quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Ir por lã e sair chamuscada

É o que antecipo que irá acontecer à líder do CDS/PP, Assunção Cristas (na imagem), com a iniciativa de apresentar na Assembleia da República uma moção de censura ao Governo, na sequência dos incêndios que têm devastado o país. Antecipo e desejo.
Como ela e o seu partido não estão isentos de responsabilidade no que respeita ao objecto da moção de censura (muito pelo contrário) lenha (*) para se chamuscar, enquanto ex-ministra da Agricultura do governo Passos/Portas, é coisa que não vai faltar. Espero bem.

(*) Uma pequena acha: «Julho de 2012, Catraia, Tavira... Era então Ministra da Agricultura Assunção Cristas... Aquele que foi considerado até este ano o maior incêndio ocorrido em Portugal, devastou 24 000 hectares da Serra do Caldeirão, atingindo os concelhos de São Brás de Alportel e de Tavira, percorrendo mais de 30 km, só parando quase às portas daquela cidade. felizmente não houve vítimas. O relatório elaborado então por Prof. Domingos Xavier Viegas apontou falhas graves na coordenação e combate, erros na percepção e análise do incêndio e falhas estruturais da estrutura de defesa da floresta e falhas nas comunicações (menos no SIRESP)..» (Luís Brás)

terça-feira, 17 de outubro de 2017

Bem prega "frei" Marcelo !

Depois de estabilizados dos fogos deflagrados nos últimos dias e feito "o balanço da tragédia", Marcelo Rebelo de Sousa,  falou hoje ao país, conforme tinha sido anunciado em  nota previamente publicada no "site" da Presidência da República.
Para ser franco, acho que Marcelo, num discurso que não me pareceu particularmente bem construído, não foi além do expectável do "Presidente dos afectos" e se alguma crítica lhe pode ser feita, do meu ponto de vista, é essa precisamente.
É que na nota citada renova-se o apelo "a uma mudança de ponto de vista, traduzida em atos e não em palavras", apelo que é naturalmente dirigido ao Governo, eventualmente também à Assembleia da República, mas que vincula igualmente quem o faz, sob pena de incoerência.
Ora, com o discurso que acaba de fazer, não parece que Marcelo tenha passado da palavra aos actos. Demonstrações de afecto, pedidos de desculpa caem sempre bem, e melhor ainda quando partem de alguém que exerce as funções de Presidente da República, mas a este, enquanto tal, tem que se exigir mais. Se está correcta a interpretação de quem afirma que nas palavras de Marcelo está implícita uma clara censura ao Governo, então Marcelo deveria, seguindo o seu próprio apelo, passar da palavra aos actos e usar dos poderes que a Constituição lhe confere, dissolvendo a Assembleia da República, ou porventura, demitindo o Governo, observando naturalmente o que a Constituição estatui, num caso e noutro, arcando também, obviamente, com os (elevados) custos inerentes a qualquer das hipóteses.
Limitar-se a esperar que a "Assembleia da República clarifique se quer ou não manter em funções o Governo" é, quanto a mim, fazer de frei Tomás.
Não estou com isto a dizer que Marcelo deveria ter agido desta ou daquela forma. O que pretendo significar é que nem sempre o que se nos afigura como o mais adequado ou o mais conveniente está ao alcance da mão. De quem quer que seja. Marcelo incluído. 
(Imagem daqui)

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Quem gosta de ser enganado?

"Há uma coisa impossível de explicar a um jornalista. Na realidade, ela pode ser explicada a um jornalista e qualquer jornalista a consegue entender. Mas não a consegue usar no seu trabalho, que exige respostas e soluções simples e tão rápidas como as suas notícias. Essa coisa foi a que António Costa disse ontem: não só não pode garantir que o dia de ontem não se vai repetir como é seguro que, de alguma forma, vai acontecer de novo. O que o jornalista não pode compreender é que a resposta a um problema realmente importante é muitíssimo mais lenta do que o seu trabalho. É como pedir a um pugilista que jogue xadrez. Com luvas. Mas isso não pode determinar as decisões tomadas pelos políticos.(...)
(Daniel Oliveira: "Incêndios: claro que se vai repetir. Durante anos". Fonte)

Quem diz jornalista, diz outra pessoa qualquer. Quantos não ouvi já hoje lamentar que António Costa não tenha garantido que não voltará a haver incêndios com a gravidade e a dimensão dos que, este ano, têm ceifado vidas, devorado casas e florestas?
Não será, no entanto,  bem evidente que só com enorme demagogia é que uma tal afirmação poderia ser feita? Pois não é também claro que, como salienta Daniel Oliveira na peça citada, os problemas que  estão na base da dimensão das tragédias não se resolvem dum dia para o outro?
Quem é que gosta de ser enganado? Eu não. 

Não prescindo, no entanto, da exigência de serem tomadas, com a maior urgência, medidas, designadamente no âmbito do ordenamento do território, que evitem, no futuro, tragédias com a gravidade e a dimensão das que temos vivido.

Depois deste ano, nada poderá ficar como antes”, disse António Costa, já hoje. Espero que sim. De facto, repito, não gosto mesmo nada de ser enganado.

Finalmente a chover.

E bem.
Demorou a chegar, mas chegou.
Que belo tempo! E que alívio!

sábado, 14 de outubro de 2017

Acusação feita, sentença lida

«Escrevem os jornais, todos, e dizem as televisões, todas, que o Ministério Público quer que o Sócras seja impedido de exercer cargos públicos durante 5 anos "depois" de condenado. Não é "se", é "depois".» (Fonte)
Comunicação social: julgamento para quê ? Para esta espécie de gente um processo-crime é tal qual um chouriço: basta atar e pôr ao fumeiro.
Tenham vergonha!
(Reeditado)

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

O diabo é isto...


Para a direita, claro!
Que raiva!

(Estudo de opinião efetuado pela Eurosondagem para o Expresso e SIC)

João Miguel Tavares, humorista?

"Não se enganem: aquilo que ficámos a conhecer não foi a acusação de José Sócrates, mas a acusação de um regime inteiro. " 
(...)
"Contudo, o julgamento que se aproxima não pode esgotar-se nele. É sobre Sócrates, sobre Salgado, sobre Vara, sobre Bava, sobre Bataglia, e sobre um regime construído por inúmeros ex-socratistas, que agora saem de cena na esperança de que esqueçamos o papel que desempenharem [sic] ao longo dos anos. Eu não esqueço. Aqui estarei para lembrar que Sócrates não ascendeu sozinho, não governou sozinho e, acima de tudo, não merece cair sozinho."
Que o caso se presta a tratamento humorístico não sofre dúvida, visto que o "Imprensa Falsa " também elaborou uma piada sobre o tema: "Operação Marquês: Jovens que receberam computadores Magalhães também vão ser acusados". Não garanto. porém, que a intenção de João Miguel Tavares tenha sido a de fazer humor. Porém, se excluirmos a hipótese de  estarmos perante  uma tirada humorística, então  a crónica donde respiguei os extractos supra, ao ir tão longe ao ponto de englobar na acusação "um regime inteiro", só pode ser vista como resultado de súbita alucinação. Temporária, espero.
(imagem e citações daqui

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma

Ontem escrevi, nestas páginas, um comentário sobre a anunciada candidatura de Pedro Santana Lopes à liderança do PSD, com o título "Insondáveis são os desígnios de Santana". 
Hoje, tendo acabado de ouvir o discurso de apresentação de candidatura à mesma liderança por parte Rui Rio e tendo, muito sinceramente, ficado sem saber ao que vem, tenho de dizer, para não discriminar Santana Lopes (que não me merece menos consideração que o seu rival nesta corrida),  que se os desígnios deste são insondáveis, os de Rui Rio não são menos imperscrutáveis.
Para dizer toda a verdade, acho que nem um, nem outro, são portadores de projectos com capacidade para entusiasmar os militantes e menos ainda capazes de motivar o eleitorado. 
Veremos, como diz, esperançadamente, o cego.
Entretanto, para minha ilustração e comentário adicional, respigo do "entusiasmante" discurso de Rui Rio o que segue: 
"O PSD não é nem será um partido de direita" (A esta hora, deduzo, o militante do partido e  candidato à Câmara de Loures, André Ventura, já não deverá constar dos ficheiros do partido. Ou será que um indivíduo que defende a pena de morte e a prisão perpétua, não sendo de esquerda,  como é sabido, pode perfeitamente ser do centro?)
"Na política, como na vida, palavra dada deve ser palavra honrada".(O dito é feliz, mas infelizmente,  não é original. Aliás, ainda estará para aparecer um político, ou candidato a tal, que se permita anunciar o contrário.)
"Para o PSD, este será o primeiro dia da sua caminhada para a reconciliação com os portugueses. Mas, para Portugal, este terá de ser, acima de tudo, o princípio do fim desta coligação parlamentar que hoje, periclitantemente, nos governa".(Que assim não seja, rogo eu a todos os sant@s e santinh@s da vossa devoção.)
(Foto Paulo Novais/lusa. Foto e citações: daqui

terça-feira, 10 de outubro de 2017

Insondáveis são os desígnios de Santana

Não consigo imaginar o que pode motivar Santana Lopes a concorrer à liderança do seu partido (o PPD/PSD, como ele gosta de o designar), sobretudo sabendo que já desempenhou essas funções, não se podendo dizer que esse período da sua vida, durante o qual exerceu também as funções de primeiro-ministro, depois da debandada de Durão Barroso rumo a Bruxelas, tenha sido particularmente feliz.  Quem não se lembra da metáfora da incubadora?
Sem dúvida que a presença de Santana Lopes dá outro colorido a qualquer disputa e neste caso é expectável que tal aconteça pois não há dúvida que Pedro Santana Lopes é um político pouco ou mesmo nada convencional. Passa por ser um sedutor que, alegadamente, peca por ser demasiado instável. Dele, nesse sentido, se poderá dizer, com alguma verdade, que só estará bem onde não está. Tal não lhe dá, obviamente, nenhuma vantagem competitiva na corrida em questão. Eu diria até que muito pelo contrário.
Não se conhecendo, nem bem, nem mal, qual o programa que Santana Lopes vai submeter à apreciação dos seus companheiros, também  não é possível saber quais as linhas com que se coze, nem quais as mais-valias que poderá trazer ao partido.
Tratando-se de quem se trata, uma personalidade tão imprevisível, não sei se a sua candidatura à liderança não será apenas uma forma de fazer prova de vida, ou seja, uma prova de que, como anunciou em tempos que já lá vão, continua a andar por aí. Se for o caso, a primeira promessa, já bem antiga, já Pedro Santana Lopes a cumpriu.
(imagem daqui)

O complexo da rã no CDS

Durante o último debate quinzenal, no Parlamento, Jerónimo de Sousa dirigindo-se à líder do CDS-PP, que, de tão emproada com o resultado obtido na eleição para a Câmara Municipal de Lisboa, ainda se arrisca a rebentar pelas costuras, lembrou-lhe, com toda a propriedade, a fábula da rã que que queria ser boi.
Ao que parece, no CDS, a mania das grandezas não está a afectar apenas Assunção Cristas. De facto, João de Almeida, porta-voz do partido (que, não contando com as coligações, não obteve mais que 2,60% dos votos nas recentes eleições autárquicas) também já se sente com força para afirmar que o seu partido se deve assumir como alternativa ao PS.
"Com o sentimento de responsabilidade que temos, com a elevada fasquia que resulta desse resultado eleitoral, entendemos que o CDS se deve assumir como alternativa a esta governação, deve querer, e quer, representar todos aqueles que não se reveem nesta governação do PS, apoiada pelo BE e pelo PCP"- assim falou o porta-voz (na imagem).
Convém lembrar a um João de Almeida a pôr-se em bicos de pés que o complexo da rã que queria ser boi afecta igualmente outros batráquios e que idênticos são riscos: de tanto incharem, a rã e demais batráquios acabam por estoirar.
(Foto: ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA. Daqui)

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Passos Coelho tem lepra ? (Uma caixinha de surpresas com cenas pouco edificantes)

(Foto Miguel Manso / Público)
Surpresas é algo que não tem faltado no processo desencadeado na sequência da renúncia à recandidatura à liderança do PSD anunciada por Passos Coelho, no dia posterior às eleições autárquicas, numa atitude que se louva, embora, manifestamente, tal anúncio não fosse minimamente expectável face a declarações feitas anteriormente pelo mesmo Passos Coelho. A renúncia à recandidatura constitui, pois, ela própria, uma surpresa. A primeira, por sinal, mas, passe o pleonasmo, não tão surpreendente assim, visto que o vezo de Passos Coelho em dar o dito pelo não dito já vem de longe. Diria mesmo que tal comportamento faz, desde sempre, parte da sua idiossincrasia como político.
Mas surpresas, e de tomo, continuam a surgir em catadupa. Desde logo as desistências de personalidades apontadas como favoritas a substituir Passos Coelho, como Luís Montenegro, primeiro e Paulo Rangel, depois. Sobre as razões invocadas por um e por outro, já me pronunciei noutro post e não tenho razões que me levem a rever a opinião então manifestada. Muito pelo contrário. A leitura de alguma imprensa de fim de semana só contribuiu para cimentar a ideia de que a decisão de qualquer deles baseou-se tão só em calculismo e numa grande dose de  cinismo.
A meu ver, o PSD não perdeu nada com tais desistências e o país muito menos. Não percamos, pois mais tempo com tão fracas figuras, porque, ou eu me engano muito, ou qualquer deles passou à história com letra pequena. Isto, claro, se no PSD ainda restar alguma capacidade de memória e noção de dignidade, como suponho.
Para variar, há que reconhecer que surpresa não será a candidatura de Rui Rio, candidatura há muito falada e que, ao que dizem as crónicas, vai ser anunciada formalmente em Aveiro na próxima quarta-feira. Que assim seja!
De surpresa poderá voltar a falar-se, se a candidatura de Pedro Santana Lopes avançar, hipótese que, ao que garante o comentador televiso agora frequentemente apelidado de "bruxo de Fafe", continua em cima da mesa e que, a concretizar-se, trará algum colorido à disputa. As hipóteses de êxito de Santana Lopes, face a Rui Rio, parecem francamente diminutas. Ou, porventura, nenhumas, se estiver certo o dito segundo o qual "a mesma água nunca passa duas vezes por baixo da mesma ponte". Considerações desta natureza não serão, porém,  suficientes, nem de molde a esmorecer a vontade de Santana Lopes em se candidatar, se sentir que continua a ter algum apoio nas bases, como parece ser o caso,  porque Pedro Santana Lopes é um D. Quixote com sotaque português, para quem não há impossíveis.
Outra eventual surpresa seria a confirmação como candidato de um ilustre desconhecido  que ultimamente tem vindo a ser falado por diversas personalidades do partido,  que responde pelo nome de Miguel Pinto Luz. Que seja!
A grande surpresa, porém, a que assume a natureza de autêntico escândalo reside no facto de nenhuma figura das mais gradas pertencentes ao círculo dos colaboradores próximos de Passos Coelho se ter mostrado disposta a defender o legado político de Pedro Passos Coelho, que, estando de partida é, no entanto, um líder que só deixará de o ser por sua única e exclusiva vontade, ainda que pressionado pelas circunstâncias, como é evidente.
Não tenho por Passos Coelho (e nunca o escondi) nenhuma consideração, nem como político, nem sequer (ai de mim!) como pessoa. Também não considero que o seu legado, se algum deixa, mereça ser preservado. Isto, porém, é o que eu penso. Bem diferente teria de ser, como é óbvio, o entendimento dos que ao longo de mais de seis anos, no governo ou na oposição, passaram o tempo a exaltar a política de austeridade "custe o que custar" e medidas como a da redução do peso do Estado na economia, com a venda a pataco de tudo quanto era empresa pública; ou as que se traduziram em cortes de subsídios de férias, de salários da função pública e de pensões; ou na desvalorização do salários dos trabalhadores do sector privado e na precarização do trabalho assalariado. Etc. etc. etc. Esta política e estas medidas eram aplaudidas entusiasticamente por todos quantos volteavam em  redor de Passos Coelho.
Como se compreende, pois, que entre tanta gente, não apareça, agora, ninguém disposto a defender, desde logo na arena partidária, a excelência de tal política? 
Será que, como Saulo de Tarso, caíram subitamente do cavalo e viram finalmente a luz? Como não acredito em milagres, as explicações continuam por aparecer e não há dúvida de que os esclarecimentos em falta deveriam de partir de pessoas com especiais responsabilidades durante o passismo, como Maria Luís Albuquerque (na imagem supra), apontada, durante muito tempo, como sucessora natural de Passos Coelho, ou Marco António Costa (na imagem infra) o "dono" da máquina do partido, durante todo o longo período da governação passista.
De Maria Luís Albuquerque não se ouviu, até agora, nem um sussurro, o que é estranho tratando-se de pessoa sempre pronta a dar a sua opinião sobre tudo e sobre nada. 
Marco António Costa, sim, falou em entrevista dada ao "Expresso". Falou e disse coisas de espantar. Por exemplo, fica-se a saber que Luís Montenegro terá desistido de se candidatar, porque, lê-se no "Expresso", "estava demasiado colado a Passos". Tal como ele próprio, Marco António: "Ambos carregamos o facto (sic) de termos dado muito a cara no período difícil da governação".

Marco António Costa é, pois, claro.  A explicação para o comportamento dos colaboradores e, até há poucos dias, admiradores entusiásticos de Pedro Passos Coelho, de repente apenas empenhados em marcar distâncias em relação ao seu ainda líder, é, afinal, simples:
Passos Coelho, sem poder, tem lepra.
Como foi possível que a governação do país tivesse estado, durante toda uma longuíssima legislatura, entregue a gente desta ?  

(FotoNuno Ferreira Santos / Publico)
(Reeditado)

domingo, 8 de outubro de 2017

Demónios enraivecidos?

Enquanto decorreu a campanha para as eleições autárquicas, instalou-se, como por encanto, em todo o território do Continente. uma verdadeira acalmia no respeitante a  novos incêndios. Digo "como por encanto", porque, na verdade, não ocorreram durante esse período alterações significativas nas condições atmosféricas que prevaleciam no período anterior.
Contados os votos, apurados os resultados, e mantendo-se as condições meteorológicas que vinham do antecedente, eis que os incêndios voltaram a assolar as nossas gentes, as nossas terras, os nossos campos e as nossas florestas, com uma violência de todo inesperada e incompreensível para esta altura do ano.
Haverá, presumo, explicação racional para este comportamento do fogo, explicação que, todavia, não alcanço.
Daí que, parafraseando um gracejo bem conhecido, me sinta inclinado a dizer que, não acreditando em bruxas, e muito menos em demónios do fogo, às tantas, sou levado a admitir, embora contrariado, que sim, que "los hay, los hay!"
(Foto Paulo Novais/lusa. Daqui)

sábado, 7 de outubro de 2017

"Entrou pela saída de emergência, saiu pela porta dos fundos"

«(...) 
De facto, ele [Passos Coelho] recebeu o país de rastos, com um défice de 10,5% do PIB. Mas recebeu porque quis: ele queria ser primeiro-ministro e Paulo Portas queria ser ministro dos Estrangeiros. E, por isso, aliaram-se à extrema-esquerda parlamentar para chumbar o PEC IV - que já havia sido aprovado em Bruxelas e Berlim, e que talvez tivesse evitado o resgate, como o evitou em Espanha. Ao fazê-lo, Passos e Portas sabiam várias coisas que iriam fatalmente acontecer: o Governo do PS demitir-se-ia; mas até novas eleições teria de chamar a troika e negociar em condições de brutal dureza, que inevitavelmente lhe custariam a seguir a derrrota nas eleições. Tudo aconteceu como previsto, sendo de notar que não é verdade que o PSD tenha tido que executar um programa ajustado unicamente entre o Governo do PS e a troika: certamente se lembram do dr. Catroga a representar Passos Coelho nas negociações e a gabar-se que, no essencial, o programa da troika era o do PSD. E, depois, todos nos lembramos de Passos a dizer que iria ainda além do programa. Se tudo fez para governar naquelas circunstâncias, que legitimidade tem para se queixar da herança recebida?
(...)
Talvez a governação de Passos tenha sido corajosa e certamente que foi impopular. O problema é que estava errada, como o próprio FMI viria a reconhecer posteriormente.
(...)
[Pois] se o défice desceu de facto, a dívida continuou sempre a subir e, no final dos quatro anos, tinhamos vendido as telecomunicações, os correios, a TAP, a navegação aérea, os portos, e o único banco que restava português e vivo, embora arruinado, era a Caixa Geral de Depósitos (...)"
(...)
(...) a verdade é que Passos Coelho propunha-se continuar por mais quatro anos a mesma política de cortes cegos, horizontais e dirigidos às pessoas e não aos organismos a mais. O mérito de Mário Centeno foi o de ter apostado que aliviando o cinto, devolvendo o dinheiro às pessoas ao ritmo possível, elas iriam gastá-lo de imediato e isso poria a economia a crescer e as receitas fiscais a subir num círculo virtuoso que era o oposto do que fora a crença e a obra funesta de Vítor Gaspar, Maria Luís Albuquerque, António Borges e Pedro Passos Coelho.
"Não há que negar que a recuperação económica tem sido muito ajudada por factores externos, como o turismo que o Daesh desviou para aqui, as compras de dívida pública pelo BCE e a própria retoma, ainda que moderada, no espaço europeu [*]. Porém, duvido que se Passos estivesse a chefiar agora o Governo iria ter capacidade para perceber que era hora de apostar e ir a jogo. A prova disso é a sua célebre promessa, feita quase em jeito de desejo, de que iríamos ter o diabo de volta ... em Setembro do ano passado. Até ao fim (...) foi teimoso, obstinado até no erro, e incapaz de ver diferente do que algumas pretensas verdades imutáveis que lhe enfiaram à pressa na cabeça para que ele governasse Portugal com isso. Como se veria finalmente nas autárquicas, Pedro Passos Coelho tinha ficado irremediavelmente para trás (...)Entrou pela saída de emergência, saiu pela porta dos fundos (...)»
(Miguel Sousa Tavares: "Um homem e o seu destino". In "Expresso" de hoje, edição impressa)

A transcrição é algo longa, mas justifica-se tendo em conta a falta de memória que afecta por aí muito boa gente e outra não assim tão boa.
[*] Uma pequena nota apenas para recordar que qualquer dos factores externos enunciados por Miguel Sousa Tavares e cuja relevância se não nega,  surgiram muito antes de o actual Governo ter entrado em funções. Todos eles já existiam ao tempo da governação Passos/Portas.

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Haja quem "tire as castanhas do lume", que mais tarde se verá "quem tem unhas para tocar viola"

Esvaiu-se, em menos de um fósforo, a perspectiva de termos uma acesa disputa à liderança do PSD. Se, num primeiro momento, os candidatos brotavam como cogumelos, mais depressa ainda se sumiram da face da terra.
Estranhamente, ou talvez não, a debandada foi iniciada por Luís Montenegro, precisamente o presuntivo candidato que reunia, segundo a comunicação social, as melhores condições para prosseguir a política seguida por Passos Coelho e para o substituir. Aliás, ao que se afirmava, Montenegro já desde há muito andava a preparar-se para o desafio. Vê-se agora que, afinal,  muito mal preparado devia estar, uma vez que, para justificar a desistência, Montenegro não foi além da alegação de "razões pessoais e políticas", expressão que significa tudo e mais  ainda um par de botas.
Gorada a hipótese Montenegro, as apostas num candidato com alguma visibilidade entre os apoiantes de Passos Coelho, centraram-se no estridente Paulo Rangel, apostas entretanto e de imediato goradas, pois Rangel não perdeu tempo a descartar a possibilidade, invocando "razões familiares".
Dêem-lhe o nome que lhe derem (familiares, pessoais ou políticas) certo, porém, é que as razões invocadas resumem-se tão só a uma: as perspectivas de êxito político do PSD no curto  e médio prazo não se afiguram particularmente brilhantes e, assim sendo, as expectativas de permanência duradoura no cargo para quem agora venha a tomar conta da liderança do partido também não serão as mais entusiasmantes ou lisonjeiras. O raciocínio dos desistentes Montenegro e Rangel  é, a meu ver, tão simples, quanto cínico: venha agora quem "tire as castanhas do lume", que mais tarde se verá "quem tem unhas para tocar viola". 
Por alguma razão, nem Montenegro, nem Rangel, se dispõem a apoiar qualquer outro eventual candidato. O que, na linha do exposto, se compreende facilmente: o importante para qualquer deles é permanecer de mãos livres para poderem avançar para a liderança, sem quaisquer compromissos e  no momento que mais lhes convier. Não garanto que um e outro sejam políticos manhosos e cínicos, mas sobre serem "espertos" no pior sentido do termo, não tenho dúvidas.
Quem resta? 
Pedro Santana Lopes? Simpático e mesmo "boa pessoa", mas, a meu ver, mau político, Santana Lopes não tem nada a ganhar em entrar nesta "corrida". Espero que os seus verdadeiros amigos lhe façam ver que o seu tempo já lá vai.
Rui Rio? Possivelmente sim, porque depois de a sua intenção de avançar ter sido tantas vezes anunciada,  Rio não tem margem para recuar e, em boa verdade, também não tem nada a perder. O simples facto de se manter na corrida, depois tão estrondosas desistências, é trunfo mais que suficiente para, em futura disputa, triunfar sobre todo e qualquer calculista, chame-se ele Montenegro ou Rangel. 

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Brotam que nem cogumelos....

Ontem mesmo, Passos Coelho anunciou, na sequência da estrondosa derrota sofrida pelo seu partido nas eleições autárquicas disputadas no passado dia 1 deste mês, que não se recandidataria à liderança do PSD.
Um tanto surpreendentemente, pelo menos para mim que supunha que não houvesse tantos candidatos à sucessão, eis que acontece precisamente o contrário. Candidatos, ainda putativos ou já assumidos  é coisa que não falta a ponto de se poder dizer que brotam que nem cogumelos após as primeiras chuvas outonais. Alguns deles estão a aparecer mesmo donde menos se esperaria.  De facto, se o aparecimento de Rui Rio estava mais que anunciado e se o surgimento de um ou mais candidatos conotados com a linha política de Passos Coelho (Montenegro, Rangel e mais uns tantos) era perfeitamente expectável, quem é que se teria atrevido a imaginar que Pedro Santana Lopes poderia estar a ponderar candidatar-se, ou (surpresa das surpresas!) que um André Ventura estaria na firme disposição de substituir no cargo de líder do seu partido o seu patrocinador como candidato â Câmara de Loures, o sobredito Pedro Passos Coelho. Sim, quem se lembraria? Eu não, seguramente.
Como, porém,  a procissão ainda nem ao adro chegou, não custa admitir que possam vir a surgir outros candidatos, porventura com capacidade de liderança e qualidades suficientes para restituir ao PSD o prestígio e a credibilidade de que o partido já beneficiou, capacidade e qualidades que sinceramente não vejo em nenhum dos candidatos já anunciados ou que como tal são presumidos, embora haja, naturalmente, distinções a fazer, porque nem toda a gente é farinha do mesmo saco. 
Isto dito, devo acrescentar que a escolha da figura do André Ventura para ilustrar este apontamento não é inocente. O facto de um indivíduo como André Ventura, defensor da pena de morte, da prisão perpétua, da castração de pedófilos e assumido racista e xenófobo, se sentir com suficiente à vontade para se candidatar à liderança de um partido que professa programaticamente um ideário humanista e personalista, em tudo contrário às ideias que o candidato defende, é a melhor prova de que o PSD é hoje um partido completamente à deriva. 
Com candidatos como este Ventura, é óbvio que o PSD não vai a parte nenhuma ou então, o que será muito pior, pode ir encalhar na extrema direita. 
Com os restantes anunciados também não irá longe. Presumo.
Num ponto, o Ventura leva vantagem a todos. Como bombo da festa. Isso é certo e seguro.
(Imagem daqui)