domingo, 11 de abril de 2021

A Petição


A crer nos órgãos de comunicação social, já terá sido assinada por mais de 120.000 indivíduos uma petição endereçada ao presidente da Assembleia da República, à provedora de Justiça e ao presidente do Supremo Tribunal de Justiça, reclamando o afastamento, de imediato, "de toda a magistratura", do juiz de instrução, Ivo Rosa, depois de o mesmo ter publicitado o despacho por ele proferido no megaprocesso que é conhecido por "Processo Marquês".
Não é minha intenção apreciar a bondade ou sequer a oportunidade da petição, embora me pareça tratar-se de peça tola, porque inútil, visto que nenhum dos destinatários tem poderes para dar satisfação ao demandado, já que o exigido está muito para lá dos poderes de qualquer deles, poderes que, num Estado de direito, como é suposto ser o português, não podem ser ultrapassados.
O meu propósito é o de, muito mais modestamente, chamar a atenção para o avanço civilizacional que esta petição representa. Note-se que, com efeito, quer o promotor, quer os assinantes já não reclamam, nem o lançamento do juiz ás feras, como era de uso no circo romano, nem sequer a sua imolação pelo fogo em fogueira acesa na praça pública, à vista e com o aplauso do povoléu. A populaça contenta-se agora com a simples "afastamento de toda a magistratura". Isto é progresso, não há como negar (!).
Pondo de parte o tom irónico do parágrafo antecedente, é forçoso lamentar que haja tanta gente que se deixe condicionar e ludribiar por demagogos e comentadores "tudólogos" que poluem, sem controlo, toda a comunicação social.
(créditos da imagem supra: Mario Cruz / Pool / Lusa. Obtida aqui.)