sábado, 26 de março de 2011

A realidade aproxima-se da ficção

Num exercício de ficção pretensamente humorístico (concedo que sem grande graça) descrevi aqui a composição dum futuro governo integrado pelos partidos (PSD, CDS,BE , PCP e PEV) que, em conjunto, acabavam de aprovar, na Assembleia da República, em votação unânime, 5 moções de rejeição 5 do PEC, determinando por essa forma a queda do actual Governo.
Nessa ficção atribuía  eu a pasta da Educação a Mário Nogueira, líder da FENPROF e cabeça de cartaz das manifestações levadas a efeito contra a política educativa do Governo, muito longe de imaginar que a ficção estava bem próxima da realidade.
Explico-me: ganhe quem ganhar as eleições e, em particular, se o vencedor vier a ser o PSD, Mário Nogueira não vai ser o titular da pasta da Educação, como é evidente, mas não é menos evidente que depois da revogação do actual modelo de avaliação, ontem aprovada com os votos dos mesmos partidos, curvando-se às exigências da FENPROF (e com especial responsabilidade imputável ao PSD, dado que antes se manifestara contra tal medida e agora, na véspera de eleições, não só a aceitou, como a patrocinou, com o óbvio intuito de comprar  votos)  Mário Nogueira é quem passará a mandar no ministério da Educação. O titular da pasta será outro,  mas o dono da pasta vai ser ele.
A irresponsabilidade é no que dá.

Arrogante, dizem eles

José Sócrates goza da fama, não sei se também do proveito, de ser arrogante. No entanto, nunca o ouvi, nem a ninguém do PS, a dar indicações sobre quem deve ou não deve liderar este ou aquele partido. Suponho que tal atitude é a que se espera de quem tem um mínimo de respeito pelos militantes de qualquer partido que não o próprio e é, simultaneamente, o mínimo que se espera de quem se intitula democrata, pois o respeito pelos outros é da essência da democracia - acho eu.
Porém, não tem sido essa a atitude que têm tomado quer o CDS, pela voz de Paulo Portas, quer o PSD, a várias vozes e em diversos tons, os quais têm defendido e exigido a substituição do Eng. José Sócrates no cargo de secretário-geral do PS como condição sine qua non para viabilizarem ou admitirem qualquer hipótese de possível entendimento com o PS.
E o arrogante é Sócrates, dizem eles. E eles serão o quê ?'
(Por acaso, sei o que são, mas a resposta fica para outra vez.)

Maré vazante

"Pedro Passos Coelho esqueceu-se do que tinha dito sobre as "injustiças" do IVA e estatelou-se (...) teve todo o tempo do mundo para não cair no inacreditável vaivém sobre o IVA. Por distracção ou amnésia, não o fez, pelo que, se o mundo não ruiu ontem, o PSD sofreu com a incoerência um abalo sísmico. Anteontem, na AR, Manuela Ferreira Leite afirmou que o Governo caía por não gerar confiança aos mercados; convenhamos que piruetas como as de Passos não têm o dom de suprir essa necessidade."
(Extractos do editorial do "Público", edição impressa de ontem)
Se até o alaranjado jornal do Eng. Belmiro, em editorial, já considera Passos Coelho um bailarino capaz de uma tal pirueta, é sinal de que a "maré laranja" já está na vazante.

Nem num, nem noutro...

Este Moedas, Carlos, nas últimas directas para a presidência do PSD, não confiava no Passos Coelho. Agora, pelos vistos, até passa a vida a tentar dar a volta às "asneiras" que aquele vai debitando.
Mais uma razão para não confiar, nem naquele, nem  neste.

"Asneira completa"

sexta-feira, 25 de março de 2011

Quantos Relvas há no PSD ?

Ontem, um tal Miguel Relvas, identificado como secretário-geral do PSD,  avançava com a possibilidade de aumentar o IVA para 24 ou 25 por cento "para evitar o congelamento das pensões mais baixas e o corte nas mais elevadas". Isto, depois do presidente do seu partido ter expressado o compromisso em como irá dar preferência a aumentos nos impostos sobre o consumo.
Hoje, para o mesmo Relvas (ou será outro ?) "O caminho de Portugal não é o de aumentar impostos, mas o de cortar na despesa do Estado, das empresas públicas. (Deve ter sido, por isso, suponho eu, que hoje mesmo o PSD, que tanto clama por reformas no Estado, deve ter tomado a iniciativa de revogar o modelo de avaliação dos professores para ficarmos sem nenhum.)
Suponho que o Relvas de ontem e de hoje é o mesmo. Estaremos só perante mais um exemplo da "consistência do molusco".

Compra de votos

A coligação negativa (PSD,CDS, PCP, BE e PEV) voltou a funcionar, desta vez, para revogar o actual sistema de avaliação de desempenho dos professores, mesmo sabendo os partidos da oposição que não é possível implementar um novo sistema de avaliação, antes do início do novo ano escolar.
 Em anteriores iniciativas idênticas, o PSD sempre serviu de obstáculo à obtenção deste resultado. Agora, em vésperas de eleições, é o PSD quem toma a iniciativa.
O deputado Pacheco Pereira (PSD) que votou ao lado dos deputados do PS, contra a revogação do sistema de avaliação, diz que o seu partido agiu por populismo. Estou de acordo se por populismo se entender  "compra de votos", porque é disso que verdadeiramente se trata. Impõe-se, em nome do rigor, "chamar os bois pelos nomes" para não restarem dúvidas. 
A este respeito, também se pode aplicar ao PSD a expressão "coluna vertebral dum caracol" atribuída por Miguel Portas a Passos Coelho, no vídeo reproduzido no post anterior, a propósito das suas posições sobre o PEC, porque a situação é idêntica: no PSD muda-se de posição com a mesma facilidade com que se muda de camisa. Prefiro, no entanto, a expressão "consistência dum molusco", pois o caracol, embora sendo molusco, sempre tem uma concha externa que lhe dá alguma consistência. O PSD e Passos Coelho, pelos vistos, nem isso. 

A consistência do molusco


nem preenchido e trancado, quanto mais em branco

Ontem, a receita do PSD para equilibrar as contas públicas e reduzir o défice, era, pelas vozes do presidente e do secretário-geral do partido, o aumento dos impostos sobre o consumo, subindo o IVA para 24 ou 25, por cento. Se calhar, à escolha do freguês.
Hoje, António Carrapatoso, coordenador geral do projecto 'Mais Sociedade', ligado ao PSD,  vem defender que para resolver a crise, "não se devem aumentar impostos", mas sim "reduzir os salários e os apoios sociais". E não está com meias medidas: "reduzir os salários e os apoios sociais de 34 por cento para 29 ou 27 por cento do Produto Interno Bruto".
Ponham lá termo à cacofonia a ver se a gente entende. Ou será que o que o PSD pretende, com a cacofonia instalada, é que ninguém perceba onde é que querem chegar ?
Querem, porventura, um cheque em branco? Tenham lá paciência: nem preenchido e trancado, quanto mais em branco.

Encenação

Quem supunha, atento o persistente silêncio, que Cavaco estava a dormir, estava muito enganado. Afinal, o silencioso de Belém está de vigia à situação financeira. Quem o garante é o CM, fonte de informação merecedora de toda a credibilidade (!?), que igualmente informa que Cavaco mandou chamar o Governador do Banco de Portugal. Para o ajudar a passar as horas, enquanto vigia ?
Quem ainda tem o topete de o levar a sério pode limitar-se a dizer: "casa roubada, trancas à porta";
Pela minha parte, nem isso: muito simplesmente, toda a conversa não passa de mais uma encenação.

Não acerta uma

 A crise política "não justifica" baixa do rating. Isto diz Passos Coelho em relação à decisão tomada pela  Fitch de cortar o rating de Portugal em dois níveis, de A+ para A- tendo a agência de rating deixado bem claro, até para quem tem um mediano entendimento, que a decisão foi tomada, devido às dificuldades na implementação de medidas e de financiamento após o chumbo do PEC no Parlamento e da demissão do primeiro-ministro.
Passos Coelho, porém, não vê.
Só para o contrariar, também a agência de notação de risco Standard & Poor's desceu o rating da dívida pública de longo prazo de Portugal em dois níveis, de A- para BBB. E também esta agência justifica a decisão com o aumento da incerteza política provocada pelo chumbo do Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC) e pela subsequente demissão do Governo, o que pode prejudicar a confiança dos mercados e agravar os riscos de financiamento de Portugal.
Passos Coelho continua a não ver ou a fazer que não vê.
É compreensível que Passos Coelho procure "sacudir a água do seu capote", mas, como contra factos não há argumentos e, neste caso, os autores dos factos fizeram o favor de não deixar dúvidas, o melhor que Passos Coelho tem a fazer é ficar calado.
É que, se continuar a falar, sai asneira ou anedota. Só à conta de ontem já vai em duas, pelo menos. Se isto é para continuar, acho que vou passar a fazer colecção.

A mão de Cavaco?

A  ser verdade a notícia veiculada pelo Correio da Manhã e retomada no "Expresso" de que Eduardo Catroga é o escolhido por Passos Coelho para ocupar o lugar de ministro da Economia, se o PSD vencer as eleições e sabendo-se os antecedentes (Catroga foi, além do mais, ministro das Finanças de Cavaco Silva)  levantada fica a suspeita de que no desencadear da crise também andou a mão de Cavaco. O silêncio por ele mantido, durante e após o desencadear da crise, já era compremetedor. Este anúncio, caso se venha a confirmar, mais adensa a suspeita. E, a ser assim, se da manobra do PSD (e de Cavaco ?) não resultar uma vitória eleitoral, Cavaco não se vai livrar facilmente de assumir as suas responsabilidades. Duma forma ou doutra. Veremos.

quinta-feira, 24 de março de 2011

A anedota do dia

Este homem é um espanto: levou uma trepa de Angela Merkel, publicamente e, pelos vistos, também em privado, mas diz acreditar que ela compreende a posição do PSD.
Homem de muita fé ou muito parvo? Resposta de escolha livre.

Frase do dia

Quase insanidade mental

Comentário de um leitor deixado na caixa de comentários deste post:

"Como aposentado ao fim de quarenta anos de trabalho e de descontos, tenho direito a uma pensão.Embora a minha pensão esteja longe de ser uma pensão dourada, como há por aí muitas, atribuídas pelo Banco de Portugal e outas entidades a políticos e ex-políticos como Bagão Félix, Campos e Cunha e tantos outros, não tenho razão de queixa. Devia estar grato ao PSD pela preocupação em evitar cortes nas pensões e estou pela parte que me toca. No entanto, mais grato ficaria se o pessoal dirigente do PSD, se mostrasse capaz de maior responsabilidade. Reprovar o PEC, nesta altura é mais do que irresponsabilidade. É quase insanidade mental, pois estão a jogar com a vida dos portugueses."
(O título do post é meu)

Com que então, é assim ?

O PSD não há maneira de acertar, desde que Durão Barroso se pôs a milhas. Depois das experiências traumatizantes resultantes da passagem pela liderança do partido de Santana Lopes, de Marques Mendes e  de Filipe Menezes, surgiu à frente dos destinos do PSD, com o alto patrocínio e a preciosa ajuda de Belém,  Manuela Ferreira Leite, apresentada urbi et orbe como a seriedade em carne e osso, com a missão de redimir o partido dos seus sucessivos falhanços e alcançar de novo o poder. E a senhora foi tão séria, tão séria que até inventou, sem qualquer pudor, a "Política de Verdade", apresentando-se como a única detentora da dita,  e nem pestanejou para lançar a absurda teoria da "asfixia democrática". Uma e outra foram derrotadas nas últimas eleições legislativas, não obstante a ajuda vinda de Belém com a inventona das escutas. A própria Ferreira Leite, na sequência da derrota eleitoral, não tardou a ser empurrada da liderança para dar lugar ao inexperiente, mas tido por bem-falante, Passos Coelho. Este e a garotada de se que rodeou pouco mais têm feito que não seja transformar o PSD numa cacofonia que ninguém entende, prometendo agora uma coisa e logo outra, prova mais que provada da sua imaturidade que é mãe da  irresponsabilidade mais completa de que tenho memória. E se dúvidas havia sobre a irresponsabilidade que reina na São Caetano, bastaria assistir ao que ontem se passou, na Assembleia da República, com a inviabilização das medidas incluídas no chamado PEC IV, acordadas com Bruxelas e com o Banco Central Europeu, como forma de evitar o recurso ao FMI e as consequências ainda mais gravosas associadas à entrada do Fundo, com o PSD a votar ao lado do PCP, BE, PEV e CDS todas as  moções de rejeição.  E foram cinco. É obra !
A cacofonia está, porém, a tornar-se insuportável. Tão depressa exigem, para viabilizar o Orçamento de Estado, mais cortes na despesa pública, porque consideram intolerável o aumento de impostos, como logo a seguir, adiantam, para explicar a rejeição do PEC, que o corte nas despesas é injusto, para, horas depois da votação, virem dizer, como se já fossem Governo, que optam por aumentos nos impostos sobre o consumo, avançando com a possibilidade de nova subida do IVA, que poderá aumentar para 24 ou 25 por cento para evitar o congelamento das pensões mais baixas e o corte nas mais elevadas*. Ora, o IVA é consabidamente o imposto mais injusto que se conhece, pois afecta toda a gente, ricos pobres e remediados, embora os penalizados mais duramente, sejam precisamente os mais desfavorecidos, porque são os que dispõem de menos disponibilidades e os que não podem reduzir o consumo já de si limitado aos bens essenciais. Até se compreende o porquê da opção: O IVA é o imposto que mais depressa assegura o aumento das receita fiscal, mas, por favor, não venham com a história de que não aceitaram o PEC porque continha medidas injustas. Quanto a preocupações com a  justiça social, ao optarem pelo aumento do IVA, ficamos conversados.
*Estranha forma de realizar a justiça, esta que consiste em evitar o corte das pensões mais elevadas! Partindo donde parte, já nada me admira.

Estrutura e composição do Governo PECNOT

Embora tenham surgido nos media algumas notícias em contrário, dando conta que o PSD, o CDS e o BE defendem a realização de eleições na sequência do pedido de demissão de José Sócrates do cargo de primeiro-ministro, o "Terra dos Espantos" está em condições de confirmar (através da fonte já citada na notícia anterior, fonte que, embora bem (mal) informada, como é habitual, é merecedora de toda a credibilidade)  a realização do encontro do Grupo dos 5 (PECNOT, em inglês) que ontem teve lugar em São Bento e que já hoje teve continuação, tendo, na última reunião, ficado, definitivamente, assente a estrutura e composição do futuro Governo, estrutura e composição que passarei a divulgar. Entretanto, cumpre dar conta de que houve algumas alterações em relação ao que ontem foi aqui anunciado, dado ter havido necessidade de fazer alguns ajustamentos.
Dito isto, passemos  à composição do Governo PECNOT:

Primeiro-ministro: Pedro Passos Coelho (PPC) presidente do PSD, sem assento na Assembleia da República (AR) por obra e graça da sua antecessora, Manuela Ferreira Leite, por razões que ela lá saberá. Confirmada a informação anteriormente divulgada. Aceite a contragosto pelos restantes partidos, dada a inexperiência em funções governativas, mas imposto pelo PSD, invocando imperativos constitucionais, pois como partido mais votado cabe-lhe indicar o chefe do Governo;

(Passos Coelho, com cara de parvo)

Vice-primeiro-ministro e ministro da Presidência, da Defesa, da Lavoura e do Mar: Paulo Portas (PP)  presidente do CDS. Na primeira versão assumia apenas as pastas da Lavoura e do Mar, pelas razões já mencionadas anteriormente. Entenderam, no entanto, os PECNOT, após mais profunda reflexão, que dada a experiência adquirida nos Governos Durão Barroso e Santana Lopes, também lhe ficava bem entregue a pasta da Defesa, até porque, segundo tem sido divulgado, já tem na sua posse muita documentação do ministério. Finalmente, a entrega da pasta da Presidência a Paulo Portas, por sugestão do próprio, foi considerada, dada a sua muita experiência, uma excelente forma de contornar a inexperiência (e, ao que tudo indica, incompetência) de PPC. Portas manda no Governo e PPC faz de conta. Bem visto. PP está de parabéns.
 
(Paulo Portas a coçar o nariz, para disfarçar a vontade de rir e a pensar: desta vez levei o PSD à certa)

Ministro de Estado, da Economia e da Energia: Francisco Louçã, deputado e coordenador do Bloco de Esquerda (BE). Inicialmente pensado para ocupar a pasta das Finanças, para a qual estava bem preparado, como é sabido pelas suas intervenções no plenário, acabou, por conveniência partidárias, por optar pelas pastas da Economia e da Energia. E não se pode dizer que tenha feito uma má opção. À uma, Louçã, como economista de renome, está mais que à vontade na Economia. E da Energia nem é bom falar. É tema que tem abordado com frequência na Assembleia  da República, para pedir exigir a sua nacionalização, exigência de que, por ora, prescindiu a bem do entendimento da patriótica e "coesa" coligação. 

(Francisco Louçã, na habitual pose de pregador)
 
Ministro de Estado e do Trabalho: Jerónimo de Sousa, secretário geral do PCP. Confirma-se a primeira informação. Razões mais que óbvias: Não só é o único representante da classe trabalhadora com assento na AR, como o seu partido é o único Partido dos Trabalhadores.

(Jerónimo de Sousa. A vida pega-nos cada partida, está ele cogitar, com ar bem disposto )

Ministro das Finanças: Luís Fazenda, deputado do Bloco de Esquerda. Tem tudo, incluindo o apelido, para dar um bom ministro das Finanças e para ocupar um ministério que o nosso bom povo tem o costume de designar por ministério da Fazenda. Razão ponderosa que levou Francisco Louçã a optar pelo ministério da Economia e da Energia.

(Luís Fazenda já a pensar em voos mais altos: "Lisboa, não é negócio" para mim)

Ministro da Justiça: Negrão Belo, actualmente deputado pelo PSD. Tem um currículo, à primeira vista, imbatível, pois conhece o ministério por fora e por dentro: já foi titular do cargo, juiz, director da Polícia Judiciária e até, imaginem,  réu num processo por violação do segredo de justiça (absolvido pelos seus pares). Acresce que é considerado como excelente criminalista. É-lhe mesmo atribuída a criação duma nova figura jurídica que veio revolucionar todo o direito criminal: o pré-crime.
 Mesmo assim, não foi colheita da primeira vindima. A primeira pessoa a ser sondada foi Paulo Rangel, que do alto da sua pequena estatura, mandou dizer: passem bem, que eu bem estou em Bruxelas, com viagens pagas para passar os fins de semana no Porto. Justificação que não convenceu ninguém. A verdadeira razão, segundo consta, é que não passa pela cabeça de Paulo Rangel sujeitar-se  a ficar subordinado ao actual líder do seu partido a quem  não reconhece especiais talentos. Considera, aliás, que PPC só o venceu nas últimas directas para a eleição de presidente do PSD, porque já vinha embalado da corrida anterior.

(Negrão Belo, sabendo do convite endereçado a P. Rangel e ainda surpreendido: quem, eu ?)

Ministro dos Negócios Estrangeiros: Bernardino Soares, líder da bancada parlamentar do PCP. Tem excelentes relações com a Coreia do Norte e com Cuba e também não é inteiramente desconhecido na China. Ora, nesta época de globalização, são estes os países que verdadeiramente contam. Acresce que Jerónimo de Sousa fez questão de ter no Conselho de Ministros alguém sempre disposto a dizer "Apoiado". Bernardino Soares tem, mais que nenhum outro camarada, não só o perfil indicado, mas também a experiência ganha no plenário da AR.

(Bernardino Soares, todo sorridente, já a pensar na próxima visita à Coreia do Norte)

Ministério das Polícias: Nuno Magalhães, deputado do CDS. A nova designação do ministério da Administração Interna foi opção de Paulo Portas que os restantes membros do Grupo dos 5 acabaram por aceitar, a contragosto, mas o facto é que PP é quem manda na coligação. Confirma-se a recusa do hesitante Nuno Melo, mas o problema suscitado pelo seu não, foi prontamente resolvido com recurso a outro Nuno, o tal deputado por Setúbal cujo nome não fora fornecido na primeira informação. Escolha excelente, digo eu, tratando-se do deputado que goza da reputação de querer um polícia em cada esquina. 

(Nuno Magalhães: a escolha certa para comandar as polícias. Alguém tem dúvidas ? Olhem-me só para esta pose.)

Ministério das Obras Públicas e dos Transportes: Marco António da Costa, vice-presidente do PSD. Confirma-se o Costa, o ministério atribuído e as razões já apontadas.

(Marco António Costa, com cara de poucos amigos, perante as reticências apresentadas pelo PCP e BE relativamente à sua indigitação)

Ministério da Saúde: João Semedo, deputado  do BE. É médico, o que, desde logo o recomendava para ocupar a pasta da Saúde. Acresce que é homem capaz de julgamentos rápidos (e, quiçá, apressados, como convém em matéria de saúde, onde são frequentes as urgências) e tem grande talento para escalpelizar qualquer assunto, como houve oportunidade de constatar (uma coisa e outra) ao longo das intermináveis sessões da Comissão de Inquérito Parlamentar ao negócio PT/TVI. É verdade que a sua indigitação não foi aceite de bom grado pelo PSD e pelo PSD, logo à primeira, por se tratar de um defensor do SNS, mas a insistência de Louçã e a perspectiva de uma ruptura das negociações levaram a melhor. Os negócios privados na Saúde, terão de aguardar por melhores dias.

(João Semedo pensativo: como é que vou dar a  volta ao crónico défice do SNS? E confiante: eu sou capaz. E é, afianço eu)

Ministério  da Educação: Mário Nogueira, dirigente da Fenprof. Foi uma escolha amplamente consensual, não obstante dar-se a circunstância de ser militante comunista. Em boa verdade, porém, a consensualidade verificada nada tem de surpreendente, sabendo-se que goza de muita simpatia nos partidos da direita (poderia até falar-se de conivência) desde que este dirigente sindical iniciou as suas "guerras" (palavra que lhe sai da boca a toda a hora) contra a ex-ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues e também ,em menor grau, contra a actual titular, agora demissionária. Mário Nogueira contava e conta com outro trunfo a seu favor. Adiantou desde logo, que tenciona manter, em simultâneo, o cargo de dirigente da FENPROP, de forma que o ambiente no ministério da Educação, com o Governo ora apresentado, só tem uma comparação possível: vai ser como deus com os anjos. No céu. 

(Mário Nogueira, antes de despir o fato de guerrilheiro)

Ministério da Ciência e da Cultura: Henrique Raposo. A junção da Ciência e da Cultura num só ministério fica a dever-se ao firme propósito do Grupo dos 5 de reduzir os cargos ministeriais, tendo em vista a diminuição da despesa pública, intenção mais que louvável, nestes tempos de aperto. O preenchimento do cargo não foi, no entanto nada fácil, há que dizê-lo, porque personalidades com o duplo perfil  exigido não abundam na área. Acabaram, felizmente, por se lembrar do Henrique Raposo, um puto que escreve no "Expresso" e que tem a mania que sabe tudo. Aceitou. Ainda bem.

(Henrique Raposo, o puto ainda com borbulhas)

Ministério do Ambiente: Heloísa Apolónia, deputada do PEV. O prometido é devido e atribuição do ministério do Ambiente até que faz algum sentido, tendo em consideração o facto de fazer parte do Partido Ecologista "Os Verdes". É verdade que há algumas dúvidas sobre a ideologia ecológica dos "Verdes" mas, pelo menos,  são nominalmente verdes, o que não é indiferente em termos de imagem pública que, em política, conta muito. A futura ministra agradeceu o convite e aceitou, como aceitou também e de bom grado a condição de baixar os decibéis. Fez, aliás, questão de salientar que prescinde de exercitar as cordas vocais, uma vez que não irá ter  mais oportunidades para ver frente a frente o Eng. José Sócrates, na AR.

(Heloísa Apolónia, fotografada num dos momentos em que enfrentava o primeiro-ministro José  Sócrates)

Ministério dos assuntos Paralamentares; Aguiar Branco,  deputado do PSD. Foi o ministério sobrante, é verdade, mas nem por isso o futuro ministro se mostrou menos entusiasmado, tal era a "fome". O "pote" não é lá grande coisa, mas tem a compensação de garantir a presença com alguma regularidade nos ecrãs da televisão.

(Aguiar Branco, com ar displicente e a disfarçar, com ar de quem "não quer a coisa")

Notas finais:
1. O leitor atento terá reparado na escassa representação feminina neste Governo. O facto tem explicação: Os partidos da direita (PSD e CDS) fizeram questão de constituir um Governo muito "macho", para enfrentar os cornos do toiro (leia-se as dificuldades a suplantar) e o argumento chegou para convencer, hoje,  os partidos da esquerda (PCP e o BE) que, em princípio, não eram muito favoráveis à solução.  E até nem foi difícil, há que dizê-lo, pois o mais difícil e o mais surpreendente já tinha ocorrido na véspera, quando ontem aprovaram na AR as cinco resoluções de rejeição do PEC, numa aliança que sendo, sem dúvida, vitoriosa, também não falta quem a considere espúria.
2. O PSD, como maior partido do Grupo dos 5 fez questão de romper com a tradicional designação dos elencos governamentais. O tradicional  "Governo Constitucional nº X" já era, porque o PSD entende que deve ser dada primazia à língua inglesa, no seguimento do procedimento adoptado para a divulgação do seu último comunicado. A designação adoptada "Governo PECNOT" tem, pois, a ver com essa opção, dada a vaga semelhança do PECNOT com a língua inglesa, opção que tem uma dupla explicação: à uma, reconhece o PSD que, depois da generalização do ensino do inglês levada a efeito pelos Governos liderados por José Sócrates, os portugueses já estão suficientemente familiarizados com a língua inglesa para ser necessário recorrer à língua portuguesa para transmitir qualquer mensagem; depois, a verdade é que este equipa governativa é muito simplesmente "para inglês ver". Tem lógica!

(Para eventuais desenvolvimentos, cá estaremos atentos, ainda que só por mais uns dias. Valete!

"Então adeus e até já"

"[...] José Sócrates demitiu-se mas continua vivo e há-de aproveitar o descanso que aí vem, muito bem-vindo, para recuperar a liberdade pessoal e política que perdeu. Com a demissão dele (de quem eu gosto e sempre gostei), posso eu bem. Ninguém pode é acusá-lo de querer baldar-se quando o exercício do poder, seja quem for que o exerça, não convém.
Sócrates tem absorvido e concentrado o ódio e o desvio nominalista que acha que a política é, tal como nas revistas cor-de-rosa, uma questão de nomes e de caras. Foi um primeiro-ministro corajoso e inteligente. Achar que Sócrates é culpado - e que removê-lo chega para nos poupar - é uma estupidez de todos os tempos"
(Miguel Esteves Cardoso, in "Público" - edição impressa de hoje)

quarta-feira, 23 de março de 2011

O Governo dos PECNOT

Soube-se de fonte (mal) informada que, logo depois de José Sócrates ter anunciado o seu pedido de demissão do cargo de primeiro-ministro, reuniu-se  em S.Bento o agora famoso Grupo dos 5 (PSD,CDS, BE, PCP e PEV). Ainda no rescaldo do voto em uníssono das 5 resoluções de rejeição (5!) do PEC, levados pelo entusiasmo do grande feito de terem derrubado o Governo PS, decidiram formalmente apresentar ao PR uma alternativa governativa, no quadro da actual composição parlamentar, tendo já começado a delinear a estrutura da futura equipa governativa.
A composição do Governo dos PECNOT (em português: PEQUENOTES), ainda não está completamente definida, mas é já possível avançar com os nomes de alguns responsáveis ministeriais. A saber:
Primeiro-ministro: o  inexperiente Pedro Passos Coelho. (Apesar da sua inexperiência, reconhecida por todos, o PSD, como maior partido da (até agora) oposição não admitiu alternativa);
Vice-primeiro-ministro e ministro da Lavoura e do Mar: Paulo Portas. (Foi tida em conta a sua vasta experiência e os seus amplos conhecimentos em matéria de sobreiros e de submarinos);
Ministro de Estado e das Finanças: Francisco Louçã. (Quem mais poderia ser ? É verdade que ainda se falou em Manuela Ferreira Leite, mas ela própria se escusou, o que mostra que a senhora, embora "não dê uma para a caixa", não é parva de todo);
Ministro de Estado e do Trabalho: Jerónimo de Sousa. (Por razões mais que óbvias);
Ministro da Propaganda: Miguel Relvas. (Pela sua capacidade em difundir patranhas, sem se engasgar, qualidade que não está ao alcance de qualquer um)
Ministro das Obras Públicas e dos Transportes: Marco António (da Costa, acho eu). (Porque já andava, há que tempos, a bater-se ao cargo e, só por isso, tinha prioridade. Invocada, muito justamente, por parte do PSD)
Heloísa Apolónia tem um lugar de ministra assegurado, mas o ministério a atribuir ainda não está assente.  O Grupo dos 5 ainda ficou de ver qual o ministério onde os decibéis da voz da futura ministra poderão causar menores estragos.
E quanto a novidades, por hoje, é tudo.
Resta desejar os maiores êxitos ao governo PECNOT que vem aí a trote. A bem da Nação, como é bom de ver.

Última hora:
O Grupo dos 5, que continua reunido, já tomou mais algumas decisões. Ei-las:
Aguiar-Branco, por indicação do seu partido (PSD) também vai ter um cargo ministerial. Tal como no caso de Heloísa Apolónia, ainda não está, no entanto, definido o lugar a ocupar. Tendo em conta que Aguiar-Branco é tido como um  "polivalente" e uma vez que tem dado amplas provas de sofreguidão em chegar ao "pote" vai ficar com um qualquer ministério para o qual não seja possível encontrar titular. Caso não haja nenhum ministério sobrante na estrutura já pensada, acrescenta-se mais um. No problem, diz uma fonte (mal) informada;
O Ministério das Polícias foi atribuído ao CDS. Para o lugar de ministro foi aventado o nome do eurodeputado Nuno Melo que, todavia, está hesitante em aceitar e razões não lhe faltam, temos de convir. Por um lado, desgosta-o imenso o facto de Paulo Portas não ser primeiro-ministro. Por outro, custa-lhe deixar o "tacho" bem remunerado de eurodeputado, o que é compreensível: o rapaz está em princípio de vida. No caso de Nuno Melo acabar por recusar, a responsabilidade pelo novo Ministério das Polícias será entregue a um deputado do CDS eleito pelo círculo de Setúbal. A pressa com que me foi dada a notícia não me deu tempo para tomar conta do nome.
(Mantenham-se atentos. Se houver mais alguma novidade que chegue aqui à redacção, dá-la-emos. Nesta, ou noutra edição. Entretanto, durmam bem: José Sócrates apresentou a sua demissão ao silencioso inquilino de Belém, mas já temos quem dê conta do recado.)

Uma grande ovação...

Siga para o TOP*

"Estou prestes a assistir a um crime e nada posso fazer."
Sofia C. (Via Porfírio)
(Crime, diz a Sofia e bem. Siga a queixa para o *Tribunal de Opinião Pública)

A alternativa

E qual é essa "alternativa política responsável, mobilizadora e socialmente justa"? Qual é ela?
A resposta é dada,  fora da Assembleia da República, pela boca do líder do PSD: "Não posso prometer que não haja aumento de impostos". "E não são só os impostos", ameaça ele.
A verdadeira alternativa, porém, chama-se FMI.  Há que tempos o PSD clama por ele. Uma "bênção" como diz o "companheiro" Soares dos Santos.

Ele há cada palhaço !

Não dá vontade de rir ? 

Nem eles acreditam

"O problema de Portugal só se resolve com um Governo de salvação nacional que inclua praticamente todos aqueles partidos que defendem a democracia", diz o homem dos "truques" do Pingo Doce, Alexandre Soares dos Santos, para quem a entrada do FMI é uma "bênção".
Fica assim claro que nem os homens do PSD acreditam que um Governo de Pedro, ou de Pedro e Paulo seja capaz de resolver os problemas do país.