terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Uma boa/má/péssima notícia

A eleição do ministro das Finanças de Portugal, Mário Centeno, como presidente do Eurogrupo só pode ser considerada, do meu ponto de vista, como uma boa/excelente notícia. E nem sequer haverá necessidade de recorrer a grandes considerandos para tal se concluir. Bastará a certeza de que esta eleição vai reforçar a credibilidade externa de Portugal, com reflexos benéficos, quer no plano das finanças públicas, quer no plano da economia. É expectável, com efeito, que, em consequência e salvo alguma outra alteração de circuntâncias de sinal contrário, se  mantenha e até se acentue a tendência que nos últimos tempos se tem vindo a verificar no sentido da descida da taxas de juro incidentes sobre a dívida pública, sendo por outro lado legítimo esperar que se assista a um aumento significativo do investimento estrangeiro. 
Sabe-se o quanto é importante a diminuição das taxas de juro atendendo à dimensão da dívida pública portuguesa e também é sabido que, sem investimento, incluindo o estrangeiro, a economia portuguesa não poderá crescer ao ritmo que é possível e desejável. Dir-se-ia, pois, que não faltam razões para festejar a eleição de Centeno, ainda que sem injustificados optimismos.
Estranhamente, porém, alguma esquerda, com destaque para o PCP e para o BE,  não mostram nenhum entusiasmo com tal eleição. Muito pelo contrário, se atentarmos nas declarações vindas dum lado e doutro sobre o assunto, o que, de facto, não é muito compreensível. É que, se é verdade que a eleição de Mário Centeno, só por si, não significa uma reviravolta completa na política de austeridade defendida e seguida, até agora, pela maioria dos países do Eurogrupo, não é menos certo que alguma mudança em sentido contrário está fazer o seu caminho. A eleição de Centeno é, seguramente, um passo nessa direcção. Com efeito, sem uma mudança de orientação, Mário Centeno a presidir ao Eurogrupo não seria hipótese, nem possível, nem concebível. 
Essa era, precisamente, a ideia dos políticos e comentadores conotados com a direita que, ao longo de meses, se entretiveram a fazer troça com o caso, logo que a hipótese de candidatura do ministro das Finanças surgiu na imprensa. 
Não admira, por isso, que a direita veja no êxito da candidatura de Centeno uma péssima notícia. Com toda a razão, diga-se. É que a eleição em causa tem, de facto, o valor de uma certidão de óbito. Da TINA, precisamente. 
A direita tem plena consciência desse significado. Essa é, aliás, a razão pela qual políticos e comentadores de direita se têm desdobrado, nos últimos dias, em exercícios vários de contorcionismo. É um facto que se tem visto de tudo um pouco: desde políticos tão "clarividentes" como Santana Lopes e Rui Rio que na eleição de Centeno até conseguem ver a mão do governo Passos/Portas, até comentadores, como o Gomes Ferreira da SIC, que aqui tomo como expoente, que antes juravam que a política do actual Governo era a via mais rápida para um novo resgate, e que agora afiançam que o actual Governo mais não faz do que prosseguir a política de austeridade do governo da direita (de execrável memória)  da responsabilidade da dupla Passos/Portas.
Esta gentinha sabe perfeitamente que não é assim, pois não ignora que onde o governo Passos/Portas cortava salários, pensões, subsídios de férias e de Natal, o Governo actual repõe. E também sabe que, ao invés do  governo austeritário da direita, que brindou o país com um "colossal aumento de impostos", no dizer do próprio Vítor Gaspar, o ministro das Finanças na altura, o actual tem vindo, ainda que paulatinamente, a diminuí-los. 
Não vale a pena continuar a enumerar diferenças, tantas elas são e nem tal gente precisa que lhas recordem, pois, por alguma razão,  tanto se tem esforçado em denegrir a acção do Governo, ao longo dos dois anos que este leva de exercício. E, em boa verdade, também não vale a pena gastar "cera com tão reles defuntos", visto que tal gente não emite tão disparatadas opiniões devido a um qualquer equívoco. Tais opiniões são apenas fruto de mentes intelectualmente desonestas. Isso sim. 
(Foto: ANDRÉ KOSTERS/LUSA)

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