quinta-feira, 31 de maio de 2012

É desta massa que eles são feitos?


"A verdade é que o nome do dirigente da JSD-Madeira tem estado envolvido em vários episódios polémicos e não apenas por questões políticas. Além de ter feito declarações defendendo a independência da Madeira, José Pedro Pereira aguarda julgamento, acusado de ter urinado num carro da PSP, caso ocorrido no Molhe da Pontinha, Funchal, em Julho de 2011. Alegadamente terá assumido o ato praticado por um amigo, mas são-lhe também atribuídos atos de vandalismo de automóveis de figuras da oposição regional."
(Vídeo e citação daqui)

E esta, hein!

Alemães querem comprar portas e relvas. De coelhos não reza a notícia. E por aqui me fico, que o segredo, como se tem visto ultimamente, é a alma do negócio.

"Estórias" mal contadas

Não é só o ministro Relvas, como o próprio reconheceu ontem, em nova audição no Parlamento, que é um mau contador de "estórias". A Direcção-Geral do Orçamento (DGO), integrada no ministério das Finanças à guarda do ministro Gaspar, sofre, pelos vistos, do mesmo mal.
A DGO esqueceu-se, muito simplesmente, de somar a receita proveniente do IVA social entre Janeiro e Abril de 2011, no valor de 238 milhões de euros.
Refeitas as contas pelos técnicos da UTAO verifica-se que quebra nas receitas provenientes dos impostos indirectos  (IVA incluído) em relação ao ano anterior, em igual período, foi de 6,8% e não de 3,5%. Quase o dobro. É obra!
Não é mais este erro que vai levar Gaspar ou Passos/Coelho a manifestar menos confiança quanto ao "bom" andamento da execução orçamental. Os portugueses é que, perante mais este engano, têm cada vez menos razão para acreditarem nas suas patranhas.
Adenda:
Não pretendo ter o dom da adivinhação. Muito pelo contrário, mas não me enganei ao supor que Passos/Coelho manteria, apesar do erro, o seu ponto de vista sobre a execução orçamental. Para ele, o erro "não tem qualquer impacto sobre o nível da execução que está a decorrer e, portanto, não é nada que ponha em causa as metas que estavam estabelecidas”.
E, pelo que agora vejo, Gaspar vai pelo mesmo caminho. Sobre a estimativa da UTAO, segundo a qual o défice terá atingido os 7,4% no primeiro trimestre, muito longe da meta de 4,5% que o Governo se comprometeu a alcançar, no final do exercício referente a 2012, é que nem uma palavra.
Bruxo!

"À espera de um milagre"

"A Zona Euro e a própria União Europeia estão no fio da navalha. A incompetência e falta de visão estratégica da gente que governa este velho continente produziram os seus frutos envenenados. Agora é só esperar que eles tombem da árvore para ver em que país se iniciará uma reação em cadeia de efeitos destrutivos, que ninguém pode avaliar antecipadamente. Os recursos que a Zona Euro tem no bolso para enfrentar a catadupa de desafios das próximas 4 ou 5 semanas são os meros "trocos" que sobram do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF) (perto de 250 mil milhões de euros). Se a Grécia se estatelar para fora do Euro, no mínimo haverá perdas quase imediatas de 800 mil milhões de euros. A juntar a isso, a Espanha tem um sistema bancário completamente desacreditado. Só o crédito malparado será no mínimo no montante de 180 mil milhões de euros. Como ninguém acredita na engenharia contabilística dos banqueiros do país vizinho, tudo indica que a Espanha vai seguir o destino da Irlanda, endividando-se o Estado até ao tutano para salvar a sua banca com dinheiro público. A terceira desgraça é a loucura do mercado da dívida pública. Enquanto a Alemanha recebe o dinheiro de aforradores aterrorizados, que lhe pagam por cima para guardar as poupanças, a Espanha e a Itália estão cada vez mais perto da taxa mortífera dos 7% para os juros das obrigações a 10 anos. Na Europa, chegou o tempo de rezar com fervor. No mês de junho só um milagre nos poderá salvar."
(Viriato Soromenho Marques: in DN)

O "botânico aprendiz" a meter o bedelho

 Corriola-do-Espichel (Convolvulus fernandesii P.Silva & Teles)
A "Corriola-do-Espichel" pode não ser uma espécie botânica de beleza excepcional. Mas é uma jóia exclusiva da flora portuguesa. E jóia rara.
Quer saber porquê? Dê uma olhadela aqui. Fica a saber tanto como eu e, seguramente, com muito menos trabalho.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

O matemático não sabe fazer contas?

Nuno Crato, "matemático e estatístico" é o actual ministro da Educação. Não obstante a sua formação  e especialização, recusou-se terminantemente, no Parlamento, a responder ás insistentes perguntas da deputada Ana Drago sobre  quantos professores contratados ficarão fora do ensino no próximo ano lectivo, alegando que precisa de "saber os horários que vêm das escolas e o número de alunos que se matricula
Estranha afirmação na boca dum especialista em matemática e em estatística.  Tão estranha a pontos de nem sequer ser lícito admitir que não saiba a resposta, uma vez que ele é, por um lado, o responsável pela carga horária dos diversos cursos e graus de ensino e, por outro lado, dispõe certamente de dados que lhe permitem saber, com grande precisão, qual o número de alunos que se irão a matricular. Seria absurdo supor o contrário, a menos que se considere que o ministério da Educação é um campo onde se vive sob o signo da irresponsabilidade e onde impera a maior das desorganizações.
 Não vou tão longe e por isso, a recusa só pode ter uma explicação possível: é politicamente inconveniente, nesta altura em que o desemprego atingiu já números verdadeiramente alarmantes, ficar a saber-se quantos milhares de professores vão engrossar a multidão dos desempregados.
Admitir como verdadeira a sua afirmação de que não sabe, seria o mesmo que presumir que o matemático não sabe fazer contas e que o actual ministro da Educação está a precisar de voltar aos bancos da escola.
Nessa não caio eu!

O elo mais fraco

A propósito do "caso Relvas/Público", a jornalista Alexandra Machado escrevia há dias aqui, que caberia a Passos/Coelho escolher o elo mais fraco.
Acho que não tem razão. Quem acabou de ouvir Passos Coelho a defender Miguel Relvas com toda a convicção, evitando embora pronunciar-se sobre o caso, referindo-se apenas ao alegado envolvimento do ministro com o ex-espião Silva Carvalho, não pode chegar a outra conclusão. 
Explico-me: se Passos/Coelho, ainda antes de Miguel Relvas ser ouvido na Comissão de Ética, sobre as suas relações com Silva Carvalho, já se permite concluir que Relvas se comportou “com correcção e transparência, é porque não é ele quem tem a capacidade de escolher. E não tem, porque, a todas as luzes, o elo mais fraco é ele. 

Foram-se o anéis, ficarão os dedos?


Este "governo" tem mais um motivo para festejar: em matéria de venda dos "anéis" já chegámos ao "top 10". Não faltará muito para novas celebrações, pois, pelo andar da carruagem, mais dia menos dia, chega a vez de vender os "dedos".
(Ilustração daqui)

Bem prega...



"A diretora do FMI (Christine Lagarde) - que numa entrevista publicada sábado disse estar mais preocupada com a África subsaariana do que com a Grécia e insinuou que o problema dos gregos era não pagarem impostos -, recebe ao todo 438.940 mil euros por ano sem ter de pagar qualquer taxa ao Estado."

Pelos vistos, não é caso único: "A mesma "benesse" têm quase todos os funcionários das Nações Unidas."
(notícia e imagem daqui)


terça-feira, 29 de maio de 2012

À consideração do ministro da Defesa

Parece que é da praxe que o ministro da Defesa "bote faladura" sempre que há comemorações de batalhas. Foi assim, há tempos, na comemoração da Batalha dos Atoleiros e hoje repetiu-se a cena nas comemorações da Batalha de São Marcos, batalha de que, para vergonha minha, não me lembro de ouvir falar.
O discurso, mais ponto, menos vírgula, é que é sempre o mesmo, o que, a bem dizer, não é motivo para admirar, pois a "nulidade" que o profere é também sempre a mesma.
Se a ideia é sempre a mesma (a luta com Espanha a servir como exemplo de que somos capazes de ultrapassar as dificuldades, com "inovação", sempre, e "com empenho e com coragem", às vezes) por que razão não substitui o ministro a sua deslocação pelo envio duma gravação?  Era uma excelente forma de levar à prática a palavra "inovação" tanto mais justificada quanto é certo que os tempos que correm são de apertar o cinto.

E daí, pensando melhor, volto atrás na minha sugestão, pois talvez não seja boa ideia. É que se é fácil transmitir, numa gravação, a mensagem da "inovação", já o mesmo se não pode dizer da "coragem" e do "empenho" do ministro na luta contra os castelhanos.
A presença do ministro faz mesmo falta, concluo. Até para a gente se rir.


Adenda: 
Atendendo às transcrições supra, das duas uma:  ou os jornais andam a reproduzir incorrectamente as palavras de Aguiar Branco, ou o ministro está a precisar dumas aulas de português.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Uma questão de faro apurado

Tem sido por aí afirmado, na sequência dos factos vindos a lume sobre o relacionamento de Miguel Relvas com o ex-chefe das Secretas, Silva Carvalho; sobre a divergência dos factos em relação às declarações por ele prestadas na Comissão de Ética do Parlamento; e sobre toda a sua actuação em relação ao jornal Público, que o ministro Miguel Relvas é um "cadáver político". 
A continuação da sua permanência neste "governo" prova o contrário. "Cadáver político" pode ser, mas adiado. Nem podia, aliás, ser doutra forma. Como é que os demais ministros poderiam suportar o fedor em Conselho de Ministros se a "cadaverização" já se tivesse concretizado? 
Zeus nos livre duma tal situação, porque, mesmo adiada, já não deve ser nada fácil suportar a  "cadaverização"  a quem tenha um faro apurado. O adiamento prova, no entanto, que faro apurado é dom que o primeiro-ministro não tem.

domingo, 27 de maio de 2012

Fez-se luz!

Ainda o périplo de Cavaco Silva não terminou, pois ainda se encontra em Singapura e não falta já quem se interrogue sobre se a viagem foi (é) vantajosa para o país, tendo em conta o rácio custo/benefício, não falando também que se pronuncie pela negativa. 
É caso para ponderar, porque, de facto, o périplo serviu para quê?
Pondo de parte o caso da visita a Timor que, suponho, ninguém porá em causa, tendo em conta os laços históricos e de amizade que ligam os dois povos, que temos, atendendo aos ecos que nos chegam através da comunicação social, para colocar na balança do lado dos "benefícios" ?

Enumeremos:
- Um apelo ao aumento do investimento em Portugal dirigido aos empresários indonésios que serão "muito bem-vindos", apelo provavelmente destinado a cair em saco, não só devido à distância que separa os dois países, mas também porque não devem ignorar por lá que os eventuais bons negócios (vide casos EDP e REN) estão reservados para a China que, além do mais, tem uma capacidade financeira e uma estratégia que a Indonésia não tem. Isto sem ter em conta que o Estado português dispõe de estruturas instituídas para realizar este tipo de acções, de forma profissional e continuada, logo, mais profícua;

- A plantação dum sobreiro em solo australiano, acção que se espera, apesar das boas intenções, não venha a dar origem à proliferação da espécie em terras australianas. É que essa eventualidade, embora constituindo uma forma de retribuição, devida aos australianos, pela introdução, em Portugal, do eucalipto, espécie originária, como se sabe, da Austrália, não deixaria de ser um desastre para a cortiça portuguesa.

- Umas quantas declarações, variando entre a banalidade e o desacerto.
Entre aquelas avulta a afirmação de que prefere que os jovens qualificados, "continuem na nossa terra [e] fiquem em Portugal”.
Que terá pensado Cavaco para se sair com uma destas? Terá ele suposto que poderia passar pela cabeça de alguém que a sua preferência fosse ao contrário? 
Completo desacerto é a justificação dada para não se pronunciar sobre o caso Relvas/Público, ao dizer que o assunto é "uma matéria (...) objeto de polémica político-partidária". O desacerto não está tanto na recusa em pronunciar-se sobre o caso, porque esse é, para Cavaco, o procedimento habitual sempre que o assunto não é do seu agrado e, como tal, já constitui motivo de surpresa. No invocar a inexistente "polémica político-partidária" é que está o erro. E grave, porque o que está em causa é o funcionamento das instituições da República, sendo certo que ele, como PR, é constitucionalmente o primeiro responsável por assegurar o seu regular funcionamento. Cavaco, pelos vistos, anda a precisar de reler o texto constitucional que jurou defender.

Em contraponto do que fica dito poderá alegar-se que o périplo sempre terá propiciado aos empresários integrados na comitiva a realização de alguns negócios. Admito. Só que me parece mais coerente com o pensamento da maioria dos nossos empresários que não se cansam de reclamar "menos Estado" que, para realizar os seus negócios, não procurem andar "ás cavalitas" do mesmíssimo Estado.

Não obstante e por contraditório que possa parecer, acabo por alinhar com os que entendem que o saldo destas visitas (foi) é positivo. Contento-me para chegar a esta conclusão com o verificar que Cavaco com esta ida até quase aos antípodas acabou por descobrir que "É óbvio que tem existido uma crise na zona do euro porque os líderes europeus, as instituições europeias, levaram demasiado tempo a perceber que a crise não era do país A, B ou C, era uma crise sistémica e também porque desvalorizaram o grau de interdependência financeira e económica entre os vários países".

Aleluia! Fez-se luz, finalmente, na sua cabeça! 
De lamentar é que a visita não tenha tido lugar algum tempo antes (há, pelo menos, um ano e poucos meses), para poder ter chegado a esta conclusão.Ter-se-iam evitado, em boa medida, os sacrifícios a que os portugueses estão agora sujeitos. Também, ou sobretudo, por culpa dele.

A galinha de ovos de oiro e o camaleão

Com a Alemanha a financiar-se quase a custo zero, porque a ela afluem os fundos que desertam das praças dos países da UE mais endividados da UE, como Portugal, países que, por essa razão e em contrapartida, continuam a ver subir os custos dos financiamentos a que têm de recorrer cada vez mais, não admira que a senhora Merkel não queira prescindir da galinha de ovos de oiro que, para a Alemanha, outra coisa não tem sido a actual crise das dívidas soberanas. Por isso também se compreende perfeitamente que a senhora continue a opor-se firmemente à criação de eurobonds como forma de mutualizar a dívida dos países do euro, porque assim matava a galinha.
O que já não se compreende é que alguém, como Passos/Coelho chefe do "governo" dum dos países da zona Euro com a corda na garganta, continue a alinhar nas teses da senhora Merkel, ao defender decididamente que "as eurobonds não são uma resposta para a situação actual", contrariando as teses do primeiro-ministro italiano Mario Monti (para quem elas "são necessárias e (...) devem ser implementadas num futuro próximo") ou do presidente francês François Hollande que, depois de eleito e empossado, já "reiterou a sua proposta de emissão de títulos europeus da dívida pública, os chamados 'eurobonds'".
Curiosamente, Passos/Coelho, após ter mantido, durante a Cimeira da Nato, em Chicago, um encontro com o presidente francês, veio declarar, no seguimento, que foi estabelecida uma "boa base de trabalho". Não se vê como, com posições tão divergentes sobre a questão central da criação das eurobonds, como forma de resolver a crise europeia.
O que me leva a crer que Passos/Coelho, para além de "náufrago e suicida" também não recuse vestir a pele do camaleão. Não tem esta espécie a capacidade de mudar de aspecto consoante o ambiente ? E não tem Passos/Coelho, como parece, a capacidade de adaptar o discurso consoante o interlocutor?
(ilustração daqui)

sábado, 26 de maio de 2012

Falando sobre desemprego...

"O cenário era previsível. No primeiro trimestre de 2012, a taxa de desemprego em Portugal atingiu 14,9% da população activa, a que correspondiam 819 mil desempregados, mais 130 mil do que no período homólogo do ano anterior.
(...)
Mas o último destaque do INE trazia elementos novos. A população total baixou, amputada em 34 mil pessoas, o que só pode ser atribuído à diferença entre mortes e nascimentos e aos fluxos migratórios. Mas a população activa baixou ainda mais, ao registar um corte de 73 mil pessoas, e a causa principal só pode ser a emigração. Quando os residentes de um país precisam de emigrar para sobreviver, é porque algo vai mal no Governo desse país.

Também a análise por classes, não sendo nova, arrepia só de ver: 416 mil desempregados são de longa duração, o que lhes confere um carácter estrutural; 247 mil têm mais de 45 anos, o que praticamente os exclui de qualquer emprego futuro; e 116 mil têm um curso superior, o que significa investir em activos qualificados que emigrarão logo a seguir. Confesso a minha perplexidade: estes senhores que nos governam conseguem dormir descansados?

Um olhar sobre os 27 países da União Europeia diz-nos que apenas dois têm um desemprego superior ao nosso: a Espanha e a Grécia. E tudo indica que a situação vai piorar. O investimento cai a pique. O PIB efectivo é muito inferior ao PIB potencial, o que sugere uma clara subutilização. E o principal objectivo deste Governo é publicar legislação que facilite os despedimentos. Falar de desemprego em Portugal é falar de um filme de terror.

Com isto chegamos a Passos Coelho e à sua famosa teoria das oportunidades. Há aqui uma oportunidade fabulosa. Com estes 819 mil desempregados podemos constituir uma empresa, gerar um PIB de 30 mil milhões de euros por ano, afectar metade deste valor a salários e com eles aumentar a receita de impostos e eliminar o défice orçamental. Deus é grande, aleluia! E assim acabam os problemas do crescimento económico e da criação de emprego.
(...)"
(Daniel Amaral; "A oportunidade". Na íntegra: aqui)

"Para pior já basta assim"

"Os dados da execução orçamental até ao final de Abril, divulgados esta semana pela Direcção-Geral do Orçamento, deviam ser entendidos pelo Governo como um aviso sério.
(...)
A situação é esta: com 1/3 do ano já decorrido, e não obstante o aumento dos impostos, a receita fiscal acumulada diminuiu -3% face ao período homólogo do ano anterior, enquanto o Orçamento Rectificativo (OR 2012) pressupõe um aumento dessas receitas em 2,6% no conjunto do ano. É uma diferença abissal, que faz com que a meta comece a parecer longe de mais.
Este mau desempenho da receita fiscal, note-se, seria ainda pior não fora o facto de a receita dos impostos directos estar a crescer 3,3% (quando o OR 2012 prevê para este ano uma redução de -3,5%). Mas o resultado dos impostos directos é assimétrico: no IRC, a receita está a cair -16,6% (quando o OR 2012 previa que a queda se ficasse pelos -5,4%) e só no IRS a situação é mais favorável, com a receita a subir 9,6% (quando o OR 2012 contava com uma redução anual de -2,6%). Mas atenção: não só este crescimento homólogo da receita de IRS não é sustentável ao longo do ano (face à prevista redução das receitas de retenção na fonte por conta da eliminação dos subsídios) como fica a dever-se, essencialmente, a uma enorme redução dos reembolsos: -68,9% até ao final de Abril. Embora várias razões possam ajudar a explicar essa redução, uma redução tão expressiva resultará, em boa parte, dos atrasos que este ano se verificaram, com grave prejuízo das famílias, no processamento dos reembolsos por parte do Ministério das Finanças. Nessa medida, a melhoria aqui é apenas aparente.
Seja como for, o comportamento negativo da receita fiscal é fundamentalmente devido ao mau desempenho dos impostos indirectos (mais sensíveis ao agravamento da recessão), cuja receita diminuiu -6,7%, quando o OR 2012 previa, para o conjunto do ano, um aumento de 7,4%.
(...)
Mas não adianta ignorar os sinais que são já evidentes: tudo indica que o Governo estimou mal as consequências recessivas das suas medidas de austeridade "além da ‘troika'" e estimou ainda pior os efeitos da recessão na evolução das receitas fiscais. É por isso que os resultados, manifestamente desastrosos para a economia e para o emprego, se revelam cada vez mais contraproducentes também do ponto de vista da redução do défice. Perante isto, alguma coisa o Governo vai ter de fazer. Para melhor, espera-se. Para pior já basta assim." 

(Pedro Silva Pereira; "Maldita receita". Na íntegra: aqui.)(Negrito meu)

Observação dos dias

Não raro, por detrás dum "tipo porreiro" esconde-se um sacana. Tratando-se dum "tipo porreiraço", então é certo e sabido.

(Quem não aprecie a "observação" precedente pode optar pela seguinte)

(Palmela entrevista a partir de Almada)

sexta-feira, 25 de maio de 2012

O calado é o melhor ?

Pelos vistos ainda há quem pense que bico calado é o melhor e até há quem, do alto da cátedra,  o recomende. Como também ainda há quem ache o contrário e não esteja na disposição de seguir a recomendação aqui vão excertos de duas excelentes respostas de outros tantos autores que não estão pelos ajustes.

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"(...)
Segundo facto: o reitor de uma universidade pública afirmou, em reação a uma ação de protesto de estudantes contra os cortes no financiamento do ensino superior, que "se estivéssemos seis meses todos calados, não criássemos mais problemas do que os que já existem e deixássemos as coisas correr, daqui a seis meses, trabalhando, veríamos que as coisas até evoluíram melhor do que o que pensámos". O argumento do referido reitor é que "já chega o problema que temos, que é tão grave e estamos todos os dias a inventar novos números, coisas depressivas, os economistas a fazer previsões catastróficas que depois não se confirmam".
Não falemos, pois, do desemprego, nem da precariedade nem da perda dramática de valor dos salários e das pensões. Não falemos das entregas das casas aos bancos por incapacidade de pagamento dos empréstimos pelas famílias nem das falências em catadupa. Não falemos da subtração de dois meses de ordenado aos funcionários públicos, nem da subida em flecha das taxas moderadoras nem da emigração da geração jovem mais qualificada que o País já teve. Tudo realidades que só se agravaram porque demos crédito às previsões catastrofistas dos economistas, claro. Tivéssemos tido a lucidez de calar a nossa indignação - sempre precipitada e má conselheira - e nada disto teria acontecido. Não falemos, pois, do coiso, porque o coiso é uma invenção depressiva que desaparece se estivermos calados e concentrados no que realmente temos de fazer, que é trabalhar e não fazer política nem discutir o que não é da nossa conta.
E nem pensar em falar de empresários sem escrúpulos que surfam a onda da entronização do trabalho precário e da facilitação dos despedimentos para rasga- rem a lei, viverem da fraude e mandarem os mais elementares direitos de quem para eles trabalha às malvas. Isso não é depressivo, é injurioso. Ainda se falássemos dos pobres que vivem na preguiça ou dos grevistas que só querem privilégios...
(...)"
(José Manuel Pureza; "Está caladinho"; na íntegra: aqui)
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"Uma parte dos portugueses gosta de falar para mandar calar os outros. É o caso do senhor reitor da Universidade do Porto, que, numa entrevista, disse: "Acho que se estivéssemos seis meses todos calados, não criássemos mais problemas do que os que já existem e deixássemos as coisas correr, daqui a seis meses, trabalhando, veríamos que as coisas até evoluíram melhor do que o que pensámos." Outros são os que, indo a debates vários, desancam nos que vão a debates vários, porque se fala muito neste país e nada se faz. Não faltam anónimos que, em caixas de comentários, redes sociais e fora virtuais, passam o dia a dar o mesmo conselho: calem-se todos. Todos menos eles, que têm, obviamente, coisas interessantes para nos dizer.
Se formos simpáticos, esta ideia nasce de uma outra: a de que a palavra é oposto da ação. É um erro. Sem discussão, discordância, argumentos e conflito pela palavra não se acerta na solução e a ação é pior que não fazer nada. A palavra faz parte da ação. Ela mobiliza, questiona, analisa, põe em causa, promove. Sem ela estamos condenados ao disparate. Palavra que não age é inconsequente, é verdade. Mas ação que não se questiona é irresponsabilidade.
Para além de mandar calar os outros, uma parte dos portugueses passa o seu tempo a mandar os portugueses trabalhar. É um hábito nacional que parte desta estranha presunção: tirando eu, a minha família e, no caso de haver alguma educação, o meu interlocutor, ninguém trabalha neste país. Pior: que o bom trabalhador é o que não questiona e não contesta. São todos preguiçosos, queixinhas, piegas, fala-baratos. Enquanto quem o diz, claro está, se mata a trabalhar. Todos fogem aos impostos. Tirando quem o garante, como é óbvio. Todos são aldrabões. Tirando quem acusa, claro está. Endividaram-se porque foram irresponsáveis. Tirando quem o afirma, evidentemente. (...)"
(Daniel Oliveira; Falem muito. Sempre; na íntegra: aqui)

Toda a suspeição começa a ser legítima

Por "pecados" aparentemente menores,  Adelino Cunha, membro do gabinete do ministro adjunto e dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas, demitiu-se.
Relvas, sobre quem impendem acusações de maior gravidade, não parece disposto a seguir o exemplo do seu subordinado e Passos/Coelho também não se mostra muito inclinado, mesmo perante os factos que dou por já conhecidos e provados, a demiti-lo, preferindo deixar-se queimar a ele próprio em lume, até agora, brando. O que leva a que seja legítimo questionar o que o impede de tomar a decisão que o caso Relvas/Público (e não só) requer. Toda a suspeição começa a ser legítima.

Caso Relvas/Público: assunto arrumado

Após o esclarecimento hoje publicado pelo "Público", na edição impressa e on line,  os dados da questão estão agora à disposição de qualquer cidadão para poder fazer um "julgamento" sobre o caso, a começar pelo mais simples e que se traduz na constatação de que estamos em presença de duas narrativas contrastantes: a do ministro Relvas que nos diz que não pressionou e não ameaçou, e que terá apresentado um pedido de desculpas à editora Leonete Botelho em razão, tão só, do tom usado nos telefonemas precedentes. 
Diga-se, desde já, que a versão do ministro não tem ponta por onde se lhe pegue, ou, se preferirem, que mete água por todos os lados. Nem preciso de alinhar uma qualquer série de razões para chegar a tal conclusão. Contento-me com a inverosimilhança da narrativa. A ser verdadeira, todo o caso não passaria duma "invenção" do "Público", hipótese que para ser credível, passaria pela prova da existência dum qualquer motivo que o ministro teria que invocar. E se não o faz é porque não existe. Obviamente.
Ao invés, o esclarecimento do "Público", que o leitor pode ler na íntegra através do "link" supra, onde se confirmam as pressões e ameaças é tão minucioso e circunstanciado que não deixa margem para dúvidas sobre a realidade dos factos. E mais: o esclarecimento é tão objectivo que acaba por favorecer a posição do ministro.
Explico-me: aquando da publicação das primeiras notícias sobre o caso ficou a pairar a dúvida sobre a gravidade da ameaça relativa à divulgação de dados da vida privada da jornalista Maria José Oliveira. Hoje, o "Público" esclarece que o que ministro Relvas se propunha divulgar era que "a autora da notícia vive com um homem de um partido da oposição", o que, a meu ver, retira gravidade à "ameaça", porque a divulgação do facto, embora do foro privado da jornalista, não põe gravemente em causa a privacidade  da pessoa visada, pois o relacionamento em questão não é por certo secreto.
No entanto, se, por um lado, o conhecimento do facto que seria objecto de divulgação retira gravidade à "ameaça" a verdade é que, por outro lado, acaba por constituir mais uma prova de que o ministro falta à verdade. É que passa a fazer sentido que tenha passado pela cabeça de Miguel Relvas "falar" no assunto, pois a divulgação da relação da jornalista com um politico da oposição era-lhe favorável. A revelação, pelo menos do ponto de vista dele, diminuiria a credibilidade atribuída às notícias elaboradas pela jornalista em causa.
Se retiro gravidade à "ameaça" não a retiro ao caso. Ou melhor, aos casos, porque é evidente que Miguel Relvas mentiu à ERC e ao divulgar publicamente a sua versão do seu caso com o Público, mas, o que é ainda mais grave, faltou também à verdade ao ser ouvido no Parlamento,  na Comissão de Ética, sobre o seu relacionamento com o ex-espião Silva Carvalho. A "estória" por ele contada na comissão tem incongruências, como a jornalista Maria José Oliveira detectou e que ele não quer ver divulgadas. Só esse facto explica a reacção destemperada de Miguel Relvas, perante as perguntas da jornalista, "pidescas" no dizer dele. Ou então, conclusão que lhe não é mais favorável, Miguel Relvas tem um temperamento tão irascível que é impróprio de quem ambiciona ser e é ministro. 
Seja como for, para mim é assunto arrumado: o ministro Miguel Relvas não tem condições para continuar a sê-lo. A sua demissão, por iniciativa própria ou decidida por quem de direito, já tarda.

À beira dum ataque de nervos

Críticas à estratégia orçamental por parte do  Conselho Económico e Social (CES) no Parecer sobre o Documento de Estratégia Orçamental 2012-2016 enervaram o governo, a ponto de, diz a notícia,  o Ministério das Finanças e o gabinete do primeiro-ministro terem pressionado o CES a moderar a linguagem. Ora, isto é  é redondamente falso. Já se sabe que este "governo" tal como o ministro Relvas são incapazes de pressionar quem quer seja e muito menos o CES. Não faz parte do seu ADN. Eles, sim é que são "pressionados". Então, no caso presente, isso é claríssimo. O"governo" é que foi pressionado. Pela linguagem do parecer. 

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Onde estará o sumidoiro?

É cortes sobre cortes e entretanto a despesa aumenta.
Que sumiço leva o dinheiro?

(imagem daqui)

Dos anéis de Saturno


A troika foi ao Parlamento "dizer que tudo corre bem". 
É verdade que a economia continua a decrescer e o desemprego continua alto e com tendência para aumentar, segundo as previsões da OCDE, mas "para a troika, o desemprego é causado pelos altos salários dos trabalhadores".
Donde é que terão surgido estes E.T.? Dos anéis de Saturno ou, porventura, de um qualquer outro planeta ainda mais afastado? 
De Marte não foi seguramente, porque, à distância a que o planeta vermelho se encontra, dá para ver que os salários dos trabalhadores em Portugal são dos mais baixos da Europa e estão a descer.
Insisto nos anéis de Saturno: lá, para sobreviver, deve ser suficiente aspirar a poeira. Pensarão eles: porque não cá ? 
(Ilustração daqui)

Não sou desmancha-prazeres

Cavaco já chegou à Austrália e, pelo ar dele, concluo que está satisfeito. Por mim, que não sou desmancha-prazeres, pode ficar por lá. Ou, se preferir, em alternativa, pode regressar a pé.
(Notícia e imagem daqui)

"Ganda" Relvas !

Afinal, Relvas não pressionou. Ele é que se sentiu pressionado. Sentiu, mas pelo que sabe doutras fontes, resistiu com tanto brio às pressões que, a partir de agora, Relvas passa a ser mais conhecido por "Ganda" Relvas!

Autue-se como processo de inquérito

A posição tomada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) de "aguardar a evolução dos factos para ver se se justifica a intervenção do Ministério Público", no caso Relvas - Público, teve duas respostas que reputo de lapidares, como é habitual nos comentários do autor: uma, por antecipação (Coação) e outra, a posteriori (A evolução dos factos). 
Uma vez que o caso foi tornado público e chegou ao conhecimento da PGR, é evidente para quem ler os citados comentários que ao Ministério Público, face ao direito vigente, só é legítimo tomar a decisão de lavrar um despacho. Este: A. como processo de inquérito.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

A resolução do problema da quadratura do círculo vem já aí a caminho


Temos que nos render à evidência: este "governo" conseguiu, em termos de execução orçamental, um resultado que é uma proeza de magnitude igual à da resolução do problema da quadratura do círculo.
O "governo" de Passos/Coelho, Gaspar, Portas & Cª (a companhia é o Relvas que, para vergonha de todos, ainda por lá continua) conseguiu (com a sua política de austeridade, centrada, por um lado, nos cortes dos subsídios de Natal e de férias de funcionários e de pensionistas e, em geral, nas prestações sociais, a par de cortes em tudo o que é investimento público e, por outro lado, no aumento generalizado dos impostos) um feito verdadeiramente inacreditável em matéria de finanças públicas.
Pois não é que, de acordo com o Boletim de Execução Orçamental referente aos meses de Janeiro a Abril,  a despesa efectiva das Administrações Públicas, apesar dos cortes, aumentou 4,1%, e a receita, apesar do aumento dos impostos, diminui efectivamente 1,1%. O défice, obviamente, subiu para 1740,5 milhões de euros.
Eu  disse "inacreditável", mas, na verdade, o feito é mais que inacreditável. É verdadeiramente admirável. E tanto é que ouso dizer que não me surpreenderia muito se a resolução do problema da quadratura do círculo, tido até agora como de resolução impossível estivesse já a caminho. Pela mão deste "governo", claro!
(Ilustração daqui)

Antes que seque

Orquídea-piramidal, ou Satirião-menor [Anacamptis piramidalis (L.)Rich.]
Local e data: Serras d'Aire e Candeeiros; 16 - maio - 2012)

terça-feira, 22 de maio de 2012

Requiem

Acontece, porém, que o PSD já anunciou, pela boca do vice-presidente do grupo parlamentar do PSD, Luís Menezes que votará contra os pedidos de audição parlamentar, querendo O PSD, no dizer do seu líder parlamentar, Luís Montenegro, esperar pelo parecer da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) antes de decidir se o Parlamento deve ou não ouvir o ministro Miguel Relvas.
Se das posições assumidas pelos referidos dirigentes parlamentares do PSD se não pode linearmente inferir que o inverso do "quem não deve não teme" é tão verdadeiro quanto o citado aforismo, certo é que não anda longe disso. É que, como lembra aqui o José Simões, a consideração ora votada à ERC  não condiz com a posição do PSD sobre a mesma entidade que "até há pouco mais de um ano (...) era uma entidade a abater, na melhor das hipóteses sem existência justificável". E mais de estranhar é a posição dos dirigentes parlamentares do PSD, quando uns e outros têm a "certeza absoluta" de que Relvas está inocente das acusações que sobre ele impendem.
Se têm tanta certeza por que razão se socorrem de expedientes?
Será só porque na boca dos "Montenegros" e dos "Menezes" do PSD, a transparência não passa duma figura de retórica? Ou será antes porque têm a "certeza absoluta" do contrário do que afirmam?
Eu diria que sim. Não é, certamente, por acaso, que vários comentadores conotados com a direita como Pedro Lomba, hoje no "Público", Pedro Santos Guerreiro (aqui) e o Henrique Raposo (aqui) começaram a encomendar-lhe o requiem. A Relvas, em primeira linha.

Filhos e enteados

Para filhos, neste caso, filho, segundo a fonte, do deputado do PSD, Dr. Fernando Negrão, é assim:


Para  "enteados" é assado

segunda-feira, 21 de maio de 2012

O Gaspar está a abusar

Não sou eu a dizê-lo. É, de novo, o Conselho das Finanças Públicas (CFP) que, em relatório hoje divulgado e aqui citado, garante que Gaspar está a recorrer "excessivamente" a medidas de receita, sobretudo impostos, para reduzir o défice público, confirmando, aliás, o ponto de vista e as críticas da Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO).
O governo, contudo, ao que parece (e cito a notícia) "não percebe como é que essas contas são realizadas". 
E não é para admirar que não perceba. De facto, está mais que visto que o governo (que "descobriu" um desvio colossal nas contas públicas no primeiro semestre de 2011, desvio comprovadamente inexistente face aos números do exercício do ano findo apresentados pelo próprio governo) não percebe nada de contas. 
De contas certas, bem entendido, que em matéria de contas aldrabadas é perito.

O "optimismo" está de regresso

Quem o afirma é o novo órgão independente de acompanhamento do processo orçamental que dá pelo nome de Conselho de Finanças Públicas (CFP), presidido por Teodora Cardoso.
Infelizmente, trata-se dum "optimismo" acompanhado do qualificativo "excessivo", pois, no dizer do CFP,  não só afecta as previsões macroeconómicas do Governo como também "se reflete (...) nas expetativas quanto à evolução da dívida pública".
Tem, pois, um senão este optimismo:  afecta e, sobretudo, infecta.

Relvas na corda bamba


Continuo a crer que Passos/Coelho não tem coragem para demitir Miguel Relvas. É o que parece deduzir-se das declarações aqui relatadas. E não tem coragem porque, além doutras razões, Miguel Relvas é um homem que dispõe de muitos recursos no que respeita a conhecimentos e a conhecidos (para não dizer amigos) que sabem também muita coisa. 
No entanto, a hipótese contrária também não é de excluir totalmente, porque Miguel Relvas está numa situação cada vez mais fragilizada e ele, melhor que ninguém, sabe que assim é. Só assim se explica, aliás, a manobra de diversão por ele ensaiada com o envio da carta à Entidade Reguladora da Comunicação Social, manobra que tendo em conta esta resposta se pode considerar, desde já, como manobra falhada.
Aperta-se, assim, o cerco a Relvas que também não deve ter apreciado grandemente as opiniões de alguns dos seus companheiros de partido, como António Capucho, ou como Marcelo Rebelo de Sousa. Este no seu  comentário na TVI põe-no, claramente, na corda bamba.
Apesar de tudo, não garanto que ele venha a cair, mas a verificar-se a queda tenho quase como certo que não vai cair sozinho, a menos que ele acabe por sair pelo seu pé.  Num caso ou noutro, é de apostar que o governo Passos/Coelho vai sair deste "caso" em muito mau estado. Provavelmente, ainda não será desta que se desmorona, mas para lá caminha, que a construção é frágil. Construído por um inexperiente "rapazola", como lhe chamou o Daniel Oliveira, na última edição do "Eixo do Mal", outra coisa não seria de esperar.
(Ilustração daqui)

domingo, 20 de maio de 2012

"Obviamente"

"(...)
Pressionar um jornalista dizendo-lhe que não deve publicar uma notícia porque não corresponde à verdade, elevando a voz, dizendo que nunca mais lhe fará declarações ou que fará até queixa dele ao director ou ao dono do meio de comunicação social, é uma coisa. Outra, é o ministro que coordena politicamente um Governo dizer que vai impedir os outros ministros de dar informações a um jornalista. Além de passar um atestado de menoridade aos seus colegas, está a bloquear o acesso à informação a um órgão de comunicação que tem como primeira obrigação informar os cidadãos. Em qualquer democracia madura, um membro do Governo que o fizesse, nem era preciso ser uma figura muito relevante, não ficaria nem mais um minuto no seu cargo. Verdadeiramente criminoso é ameaçar alguém de que irá pôr a circular assuntos da esfera privada dum jornalista se este publicar uma notícia. É que isto tem um nome: chama-se chantagem. Nem vale a pena discorrer sobre as características de personalidade duma pessoa que possa ter feito este género de ameaças, nem sobre a possibilidade de alguém que tenha tido este tipo de comportamento ser ministro, nem sobre o possível sentimento de impunidade que tudo isto revela."
(Pedro Marques Lopes; na íntegra, aqui)

Manual de sobrevivência

Não faltará quem discorde destas prioridades, até porque, além do mais, as apostas anteriormente privilegiadas (na área das novas tecnologias e da informação) se arriscam a ficar sem financiamento, pois que, segundo o discurso oficial, o dinheiro não chega para tudo.
A decisão, como disse, é criticável, mas não se pode negar que, para um governo apostado numa política de austeridade e de empobrecimento, "custe o que custar", as novas orientações governamentais fazem todo o sentido. Há que dar prioridade às questões relacionadas com a sobrevivência, como é, claramente, o caso da caça, da pesca e da agricultura. As novas tecnologias bem podem esperar. 
Noto, contudo, que o governo de Passos/Coelho, ao tomar a decisão de regressar à Idade Média (ou será ao tempo da Pedra Lascada?) se esqueceu, pelo menos aparentemente, de publicar um "manual de sobrevivência". Indispensável, como é óbvio.
Aqui fica o reparo.
(Ilustração daqui)

"Advogados" de Relvas

Não sei que mais admirar: se a fidelidade canina de Matos Correia, deputado do PSD capaz desta afirmação"Eu conheço bem o deputado Miguel Relvas e tenho a certeza de que ele não fez as ameaças de que é acusado. Não há, por isso, motivo para que o primeiro ministro lhe retire confiança política"; 
se o descaramento do líder do PSD/Porto, Virgílio Macedo, para quem as acusações imputadas ao ministro Relvas não passam, afinal, de "questiúnculas internas do próprio jornal Público que depois tentam trazer para o exterior através de publicação de meias notícias, ou notícias nenhumas, ou meios títulos, só por uma questão de luta de poderes dentro do próprio jornal"; ou se a sua falsa ingenuidade que o leva a pontos de afirmar que "ninguém vai imaginar que existiram pressões sobre os jornalistas" até porque estes não são "suscetíveis de sofrer esse tipo de pressões, porque têm um código de ética que não lhes permite".
Com a pobreza deste tipo de argumentos, mal vai a "defesa" de Miguel Relvas. Este só tem a lucrar se mudar de "advogados", quanto antes.

sábado, 19 de maio de 2012

Por portas travessas



A crer nas notícias vindas a público nos órgãos de comunicação social, o senhor Dr. Miguel Relvas ainda não foi demitido do cargo de ministro adjunto para os assuntos Parlamentares, não obstante, segundo o Conselho de Redacção do jornal "Público", ter ameaçado promover um boicote de todos os ministros ao Público; apresentar uma queixa à Entidade Reguladora da Comunicação (ERC); e last, but not leastdivulgar na internet detalhes da vida privada da jornalista Maria José Oliveira, caso viesse a ser publicada uma notícia sobre as contradições no testemunho do ministro na Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, na passada terça-feira.
Apesar de se tratar de pressões e ameaças gravíssimas que, com um Governo que se levasse a sério, já teria sido demitido, é natural que Miguel Relvas não o tenha sido, nem é provável que o venha a ser. Por "boas" e "compreensíveis" razões.
Há que notar, logo à cabeça, que o ministro Relvas "nega", de novo, "ter fumado ou inalado" e que Passos/Coelho que é o líder dum governo (e não dum Governo) não tem outra alternativa que não seja acreditar. Pois que faria ele, sem o seu factotum?
Acresce que o partido de que ambos fazem parte tem uma larga tradição em matéria de pressões e ameaças dirigidas à comunicação social. O caso do companheiro Alberto João jardim é a todos os títulos exemplar. Não usa e abusa ele de todas as formas de controlar a comunicação social na Madeira? E não o fez sempre com total impunidade? Vistas as coisas a esta luz, o procedimento de Miguel Relvas nada tem de extraordinário em relação à prática seguida pelo PSD/Madeira. E se na Madeira, a regra é a impunidade, por que razão não há-de o PSD nacional seguir a mesma regra no resto do país? 
A propósito deste caso sobram-me duas perguntas que daqui endereço ao Dr. Relvas:
- Como chegaram ao seu conhecimento os "detalhes da vida privada da jornalista Maria José Oliveira" que, alegadamente, ameaçou divulgar pela Internet ? 
Pergunto, porque fica-se com a sensação de que o "caso das secretas" vai acabar por regressar de novo à ribalta. Agora, por estas portas travessas.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Fiquem-se com estas...

 Notobasis syriaca (L.) Cass.

Scolymus maculatus L.
Meus amigos, por uns dias, terão que se contentar com estas imagens. Têm espinhos e são pouco agradáveis, ao tacto? É verdade, mas quem disse que a vida não tem espinhos ? 
Como dizia a outra: Até já!
(Clicando nas imagens, amplia)

segunda-feira, 14 de maio de 2012

A lei das compensações

Noticia o "Público", na sua edição de hoje, e também on line, que, em 2011, as remunerações dos presidentes executivos das 20 principais empresas cotadas na bolsa de Lisboa aumentaram 5,3%. Como estamos em época de crise, para compensar, a média salarial dos trabalhadores caiu quase 11%.
É a chamada lei das compensações a funcionar. Em tempos de aperto económico e financeiro,  o dinheiro não chega para tudo e, como diz o nosso, graças a Cavaco et al., primeiro-ministro, há que fazer opções e olhar para os mais desfavorecidos. Como é o caso,  evidentemente!
É por esta e por outras de semelhante cariz que, de cada vez que ouço Passos/Coelho falar em "distribuição equitativa dos sacrifícios", sou assaltado pela vontade irreprimível de o mandar para as urtigas.

Incrédulos e mal agradecidos


A comissão de trabalhadores (CT) da RTP propôs nesta segunda-feira que a tutela da estação pública de televisão passe para a comissão parlamentar para a Ética e Comunicação, questionando a idoneidade do ministro adjunto e dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas.
Onde é que já se viu um tal desaforo ?
Então anda o ministro adjunto e dos Assuntos Parlamentares a tratar do futuro da RTP e dos seus trabalhadores  e a respectiva CT é assim que agradece todo o esforço que o homem tem andado a desenvolver.Francamente! 
Será que a CT da RTP não ouviu o nosso, em má hora, primeiro-ministro garantir que mantém toda a confiança em Relvas? E vejam, seus incréus, que Passos/Coelho nem precisa de provas. Basta-lhe que o ministro Relvas "negue" ter havido alguma relação entre ele e o homem das Secretas. 
Isto, sim, é que é confiança. Aprendam, seus desconfiados.

E "prontes"!

Basta que o ministro Relvas "negue" qualquer relação com Jorge Silva Carvalhoex-director do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED).  para que Passos Coelho dê por resolvido o caso das Secretas e do envio por parte de Silva Carvalho ao ministro Relvas dum "plano de reestruturação” dos serviços de informação.
Rápido é  Passos/Coelho nas conclusões. A proclamada transparência é que não é nenhuma, tanto mais que, como noticia o "Público", Relvas "não negou ter recebido o projecto de reforma das secretas".
Este gente garante que  "não mente, não engana, nem ludibria". A relação que mantém com a verdade é que, pelos vistos, não é lá grande coisa e a preocupação com a sua descoberta, quando tal lhe não convém, muito simplesmente,  não é nenhuma.

domingo, 13 de maio de 2012

Más notícias, boas notícias

A estrela da senhora Merkel está, aparentemente e felizmente, a empalidecer.  Depois de ter sofrido uma derrota com o resultado das eleições presidenciais francesas, onde o seu favorito Sarkozy foi batido por François Hollande, viu hoje o eleitorado do Estado da Renânia do Norte-Vestefália a dizer-lhe com toda a clareza: nein
Esta é, pelo menos, a leitura que se pode extrair das notícias que dão conta que a CDU da senhora Merkel não terá terá obtido mais que 26,3% dos votos nas eleições que decorreram hoje naquele estado federado, eleições ganhas pelo SPD, que aparece como a principal força política com 39% dos votos, seis pontos percentuais acima da última votação, e que fica com todas as condições para poder formar governo contando com os Verdes, que obtiveram cerca de 12% dos votos.
Más notícias para a senhora Merkel. Boas notícias para a Europa.

Provocação por provocação

'Tirem a estátua da República do Parlamento'

"Tirem a estátua da República do Parlamento", foi o que o deputado líder da JSPedro Delgado Alves, sugeriu, numa atitude assumida, pelo próprio, como provocatória, dizendo-se chocado com a supressão do feriado do 5 de outubro, comemorativo da implantação da República.
Provocação, por provocação, eu também tenho a minha a fazer. E aqui vai:
Se o governo Passos/Coelho e os deputados da maioria (com  honrosa excepção do deputado Ribeiro e Castro) atribuem tão pouca importância à independência de Portugal a ponto de também acabarem com o feriado do 1º de Dezembro, data da Restauração, não percebo o que é que uns e outros andam ainda a fazer por cá. Chegou a altura de o governo de Passos/Coelho se transferir em peso para Madrid, para o Palacio de la Moncloa, onde o amigo Rajoy há-de, com certeza, encontrar, um qualquer esconso onde todos eles se possam enfiar.

(Palacio de la Moncloa, em imagem daqui)


E o mesmo caminho em direcção a Madrid não pode deixar de ser apontado aos deputados da maioria, com a dita e honrosa excepção. No Palacio de las Cortes há uns quantos sótãos onde cabem todos. 

(Palacio de las Cortes, em imagem daqui)
E toca a andar que já está a fazer-se tarde!

sábado, 12 de maio de 2012

Medo de falar

(Imagem do "Expresso", edição de hoje)
Isto mais parece uma "ditadura". Económica, até ver.

Um mundo de "oportunidades"

A afirmação de  Passos/Coelho proferida ontem de que  o desemprego não tem de ser encarado como negativo e pode ser “uma oportunidade para mudar de vida” , até podia ser levada à conta de declaração pouco pensada e menos feliz. Mas não, a afirmação traduz, de facto,  actualmente, o seu pensamento, pois já hoje teve ocasião de a confirmar.
(Abro um parêntesis para reconhecer que o primeiro-ministro que nos coube em (pouca) sorte, vistas bem as coisas até poderia ter ido mais longe. Não quando afirma que o "desemprego não tem de ser encarado como negativo", pois o aspecto  positivo do desemprego, aparentemente,  só ele o consegue topar, mas quando admite que o desemprego pode ser "uma oportunidade para mudar de vida". E podia ira mais longe, porquê?  Porque, afinal, o desemprego não é só uma oportunidade de mudar de vida, é antes de mais, uma Inevitabilidade.)
Fechado o parêntesis, retomo o fio à meada, para  reconhecer que na perspectiva da dupla Passos/Coelho, Portugal com um nível de desemprego a bater todos os recordes é, nos dias de hoje, um país cheio de oportunidades, e  tantas como nunca antes se viu. Diria até que o Portugal liderado pela dupla Passos/Coelho é um autêntico  país das maravilhas em matéria de oportunidades.
É verdade que Passos/Coelho não encarou sempre o desemprego como um mundo de oportunidades. Recordo que, antes das eleições, o então candidato a presuntivo primeiro-ministro não se cansava de lançar à cara do primeiro-ministro em exercício o número dos alegados (e de facto, então ainda inexistentes) 700 mil desempregados, como forma de atacar José Sócrates. Não era, de certeza, para enaltecer o seu papel. 
Mas, por acaso, não se diz com frequência que só quem é burro é que não muda de opinião? E, curiosamente, até se dá o caso de ter ouvido Passos/Coelho usar, ele próprio, essa expressão, . 
Eu, porém, ouso ir mais longe, pois, pelo que vejo e ouço, até os burros e os estúpidos são capazes de mudar. E não só: os aldrabões também mudam facilmente de opinião.