quinta-feira, 24 de julho de 2014

Qual a língua comum da CPLP?

O espanhol, o francês, ou o inglês?
O português não é pela certa, atendendo a que "o Governo da Guiné Equatorial anunciou a sua adesão à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) no seu sítio oficial na Internet, tendo versões em espanhol, inglês e francês, mas não em língua portuguesa."
O caso é, no mínimo, caricato, mas não é nada que os países que acolheram a Guiné Equatorial no seio da Comunidade não estivessem a pedir. Por todas as razões e mais uma, a começar pelo pouco respeito pelos princípios que dizem defender. O Portugal de Cavaco e Passos também não merece mais.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Não há forte sem fraqueza


Porventura não há ditado que confirme a asserção em título, mas a Praça-forte de Almeida (nas imagens, duas portas fotografadas do exterior) e os (in)sucessos que nela tiveram lugar são disso um bom exemplo.

terça-feira, 22 de julho de 2014

Não se perde nada que valha a pena

"Apesar de ter celebrado os seus 40 anos com pompa e circunstância, o CDS está à beira do fim. Na verdade, este partido tinha essencialmente como bandeiras políticas a defesa da família, a protecção dos pensionistas e a redução dos impostos. Quanto à defesa da família, o PSD acabou de apresentar um relatório sobre a natalidade que repescou antigas posições suas sem lhe fazer uma única menção. Em relação à protecção dos pensionistas, o CDS foi incapaz de os defender no governo, tendo aceitado que as pensões fossem devoradas pela contribuição de solidariedade, inicialmente transitória, mas que agora vai passar a definitiva. Finalmente, em relação à redução dos impostos, a ministra das Finanças conseguiu transformar num nado morto a reforma do IRS precisamente no momento em que o seu secretário de Estado a anunciava. É verdade que o líder do CDS exibe hoje o pomposo título de vice-primeiro-ministro, mas é meramente simbólico, pois já não tem qualquer influência no governo.
Em condições normais, um partido a que isto tivesse acontecido tinha saído do governo. O velho CDS já rompeu coligações de governo por muito menos. Se hoje não o faz, é porque já nada vale eleitoralmente. Por isso neste momento o CDS precisa desesperadamente de uma coligação eleitoral com o PSD, mas nem essa o pode salvar. Se aparecer em coligação, o CDS não passará de um PEV para o PSD. Se concorrer sozinho, será trucidado eleitoralmente. Em qualquer dos casos, o CDS acabou."
(Luís Menezes Leitão; "O fim do CDS")

Verdades como punhos

"Quem entenda que os últimos anos foram marcados por uma oposição mobilizadora, determinada e capaz, protagonizada pelo PS e liderante no Parlamento e no País, é natural que não perceba a razão de ser da candidatura de António Costa à liderança do PS.
Quem não reconhece a necessidade de interromper este ciclo no PS, enquanto é tempo para prevenir uma vitória marginal ou mesmo uma derrota nas próximas legislativas, é natural que seja refratário ao significado político da iniciativa de António Costa e ao movimento subsequente, inteiramente espontâneo, que sacudiu o partido e a sociedade portuguesa, ambos mergulhados numa crise de esperança e de confiança.
Com quem protagonizou em posição de destaque esse ciclo perdido receio que não haja mesmo qualquer esperança de vir a travar um debate no plano político, que é o plano devido. Nesses casos, é manifesta a preferência por reduzir o conflito a um duelo de egos, em que a Costa é reservado o papel de ambicioso e maquiavélico vilão e a Seguro o de mártir inconsolável e carpideiro, que passeia pelo País o seu ressentimento, com um punhal cravado na omoplata direita.
A chorosa novelização do problema político do Partido Socialista não resiste aos factos, duros como punhos, de três anos de oposição medíocre, hesitante e no geral errática e inepta. Esse é o problema. Puramente político.
O novo PS do "eu quero", "eu avisei" e dos "eus" em geral estava geneticamente condenado por um erro de análise: concordava com a teoria da direita sobre as causas da crise e, logo, com muito da sua terapêutica. Foi assim que os rombos inaugurais infligidos no contrato social europeu, também vigente em Portugal, foram acompanhados do lado do PS pela tese da "dose" de austeridade. Esta última era excessiva, asseverava o PS, com milimétrico sentido de medida.
Veio o Orçamento do Estado para 2012. O PS absteve-se. Porquê? Porque não era fácil distanciar-se de políticas com as quais no essencial, naquela fase, concordava. Era a época da discreta lua-de-mel entre o Governo e a direção do PS. Acresce que a cúpula da UGT e a "linha mole" do seu secretário-geral fizeram uma OPA sobre a direção do PS. A UGT que tinha oferecido ao Governo - no momento mais aceso da agressão aos trabalhadores por conta de outrem e aos reformados - um acordo de concertação que, até a data, nunca chegou a denunciar. Imagino que a conversão do PS à "moderação" e ao "sentido de responsabilidade" tenha abrilhantado a UGT aos olhos do Governo. Lembro-me de que na votação me levantei no plenário para denunciar esta traição ao mundo do trabalho. Terá sido outro caso que os cientistas do ego avaliarão.
Digno também de ser recordado é o episódio do pedido de fiscalização sucessiva da constitucionalidade de certas disposições do Orçamento, designadamente a matéria dos cortes nas pensões e da supressão dos subsídios de férias e de Natal. A direção do partido foi frontalmente contrária a essa iniciativa e exerceu tal pressão sobre os deputados do PS, que houve que procurar algumas assinaturas na bancada do Bloco. Sem a firmeza intransigente de uns quantos deputados socialistas nunca teria havido intervenção do Tribunal Constitucional, que o deserto político acabaria por converter na principal esperança da oposição social ao Governo.
Entrámos, então, no ciclo da abstenção violenta, de que nunca mais saímos. Depois ,veio o acordo de regime patrocinado por Cavaco Silva. O precioso convénio amarraria o PS ao programa austeritário, a troco de eleições antecipadas, que o PS putativamente venceria, prolongando-se o convénio num bloco central capitaneado pelo líder do PS e primeiro-ministro - e ungido pelo Presidente. Mas Mário Soares - sozinho - deitou o sonho ao fundo.
Será ainda preciso recordar outro momento alto do desnorte socialista: o único entendimento que o PS considerou irrecusável com a direita, em três anos, foi o desagravamento da tributação sobre os lucros das empresas.
Este penoso elenco está muito encurtado, mas ajudará a compreender a hemorragia eleitoral do PS, de eleição para eleição, até à evidência de que não estaria à altura de libertar o País da direita mais reacionária e implacável que o Portugal democrático conheceu.
A queda do PS nas indicações de voto não é de ontem. O PS precisa de tempo e de força para poder protagonizar uma verdadeira alternativa, que rompa a gaiola de ferro do neoliberalismo europeu e doméstico. Mas isso supunha que quem está agarrado ao poder no partido aceitasse disputá-lo democraticamente, em nome do País e do interesse geral. Este PS, indiferente à agonia lenta que se autoimpôs, permanece refém de uma cultura implacável de sobrevivência, uma esperteza feita de habilidade e manha, completamente estranha à cultura do partido, mas profusamente enfeitada de princípios e valores. Esperemos que as primárias, nascidas desse caldo, sejam o instrumento da sua destruição."

Verdades como punhos, digo eu, até na denúncia de um Seguro armado em vítima. 

sábado, 19 de julho de 2014

Já conhece?


Destruir

"(...)

Crato destruiu o programa de modernização escolar (quer física, quer tecnológica). Destruiu o programa Magalhães. Destruiu as Novas Oportunidades. Destruiu a avaliação de professores. Destruiu o Inglês no 1.0º Ciclo. Está a destruir o sistema científico. Está a destruir o ensino profissional. E o que oferece em alternativa é o nada absoluto, ou vagas promessas, ou coisas totalmente absurdas.

Veja-se o caso do Ensino Superior. Rompida a relação de confiança com as instituições, o Governo ficou incapaz de atacar o problema principal, que é reordenar a rede de estabelecimentos. Entretanto, semeia a confusão na fileira profissional e politécnica, com o lançamento de uma coisa sem nexo nem sentido, a que chama cursos técnicos superiores profissionais - mas poderia chamar cursos profissionais superiores técnicos, ou superiores técnicos profissionais, ou superiores profissionais técnicos, que a incongruência seria igual.

Veja-se o caso da ciência. O sistema tão laboriosamente construído é amputado a sangue-frio. Aquilo que devia ser uma orientação política de primeira grandeza - promover o português como língua internacional de conhecimento - serve de critério para eliminar centros e projetos. A avaliação é substituída pela mais completa arbitrariedade. O conhecimento crítico é perseguido.

Agora, pela calada da noite, o salteador interpela os professores contratados. Mas nem sequer sabe o que fazer com o assalto. A única coisa que parece movê-lo é o instinto do sádico, cujo prazer é magoar e destruir."

(Augusto Santos Silva; "Destruir, diz ele". Na íntegra: aqui)

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Não mexa!

Ora nem mais, corroboro eu, que aproveito para sugerir ao "preocupado" Passos com a diminuição da natalidade que se deixe de estudos e de medidas que não passam de panaceias e que, entretanto,  mude de política, pois com a política de austeridade que tão fervorosamente tem seguido não chega a parte alguma. Pelo menos, no que à natalidade diz respeito. Provavelmente, já não vai a tempo de fazer o que quer que seja, de forma que o melhor é ficar quieto.
E esta é mesmo a minha recomendação final: não mexa! Se mexer, estraga. Como se tem visto.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

E a maioria que fique com as sobras

Um estudo recente dado a conhecer pelo "Público", hoje, revela que a concentração da riqueza em Portugal é ainda maior do que o suposto. Com efeito, de acordo com o estudo, 1% da população portuguesa é detentora de mais de uma quarta parte da riqueza, e os 5% mais ricos detêm entre 44% e 45% da riqueza do país, ou seja, praticamente metade. Portugal, ainda de acordo com o citado estudo, ocupa o terceiro lugar no que respeita à maior concentração da riqueza, apenas perdendo no cotejo com a Alemanha e a Áustria. (Portugal, de facto, neste particular, não é a Grécia)
Estes dados significam indiscutivelmente que a grande maioria da população do nosso país tem muito simplesmente que se contentar com as sobras, pois o grosso da riqueza está nas mãos de uma escassa minoria e provam que estamos perante uma realidade que deveria cobrir-nos a todos de vergonha, a começar por Passos Coelho o descarado primeiro-ministro que ainda há dias se exibia como campeão da diminuição da pobreza em Portugal, usando louros alheios, pois os números citados diziam (e dizem) respeito aos anos entre 2007 e 2011, correspondentes ao período da governação de José Sócrates. E a acabar em Cavaco Silva que, para além de se presumir ser o mais alto magistrado da Nação, logo o mais responsável, é também o político há mais tempo em funções.
Algum destes personagens deu já sinais de algum incómodo perante a revelação de tamanho escândalo?
Eu não dei conta.

terça-feira, 15 de julho de 2014

Que é feito do sucesso?

Estranhamente, numa altura em que o caso GES/BES está a ser um caso de sucesso mediático, com repercussões a nível mundial, a palavra "sucesso" desapareceu do léxico dos actuais governantes. Estranhamente, repito, até porque há outros sucessos dignos de nota, mas sem a merecida repercussão na opinião púbica. A começar pelo "sucesso" alcançado pelo governador do Banco de Portugal precisamente na gestão da crise do BES, como, muito a propósito, se salienta e demonstra aqui.
Mas há mais. Como notou o J Nascimento Rodrigues, no Facebook, "a dívida pública, na ótica de Maastricht, em final de maio, subiu (dados do BdP) para 135% do PIB (...) e os indicadores externos ligados à situação financeira global do país agravaram-se. A dívida externa (pública e privada) líquida subiu de 85% do PIB no trimestre de assinatura do resgate em 2011 para 106,8% do PIB no primeiro trimestre de 2014 e a posição líquida de investimento internacional (que avalia o saldo entre os ativos externos detidos por portugueses e os ativos em Portugal detidos por não residentes), que é negativa, agravou-se, naquele mesmo período, de 105,8% para 123,3%".
Aparentemente, com excepção do J Nascimento Rodrigues, ninguém se deu conta destes "sucessos".
Que este "governo de mosquitos"* não esteja interessado em propagandear tamanhos "êxitos" compreende-se perfeitamente. Que as oposições e os media, com a assinalada excepção, não se sirvam destes números para desmascarar a propaganda governamental, já é motivo para grande preocupação, pois, pelo menos à primeira vista parece que uns (os partidos da oposição) estão pouco atentos aos problemas reais do país e que os outros (os media) não estão a cumprir a sua função que é, antes de mais, informar. 

(*Ver explicação para a expressão no "post" anterior) 

segunda-feira, 14 de julho de 2014

A nuvem de mosquitos


Acho graça, confesso, ao dito, ouvido há dias, de que este governo é como uma nuvem de mosquitos. De facto, o dito não está mal visto, pois, como explicava o autor da graça, estes governantes são, tal como os mosquitos, seres insignificantes e, tal como os mosquitos, têm a capacidade de transformar a nossa vida num inferno.
(Imagem daqui)

Tragédia moderna

(...)
Se Aristóteles contemplasse a moderna tragédia sistémica do mundo financeiro, do Lehman Brothers ao GES/BES, ficaria emudecido. (...) 
 Desde 2008, foram afectadas centenas de milhões de pessoas, pela desmesura de algumas centenas de figurões do sistema financeiro mundial. Dezenas de milhões perderam os seus empregos, e viram a sua integridade física e psicológica molestada. Por último, não houve qualquer catarse. Estas criaturas menores compraram imunidade total, porque têm entre os seus activos as leis e os governos que os poderiam levar a juízo. Assistem, no conforto protegido das suas "salas de pânico", ao puro terror que semearam pelo mundo, como Nero assistiu ao incêndio de Roma. É uma tragédia moderna. (...)
(Viriato Soromenho Marques - "Tragédias antigas e modernas". Na íntegra: aqui)

Um campeão

É verdade que o desempenho da selecção portuguesa no Mundial de futebol se saldou por um fiasco, mas tal não significa que Portugal não se possa orgulhar de outros feitos. Para não ir mais longe, fico-me pelo indivíduo que passa por primeiro-ministro deste país, sujeito que, de há três anos a esta parte, é portador da faixa de campeão da aldrabice e que acaba de ganhar novos louros de campeão em matéria de descaramento e de pouca vergonha.  
Dizem, com efeito, as notícias que Passos Coelho usou números relativos ao período decorrido entre 2007 e 2011 "para dizer que a pobreza baixou", reclamando para si "louros por melhorias da era de Sócrates".
Dispondo o sobredito primeiro-ministro de tanta "lata", disponível para dar e vender, até admira que Passos Coelho não tenha encontrado maneira de impedir que as exportações tenham vindo a baixar nos últimos tempos.
(Imagem daqui)

sábado, 12 de julho de 2014

O queixinhas

Pelas atitudes que tem vindo a tomar desde que António Costa se mostrou disposto a assumir a responsabilidade pela liderança do PS, já era de esperar que António José Seguro viesse a atribuir ao desafiante a responsabilidade pela descida do PS nas intenções de voto  visível através dos dados da última sondagem conhecida. E já era de esperar, porque o actual secretário-geral do PS é incapaz de ver que ele próprio é a causa primeira e última do fraco entusiasmo que o partido que ele, infelizmente, lidera, suscita junto do eleitorado. A evolução das sondagens ao longo dos últimos três anos prova, aliás, por muito que o facto lhe custe a engolir, que o PS, sob a sua liderança, nunca descolou clara e definitivamente dos números atribuídos à coligação da direita, apesar dos sacrifícios de toda a ordem que o governo celerado de Passos, Portas & Cª , tem vindo a impor à grande maioria da população, sempre com o alto patrocínio do presidente Cavaco.  
Aliás, se Seguro tem dúvidas sobre a sua própria responsabilidade, bastar-lhe-ia, para as tirar, dar-se ao trabalho de consultar outras sondagens que têm vindo a lume sobre as preferências dos eleitores quando questionados sobre a opção Seguro ou Costa. 
Suponho que Seguro deve conhecer os resultados, pelo que me dispenso de os divulgar neste contexto para que Seguro não se sinta ainda mais desmoralizado.
Em todo o caso, conhecendo esses resultados, não ficaria mal a Seguro que, duma vez por todas, acabasse com as manobras dilatórias que manhosamente tem vindo a promover por forma a adiar o mais possível a clarificação da liderança do partido. Nessas manobras que revelam um Seguro tão agarrado ao poder que nem uma lapa à rocha, vejo eu uma boa razão para a descrença que os eleitores inquiridos manifestam num PS liderado por um Seguro que, nos últimos tempos, não tem feito outro papel que não seja o de "queixinhas". O PS não precisa de um rapazola. Disso já temos que baste. O PS precisa de um lìder: Costa, obviamente. 

sexta-feira, 11 de julho de 2014

"António Costa e a cultura"

"(...)Passos Coelho não sabe. António José Seguro não sabe. António Costa, pelo contrário, sabe. E bem. É aliás um dos poucos políticos capaz de falar para a cultura e sobre a cultura.

(...) uma política cultural a nível governamental passa hoje menos pelo subsídio à produção, como pretende a direita para denegrir e muita esquerda para agradar, mas antes e sobretudo com a criação de condições de liberdade criativa.

Gostei por isso de ouvir António Costa dizer que não basta criar um Ministério da Cultura. É importante, pelo que simboliza e também pela componente orgânica, mas se for só para ter uma pessoa a andar de croquete em croquete pelo país tem pouco interesse. Porque a cultura não são exposições e peças de teatro, concertos e bailados. A cultura é aquilo que forma e informa uma sociedade livre e dinâmica. Uma política cultural é por isso acima de tudo um criar de condições, efetivas, para que a cultura se possa realizar livremente, com todas as suas idiossincrasias, diversidades e irreverências.

Gostei também da referência à íntima ligação entre cultura e conhecimento. A separação entre os mundos das artes e das ciências não faz sentido. Porque se as metodologias são muito distintas, a ciência é objetiva enquanto a cultura artística é subjetiva, são ambas formas de produção de conhecimento. Essa separação está aliás na origem do fracasso das políticas culturais de praticamente todos os governos. Nenhum plano tecnológico o é realmente sem ser também um plano cultural.

Até porque, ao contrário do que pensa a direita, e também muita esquerda diga-se de passagem, a cultura, entendida no sentido lato do termo, é o grande motor da produtividade no nosso tempo. Nada se pode fabricar e ainda menos vender ou fazer circular sem uma forte componente cultural. Seja, na dinâmica dos comportamentos individuais, seja no aparentemente simples desenho. Ninguém compra um telemóvel feio, por muitas funções que tenha. Em suma, não há economia sem cultura.

Daí que também tenha gostado de ouvir falar de conteúdos. Porque, mais do que exibições e representações, a cultura é agora por excelência uma máquina coletiva de produção de conteúdos. Aqueles que podem fazer a diferença num mundo globalizado.

Mas a parte do discurso de António Costa que mais me agradou foi o do entendimento da cultura como marca de uma civilização. No momento em que o modo de vida ocidental é atacado por fora e por dentro, por fora com a ascensão de extremismos e fanatismos que odeiam a liberdade, por dentro com o empobrecimento e a redução das sociedades a meros meios de reprodução financeira e mercantil, é importante manter a perspetiva das coisas. O Ocidente é, antes de tudo, uma cultura. A nossa. Livre, dinâmica, inovadora, e sempre, sempre apontada para um futuro melhor."
(Leonel Moura. Na íntegra: aqui)

quarta-feira, 2 de julho de 2014

" A direita do PS"*

"A direita do PS, apesar da reduzida expressão nas bases do partido, sempre teve alguns representantes com destaque nos seus órgãos dirigentes. Não concordando com muitas das suas posições, entendo que dão um contributo importante para o debate interno, mas lamento que não tenham compreendido o que os portugueses disseram nas últimas eleições europeias e o que tem acontecido à social--democracia por toda a Europa.
(...)
Defender abstenções nos orçamentos de estado de um governo “extremista, radical e liberal”, que “destrói valores civilizacionais” – expressões usadas pelo Partido Socialista nas últimas eleições europeias –, não sendo cinismo só pode ser expressão da assimilação da tese da direita sobre a crise e das suas soluções para a mesma. Privilegiar acordos com o PSD e o CDS é ignorar a derrota histórica que o povo português quis infligir a esses dois partidos, levando-os de novo para o governo pela mão do PS; por outro lado é desistir de construir uma verdadeira alternativa política. Têm razão os que lembram que não houve no passado, no que respeita à construção europeia, grandes divergências com o centro-direita, só que é precisamente nesse tema que a social--democracia se tem de distanciar desse campo ideológico. Na actual configuração, a zona euro é uma construção liberal e monetarista que torna impossível e inviável o projecto social--democrata. Se pretendermos defender o Estado social, proteger os rendimentos dos cidadãos, promover a igualdade e industrializar a Europa teremos de romper com a direita precisamente onde houve consenso durante demasiado tempo – o projecto europeu."
(* Pedro Nuno Santos. Na íntegra: aqui. Destaque meu.)