sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Pior, por todas as razões e mais uma

Ora façam o favor de ler e conferir:

"Têm razão os que dizem que o BES não é comparável ao BPN. É pior: na dimensão relativa dos dois bancos e, logo, nos seus efeitos. Mas também no contexto."
(Carlos Costa Pina; "O Novo Banco do Estado". Na íntegra: aqui.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Lição a tirar

"(...)
Ao fim de vários erros, muitas dívidas e custos sem fim para os contribuintes, não precisamos de mais exemplos para assumir que a sociedade precisa de reformatar-se e dar outra dignidade ao valor do trabalho e à criação de emprego. A geração de riqueza fácil através da especulação tem de ter um fim. Caso contrário, a ganância continuará a ser a base do sistema - e ensinada em todos os manuais das melhores universidades."
(Daniel Deusdado; "Novas vítimas do capitalismo popular". Na íntegra: aqui. Sublinhado meu)

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Engenhosa solução ou um enorme sarilho ?

A solução adoptada pelo governo de Passos, Portas & Cª para resolver os problemas decorrentes da derrocada do BES já foi qualificada como engenhosa, qualificativo que não custa aceitar,  visto que a operação levada a cabo é, essencialmente, um exercício de engenharia financeira. O ser ou não "engenhosa" nada nos diz, porém, sobre a bondade da solução. Sobre este aspecto da questão já as dúvidas são mais que muitas.
Para começar, não há forma de garantir antecipadamente se o "Novo Banco", entretanto criado com os despojos não tóxicos do BES, acabará, ou não, por ter êxito no mercado. 
Por outro lado,  também não se sabe de que forma irão reagir os accionistas do BES que, com a operação desencadeada pelo governo, viram os seus activos reduzidos a zero ou próximo disso. Considerarão eles que a solução adoptada os trata justamente ou, pelo contrário, julgar-se-ão vítimas de um confisco que a Constituição não permite? Se o entendimento dos accionistas do BES for este, hipótese que não me parece ser de descartar liminarmente, é evidente que não faltarão processos instaurados contra o Estado. Teremos, em tal caso, um enorme sarilho em vez de uma engenhosa solução.
Voltando às dúvidas, cumpre notar que o próprio governo, ainda que oficialmente tenha vindo a afirmar e a reafirmar a bondade da solução, partilha das muitas dúvidas que por aí circulam. Só assim se explica que o governo se tenha vindo a distanciar do caso, desde a primeira hora. De facto, por alguma razão, o anúncio da operação foi feito, não pelo primeiro-ministro ou por alguém que as suas vezes fizesse, como seria curial, visto tratar-se de uma operação da responsabilidade do governo, mas sim pelo governador do Banco de Portugal que, pelos vistos, não rejeitou desempenhar o papel de pau mandado. 
Haverá, além da acima explicitada, outra justificação para o distanciamento  demonstrado pelo primeiro-ministro (que estava em férias e em férias continuou), em relação à resolução do problema, distanciamento que, face à gravidade do caso, chega a ser obsceno?
Como diria o outro;  poderá haver, mas não estou a ver.

É fartar vilanagem!

"Os serviços da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa são controlados em grande parte, desde a posse de Santana Lopes em Setembro de 2011, por pessoas próximas do provedor e dos membros da sua equipa, muitas delas com ligações directas ao PSD e ao CDS.
(...)
Traçar um retrato rigoroso da distribuição de poder em função dessas filiações não é, todavia, tarefa fácil. Desde logo porque, por mais que se tente, não há informação disponível e suficiente sobre quem faz o quê ao nível das chefias e direcções da instituição. Tanto mais que, entre 2012 e 2013, o número dos seus dirigentes cresceu 23%, passando de 190 para 233.

O PÚBLICO pediu nos últimos meses informação detalhada sobre o assunto — atendendo a que a SCML, ao contrário das restantes misericórdias do país, é tutelada pelo Estado, cabendo ao Ministério da Segurança Social a “definição das orientações gerais de gestão” e a “fiscalização” da sua actividade —, mas não obteve resposta concludente.
(...)
Em todo o caso, a consulta do site e os dados recolhidos em documentos oficiais indiciam que a situação se agravou em relação ao mandato anterior, em que o provedor era o socialista Rui Cunha.

Começando pela mesa, além de Santana Lopes, dois dos seus vogais são membros importantes do PSD: Helena Lopes da Costa, ex-deputada do PSD e ex-vereadora da Câmara de Lisboa quando Santana era presidente; e Paulo Calado, ex-vereador do PSD em Setúbal e sócio da sociedade de advogados Global Lawyers, criada por Santana Lopes. No lugar de vice-provedor está Fernando Paes Afonso, um destacado militante do CDS que já integrou os seus órgãos nacionais.

No tempo de Rui Cunha, para lá dele próprio, não havia mais nenhum dirigente socialista de relevo na cúpula da Misericórdia.

Por outro lado, em lugares chave da instituição encontram-se agora pessoas como Helena do Canto Lucas, directora do Departamento de Gestão Imobiliária e Património, Irene Nunes Barata, directora da Direcção de Aprovisionamento, e Teresa Paradela, subdirectora do Património, todas muito próximas do actual provedor. 

A primeira entrou como jurista para a EPUL durante o mandato de Santana Lopes na Câmara de Lisboa, passou depois para uma das suas empresas de reabilitação urbana e, em Setembro passado, intregrou a lista do PSD à Câmara da Figueira da Foz, da qual Santana foi presidente entre 1998 e 2002. É casada com um advogado que partilhou com ela e com Santana Lopes um escritório em Lisboa, além de ser sócio deste na imobiliária Espaço Castilho. 

A segunda foi directora do Departamento de Apoio à Presidência da câmara de Lisboa no mandato de Santana. A terceira, além de arquitecta do quadro da câmara da capital, tem sido candidata a vários órgãos autárquicos em listas do PSD.

Entre os nomes conhecidos como próximos do provedor está também Lídio Lopes, um antigo vice-presidente da Câmara da Figueira e até há pouco líder histórico da concelhia local do PSD, que ocupa as funções de subdirector do Departamento de Qualidade e Inovação da Misericórdia.

Em postos chave aparece igualmente Anabela Sancho, directora operacional do Departamento de Jogos, que é casada com o antigo ministro e dirigente do CDS Telmo Correia. Também a mulher do deputado centrista João Gonçalves Pereira, Joana Lacerda, desempenha funções na Direcção de Aprovisionamento."

(Notícia da autoria de JOSÉ ANTÓNIO CEREJO com  o título "Lugares-chave da Misericórdia de Lisboa são ocupados por militantes do PSD e do CDS". Noticia na íntegra:", aqui. Sublinhados meus)

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Depois deste, haverá outro?

"(...)
Note-se que não há a mínima razão para pensar que Carlos Costa terá mentido intencionalmente e, se por acaso o fez com intenção, não há a mínima razão para pensar que a sua intenção não fosse boa. Mas aconteceu que as suas declarações descreveram ao longo dos últimos meses (anos?) uma realidade diversa da realidade real, muito mais optimista do que aquilo que nos parece hoje ajustado e onde não havia quaisquer razões para suspeitar de actividades ilícitas. Acontece. Mais: se houve um optimismo exagerado e aqui e ali alguma informação sonegada ao público, é provável que Carlos Costa tenha considerado que fazia o seu dever, já que a confiança é o principal capital do sistema financeiro. Pode pensar-se que Carlos Costa e todos os funcionários do Banco de Portugal que lidaram com a questão BES foram enganados pelo banco e pelos seus dirigentes (o que não diria muito bem das suas capacidades de fiscalização e regulação, já para não falar da sua competência, argúcia ou bom senso) ou que perceberam num ápice o que se passava mas não quiseram tornar pública a verdadeira dimensão do problema para não causar maiores estragos. É possível. O que seria bom que o Banco de Portugal e Carlos Costa percebessem é que esta estratégia possui custos elevados ao nível da credibilidade da instituição e das pessoas que a integram. Ou seja: se tudo tivesse acabado em bem, o Banco de Portugal teria podido manter a sua ficção até ao fim. Mas, como não acabou, a ficção acabou por se revelar uma fraude. Seja porque o Banco de Portugal não percebeu o que se passava no BES, seja porque percebeu e não quis agir de forma determinada para não "alarmar os mercados", esperando que o Espírito Santo (o da Santíssima Trindade) resolvesse as coisas, a credibilidade da instituição, do seu governador e dos seus funcionários, justa ou injustamente, saiu ferida de morte.
(...)
Perante um caso como o do BES, teríamos gostado de ver o Banco de Portugal, hoje, reconhecer responsabilidades, fazer uma investigação aprofundada do que correu mal, admitir culpas, corrigir procedimentos, garantir que nunca mais algo semelhante se poderia voltar a passar nas suas barbas. Admitir, em suma, que se vai preocupar mais com a honestidade do que com a amizade dos banqueiros. Mas não vemos nada disso e esse facto é mais preocupante que o caso BES, porque nos diz que, depois deste BES, haverá outro, e outro, e outro."

(José Vítor Malheiros; "Novo Banco, Velho Banco: mais uma viagem, mais uma corrida". Na íntegra: aqui. Sublinhados meus)

Finalmente, um sucesso estrondoso

O "estoiro" do BES, um banco cuja solidez era garantida ainda há poucos dias pelo  primeiro-ministro e pelo governador do Banco de Portugal, foi ouvido em quase todos os continentes. Um feito destes é um sucesso em qualquer parte do mundo. E um sucesso estrondoso só ao alcance de um bando de ineptos.