domingo, 31 de março de 2013

Valha-nos o folar!

Este ano não temos mensagem de Páscoa?
Sem mensagem do casal Coelho, o que nos vale é o folar. E as amêndoas!
(reeditada)

"Importação" a custo zero

Temos de convir que a estratégia é de "génio".
Como primeiro passo, impõe-se a austeridade custe o que custar aos países do Sul da Europa (Portugal, Itália, Espanha e Grécia). Atrás da austeridade, vem o desemprego maciço de quadros qualificados. Finalmente, importam-se, desses países, a custo zero, centenas de milhares de emigrantes qualificados, designadamente, médicos e engenheiros.
Compreende-se a estratégia  da Alemanha, mas já não se compreende que os governantes indígenas dos países fornecedores,  aos quais, coube arcar com a factura  da formação, se comportem como lacaios recrutadores ao serviço da potência dominante, como os (des)governantes portugueses, os primeiros a incentivar a expatriação da geração mais qualificada que o país já teve. 

Serviço público

"Do PEC IV à Espiral recessiva"
Factos são factos. Quem não olha a factos, facilmente se deixa "levar". Como se comprova. Com as consequências que estão à vista.
(Com os devidos agradecimentos ao Carlos)

sábado, 30 de março de 2013

Uma política bem sucedida


Entre as muitas afirmações feitas por José Sócrates durante a entrevista dada à RTP1, para reposição da verdade, avulta a de que a dívida pública aumentou mais durante o exercício do actual governo do que durante os Governos por ele liderados, classificados como despesistas.
Tal afirmação acaba de ser confirmada, com mais pormenor, com os números avançados por Emanuel Augusto dos Santos que, no Caderno de Economia do "Expresso" de ontem, escreve:

"(...)
Desde abril de 2011 até fevereiro de 2013, a dívida direta do Estado aumentou mais de 42 mil milhões de euros, ultrapassando pela primeira vez os 200 mil milhões de euros. A velocidade do crescimento nestes 22 meses foi de 1910 milhões de euros ao mês. Comparando com os 1292 milhões de euros verificados nos 22 meses precedentes, o ritmo é claramente mais acelerado. 
(...)
Se utilizássemos a dívida das administrações públicas em percentagem do PIB, os resultados ainda seriam mais graves. Por causa do crescimento económico negativo nos últimos dois anos, o efeito da redução do denominador ainda agrava mais este indicador que já ultrapassa os 120%, quando no final de 2010 se situava em 93,5%. Lembrando que no final de 2005 a dívida pública era igual a 62,8% do PIB, é fácil fazer as contas: a pesada herança constituiu-se a um ritmo anual de 6,3 pontos percentuais, enquanto, no período seguinte de dois anos, o prometido alívio transfigurou-se numa acumulação à velocidade galopante de 13,4 pontos percentuais ao ano, ou seja, mais do dobro do que a média anual do anterior governo.(...)" 

Perante estes dados, digo eu, uma conclusão se impõe: se quanto mais o país deve, mais pobre fica, não há dúvida de que a política de "empobrecimento" acelerado, defendida por Passos Coelho e prosseguida pelo seu governo, tem sido uma política de enorme sucesso.

sexta-feira, 29 de março de 2013

Carne de porco

Por cá, o fogo está a alastrar, as labaredas já vão altas, mas nada disso impede que o número 3 do governo e líder do segundo partido da coligação governamental continue a fazer jus à sua designação de "ministro dos negócios no estrangeiro" continuando o seu périplo por esse mundo fora.
Ao que dizem as notícias, Portas terá feito poiso, durante uns dias, no Japão, suponho que para promover "a internacionalização da economia portuguesa" e tal foi o sucesso da estadia que até conseguiu uma encomenda de carne de porco.
Não sei se obteve mais algum proveito, pois o  investimento da  Mitsubishi no alargamento da fábrica do Tramagal, uma das "façanhas" atribuídas à visita do ministro Portas, já estava programado há mais de um ano.
Fique-mo-nos, pois, pela encomenda da carne de porco,  uma autêntica "lança em África". Melhor dizendo: no Japão.
Digo isto ainda sem saber se os lucros da encomenda dão para pagar os custos da viagem e da estadia do próprio ministro e dos acompanhantes, sendo, porém, claro que tais custos são coisa de somenos, quando se trata de um governo que prima em castigar os cidadãos pagantes e não pagantes com austeridade e mais austeridade. Quer dizer: quanto a austeridade, basta a que o governo impõe aos tansos e aos menos tansos que, por força, têm que aturar tais governantes.
(reeditada)

A entrevista revista (1)

"Então, Sócrates voltou. Vou zurzi-lo. Um ex-primeiro-ministro de Portugal não dá explicações sobre como pode ir estudar dois anos para Paris. Parolos podem parolar sobre isso, mas gente da classe média que já teve filhos a estudar durante cinco anos em Paris sabe que isso é honestamente possível. Não se explica tal a um Octávio Ribeiro, diretor do CM, que insiste há meses com esse tema. Olha-se-lhe é para a cara dele e à pergunta que nela vem estampada ("E V. Exa toma mais alguma coisinha?") e responde-se: "Não, só a conta." E não se lhe deixa a gorjeta de uma explicação numa entrevista com jornalistas decentes. Tirando esse deslize, Sócrates foi moderado, criticou no PR falhas de solidariedade institucional. Ora com Cavaco um animal feroz levantaria outra coisa: aquele que é hoje o Presidente de Portugal ganhou de um banco, num ano, mais do dobro do que lá tinha depositado - e, depois de ter sido provado que o banco era de bandidos, não devolveu as mais-valias. Essa é a questão-chave, porque reconhecida e aceite, do desconforto dos portugueses com os seus políticos. Já com os chefes do Governo e da oposição, Sócrates limitou-se a mostrar, em contraexemplo, que Passos tem sido uma cucurbitácea, lá fora, e Seguro, um banana, cá dentro. Daí as minhas críticas por ele ir para essa coisa falsa que é político comentador político. Um político assim deveria ir ao congresso do seu partido e lutar pelo seu lugar."
(Ferreira Fernandes; "Sócrates, os outros e ele próprio". Aqui)

Finalmente, a ruptura

Provavelmente, a moção de censura apresentada pelo PS não terá como efeito a queda imediata do governo de Passos, Gaspar & Portas, mas ao proclamar que Só um novo Governo, democraticamente legitimado, com forte apoio popular, estará em condições de interpretar e protagonizar o novo consenso nacional", fica claro que o PS liderado por António José Seguro rompeu final e definitivamente com a política deste governo, facto que, não tenho dúvidas, terá consequências. Pelo menos, deixará de poder continuar a falar-se no consenso mole entre os partidos signatários do Memorando.
Faltará, porventura, apresentar um desenho mais consistente de uma nova política que passará, desde logo, pelo abandono da postura subserviente do actual executivo perante a União Europeia e a troika, cujos resultados desastrosos  estão bem à vista de quem quer ver, na linha defendida, na última edição da Quadratura do Círculo,  por António Costa, para quem a queda do governo de Passos et al. não tarda, sobretudo se se confirmar, como é previsível, o pronunciamento do Tribunal Constitucional no sentido de que as medidas inscritas no Orçamento do Estado sujeitas a fiscalização sucessiva estão feridas de inconstitucionalidade.  De facto, em tal hipótese, dificilmente, o governo terá outra saída que não seja a porta da rua, porque, como se diz por aí, Passos, Gaspar e Portas não dispõem de alternativa. Numa tal eventualidade, nem o patrono Cavaco lhe vai valer.

"Sobe, sobe, balão sobe"

Estes números significam, tão só, que um governo "austeritário", o liderado pelo senhor Coelho, consegue bater, por largos pontos, um Governo dito "despesista", no respeitante ao  aumento da dívida pública.
Milagre? Não. É, simplesmente, mais uma prova de que o actual governo é dirigido por lunáticos ineptos e  por fanáticos incapazes. Não é pelos frutos que se conhece a árvore? Os frutos estão bem à vista.
(imagem daqui)

quinta-feira, 28 de março de 2013

Favor duplo

Não sei se é verdade ou mentira a notícia posta a circular pelo "Público", segundo a qual "o primeiro-ministro  admitiu, na passada terça-feira, perante o seu núcleo duro, na última reunião da Comissão Permanente do PSD, que tem receio de que o Governo não chegue ao fim da legislatura por não conseguir encontrar alternativas para as medidas que o TC  possa vir a chumbar".
A ser verdadeira, e caso se venha a concretizar-se a hipótese de demissão do governo passista, se o  Tribunal Constitucional (TC) vier efectivamente a declarar, não obstante as indecorosas pressões de Coelho, que todas ou algumas das normas do Orçamento do Estado submetidas à sua apreciação estão feridas de inconstitucionalidade, dois favores ficam os portugueses a dever ao TC: desde logo, como é do seu estrito dever, a reposição da legalidade constitucional que este (in)executivo tem vindo sistematicamente a violar. Mas, a verificar-se a hipótese de demissão, a decisão, neste caso, trar-nos-ia o bónus de nos vermos livres duma das "pragas" que está a destruir o país. Infelizmente, não será tão fácil desfazer-mo-nos  da "praga" que, em tal caso, restará.
Ao contrário de muita gente não receio, nem por um segundo que seja, as consequências da queda deste governo, porque, a meu ver, qualquer solução que o futuro possa trazer no bojo, nunca poderá ser pior do que a actual.

Uma resposta demolidora

Para os milhares de peticionários que pretendiam calar José Sócrates, o número de telespectadores (1,617 milhões)  que assistiram à entrevista por ele dada à RTP1 (o programa de televisão mais visto de quarta-feira) constitui uma resposta demolidora.
Se há alguns milhares que o querem silenciar, há seguramente milhões que querem ouvi-lo. Os números por si falam.
(A resposta é ainda mais expressiva se se contar com os dados desta notícia: " Sócrates foi tendência mundial no Twitter)
Em complemento e já agora, uma sugestão para os peticionários: limpem as mãos à parede.
(reeditada)

Nem espicaçado, reage

A crer nesta notícia, Cavaco Silva não deve ter visto a entrevista de José Sócrates. Nela se dá conta que Cavaco, no rescaldo da entrevista, ignorou as acusações feitas por Sócrates, tendo-se limitado a publicar um texto, no facebook, de nula relevância:  "Nas últimas três semanas visitei seis empresas: Cerealis, em Lisboa, Sousacamp em Vila Flor, Frucar, em Carrazeda de Ansiães, Leica, em Vila Nova de Famalicão, Symington, em Vila Nova de Gaia e Gelpeixe, em Loures. Empresas que investem, inovam, apostam na qualidade e criam emprego."
(Nula relevância, digo eu, porque, se não é lícito estabelecer uma qualquer ligação de causa a efeito, entre tais visitas e a queda contínua da economia nacional, de há dois para cá, também não são visíveis quaisquer benefícios decorrentes das visitas de Cavaco, visitas que, aparentemente, se limitam a servir de palco para Cavaco debitar umas quantas banalidades - especialidade lá da casa.)
Escrito isto entre parêntesis, devo dizer que mesmo que Cavaco não tivesse visto a entrevista, não é crível que a sua casa civil não lhe tenha dado conta das críticas, aliás, mais que justas, que lhe foram feitas por José Sócrates.
A falta de uma reacção imediata pode ter uma dupla leitura: ou Cavaco sentiu demasiado a estocada e não quer reagir a quente, ou, se o silêncio se prolongar, tal só pode significar que Cavaco é mesmo o que dele se diz que é: um sonso, incapaz de enfrentar lealmente um adversário, mas sempre pronto a atacar pelas costas. Quem se lembra da sua actuação, ao longo dos seus dois mandatos presidenciais, já o sabia, mas, ontem, Sócrates fez muito bem em lembrá-lo, porque há por aí muita gente que sofre de amnésia.

Em boa hora

Em boa hora se dá o regresso de Sócrates. O país precisa, como nunca, de políticos que não sejam  simplesmente cinzentos, que é o que mais abunda por cá,  e que  sejam capazes de pôr os nomes aos bois. E capazes de os espicaçar, sempre que se justifique.
No caso da entrevista dada à RTP, o primeiro sinal do seu reaparecimento na cena pública, o primeiro "boi"  já tem nome: Cavaco Silva. Feliz escolha. Outros se seguirão: Coelho, sem dúvida.
E entretanto, António José Seguro já tem com quem aprender a fazer oposição. Esperemos que aproveite.

quarta-feira, 27 de março de 2013

Congelem-se

E mais não disse sobre o tema.
Se não se desse o caso de já estarmos habituados às vacuidades do assim falante, talvez fosse de sugerir a criação, na Presidência da República, de um lugar de intérprete. Tratando-se de vacuidades, o melhor é,  uma vez que estamos numa empresa de congelados, congelar mais esta, que as anteriores congeladas estão.. 

Não lembrava ao diabo...

...mas, pelos vistos, lembrou ao CDS, requerer a audição, na comissão parlamentar de Ética, Cidadania e Comunicação, do director de informação da RTP sobre a anunciada  contratação (pro bono) de José Sócrates como comentador político da RTP, o que prova que ainda há quem não saiba, mais de três décadas após o 25 de Abril, que está consagrada constitucionalmente a independência dos meios de comunicação social do Estado face ao poder político.
Lamente-se e, por uma vez, saúde-se o comportamento do PSD que, neste passo, não acompanhou a iniciativa do seu parceiro de coligação, fazendo jus aos seus (muito) antigos pergaminhos, em perfeito contraste, aliás, com a  atitude do PCP e do BE que, na votação do requerimento do CDS se colocaram ao lado deste partido, facto que se estranha e não menos se lamenta.

terça-feira, 26 de março de 2013

A viver de equívocos

Ocupado em recolher imagens de espécies da flora portuguesa, nem tempo tenho tido para comentar as últimas novidades.
De facto, nem uma nota sobre os últimos desenvolvimentos da desastrada intervenção da troika em Chipre intervenção que, para além da imediata implosão da economia cipriota, traz no bojo uma crescente desconfiança no sistema financeiro europeu, em particular, nos países sujeitos a resgate.
Nem tão pouco uma palavra sobre o reaparecimento público do ex-primeiro-ministro José Sócrates que, mesmo antes de se concretizar, já pôs em pânico muito boa gente (ou nem por isso) que lá terá as suas razões que estão, seguramente, longe de ser as melhores. 
E nem sequer um breve comentário sobre  o lento esboroar (demasiado lento, quanto a mim) da Comissão Liquidatária que alguns, por manifesto equívoco, continuam a designar por governo do país, com Passos Coelho cada vez mais pressionado pelo parceiro da coligação a proceder a uma profunda remodelação no governo, o qual, não por acaso, acaba de sofrer mais uma baixa. A de Almeida Henriques, secretário de Estado adjunto da Economia, saída que vai ter como imediata consequência deixar o ministro Álvaro cada vez mais só a falar para as paredes.

Para compensar tão longa ausência, deixo aqui uma das últimas "descobertas" efectuadas durante os meus trabalhos de campo: uma espécie designada por Scilla peruviana, designação científica que é ela também fruto de um equivoco que explico noutro local.
Atendendo ao epíteto específico, somos levados a crer que a planta seria originária do Peru, quando, afinal, se trata de uma planta nativa do Sudoeste europeu (Portugal incluído) e do Noroeste africano. Mas a prova de que somos mesmo um povo de equivocados ou que apreciamos viver de equívocos é que, na linguagem vernacular, a espécie é designada em Portugal por "Albarrã-do-Peru" e "Cila-do Peru", quando, por exemplo, em língua inglesa, a planta é designada por Portuguese Squill e em Espanha é também conhecida pela designação de jacinto portugués. Curioso não é?
Mas fiquem-se com a dita, que é uma beleza. Acho eu.


quarta-feira, 20 de março de 2013

Há sempre alguém que resiste...

... em Chipre.
E resulta: "BCE vai garantir liquidez".
Uma boa lição para os ditos "bons alunos" que por cá não fazem outra coisa que não seja dobrar a cerviz.

terça-feira, 19 de março de 2013

Não há inocentes

Nesta União Europeia liderada por doidos varridos toda a gente merece castigo: os que esbanjaram, porque "viveram acima das suas possibilidades", como diz o nosso primeiro-maluco; os que pouparam, porque, feitos tansos, acreditaram que a União Europeia e os países que a integram eram governados por gente com um mínimo de bom senso.
A este propósito, mais uma excelente crónica de Ferreira Fernandes. A ler aqui.

segunda-feira, 18 de março de 2013

O prolongamento da agonia

O Prof. Freitas do Amaral apareceu hoje a defender "que a melhor solução para Portugal, neste momento, era outro governo da atual maioria, sem eleições, mas com outro primeiro-ministro, escolhido, naturalmente, pelo PSD", declarações que, a meu ver, são mais um sinal de que este governo tem os dias contados.
Pese embora o muito respeito que às vezes me merecem as opiniões de Freitas do Amaral, em contraponto a muitas outras que não me merecem respeito nenhum, a verdade é que a solução por ele proposta mais não seria do que um prolongamento da actual agonia. 
Isto porque tal solução enfrenta uma dificuldade de tomo. Onde é que Freitas do Amaral encontra no PSD alguém com peso político que não esteja comprometido com as políticas de Passos Coelho, Gaspar & Portas e a quem o povo reconheça credibilidade e capacidade para iniciar uma nova política?
O soba madeirense, Dr. Alberto João Jardim, o primeiro a alvitrar aquela solução, ou Drª Manuela Ferreira Leite que, na verdade, tem mantido alguma distância em relação ao actual executivo? Rio-me.
Ou será Rio?

Com paninhos quentes não vamos a lado nenhum

A demissão do "impressionante" e "inconcebível" ministro "astrólogo" Vítor (Falhar) Gaspar, agora reclamada por pessoas de todos os quadrantes, é o mesmo que tratar uma doença grave com paninhos quentes. A verdade é que o responsável pela política de austeridade "custe o que custar" e do "empobrecimento" não é Gaspar, mas o primeiro-ministro Passos (Falhar) Coelho. A doença que afecta o país só se cura com a demissão deste governo. E ponto final.
Nem se diga que a queda do governo geraria uma grave crise política. Tomando as palavras de Pedro Marques Lopes (aqui) também eu pergunto: "Mas há maior crise política do que manter em funções um Governo que pelas suas próprias decisões políticas nos trouxe até aqui? Há maior crise política do que manter um Governo que ainda pensa que este caminho é o certo? "
E tal como Pedro Marques Lopes também concluo, usando de novo as suas palavras: "Manter tudo como está, essa, sim, será uma colossal crise política."

A falar para as paredes

Perante a manifestação e os protestos dos estudantes do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP), em Lisboa, onde se deslocou para intervir na abertura do ciclo de conferências "Sociedade Aberta e Global”, Passos (Falhar) Coelho viu-se obrigado a inaugurar um novo tipo de discurso. Tendo sido impedida a entrada das pessoas que assistiam à chegada, a espécie de primeiro-ministro que desgoverna o país  limitou-se a fazer um discurso para as paredes.
Escusadamente, digo eu, porque para dizer o que disse (o programa de rescisões deve ser encarado como "uma oportunidade e não como uma ameaça") e o que tem dito (como se sabe, o desemprego, para ele, também é uma "oportunidade")  melhor faria se ficasse calado. Sempre poupava na saliva.

Preocupado com a concorrência

Vai daí, dá a entender que o primeiro-ministro deve proceder a uma remodelação do governo, nunca pondo em causa o primeiro responsável pelo desastre, que é, nem mais nem menos, que o "impreparado" Passos (Falhar) Coelho.
O que quer dizer que Marcelo, ele próprio um astrólogo de renome, não questiona a política que está a conduzir o país para o precipício. Ao defender uma simples remodelação até parece que só está preocupado com a concorrência.

domingo, 17 de março de 2013

Demónios à solta

A subtracção, ou melhor dizendo, o roubo puro e simples de parte dos depósitos bancários imposto pelos líderes europeus a Chipre, como condição da prestação do auxílio financeiro de que o país necessitava, pode ser visto como o equivalente à libertação de uma legião de demónios que só pode ter como consequência lançar aquele país no caos, porque abala a confiança no sistema financeiro cipriota produzindo um efeito que é precisamente o contrário do pretendido, pois tinha o objectivo de "fazer frente à débil situação do sector bancário", situação que se era débil mais debilitada ficou. De facto, não é difícil antever que a banca cipriota vai ter que enfrentar um levantamento maciço de depósitos, assim como é fácil prever que em Chipre se vai assistir a um incremento exponencial de fuga de capitais do país.
O mais difícil, como se costuma dizer, é dar o primeiro passo. Dado este, outros com toda a facilidade se podem seguir, pelo que não é de desprezar a probabilidade de os líderes europeus virem no futuro a tomar medidas idênticas em relação a outros países sujeitos a resgate e submetidos à intervenção e supervisão estrangeiras, como é o caso de Portugal, da Grécia, da Irlanda e, de algum modo, da Espanha e da Itália. 
Se tal vier a acontecer, é mais que evidente que a União Europeia deixará de existir tal como hoje é concebida, pois o descalabro atingirá toda a Europa.
Como é que gente supostamente inteligente pelos cargos que ocupa toma medidas tão estúpidas é para mim um mistério só compreensível à luz dos interesses dos países europeus economicamente mais fortes, com a Alemanha à cabeça, países cujos bancos vão ser procurados como refúgio para os capitais expatriados. Outra explicação não vejo, tal é o tamanho do erro.
Não sei qual a posição tomada pelo governo de Coelho e pelo "impressionante" e "inconcebível" ministro Gaspar a propósito das medidas impostas a Chipre. Não sei, mas aconselho um e outro a porem as barbas de molho.

"No bom caminho"

Depois da conferência de imprensa do ministro Gaspar ficou claro, para quem não feche os olhos, nem tape os ouvidos, que o caminho que temos de percorrer, a manter-se a política que este governo tem vindo a seguir, só pode ser um caminho de pedras e cardos. Por isso as declarações da troika afirmando que Portugal está "no bom caminho", foram vistas, e justamente, como um exercício de cinismo. Contraponho, fazendo eu um exercício de benevolência, uma outra possível explicação: tais afirmações podem ser simplesmente o resultado de um compreensível erro de perspectiva. De facto, quem esteja confortavelmente instalado no Ritz verá sempre num caminho, ainda que pejado de pedras e eriçado de espinhos, "um bom caminho". Porque não tem que o percorrer e, à distância, não se avistam nem as pedras, nem os cardos.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Neste governo, "Falhar" já é apelido

O primeiro-ministro Passos Coelho diz agora que "Não temos margem para falhar". Isto dito por uma espécie de governante que não fez ainda outra coisa que não seja falhar só pode tido na conta de uma pilhéria. De facto, o dito primeiro-ministro tem falhado tanto ou tão pouco que é já mais conhecido pelo nome de Passos Falhar Coelho, porque falha sistematicamente o alvo.
Acrescente-se, em abono da verdade, que o apelido "Falhar" é, actualmente, o mais comum entre os membros da Comissão Liquidatária (CL) (vulgo: governo) e não sei mesmo se ainda há algum que não tenha adoptado o novo apelido. 
Brevitatis causa, avanço apenas, para já, com alguns exemplos. À cabeça os ministros de Estado, isto é, que estão: 
- O número dois da CL que está Finanças é agora tratado, mesmo entre os seus pares, por Vítor Falhar Gaspar, porque falhar é, realmente, não só seu lema, mas uma sua verdadeira obsessão.
- O número três que está nos Negócios no Estrangeiro já só é conhecido, até na China, por Paulo Falhar Portas
E, por último, porque tenho mais que fazer, não podia deixar de aqui lembrar o auto-intitulado Álvaro, concebido por Passos Falhar Coelho como super-ministro da Economia, mas rapidamente transformado num super-falhanço chamado  Álvaro dos Santos Falhar Pereira.

Razão tinha o banqueiro Ul(t)rich

O défice das contas públicas, em 2013, não ficou nem  em 4,5%, a percentagem inicialmente anunciada pela Comissão Liquidatária (vulgo: governo PPC), nem em 5%, a meta a atingir nos termos da 6ª avaliação da troika. Acabou por fixar-se em 6,6%, porque o Eurostat, ao que parece, não pactua com vigarices.
São números que desmentem em toda a linha as promessas e o discurso do governo e dos deputados da maioria, mas, pelos vistos, ainda há muita gente que gosta de ser enganada e burlada por vigaristas, o que me faz pensar que, afinal, o banqueiro Ul(t)rich tinha razão: "ai aguentam, aguentam".

A razão está no poupar

Posso ter sido enganado pelas imagens transmitidas pelas televisões, mas, perante tais imagens, fiquei com a impressão de que Cavaco, durante a sua visita de hoje ao distrito de Bragança, apareceu rodeado de quase um batalhão de soldados da GNR e de não sei quantos guarda-costas. Coisa inédita em Portugal, como é sabido, onde os anteriores Presidentes da República se passeavam por entre a população, sem aparente aparato policial.
Se, com Cavaco, é necessária uma tal protecção, num distrito tão desertificado como o de Bragança, à semelhança de tantos outros distritos do interior do país, é mais que certo que, em grandes aglomerados populacionais, para Cavaco sair à rua será necessário, pelo menos, um regimento.
Poupado, como ele diz ser, compreende-se agora melhor a razão por que Cavaco se tem mantido em prolongadas reclusões no Palácio de Belém. É que a custódia presidencial, a cargo de todo um regimento, custaria uma "pipa" de massa às já debilitadas finanças públicas. 
Em vez de apressadamente andarmos a censurar as suas reclusões, devemos, pois, agradecer a Cavaco a sua relutância em sair à rua.
Visto isso, envio-lhe daqui, sem mais delongas, os meus agradecimentos. 

Cambada de farsantes

Perante as previsões ora revistas na sequência da 7ª avaliação da troika  [recessão da economia  (-2,3%) a mais que duplicar a previsão inscrita no Orçamento do Estado (-1%) ; desemprego a atingir 19% no final do ano, contra os 16,4% previstos no OE) soa simplesmente a ridículo a declaração da troika de que o programa português está "no bom caminho". Para o desastre é, seguramente, um bom caminho, pelo que, perante uma tal afirmação, uma conclusão se impõe: estes gajos só podem estar a gozar com a nossa cara.
O mesmo se diga das declarações de Durão Barroso, que acha que o programa da troika em Portugal está a ser “executado correctamente” e que defende que os planos de ajustamento na União Europeia “funcionam”. Não há dúvida que funcionam, mas em sentido contrário ao desejável.
Funcionam tão bem ou tão mal que até o PSD, através do deputado Miguel Frasquilho, acaba de descobrir que, se a situação económica e social continua a degradar-se, tal é o resultado do facto de o programa de ajustamento ter sido "mal desenhado". Culpa do Sócrates, está visto, que nem "excelentemente" assessorado por essa eminência chamada Catroga, à frente duma delegação do PSD, conseguiu fazer um bom desenho. Um aselha, dirá o farsante Frasquilho que, enquanto tal, está em boa companhia. Todo o governo, a troika e e Comissão Europeia são, em conjunto, uma grande cambada de farsantes.
Mas, ao que parece, é disto mesmo que este povo gosta. Ainda bem, porque, de farsantes, estamos muito bem servidos.

quarta-feira, 13 de março de 2013

Desta vez, o cozinhado vai cheirar a esturro

Como a Comissão Liquidatária (vulgo, governo) tem falhado, sistematicamente, as metas acordadas no Memorando celebrado com a troika, os resultados das várias avaliações periódicas têm também sido cozinhados de forma a que nenhuma das partes (troika e Comissão Liquidatária) tenha de reconhecer que a receita imposta também falhou.
Na última avaliação já concluída (a 6ª) o cozinhado concretizou-se com a alteração do limite do défice que passou de 4,5% para 5%, só alcançado, mesmo assim, com a contabilização de receitas extraordinárias que ainda terão de passar pelo crivo do Eurostat para se saber se podem ou não ser consideradas para tal efeito. 
Porém, na 7ª avaliação ainda em curso, perante a constatação de que as previsões de que o ministro Gaspar se serviu para a elaboração do Orçamento de Estado para este ano não passam de pura ficção, o cozinhado está, pelos vistos, muito mais difícil. Tão difícil que a avaliação, que já devia ter terminado, continua e não se sabe ainda quando será dada por finda. Com tanto tempo a cozinhar, é mais que certo que o cozinhado, desta vez, vai cheirar a esturro.

Como sair do "colete de forças"


"No fundo, o que norteia o Governo é a convicção de que os problemas actuais do país tiveram origem numa súbita perda de competitividade externa gerada pelo crescimento dos salários acima da produtividade, pelo endividamento irresponsável e pelo aumento do papel do Estado, quer através do investimento mas também da despesa social. 

A economia portuguesa terá sofrido uma reafectação de recursos em favor dos não transaccionáveis, processo que agora urge corrigir libertando o capital e o trabalho para áreas expostas à concorrência externa e mais produtivas. 

As "reformas estruturais" para pôr fim aos "mercados rígidos" são o título oficial, mas a austeridade, a recessão económica e a queda dos salários são claramente os instrumentos centrais do processo de transformação e "renascimento" económico. E foi isso que, sem surpresa, Passos Coelho e António Borges ("era bom que os salários descessem") reafirmaram.

A questão importante é que da aplicação determinada de uma visão coerentemente errada não poderemos esperar outro resultado que não o fracasso completo

A verdade é que Portugal não registou na última década uma deterioração da sua competitividade externa. Não seguramente quando falamos da melhoria da nossa capacidade de competir numa economia aberta e global – que é hoje claramente superior - mas não também quando nos referimos estritamente à evolução dos custos com trabalho. A evolução dos mesmos no sector transaccionável da economia acompanhou a evolução da produtividade (o que aliás era expectável em agentes racionais), ao mesmo tempo que as exportações têm vindo a aumentar, de forma cíclica mas regular, ao longo dos últimos anos.

Dizem os críticos que isto não interessa, porque estamos (estávamos) perante um défice externo que não conseguimos financiar. Mas a diferença é fundamental, pois a questão é saber se o caminho que estamos a trilhar - da chamada "desvalorização interna" - tem alguma capacidade de ser uma base sustentada de competitividade futura ou se estamos no fundamental a destruir.

Infelizmente, o mais provável é que o final do actual processo de ajustamento nos deixe em piores condições competitivas do que estávamos à partida. Continuaremos a ser uma "economia a meio da ponte", i.e., já incapaz de competir com a Ásia e Norte de África quanto ao custo da mão de obra, mas ainda sem a estrutura necessária para ser uma moderna economia do conhecimento. Enfrentaremos custos de financiamento mais elevados, uma moeda ainda mais forte e uma Europa estagnada. Debater-nos-emos com um desemprego e dívida muito elevados, pressões permanentes sobre as contas públicas e a erosão do "Portugal moderno" que foi emergindo. E enfrentaremos este quadro com ainda menos instrumentos, dentro do "colete de forças" constituído pela moeda única e pelas regras do mercado interno, agora reforçadas com o novo tratado orçamental.

A situação será pois de uma enorme complexidade e imporá uma nova agenda para a competitividade. No imediato, traduzida na utilização de todos os graus de liberdade interna permitidos no quadro UE como forma de distinguir o território na atracção de investimento. Falamos em particular de um muitíssimo competitivo sistema fiscal de apoio ao investimento, mas também de medidas dirigidas a sectores onde mais rapidamente podemos obter ganhos competitivos (p.ex. turismo ou florestas). Importa retomar o investimento nas áreas criticas para a melhoria da produtividade no médio prazo, como sejam a qualificação dos recursos humanos e a capacidade científica e tecnológica. 

Mas ao nível estratégico é essencial iniciar o debate a nível europeu sobre as condições de desenvolvimento da periferia no quadro da moeda única. Sejamos claros: a ideia que a convergência na Europa se iria operar por via dos fundos estruturais e da redução dos custos de financiamento não é mais verdadeira. É verdade que permitiu no passado importantes saltos de desenvolvimento, nomeadamente quando foi contemporânea do acesso ao mercado único. Mas já não foi assim no passado recente e muito menos será no futuro, perante o fardo da dívida e a acentuação das divergências com o centro da Europa que esta crise veio trazer.

(Fernando MedinaEconomista. Deputado do PS; "Por uma nova política económica - III". Na íntegra: aqui)

terça-feira, 12 de março de 2013

"O bode expiatório"


«Todas as sociedades tiveram o seu bode expiatório. O dia da expiação era um ritual para purificação da nação de Israel. Para a cerimónia, eram levados dois bodes, um deles era sacrificado e o outro, o bode expiatório, era tocado na cabeça, pelo sacerdote, que confessava os pecados dos israelitas e o enviava para o deserto, onde todos os pecados eram aniquilados.
 Para a direita nacional e sobretudo para a comunicação social que o temia, por imprevisível, Sócrates é o bode expiatório ideal. Está ausente, não pode falar sem provocar mais ruído que o já criado, dedica-se a coisas aparentemente esotéricas como a filosofia política, os seus apoiantes reduzidos a um quadrado defensivo. Ainda por cima, o partido que dirigiu com mão forte durante meia dúzia de anos esteve longe de se dispor a defendê-lo, com isso deixando-se também cair num fojo. Os sinais recentes de reunião podem aqui ajudar ao exorcismo clarificador. Até que tal suceda, os clarins da direita infrene espreitam a mais ténue imagem, escutam o mais vago rumor de movimento do visado. 
Certamente não deixariam passar em claro que o seu antigo e temido adversário de estimação emergisse da clandestinidade. O que quer que fosse o que fizesse, o emprego que aceitasse ou a que aspirasse, tudo seria objecto de inquisitória perseguição sob a forma de suposta investigação jornalística. Acontece que Sócrates aceitou funções de representação internacional de um laboratório suíço intervindo na área do sangue e seus derivados, com a reserva de o trabalho ser fora do país. Toda a sanha se projectou sobre o desempenho dessa empresa, entre nós, no tempo de Sócrates. Descobriu-se, pasme-se, que a empresa era um dos poucos fornecedores activos nos concursos centralizados que a Saúde então organizava. A passagem de centralizado a disperso, proposta pelos serviços competentes, parece racional. Mas tendo sido executada no seu tempo, todas as razões são boas para gerar suspeição e insídia. Tal como aconteceria se o processo fosse o oposto: a passagem de concursos descentralizados a centralizados, talvez até com agravada desconfiança. 
Faça Sócrates o que fizer, será sempre ele a turvar a água que o lobo pretende beber. Ele ou alguém por ele. A sua única sorte é não ter sido ele tomado como o outro bode, o que sofreu sacrifício imediato. Assim, como refere a antiga cultura, ele foi apenas tocado na cabeça e mandado para o deserto
(Correia de Campos; "Bode expiatório", ontem no "Publico", sem link)

segunda-feira, 11 de março de 2013

O peso da culpa

A maior parte dos comentadores, senão a totalidade, considera excessivamente auto-justificativo, o prefácio de Cavaco Silva ao "Roteiros VII". Coincidindo na apreciação, há, no entanto, que encontrar a explicação que os comentadores, em geral, não procuram ou, pelo menos, não explicitam. De facto, se Cavaco sentiu necessidade de se auto-justificar é porque algo lhe pesa na consciência e, na verdade, motivos não lhe faltam.
Enquanto tomou papel activo e tem inegáveis responsabilidades no derrube do anterior Governo, com as consequências que estão à vista (desemprego galopante, decréscimo da economia a bater recordes, depois do actual governo, por ele patrocinado, ter assumido funções), Cavaco passou de actor interventivo a simples espectador, mas preocupado em descomprometer-se da desgraçada solução política pela qual é efectivamente responsável.
A tentativa de auto-justificação  redime-o? A crer na opinião pública, tudo indica que não. Pela minha parte direi que a auto-justificação foi mesmo contraproducente, pois constitui uma confissão de culpa, cujo peso Cavaco terá que continuar a suportar pelo menos até ao fim do mandato. A menos que tome a decisão de demitir o governo, enquanto é tempo e a situação social e económica do país não se deteriora a pontos de se tornar irremediável.

sábado, 9 de março de 2013

O que um Presidente não deve fazer em tempos de crise

Já se pode ler no site da Presidência da República o anunciado "Prefácio do Presidente da República no livro de intervenções “Roteiros VII”, a que Cavaco Silva deu o título "UM PRESIDENTE EM TEMPOS DE CRISE".
Tendo em conta os resultados da sua acção (a economia portuguesa a afundar-se de dia para dia e Portugal a empobrecer a olhos vistos, sem que Cavaco Silva tenha tomado até agora qualquer atitude que tenha contribuído para inverter a situação)  mais ajustado seria o título que este "post" leva em epígrafe: "O que um Presidente não deve fazer em tempos de crise".
É verdade que, atendendo à enumeração, que se diria exaustiva, dos seus múltiplos "avisos" e às suas alegadas, mas não desvendadas, intervenções junto do governo, até se poderia dizer que Cavaco Silva tem desenvolvido, durante o actual mandato, um intenso labor. No entanto, mesmo admitindo que tal poderia corresponder à verdade, certo é que, tendo em conta os resultados, a sua acção só pode ser classificada como ineficaz, inconsequente, senão como contraproducente. Esse é, pelo menos, o modo como os portugueses avaliam a sua actuação, a crer na  última sondagem publicada pelo "Expresso", que atesta que a popularidade de Cavaco Silva continua em queda. E não se diga que tal se deve, como Cavaco parece sugerir, ao facto de ele recusar assumir um excessivo protagonismo e à preocupação de "guardar reserva relativamente às suas intervenções junto do Governo". E não se diga tal, porque a realidade fala mais alto e não há a mínima dúvida de que a situação económica e social em Portugal tem vindo a agravar-se desde que o actual governo, patrocinado por Cavaco, assumiu funções.
Cavaco Silva não ignora certamente essa realidade, pois está bem à vista, mas se alguém pensa que ele pode vir a tomar alguma iniciativa que ponha termo à tentativa de destruição de um país em que o actual governo parece empenhado, desiluda-se. É ele quem o diz:  "Em conjunturas de crise, como a que vivemos, seria fácil tirar partido de uma magistratura que não possui responsabilidades executivas diretas para, através de declarações inflamadas na praça pública, satisfazer os instintos de certa comunicação social, de alguns analistas políticos e de muitos daqueles que pretendem contestar as instituições. Seria fácil, por exemplo, alimentar sentimentos adversos à classe política ou até à ação do Governo.
Esse não é, no entanto, o meu entendimento sobre o que deve ser a ação responsável de um Presidente da República, muito menos em tempos de grave crise. Os Portugueses sabem como sou, conhecem a minha aversão a excessos de protagonismo pessoal e o meu apego ao superior interesse do País. A minha missão consiste em contribuir, de forma ativa mas ponderada, para que Portugal vença os desafios do presente sem perder de vista os rumos do futuro. Foi esse o mandato para que fui eleito – e dele não me afastarei nem um milímetro."
Ou seja: o navio pode estar a afundar-se, mas ninguém espere que Cavaco mexa sequer uma palha para evitar o naufrágio. Cavaco é, pois, o exemplo perfeito de um presidente inexistente e prova viva de que Portugal, como já alguém disse, não precisa de um Presidente para sobreviver.
Sim, porque Portugal, apesar da tripla "praga" (este presidente, este governo e esta maioria) que está, consciente ou inconscientemente, a tentar destruí-lo, ainda há-de encontrar forças e meios para resistir e sobreviver. Pelo menos, assim o creio.

sexta-feira, 8 de março de 2013

O povo é quem mais ordena?

É claro que, como disse Cavaco, na sua última aparição pública, a propósito das manifestações de 2 de Março, as vozes que se fizerem ouvir não podem deixar de ser escutadas”.  Tão verdade que não passa dum truísmo. 
No entanto, como Cavaco ainda não demitiu o governo, nem consta que o presidente que se limita a estar tenha renunciado, é porque não ouviu as exigências gritadas bem alto pelos manifestantes. Tal significa que  ou Cavaco é surdo, ou usa uns bons tampões nas orelhas, ou o som entra-lhe por um ouvido e limita-se a sair pelo outro.
Há ainda uma quarta hipótese que não só não é de afastar, como é, talvez, a mais provável: para Cavaco não é o povo quem mais ordena, como diz a canção. Falam, pelos vistos, mais alto os seus humores e conveniências pessoais. Alguém ainda tem dúvidas?

O(s) incompreendido(s)


quinta-feira, 7 de março de 2013

Inconcebível

Por todas as razões que enumera (e por mais algumas que poderiam ter sido alinhadas), André Macedo, em artigo de opinião que pode ser lido, na íntegra, aqui, classifica o ministro das Finanças como " O inconcebível Gaspar".
O qualificativo "inconcebível" que bem calha ao ministro Gaspar, assenta ainda melhor à espécie de primeiro-ministro que (des)governa o país. De facto, como classificar um primeiro-ministro que, perante a proposta do líder do PS visando o aumento do salário mínimo nacional, não só recusa a proposta como defende que a medida mais sensata seria baixá-lo, invocando, para justificar a (insensata) tese, o exemplo da Irlanda, que frequentemente lhe serve de referência,  onde vigora um salário mínimo "principesco" (1462 €) quando comparado com o miserável salário mínimo em vigor em Portugal (485 €)?
Se este primeiro-ministro é inconcebível, já, ao invés e por contraditório que possa parecer, se consegue conceber a sua permanência em funções.
E concebe-se, porque, a par dum primeiro-ministro e dum ministro das Finanças inconcebíveis, Portugal também tem um presidente da República inconcebível., simultaneamente existente e inexistente. Existente, porque ocupa o lugar, inexistente porque, inoperante, se demite do exercício das sua funções.
Inconcebível, não é?

O calado é o melhor?

Pelo menos é o que Cavaco Silva veio reafirmar, depois dum prolongado silêncio de mais de um mês, convocando para o efeito a sua longa experiência como primeiro-ministro e presidente da República.
Se Cavaco Silva não tinha mais nada para dizer para justificar o seu reaparecimento público, para além da repetição do ditado popular de duvidosa justeza e da inconsequente afirmação, a propósito da última grande manifestação do 2 de Março, de que as vozes que se fizerem ouvir não podem deixar de ser escutadas, bem se pode concluir que podia continuar a "ressonar".

terça-feira, 5 de março de 2013

Terra queimada!

Terra de espantos ? Qual quê! Portugal já é só terra queimada, pois a esperança morreu.
De vez? É o que falta saber.