportamento de pessoas dignas. É por demais óbvio, parece-me.