segunda-feira, 13 de julho de 2015

Um anão em bicos de pés

Passos Coelho reclamou para si próprio a paternidade da ideia que terá contribuído para ultrapassar o último obstáculo à obtenção do acordo entre a Grécia e os demais países da zona euro. Afirmou ele:"Devo dizer até que, curiosamente, a solução que acabou por desbloquear o último problema que estava em aberto, que era justamente a solução quanto à utilização do fundo [de privatizações], partiu de uma ideia que eu próprio sugeri. Quer dizer que, por acaso, até tivemos uma intervenção que ajudou a desbloquear o problema".
Há que reconhecer que é extremamente curioso que o mérito pelo desbloqueamento da situação tenha de ser atribuído a um indivíduo mais conhecido pelas suas mentiras do que pela sua criatividade, como é o caso de Passos Coelho. 
Mais curioso ainda é o facto de ainda não ter aparecido nenhum outro participante na cimeira do Eurogrupo a atribuir a Passos Coelho a paternidade da ideia luminosa.
Diz o povo que "elogio em boca própria é vitupério".  E com razão. É óbvio que Coelho não conhece o ditado. Se o conhecesse teria evitado cair, uma vez mais, no ridículo.
(Citação e imagem daqui)

"Parem esse homem"!

«A maior ameaça que paira sobre a Europa hoje não é a de Putin ou do fundamentalismo islâmico, dos EUA ou da China, dos eurocéticos ou dos populistas. A maior ameaça que paira sobre a Europa hoje é a que representa Wolfgang Schäuble, ministro das finanças da Alemanha.

Peso bem as palavras. Schäuble está no coração do poder. O que os outros só podem tentar fazer a partir de fora, ele conseguirá com muito mais eficácia ao liderar uma corrente de opinião entre os governos da zona euro que, se levar a sua avante, não poderá resultar senão na destruição daquilo que foi construído por todas as gerações europeias do pós-guerra.

Isto começou há alguns anos, quando Schäuble se auto-proclamou uma espécie de supremo tribunal europeu — arbitrário, parcial, absolutista e, pior do que isso, sistematicamente errado. Qualquer gesto de solidariedade ou partilha no quadro da União Europeia, dos eurobonds à mutualização da dívida, era excluído por Schäuble sob o pretexto de que os tratados não o permitiam. No entanto, ao seu olhar cirúrgico escaparam construções de base legal duvidosa ou puras ilegalidades, da troika às políticas desta, para não falar do próprio eurogrupo que se descobriu recentemente que era “puramente informal” enquanto governa os destinos de 350 milhões de europeus.

Schäuble sabe que não precisa de ter razão. Basta-lhe ser ministro das finanças do país mais rico da UE. Nenhum outro governo lhe tem feito frente. Na verdade, das poucas vezes que o verdadeiro Tribunal de Justiça da União tem sido chamado a pronunciar-se sobre as políticas centrais da zona euro há uma regularidade que se verifica: as medidas a que Schäuble se opunha são compatíveis com os tratados; muitas das que ele defendeu são de legalidade duvidosa.

A situação piorou agora quando Schäuble decidiu tirar da cartola que a reestruturação da dívida grega era impossível segundo os tratados, mas que seria muito necessária e até razoável desde que a Grécia saísse do euro por um mínimo de cinco anos. Para tal citou o artigo 125 do Tratado de Funcionamento da União Europeia que, muito claramente, não fala da zona euro, mas da própria União. Se este artigo fosse impedimento a uma reestruturação (não é) a Grécia teria de sair da própria União. Mas, mais uma vez, Schäuble sabe que há muitas formas de fazer a reestruturação da dívida grega de forma legal e compatível com os tratados. Só que, antes de lá chegar, deseja impôr aos gregos outras condições ainda mais escandalosas, nomeadamente forçando-os a consignar valores do estado num montante de 50 mil milhões de euros a um fundo controlado pelos credores.

Esta exigência, que parece vinda do pior colonialismo e imperialismo do século XIX, não pode ser entendida senão como uma provocação com o intuito de fazer fracassar qualquer negociação. Não é por acaso que os Verdes alemães anunciaram levar Schäuble ao Tribunal Constitucional do seu país por violação do objetivo constitucional de participar na construção de uma Europa “democrática e social” (artigo 23 da Constituição Alemã).

Têm toda a razão. Wolfgang Schäuble não é apenas um perigo para a Europa, mas também uma vergonha para a Alemanha. Parem esse homem, se não for já demasiado tarde.»
(Rui Tavares; "O Sr. Anti-Europa")

domingo, 12 de julho de 2015

Que parecidos são!

Dir-se-ia que são gémeos, não fora a diferença de idades. Aparentemente, o cavalheiro é mais velho.
(reeditada)

sábado, 11 de julho de 2015

"O frágil estado da nação"

A resposta à pergunta sobre o estado da nação parece-me óbvia e em perfeita sintonia com a opinião de Fernando Teixeira dos Santos expressa em texto com o título em epígrafe:

"(...)
Passados os quatro anos da legislatura, a pergunta que se impõe é: estamos hoje melhor ou pior do que em 2011? Sem dúvida que há alguns indicadores que melhoraram, mas não confundamos a floresta com algumas árvores. Para responder àquela questão só há um critério, que é o de saber se o bem-estar dos portugueses e as perspetivas da sua evolução melhoraram. A resposta é negativa. As condições de vida de muitas centenas de milhares de portugueses agravaram-se devido a cortes nos rendimentos e ao agravamento dos impostos. Os desempregados, em maior número que em 2011, são os que estarão numa situação de maior fragilidade. O desemprego jovem também se agravou e é maior a desmotivação dos jovens para apostarem na sua educação e formação. Muitos emigraram. O produto por habitante é menor e o rendimento disponível das famílias portuguesas diminuiu. De acordo com o Instituto Nacional de Estatística, agravou-se o risco de pobreza, que afeta 1 em cada 5 portugueses, e é maior a desigualdade na distribuição do rendimento.
O país empobreceu. Empobreceu porque a sua produção recuou aos níveis de há 12 anos. Empobreceu porque temos menos população disponível para trabalhar. Empobreceu porque a queda do investimento reduziu o stock de meios de produção do país. A situação financeira do país está mais frágil pois a dívida pública aumentou e o défice continua elevado não permitindo ainda uma redução desta dívida a um ritmo suficiente para assegurar a sua sustentabilidade. As perspetivas permanecem sombrias pois o quadro orçamental vai continuar a ser restritivo e a economia revela dificuldades em crescer a um ritmo mais acelerado.
(...)»
(Na íntegra: aqui)

"Quem fala assim não é gago"

(Contra o que é meu hábito, reproduzo, na íntegra, o texto de José Pacheco Pereira, A resistência dos "estranhos companheiros de cama"  porque julgo que não é acessível a não assinantes do "Público" on line e, naturalmente, por considerar que é imprescindível ler. )

"Já tenho usado algumas vezes a frase da Tempestade de Shakespeare sobre os “estranhos companheiros de cama” gerados pela “miséria” dos dias que atravessamos.

A citação em inglês é "misery acquaints a man with strange bedfellows" e refere-se a uma altura em que Trinculo, para se proteger da tempestade, se mete debaixo do manto de Caliban. Trinculo achava que Caliban era uma espécie de peixe, antes de lhe reconhecer forma humana, e Caliban olhava com desconfiança Trinculo que lhe parecia um espírito atormentado. “Estranhos companheiros de cama”.

Existe hoje na vida política portuguesa uma série de “estranhos companheiros de cama”, cuja voz pública tem sido muitas vezes, aliás quase sempre, das mais duras contra a situação, contra o governo da coligação PSD-CDS. Incluo-me nesse grupo de pessoas e escrevo sobre elas não porque ninguém sinta qualquer necessidade de o justificar, bem pelo contrário, mas porque este fenómeno político é uma característica dos nossos dias e merece ser analisado. Muitas das críticas com mais sucesso ao actual poder, todas percursoras e algumas que se tornaram virais, vieram desse grupo de pessoas e não de outras em que, pelo seu posicionamento político, teriam sido mais previsíveis. 

Num comício sobre a Grécia, falei ao lado de dois membros do Bloco de Esquerda, Louçã e Marisa Matias, de um economista comunista Eugénio Rosa, de um socialista Manuel Alegre, da escritora Hélia Correia e do democrata-cristão Freitas do Amaral. Algumas das palavras mais duras nessa sessão sobre o “estado da Europa” vieram da mensagem de Freitas do Amaral. Durante a semana, Bagão Félix e Manuela Ferreira Leite, pronunciaram críticas muito duras ao governo, como aliás fazem já há alguns anos. Em matérias mais específicas, como por exemplo, as questões de soberania ou a situação das Forças Armadas, Adriano Moreira e Loureiro dos Santos, não tem poupado a acção governativa, com críticas de fundo e de grande gravidade. Podia continuar com vários exemplos de outros homens e mulheres, que estão longe de serem revolucionários, radicais, extremistas mas cuja voz se ergueu com indignação face ao mal que está ser feito ao país, com intolerância face ao erro e com um espírito analítico certeiro. “Quem fala assim não é gago”, é uma frase que se lhes pode aplicar. 

Também por isso são alvo de uma enorme raiva, impropérios, insinuações, acusações que transpiram do lado situacionista, no terreno anónimo dos comentários não moderados, que não são senão reproduções das conversas obscenas que certamente se travam nos bares da moda e nas reuniões partidárias das “jotas”. São os “velhos do restelo”, até porque na maioria não são novos, que se opõem à gloriosa caminhada governativa émula das Descobertas, não se percebe bem para quê, nem com que gente valorosa e destemida. São os “treinadores de bancada”, na linguagem futebolística que se lhes cola como um fato de treino, os que “só dizem mal”, “que falam, falam” mas não fazem nada. São os “ressabiados” porque não lhes foram dadas sinecuras, lugares, posições, quiçá negócios, a que julgavam ter direito. Esta crítica é muito interessante porque é espelhar, quem a faz vê-se ao seu próprio espelho

O que verdadeiramente não suportam é a independência alheia. “Jovens” de quarenta anos, cuja carreira, se reduz a cargos partidários e as respectivas nomeações como “boys”, escrevem e vociferam tudo isto. E afirmam com jactância que ninguém ouve os “velhos do Restelo”. Estão bem enganados, em termos de audiências, partilhas, e influência, são no chamado “espaço mediáticos” dos mais ouvidos, vistos e influentes. Falo dos outros e não de mim, mas também não me queixo.

A tempestade que criou estes “estranhos companheiros de cama” explica a sua emergência e o manto que os cobre. Em partidos como o PSD e o CDS, mas em particular no PSD, houve uma clara deslocação à direita, violando programas e práticas identitárias, já para não falar do legado genético do seu fundador Francisco Sá Carneiro. Esta deslocação de um partido que foi criado pelo desejo fundador de ser o partido da social-democracia portuguesa, consciente de que num país como Portugal a “justiça social” era uma obrigação de consciência e de acção, levou à sua descaracterização. E pior ainda, à mudança do seu papel reformador na sociedade.

O PSD que está no governo e que manda no partido, com as suas obscuras obediências maçónicas, com o seu linguajar tecnocrático, com a sua noção de que a “economia” são os “empreendedores” e não os trabalhadores, com os seus sonhos de criar um homem novo ao modelo de Singapura, com o seu desprezo pequeno burguês… pela burguesia, pela sua vontade de agradar aos poderosos do mundo, pela subserviência face ao estrangeiro, encheu-se de pessoas cujo currículo é constituído pelos cargos internos no partido e pelos cargos públicos a que ser do partido dá acesso. A sua repulsa e indignação pela corrupção é escassa para não dizer nula, e personagens cujos negócios são clientelares, para não dizer mais, são elogiados em público, servem de conselheiros e são nomeados para cargos de relevo. O que é que se espera que gente como Manuela Ferreira Leite, que é de outra escola da vida, diga?

E que posições tem defendido estes “estranhos companheiros de cama” que justifica serem tratados pelos boys como sendo, pelo menos, cripto-comunistas? Falam de facto de coisas perigosas e subversivas, como do patriotismo e da soberania, falam de um Portugal que não se exibe apenas á lapela. Falam da democracia e do risco do voto dos portugueses não servir para nada, visto que o nosso parlamento tem cada vez menos poderes. Falam dos portugueses que não andam de conferências de jornais económicos, a programas de televisão a explicar que as eleições são um “risco” para a economia. Falam dos outros portugueses, dos enfermeiros e dos professores, dos médicos e dos jovens arquitectos sem trabalho, dos pescadores, dos agricultores, dos operários (sim, ainda existem), dos funcionários do estado, insultados e encurralados, da pobreza que se esconde e da que se vê. Falam das desigualdades que crescem, da pobreza envergonhada que existe na classe média, do confisco fiscal, das prepotências da administração, da indiferença face aos mais velhos, aos reformados e pensionistas. Falam muitas vezes com a voz da tradição cristã, da doutrina social da Igreja, dos que foram deixados cair no desemprego, das mulheres que antes eram operárias e ganhavam o seu sustento e hoje são donas de casa, falam dos “piegas” que perderam a casa, o carro, e pior que tudo, a dignidade de uma vida decente.

Deviam estar calados, porque isto é “neo-realismo”. Estes são os portugueses de que não se deve falar. E fazem-no para defenderem nacionalizações, para atacarem a economia de mercado, a propriedade? Não. Falam muitas vezes porque são conservadores e genuínos liberais, gostam do seu país e gostam dos portugueses, da democracia e da liberdade. Eu sei, tudo isto é hoje revolucionário.

Mas há mais. Sentem, como se numa mais que sensível pele, a hipocrisia dominante, ao ver aqueles que destruíram muita da política de Mariano Gago, a elogiar o seu papel na ciência em Portugal, ou quem afastou Maria Barroso da Cruz Vermelha a elogiar as suas virtudes como “grande senhora”. E sabem porque tem sucesso e influência? Porque a sua indignação é genuína e não mede as suas palavras num país de salamaleques, e não falam por conveniência própria nem por obediência partidária. Se fossem mais cordatos e mais convenientes, teriam certamente honras, lugares e prebendas.

Por tudo isto, quando chove e venta e troveja, a manta de Caliban é bem-vinda. É meio peixe? Talvez, mas como não conto ir nadar para o mar dele e ela não conta vir para o meu, une-nos a manta que nos protege da tempestade. E enquanto chove e venta e troveja são os “meus estranhos companheiros de cama” contra a chuva, o vento e a trovoada. Penso, aliás como Churchill, que se o Diabo entende atacar Hitler, sou capaz de dizer umas palavras amáveis sobre o Inferno na Câmara dos Comuns.

É este espírito que “os estranhos companheiros de cama” têm tido a coragem de trazer para a vida pública portuguesa em que tudo desune e nada junta, mesmo quando o adversário usa de todas as armas. É por isso que, a seu tempo, ficarão como resistentes desta tempestade e não gente que foi à primeira chuvinha abrigar-se nas mansões menores do poder.» 

quinta-feira, 9 de julho de 2015

O "estado da nação" antes e depois da entrada em cena da troika Passos, Portas & Cavaco


Uma percentagem equivalente a 52,3% dos inquiridos (na sondagem da Intercampus mencionada no post anterior) considera que  o "estado da nação" está pior ou muito pior depois da entrada em cena da troika Passos, Portas & Cavaco, contra 21,9% que acham, contra toda a evidência, que está melhor. 
Temos, pois, uma clara maioria cuja opinião contraria frontalmente o discurso de sucesso da parelha Passos/Portas. É de esperar que uma tão expressiva maioria se traduza, na altura própria, numa ordem de despejo e no envio da parelha para outros "pastos" onde não corra leite e mel. Assim seja! 
(A imagem é, uma vez mais, do "Público" edição impressa de hoje)

O verdadeiro "estado da nação"


Muito mal: 37,6%
Mal: 35,7%
Razoável: 22,7%
Bem: 3,3%
Muito bem: 0,6%
Dados de uma sondagem da Intercampus realizada entre 26 de Junho e 4 de Julho, publicada no  Público.pt, no mesmo dia em que na AR se realizou o debate sobre o estado da nação.
Se para 73,3% dos inquiridos o estado do país é muito mau ou mau, é caso para perguntar a Coelho, a Portas e aos deputados dos dois partidos da minoria, em maioria na AR, em que país é que vivem.
(A imagem supra é do "Público", edição impressa de hoje)

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Pote à Frente!


Dificilmente o PSD e o CDS poderiam ter escolhido para designar a coligação com que vão submeter-se ao voto do eleitorado, nas próximas legislativas, uma sigla que traduzisse com maior exactidão  o objectivo que, desde a primeira hora, prosseguem.
A sigla PAF, depois de "esmiuçada", quer dizer "Pote à Frente", não quer?
(imagem daqui)

" O que fazer com este país"

Intervenção de Ricardo Paes Mamede

terça-feira, 7 de julho de 2015

"Cada vez mais pró-grego"

E não faltam razões. Aqui alinhadas por Leonídeo Paulo Ferreira. 
Vale a pena ler.

O Estado a saque

Com o governo de Passos, Portas & Cavaco, (os novos DDT) o Estado ficou a saque: "75% dos dirigentes públicos nomeados pelo governo são militantes do PSD e CDS", diz a notícia. Os restantes 25%, imagino eu, só passaram no crivo, porque alguém se distraíu.

Não tenham mão neles e verão: como se demonstra, capazes de tudo, são eles!
(Notícia e imagem daqui)

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Não é caso único, muito longe disso

«Durão Barroso, não contente em participar na despudorada e algo obscena operação de recauchutagem política de Miguel Relvas, também decidiu dar o seu valioso contributo para o processo de rescrita da história em curso.

Aparentemente, o mesmo Durão Barroso que, em 2010, em 2011, em 2012, em 2013 e em 2014 sempre disse que Portugal não era a Grécia, vem agora, a três meses das eleições, dizer que, afinal, Portugal só não é a Grécia por obra e graça da determinação e firmeza de Passos Coelho. 

Não sei se estão recordados, mas, para além de ter passado os últimos cinco anos a dizer que Portugal não era a Grécia, Durão Barroso, antes da entrada da ‘troika' em Portugal, empenhou-se mesmo em dizer que Portugal não só não era a Grécia como, também, não seria a Irlanda. E não seria nem a Grécia nem a Irlanda porque, ao contrário destes dois países, Portugal não seria intervencionado pela ‘troika'.

Havia um acordo, no qual o próprio Durão Barroso, na qualidade de presidente da Comissão Europeia, se empenhou, que envolvia Portugal, a Comissão Europeia, o Conselho Europeu e o Banco Central Europeu e que visava impedir um terceiro resgate a um país da zona euro. O empenho de Durão Barroso no chamado PEC 4 foi público, bem como todas as tentativas de evitar que a oposição, e em particular Passos Coelho, não inviabilizassem o acordo que o Governo português e as instituições europeias, bem ou mal, consideravam suficiente para evitar a vinda da ‘troika'.

Todos sabemos o que se passou. Passos Coelho, forçado a escolher entre os interesses do seu país e os interesses do seu partido, escolheu os segundos, tirou o tapete ao país e empurrou Portugal para a ajuda externa. Tudo isto com a oposição (pública) de Durão Barroso (e de outros líderes europeus). Por essa razão, se há algo que a determinação de Passos conseguiu foi mesmo dinamitar a possibilidade de esse acordo ser bem sucedido.
(...)»
(João Galamba: "Durão Barroso, o amnésico". Na íntegra: aqui. Destaque meu)

domingo, 5 de julho de 2015

Definitivamente: "Portugal não é a Grécia"

Depreciativamente, Passos Coelho e demais lacaios da senhora Merkel fartaram-se de apregoar por aí que "Portugal não é a Grécia".
Com a vitória do "Não" no referendo de hoje, é altura de retomar a expressão, porque, de facto, é verdadeira: o povo grego provou com esta vitória que é um povo corajoso que não se dobra a ultimatos, venham de onde vierem. Em Portugal é certo que não falta gente com coragem, mas não é menos verdade que também há muita gente sem coluna vertebral e sempre disposta a dobrar a cerviz perante os poderosos. 
Se uma imagem vale por mil palavras, dispensável se torna prosseguir o "discurso". Basta a fotografia.

Definitivamente: "Portugal não é a Grécia". Melhor dito: A Grécia não é Portugal.
(Reeditada)

sábado, 4 de julho de 2015

Novos DDT (Donos disto tudo)

"Passos reabre embaixada para colocar adjunto"
Pelos vistos, se ainda não são, já  se comportam como se fossem donos disto tudo.
Não nos queixemos, se não tivermos mão neles. Como se demonstra, capazes de tudo são eles.
(Notícia e imagem, daqui)

sexta-feira, 3 de julho de 2015

De velas enfunadas ou em marcha à ré?

Diz-nos a Comissão Liquidatária que, de há quatro anos a esta parte, vem assumindo o papel de (des)governo do país que a economia vai de vento em popa. Porém, a verdade [com a qual o governo de Passos, Portas & Cª está de relações cortadas desde o início de funções) parece ser outra:  segundo esta notícia [As novas operações de crédito a empresas estão a cair 31% nos primeiros quatro meses do ano - o  malparado continua a bater recordes] o barco não vai de velas enfunadas. Muito pelo contrário, pois, pelos vistos, continua em marcha à ré, mantendo a orientação seguida desde o começo da legislatura. 
Regista-se a coerência e lamenta-se a insistência. No rumo errado.
(Imagem daqui)

Na tragédia grega não há inocentes (II)

«Confirmado o referendo em Atenas e suspensas as negociações em Bruxelas, nunca esteve tão eminente o pior dos cenários para o povo grego é para a zona euro: a saída desordenada da Grécia. Na lógica simplista da política prevalecente nas modernas sociedades mediáticas, um desastre de tamanhas proporções precisa, obviamente, de um culpado, alguém a quem possam ser imputadas responsabilidades pelas consequências da ruptura a que se chegou. Ao que parece, o candidato natural é Alex Tsipras. Mas nem sempre o que parece é. 

Sem dúvida, Tsipras fez mais do que o suficiente para partilhar pesadas responsabilidades. Oriundo de uma formação política radical, o jovem primeiro-ministro grego subiu na vida política vendendo ilusões e prometendo o que não podia cumprir. Apostou tudo numa atitude negocial de confrontação - e falhou. O seu falhanço, como se vislumbra já, não é coisa pouca: implica o caos no sistema financeiro e no funcionamento da economia e do Estado. Ao longo de meia dúzia de meses, Tsipras tardou em apresentar propostas convincentes e acabou, no final, por ser forçado a consentir em quase tudo o que antes dizia rejeitar: primeiro, o agravamento da austeridade (via enorme aumento de impostos) e, depois, o pedido de um terceiro resgate. Como se não bastasse, foi dele a iniciativa de abandonar unilateralmente as negociações (que depois, desesperadamente, tentou retomar) e foi dele a ideia de convocar este bizarro referendo (enquanto ainda mantinha uma intensa troca de cartas com propostas negociais). Entretanto, o seu ministro das Finanças, Varoufakis, acenava aos eleitores com a derradeira ilusão, anunciando o propósito de regressar na segunda-feira à mesa das negociações como se nada fosse, mas em posição reforçada por um "grande não", para fechar "rapidamente" (!) um acordo imaginário, sabe-se lá com quem. Embora convocado em nome da democracia, este apressado referendo decorre sob pressupostos de tal modo falsos e em condições de tamanha anormalidade que só pode constituir um monumental equívoco democrático. 

Dito isto, que é tudo verdade, é preciso dizer também que seria um gravíssimo erro esconder as responsabilidades maiores dos credores por trás das responsabilidades do Syriza e da sua liderança. Desde logo, convém recordar que as "instituições" são responsáveis por terem imposto à Grécia e aos seus sucessivos governos uma política de austeridade errada e absolutamente devastadora, que agravou em muito o problema da dívida pública ao mesmo tempo que retirava à economia a capacidade para gerar a riqueza necessária para que essa dívida pudesse ser paga. Nesse ponto - que é o ponto essencial e que deveria inspirar não apenas um acordo mas um acordo diferente - era Tsipras que tinha razão. Sucede que as "instituições" se recusaram sempre a reconhecer o fracasso da política de austeridade e a necessidade de construir uma solução para a dívida pública grega. Pelo contrário, preferiram teimar na fracassada receita austeritária, sempre fiéis à inspiração alemã e correspondendo às inqualificáveis exigências de governos como os de Portugal e de Espanha. 

Em bom rigor, porém, também não foi a insistência na austeridade que impediu a conclusão deste acordo. De facto, não pode contar-se a história destas tumultuosas negociações ignorando um facto essencial: no início da semana passada, o Governo grego apresentou uma proposta que foi efusivamente saudada pelos parceiros europeus como "credível" e em que Tsipras cedia praticamente em toda a linha (a ponto de deixar em risco a sua própria sobrevivência política). Como aqui escrevi há oito dias, quando ainda subsistia a esperança num acordo, "depois de todas as cedências feitas pelo Governo grego, já não será possível responsabilizar o Syriza pelo falhanço das negociações". Foi o que escrevi e mantenho. Está por explicar a razão pela qual essa proposta, dita "credível", não chegou, aos olhos do FMI e das "instituições", para servir de base a um acordo que poupasse a Grécia e a zona euro ao cenário de catástrofe que agora se anuncia.
A verdade é que, do princípio ao fim, a "linha dura" fez tudo o que estava ao seu alcance para impedir um acordo que pudesse legitimar a afirmação de uma alternativa ao pensamento dominante. (...)»
(Pedro Silva Pereira; "A culpa" . Fonte)

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Na tragédia grega não há inocentes

«(...)
Alexis Tsipras teve um mérito e cometeu três erros crassos. O mérito, como já aqui referi na semana passada, consistiu na tentativa de sobrepor a dimensão política à discussão técnica no relacionamento com os parceiros e credores do seu país. Os erros foram os seguintes: a celebração de uma coligação com a direita hipernacionalista, o recurso a uma retórica antigermânica primária e a incapacidade de estabelecer alianças pragmáticas com governos de outros países. Notoriamente não esteve à altura das suas responsabilidades e muito menos das expectativas que chegou a criar, acabando por lançar o seu país numa situação caótica e desesperada. O balanço da governação do Syriza não poderia ser mais negativo: começou na exaltação nacionalista e acabou na rendição ideológica. A partir daqui, o Syriza, como perspectiva de uma solução alternativa, soçobrou. Revelou todas as insuficiências características das propostas extremistas – completa incompreensão da realidade, valorização de uma atitude declamatória alheia à satisfação das reais necessidades das pessoas, exibição de um moralismo purista desprovido de qualquer consequência política prática. É hoje evidente que o Syriza constituiu um monumental falhanço histórico. Confrontado com o seu próprio desespero, o primeiro-ministro grego decidiu-se pela convocação de um referendo de discutível legitimidade democrática que suscitou já a reprovação por parte dessa organização insuspeita que é o Conselho da Europa. No próximo Domingo a escolha só não será entre a continuidade ou não na União Europeia porque o Syriza está cada vez mais destinado a fazer parte de um parêntesis histórico desprovido de excessiva importância. A Grécia faz parte da Europa e a Europa faz parte da Grécia.

Tudo isto é verdade, mas não permite iludir as enormes responsabilidades europeias na presente crise. Ainda ontem Matteo Renzi deu provas da mediocridade das presentes lideranças nacionais ao afirmar que “é impensável que a Itália e os outros governos financiem as pensões gregas”. São palavras indignas de um primeiro-ministro empenhado na promoção de um verdadeiro projecto europeu. Infelizmente, à esquerda como à direita, é este tipo de discurso que tem prevalecido. O discurso primário do egoísmo, do nacionalismo bacoco, do populismo acrítico. A União Europeia há muito que tem falhado na abordagem dos problemas dos países do Sul. Se uma solução política caricatural como aquela que o Syriza representa pôde ter sucesso eleitoral tal deve-se em grande parte à obstinação ideológica de alguns governos pouco preocupados com o futuro da Europa. Que o governo português se tenha associado a essa mesma obstinação só revela a sua verdadeira natureza servil e medíocre.

Uma vez mais se constata que a extrema-esquerda, na sua profunda irresponsabilidade, constitui a melhor aliada da direita europeia. É o que se passa também no nosso país. Razão teve António Costa em se demarcar nitidamente das posições do Syriza, procurando deixar bem claro que pode haver no espaço europeu um projecto político alternativo ao populismo conservador e liberal que nos tem conduzido a um verdadeiro abismo económico e social. Contrariamente ao que a direita interesseira e alguma esquerda ingénua têm vindo a propalar, o Secretário-Geral do PS nunca manifestou especial apreço pelas soluções preconizadas pela extrema-esquerda grega. Sejamos sérios, António Costa limitou-se a dizer aquilo que qualquer observador lúcido diria: que o voto no Syriza significava uma reacção desesperada face às trágicas políticas austeritárias impostas ao povo grego. Aliás, basta ler com atenção o programa eleitoral do PS para compreender a intransponível distância que o separa das vacuidades demagógicas do Syriza. A verdade é que entre a direita e a extrema-esquerda sempre houve um caminho alternativo. Esse caminho designa-se por socialismo democrático ou social-democracia e é responsável pelo melhor da experiência histórica das últimas décadas europeias.»
(Francisco Assis: "O drama da Grécia": Na íntegra: aqui. Destaques meus)

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Postais: Pinhel

Cidade de Pinhel
Na imagem: em primeiro plano, o pelourinho bem interessante;  ao fundo,  as duas torres do castelo; à esquerda, a torre sineira; e do lado direito, vista parcial do antigo edifício da Câmara Municipal.