sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Orçamento do Estado: um problema para a direita

«A direita está um pouco perdida, e não é para menos. Depois de todo o barulho pré-Orçamento, com uma mexida de impostos noticiada quase todos os dias, o argumentário estava preparado.

Dando de barato a legitimidade para o PSD e o CDS reclamarem contra o aumento de impostos, o problema foi outro. É que, mais uma vez, o Governo trocou as voltas a quase todos. E também à direita. 

É um exercício que consolida com pouca ou nenhuma "austeridade", que prevê um crescimento naturalmente incerto mas não extraordinariamente fantasioso, devolve rendimentos e faz um ajustamento estrutural. (...)

Tal como Centeno "escreveu direito por linhas tortas" - no feliz título de um trabalho publicado ontem pelo Negócios - ou seja, vai conseguir cumprir o défice por caminhos muito diferentes dos anunciados, em 2017 há também essa ausência de linearidade simplista. Resultado: a direita manteve os argumentos já preparados antes de conhecer os números, mesmo que o aumento da receita seja limitado. 

(...)

Surgem agora, naturalmente, os paladinos do crescimento. Que estiveram escondidos durante anos, vestidos de paladinos da consolidação e que agora criticam a rigidez de Mário Centeno no que toca às contas públicas, com efeitos nefastos sobre a economia. (...)

Agora, no Orçamento para 2017, mais de metade da consolidação prevista vem do crescimento da economia (PIB maior, logo menor défice em função do PIB). A provar que, quando se está a subir, todos os santos ajudam. 

Há alguns truques (o BPP e os dividendos do Banco de Portugal como ajuste estrutural, por exemplo) e muitas incógnitas no documento, que está dependente de factores externos que podem obrigar novamente a um maior aperto na despesa. Mas ninguém se atreveu a dizer que não existe uma possibilidade razoável de o exercício dar certo. E só esta possibilidade é uma enorme diferença face aos últimos anos, e um problema para a direita resolver

(Tiago Freire; "A subir todos os santos ajudam". Na íntegra: aqui)

3 comentários:

ginginha disse...

Concordo , sim senhora! Centeno saiu-se bem: "Escreveu direito por linhas tortas."

Majo Dutra disse...

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Confio em Centeno.
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Francisco Clamote disse...

Já somos três.