sábado, 26 de abril de 2014

O empecilho

Por certo que renunciar ao mandato presidencial não passa pela cabeça de Cavaco Silva, mas, a meu ver, uma tal atitude seria (é) a única compatível com o compromisso por ele assumido com o juramento na tomada de posse. 
Direi porquê:
Ao ser investido na função presidencial, Cavaco tomou sobre si a obrigação de velar pelo regular funcionamento das instituições, cumprindo e fazendo cumprir a Constituição da República. Ora, Cavaco, ao longo de todo o actual mandato (não falo do primeiro, porque já lá vai) fez de tudo um pouco, desde conspirar contra o Governo de José Sócrates, até patrocinar a formação do actual governo de que tem sido o mais ardente defensor e o mais forte esteio. De facto, Cavaco fez de tudo um pouco, repito, menos exercer, com imparcialidade, o mandato que lhe foi conferido. Não admira, por isso, que hoje apenas a direita se sinta representada na presidência da República. Cavaco, nunca foi e, por culpa própria, já nunca poderá vir a ser "presidente de todos os portugueses". Em vez da união que lhe competia promover, Cavaco é hoje, um factor de divisão a quem já ninguém reconhece capacidade para desempenhar o papel de mediador de consensos. Nem o bom rapaz que dá pelo nome de António José Seguro, imagine-se!
Cavaco, em vez de representar a unidade nacional, tornou-se ele próprio, um verdadeiro empecilho ao regular funcionamento das instituições.
Só pode ter dúvidas de que Cavaco não tem já condições para exercer o mandato presidencial quem não tenha olhos para ver o silêncio ostensivo com que são acolhidas pelas oposições as palavras que ele profere no hemiciclo de São Bento, ou quem não tenha ouvidos para ouvir as vaias com que é mimoseado o seu nome no Largo do Carmo.

25 de Abril: 40 anos depois (II)

Um balanço, por Augusto Santos Silva.
Altamente positivo, alguém tem dúvidas?

"Falar para o boneco"

É assim que vejo e ouço (em diferido) Cavaco a discursar na cerimónia comemorativa do 25 de Abril na Assembleia da República, apelando pela enésima vez ao compromisso entre os partidos políticos.
Estranho é que  Cavaco, o político com maiores responsabilidades na deterioração do clima político durante o segundo Governo de José Sócrates e o político que, em última análise, esteve na base da recusa por parte do partidos da direita em aceitarem viabilizar o PEC IV, não se dê conta do ridículo da situação. 
Como já escrevi algures, Cavaco, o incendiário, anda a tentar fazer de bombeiro, mas como é evidente, faltando-lhe autoridade moral para apelar a compromissos, Cavaco ao fazer tais apelos, está de facto a "falar para o boneco", pois,  por uma razão ou outra, já ninguém o leva a sério. Em boa verdade, nem o governo de Passos, Portas & Cª.
Estranho é também que Cavaco não se dê conta disso, tanto mais que no hemiciclo de São Bento, tem bem à sua frente evidentes sinais de que uma boa parte da população, a representada pelos deputados da oposição, já nem sequer o ouve. Ou se ouve, faz de conta. 

25 de Abril: 40 anos depois

"(...)
A paz, o pão, a habitação, saúde, educação - todas as reivindicações da canção Liberdade, de Sérgio Godinho, se concretizaram. Tínhamos uma guerra estulta e brutal - 169 mil soldados foram enviados para as colónias, morrendo mais de 8000 - e deixámos de ter. Havia fome - calcula-se que 10% da população portuguesa emigrou nos anos 60, grande parte "a salto", para engrossar bairros de lata nos países de destino - e hoje, persistindo carência, desemprego e exclusão, não há comparação possível. Havia dezenas de milhares de barracas - grande parte das casas eram como barracas - e hoje são uma realidade residual. Havia números de mortalidade infantil africanos, uma rede hospitalar incipiente, e temos hoje um Serviço Nacional de Saúde que ombreia com os melhores e uma mortalidade infantil entre as dez mais baixas do mundo (só entre 1990 e 2011 diminuiu 77%). Em 1970, a taxa de analfabetismo raiava os 30%, hoje é 5%; a taxa de escolarização no secundário era 3,8%, agora é 72,3%; os doutoramentos contavam-se anualmente em dezenas, agora são milhares.
Quem, do PC ao PNR, passando por este Governo de maçães, resume os 40 anos a "desperdício", "corrupção" e "traição" não está bem da cabeça. Outra coisa é dizer que é tudo perfeito, que chegámos ao fim da estrada da canção de Gomes Ferreira (o escritor, não confundir). Aliás, a ideia de que um golpe de Estado nos colocaria, por milagre, na terra do leite e do mel, bastando-nos agradecer a dádiva, comunga da infantilidade amorfa que nos fez, como país, aguentar 48 anos de uma ditadura tacanha. Se há falhanço nestas quatro décadas é esse - o de tanta gente achar que a política é uma coisa que lhe acontece, não algo que se faz. Ter nojo "dos políticos", achando que "são todos iguais", entregando-lhes ao mesmo tempo o destino, é capaz de ser uma grande estupidez - e para isso é que, de certeza, não foi feito o 25 de Abril."
(Fernanda Câncio - "No fim da estrada". Na íntegra: aqui. Realce meu)

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Acordai!



"Acordai
acordai
homens que dormis
a embalar a dor
dos silêncios vis
vinde no clamor
das almas viris
arrancar a flor
que dorme na raíz

Acordai
acordai
raios e tufões
que dormis no ar
e nas multidões
vinde incendiar
de astros e canções
as pedras do mar
o mundo e os corações

Acordai
acendei
de almas e de sóis
este mar sem cais
nem luz de faróis
e acordai depois
das lutas finais
os nossos heróis
que dormem nos covais
Acordai!

Música: Fernando Lopes Graça
Poema: José Gomes Ferreira
Interpretação: Coro de Câmara Lisboa Cantat"


25 de Abril, sempre!

terça-feira, 22 de abril de 2014

O governo precisa dum check-up?

Desculpe, Paulo Ferreira, mas, desta feita, não posso concordar consigo, pois qualquer diagnóstico é desnecessário. Check-up para quê, se o governo é, ele próprio, não o doente, mas a personificação do mal? Infelizmente, remédio é que, pelos vistos, não há.

domingo, 20 de abril de 2014

"Dar palha ao burro"

Não é exactamente a expressão em título a desencantada na linguagem popular por Manuel Carvalho para caracterizar, em artigo de opinião (Trapalhada, uma receita para o pós-troika) publicado na edição de hoje do Público, a acção deste governo ("calamitoso" e "extremista do ponto de vista ideológico", no dizer de Francisco Assis, em entrevista publicada na mesma edição, opinião que, obviamente, partilho).
Manuel Carvalho prefere antes a expressão "dar palha ao animal" que, embora mais "soft", não me parece ser a genuína. No entanto, seja qual for a verdadeira expressão popular, qualquer das versões serve para traduzir a desorientação que impera neste governo "viciado a reagir por pressão da troika e pouco treinado a pensar pela própria cabeça". 
Tê-la-á?
Justifica-se a pergunta, porque, cabendo ao primeiro-ministro desempenhar a função de pensar e de definir um rumo para a governação,  ele acaba de fazer a cabal demonstração da sua impreparação com a pretensa entrevista dada à SIC, em que ficou claro que não tinha nada para dizer, porque também não sabe o que fazer.
A capacidade de Passos Coelho e, consequentemente, a deste governo esgotou-se na aplicação de medidas de austeridade, seja sob a forma de cortes nos salários dos funcionários públicos e nas pensões, seja pela via do aumento generalizado de impostos, matérias em que, verdade seja dita, até são peritos e em que até são perfeitamente capazes de dar lições à troika
Os últimos desenvolvimentos desta (des)governação estão aliás bem presentes para demonstrar que, para além da capacidade e da insensibilidade para "cortar", o governo é incapaz de definir um rumo, tão evidentes são os sinais de desorientação e as contradições. 
Nestas circunstâncias, resta ao governo "dar palha ao burro", expressão aqui usada no duplo sentido, que ela, a meu ver, comporta e que se traduzem em "enganar tolos", enquanto se vai "encanando a perna à rã". É o que faz quem não sabe o que fazer.E é, claramente, o caso deste (des)governo.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Enganar


Vou um pouco mais longe que o Fernando Madrinha (hoje, no Expresso): a estratégia de comunicação deste governo não se resume a "confundir e baralhar" o que, só por si, já significaria estarmos perante uma estratégia deplorável e reprovável, mas ao "confundir e baralhar" há que acrescentar o "aldrabar". Sem esta componente, o governo não teria o sucesso que tem tido em alcançar o objectivo que prossegue, desde a primeira hora: ENGANAR.

O pensar (?) dum "rapazola" que, por certo, não pensa chegar a velho


As "duas certezas" são reveladas na edição de hoje do "Expresso" pelo jornalista João Garcia.

Uma tragédia ...


... e bem grande!

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Pontos nos is

«Os adversários da reestruturação da dívida pública têm travado o seu combate no plano económico e moral, mas é sobretudo neste último que têm tido mais sucesso. No plano económico, os partidários da reestruturação/renegociação da dívida ganharam de forma inequívoca; mas no plano moral, grande parte deles acabou por se colocar à defesa - ou porque aceitam as premissas da direita, ou porque desistiram de as confrontar.
1. A direita alimenta a ideia da culpa - "a dívida é consequência dos portugueses terem vivido acima das suas possibilidades e do despesismo" - e a esquerda desistiu de explicar as consequências assimétricas do processo de integração europeia, desde a adesão ao euro, até ao alargamento a leste e à liberalização do comércio com a China.
2. A direita defende que, ao contrário deles, a esquerda não quer pagar o que deve; já a esquerda refere poucas vezes que não se trata de nos dividirmos entre os que querem pagar e os que não querem, trata-se sim de fazer uma escolha. E o governo já a fez - para não falhar um único cêntimo com os credores internacionais, decidiu "não pagar" parte dos salários e das pensões aos trabalhadores do sector público e aos pensionistas.
3. A direita fala dos credores como beneméritos, aos quais não é justo imputar perdas; a esquerda não tem explicado que os nossos credores não nos "emprestaram dinheiro", fizeram um investimento financeiro em títulos de dívida pública e que, como qualquer outro investimento com risco, pode correr mal, não porque o povo português seja desonesto, mas porque o país enfrentou uma crise profunda, com consequências incontornáveis na sua capacidade de pagar. Em qualquer investimento que corre mal há perdas para o devedor e para o credor, porque haveria de ser diferente no investimento em títulos de dívida pública?
Como disse o arcebispo Silvano Tomasi, Observador Permanente da Santa Sé junto das Nações Unidas, ainda em 2012: "A dívida externa é só um sintoma da falta de justiça no fluxo de capitais mundiais" e "A riqueza e a dívida devem servir o bem comum. Quando se viola a justiça, a riqueza e a dívida tornam-se instrumentos de exploração"
(Pedro Nuno Santos, deputado do PS - "Dívida: um debate moral". Aqui)

Perguntas por esclarecer

"(...) Findo o Conselho de Ministros, a ministra veio dizer-nos que, apesar de se esperar um crescimento da riqueza que produzimos (PIB) em 1,5% e um decréscimo do desemprego para 14,8%, tudo se mantém na mesma. Vale o mesmo dizer: o "ajustamento interno" é para continuar. Agora com cortes na despesa dos ministérios e redução de funcionários públicos que, por junto, valerão 1400 milhões de euros. Isto e mais uns "peanuts", como a eventual criação de uma taxa a aplicar à indústria farmacêutica e o encarecimento de produtos nocivos para a saúde.
A primeira pergunta que assalta qualquer incauto é: por que motivo só agora o Governo vai "sacar" 1400 milhões aos ministérios? Não era preferível ter feito essa poupança antes de atacar salários e pensões?
A segunda pergunta é: em que medida o corte nos orçamentos dos ministérios prejudicará, ainda mais, os serviços prestados aos portugueses (na saúde, por exemplo)?
A terceira pergunta é: quando é que o Governo nos diz quanto mais teremos que empobrecer (recorde-se: as medidas transitórias passaram a definitivas) até atingirmos excedentes (exportando mais e importando menos) suficientes para pagarmos a dívida? A tragédia social em que isto se sustenta tem prazo para terminar?
A ministra estava muito cansada para nos esclarecer..."
(Paulo Ferreira; "O cansaço da ministra e o nosso". Na íntegra: aqui.)

quarta-feira, 9 de abril de 2014

And now, Nulo Melo?

"Nuno Melo num debate com João Galamba na TVI24 no passado dia 3 de Abril (mais uma vez sobre as alegadas culpas do Supervisor no caso de polícia que foi o BPN), depois de ter esgotado os argumentos habituais, aventurou-se a desvendar que “as únicas propostas apresentadas em matéria de resolução bancária para se protegerem os depósitos dos clientes dos bancos são minhas” (*), deixando implícito que, se alguma coisa lá figura nesse sentido, a ele se deve. Tenho de o desmentir: Nuno Melo fez de facto algumas emendas no sentido de proteger todos os depósitos bancários em processos de resolução; só que todas elas caíram, chumbadas sem apelo nem agravo pelo seu próprio grupo político (PPE); a proteção aos depósitos que hoje existe no texto legislativo foi a que os membros socialistas conseguiram fazer passar! Convém não abusar da imaginação quando se fala para fins internos..."
(*) Citação completa: “Ficaria a saber entre outras coisas que as únicas propostas apresentadas em matéria de resolução bancária para se protegerem os depósitos dos clientes dos bancos são minhas. Não são de nenhum outro deputado de nenhum outro partido. Verificará que as únicas propostas existentes no Parlamento Europeu a solicitar que sejam distinguidos os depósitos dos privados dos depósitos das empresas, das pessoas coletivas, das fundações, das IPSS são minhas. Sabe porquê senhor deputado? Porque quando acontece uma desgraça num país, como Portugal teve o seu equivalente no BPN, infelizmente para muitos – também do seu partido – a solução está na cativação dos depósitos das pessoas. (...) E se tivesse algum grau mínimo de conhecimento sobre esta matéria – por exemplo se tivesse falado com a sua colega deputada Elisa Ferreira – saberia que inclusivamente no relatório que foi de sua responsabilidade constam hoje emendas de compromisso que exatamente incluem estas minhas preocupações.”

"Casa roubada, trancas à porta"

Equipamento para bombeiros só chega após época de fogos.

O maior problema

"Se estes fossem tempos normais, tudo se resolveria com um encolher de ombros, e a entrada de mais um absurdo português no livro de recordes do Guinness. Mas quando o país tem de manter escolas abertas nas férias da Páscoa para que milhares de crianças não passem fome, o caso muda de figura. O PSD declarou ter angariado 160 euros para a campanha eleitoral de 2011. O partido que hoje lidera o governo, tinha orçamentado 190 000 euros na rubrica de angariação de fundos, mas só uma cidadã, de seu nome Lucinda, disponibilizou o total da quantia recebida: 160 euros. Até se poderia imaginar, se o tempo estivesse para graças, que se poderia tratar de uma criança que, por engano, partira o seu porquinho mealheiro para oferecer as suas moedas à campanha que levou Passos Coelho a São Bento. O que surpreende não é a fraude mesquinha, pois no PSD abundam nomes que ficarão na história criminal da III República (veja-se a fraude astronómica do BPN). O que espanta é o insulto grosseiro à inteligência dos membros da Entidade das Contas e Financiamentos Políticos (ECFP), que funciona junto do Tribunal Constitucional, instituição que o governo tem diabolizado no país e no estrangeiro. Os 160 euros de Lucinda significam que este PSD pisou todos os limites. Transformou-se no maior problema nacional. Subverte a política, e atenta contra a confiança e o pudor públicos."
(Viriato Soromenho-Marques; O mealheiro de Lucinda. Daqui)

terça-feira, 8 de abril de 2014

"O meu país"

Na definição de Alexandra Lucas Coelho (imagem infra), num discurso proferido por ocasião da entrega do prémio APE que lhe foi atribuído pelo Romance E a Noite Roda
Um discurso corajoso e belíssimo que vivamente se recomenda. Na íntegra: aqui
Enquanto sim e não, saboreie este pequeno extracto:
"O meu país não é do orgulhosamente só. Não sei o que seja amar a pátria. Sei que amar Portugal é voltar do mundo e descer ao Alentejo, com o prazer de poder estar ali porque se quer. Amar Portugal é estar em Portugal porque se quer. Poder estar em Portugal apesar de o Governo nos mandar embora. Contrariar quem nos manda embora como se fosse senhor da casa.
Eu gostava de dizer ao actual Presidente da República, aqui representado hoje, que este país não é seu, nem do Governo do seu partido. É do arquitecto Álvaro Siza, do cientista Sobrinho Simões, do ensaísta Eugénio Lisboa, de todas as vozes que me foram chegando, ao longo destes anos no Brasil, dando conta do pesadelo que o Governo de Portugal se tornou: Siza dizendo que há a sensação de viver de novo em ditadura, Sobrinho Simões dizendo que este Governo rebentou com tudo o que fora construído na investigação, Eugénio Lisboa, aos 82 anos, falando da “total anestesia das antenas sociais ou simplesmente humanas, que caracterizam aqueles grandes políticos e estadistas que a História não confina a míseras notas de pé de página”".
Alexandra Lucas Coelho

domingo, 6 de abril de 2014

Alte, atenção!

Atenção, que estamos em Alte,  "uma das aldeias mais típicas e preservadas do Algarve"

Portal da igreja matriz

Igreja matriz (vista lateral)

Capela de S. Luís


casario


Aspectos da ribeira de Alte


"Fonte Pequena"

"Fonte Pequena" - pormenor

"Naia, musa da ribeira de Alte" - Escultura de Vitor Picanço.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

E V. ainda acredita?

Se já nem Seguro acredita na palavra do primeiro-ministro, é difícil imaginar que ainda haja quem leve a sério as palavras de Passos Coelho,  tão frequentes são as suas mentiras devidamente comprovadas.
É difícil imaginar, mas é uma realidade que sucessivas sondagens confirmam. Por muito estranho que pareça, há sempre alguns milhares, quiçá, milhões de ingénu@s que gostam de ser enganad@s.

Isto não é vida

"(...)
Os números divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) sobre as alterações registadas na Balança Alimentar Portuguesa no período 2008-2012 roçam o drama. O estudo, feito de cinco em cinco anos, assinala uma queda a pique nas disponibilidades alimentares e calóricas. O que quer isto dizer? Quer dizer que os portugueses estão a poupar fortemente na comida e, salvo raras exceções, estão a alimentar--se bastante pior. Não é porque queiram. É porque tem de ser. Em 2012, por exemplo, a fruta disponível no mercado recuou para níveis de há 20 anos! As carnes de bovino e suíno baixaram, por seu turno, para níveis de há 10 e 13 anos, respetivamente. Passamos a comer mais aves, mais carne branca, melhor para a alimentação, muito melhor para a parte do orçamento gasto no cabaz de compras.
(...)
Este afundanço nas condições de vida dos portugueses é, claro, tributária da desesperança. É por isso que o tempo é de exigência máxima para quem decide. Chegamos ao ponto em que à fadiga tributária (expressão feliz de Adriano Moreira) se somam todas as outras fadigas, tudo suscetível de nos encaminhar para um estado de anomia e anemia social - e com bilhete só de ida. Até que ponto suportarão os portugueses aquilo que no recato do Conselho de Ministros foi metido no famigerado Documento de Estratégia Orçamental, cuja primeira versão terá já sido apresentada aos nossos vigilantes? Os napolitanos dizem que o seu ouro é a paciência, tamanho é o caos em que vivem. A deles não é maior que a nossa. Dir-nos-ão, outra vez: é a vida. Sim, mas não é vida."

(Paulo Ferreira; "É a vida, sim. Mas isto não é vida". Na íntegra: aqui)

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Surpreenda-se ...





O mar entrevisto por entre uma aberta na falésia, no Cabo Espichel ...


... e golfinhos de passagem.

Evidentemente...

"Agora que se tornou claro que o comentador político José Sócrates é uma ameaça para a paz global — as provas do seu envolvimento na crise da Crimeia são irrefutáveis —, estão criadas as condições para, finalmente, expor ao país a gravidade dos seus crimes contra a humanidade.
Numa atitude da mais saudável profilaxia social, os nossos responsáveis políticos, da direita e da esquerda, têm mantido uma louvável equidistância perante o engenheiro que, tudo indica, terminou os seus estudos quando chumbou na prova de aritmética da terceira classe do sistema de ensino do antigo regime — nada lhe valeu o facto de ser o melhor amigo do dono da oficina que assegurava a manutenção do Citroën da ex-mulher do tio-avô do assistente do cozinheiro de São Bento. O certo é que há momentos em que a vida democrática e, mais do que isso, o interesse das gerações futuras exigem atitudes de destemida contundência.
Tudo isto confirma a pertinência das chamadas de atenção de algumas vozes independentes para o envolvimento de Sócrates nos mais diversos crimes anti-patrióticos. Que tenha sido ele uma peça decisiva na nossa perda de independência, em 1580, eis uma evidência que só os mais cândidos podem continuar a negar. Mas isso é um pormenor. A sua ligação a eventos muito mais trágicos está, finalmente, a tornar-se transparente, sendo mesmo certo que foi ele quem orquestrou a alteração das marcações do terreno de jogo no último Sporting-Porto."
(João Lopes - José Sócrates no "Big Brother". Na íntegra aqui)

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Viver acima das possibilidades à custa do contribuinte

Este governo, para conseguir a "saída limpa" de que tanto se tem falado ultimamente e que mais não é do que a forma encontrada para mascarar de sucesso a política de austeridade que tem vindo a seguir,  não hesita em esbanjar uma fortuna.
Digo esbanjar, porque, de facto, estamos perante uma opção que se traduz em gastar milhões, em benefício da  imagem do governo e com prejuízo para a realização das funções do Estado, opção que, por isso, é, antes de mais, um abuso de confiança, pois estamos perante um desvio de dinheiros do erário público, dinheiros que, seguramente, não foram postos à disposição do governo para fazer propaganda em proveito próprio.
Bem vistas as coisas, temos de concluir que, afinal, a um  governo paladino da austeridade,  não repugna nada viver acima das suas possibilidades, desde que à custa do contribuinte. Pelos vistos, muito pelo contrário. Bem prega frei Tomás...

Resposta fácil


Apesar dos Duarte Marques e dos Nuno Melo, não há razão para desesperar, enquanto houver neste país gente séria como os autores desta carta aberta "Em defesa de Vítor Constâncio", surgida na sequência duma entrevista de Durão Barroso dada ao Expresso em que afirma que quando era primeiro-ministro terá chamado três vezes o então governador do Banco de Portugal a São Bento para saber o que se passava no BPN, declarações já desmentidas por Vítor Constâncio. 
A este propósito, visto que as duas "narrativas" sobre o tema são contraditórias, não posso deixar de me interrogar sobre qual das duas personalidades (Barroso ou Constâncio) é merecedora de maior credibilidade.
Para mim, tendo em conta que Barroso tem no seu activo a garantia da existência, no Iraque de Sadam Hussein, de armas de destruição maciça que ninguém viu, a resposta é fácil.

"Para onde vamos?"

(...) De mal a pior por duas razões principais. Primeiro, foram interrompidas as políticas de qualificação dos adultos com um baixo nível de escolaridade, por exemplo o programa Novas Oportunidades. Porquê? Segundo, os jovens foram aconselhados a emigrar. Porquê? Muitos portugueses com idade entre os 25 e os 35 anos estão a emigrar para o estrangeiro. (...)  Quem pensava que os jovens eram a geração rasca que iria exprimir o seu direito à indignação descendo à rua como bolcheviques enganou-se, porque reagiram fazendo as malas e emigrando para países com salários altos.
Há uma verdade inescapável: da mesma forma que é impossível fazer um jantar de consoada sem bacalhau e batatas, não há maneira de aumentar a produtividade e o crescimento da economia sem mais investimento, quer das empresas e do Estado, sem políticas ativas de qualificação dos adultos com baixo nível de escolaridade e sem inverter o fluxo de emigração para o estrangeiro de jovens com qualificações acima da média.
Qualquer programa para a economia pós-"troika" que não dê prioridade à produtividade, a melhorar o funcionamento do sistema de justiça e a estancar a hemorragia de jovens portugueses para o estrangeiro esquece o essencial e está condenado a falhar rotundamente.
(Manuel Pinho; "Por que razão a economia não cresce?". Na íntegra: aqui)

terça-feira, 1 de abril de 2014

"Os jornalistas não podem ser cúmplices de encobrimento"

Mais um excelente artigo de opinião sobre o sigilo profissional dos jornalistas da autoria de José Vítor Malheiros, a propósito das peripécias à volta do "encontro informal" entre o secretário de Estado da Administração Pública e vários jornalistas de outros tantos órgãos de informação, tendo, alegadamente, como tema "a convergências das pensões".
Um artigo bem esclarecedor que vale a pena ler, publicado, hoje no "Público" e também aqui.
Para abrir o apetite, aqui fica este extracto :
"Havia uma razão para os jornalistas aceitarem o anonimato? O membro do Governo correria algum risco? Não. Queria apenas evitar responder à oposição e poder negar tudo o que dissera se as reacções fossem muito negativas (como foram), fiando-se na promessa dos jornalistas de que não o identificariam. Tratou-se apenas de uma operação de balão de ensaio com high deniability que é duvidoso que não fosse do conhecimento da ministra das Finanças e do PM.
Só que os jornalistas não existem para ser cúmplices destas manobras. Não era difícil fazer a coisa certa. A regra é simples: os jornalistas não são megafones nem testas-de-ferro do Governo. Se um membro do Governo quiser dizer alguma coisa, que diga e que assuma o que diz. É isso que os cidadãos lhe exigem. E, se por alguma razão inconfessável, não quer assumir o que diz, que se cale em vez de mandar uns jornalistas fazer o seu trabalho. E os jornalistas, quando um membro do Governo lhes manda escrever alguma coisa e ainda lhes diz como o devem escrever, devem simplesmente dizer não."


Muita gente

Os signatários do  manifesto "Reestruturar a dívida insustentável e promover o crescimento, recusando a austeridade" foram tratados depreciativamente pelo primeiro-ministro que usou da expressão "essa gente" para a eles se referir. Na sequência desse manifesto, foi elaborada a Petição pública “Preparar a reestruturação da dívida para crescer sustentadamente” já subscrita por 27.938 pessoas, o que significa que, nesta altura, "essa gente" já é muita gente
Se quiser ter a honra de fazer parte desta "muita gente", pode subscrever a petição indo aqui.

Homenagem do "Dia das Mentiras"

Como é óbvio, o "Dia das Mentiras" serve antes de mais para homenagear os mentirosos, a começar, naturalmente, pelo mentiroso-mor que, nesta altura, é, quanto a mim, a personagem que responde pelo nome de Pedro Passos Coelho. 
É verdade que, segundo algumas vozes, Paulo Portas merece a primazia. Concedo que Portas também é um mentiroso compulsivo, mas discordo da atribuição da primazia porque as mentiras dele, de tão habituais, já não enganam ninguém. Pelo contrário, ainda há por ai muita gente que leva a sério as mentiras de Passos Coelho. É ele, pois, quem merece a homenagem, como mentiroso-mor.
Homenagem que aqui fica