segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Autárquicas: vitórias e derrotas

Não me vou alongar a comentar os resultados saídos das eleições autárquicas de ontem, até porque aqueles falam por si. Não me dispenso, em todo o caso, de umas quantas observações.
Para começar, não se pode negar que o PS teve uma excelente vitória que, no entanto, podia ter sido bem mais expressiva, se a direcção do partido não tivesse feito algumas más opções, como em Matosinhos, na Guarda e em Cascais, por exemplo, e se não tivesse perdido para a CDU, a meu ver, em grande parte por culpa própria, a presidência de um sem número de autarquias, sobretudo no Alentejo.
A CDU sai também destas eleições como uma claríssima vencedora, sobretudo à custa do PS, devido certamente ao mérito dos seus candidatos, mas também porque soube capitalizar o voto de protesto contra o Governo, usando a estratégia de meter no mesmo saco  o PSD e o CDS, mas também o PS, como não podia deixar de ser, visto que este é, sem dúvida, o seu adversário de estimação, estratégia que resultou e que se traduziu em corresponsabilizar os três partidos pela assinatura do memorando, estratégia que o PS não soube contrariar chamando a atenção para o facto de o PCP  ter alinhado ao lado da direita no derrube do Governo de Sócrates e de ser, por essa via, corresponsável pela vinda da troika e pela chegada da direita ao poder.
Vencedores saíram também vários candidatos a concorrer como independentes, com destaque para Rui Moreira, no Porto e Guilherme Pinto, em Matosinhos. Não estou certo sobre se o êxito dos independentes nestas eleições não é fruto de especiais circunstâncias não repetíveis no futuro. Em todo o caso, certo é que, para já, a sua eleição contribuiu, ainda que de forma modesta, para modificar o panorama autárquico e quem sabe se, com as vitórias dos independentes, os partidos não terão aprendido que não podem continuar a ser simples aparelhos formatados para a conquista do poder e que não são os únicos instrumentos utilizáveis para o exercício da cidadania.
Ao invés, não sofre contestação que o PSD averbou uma derrota em toda a linha, aliás admitida pelos seus dirigentes. Ainda assim, reconheço que, no interesse do país, tal derrota deveria ter sido ainda mais estrondosa. Tão estrondosa que não deixasse dúvidas ao residente em Belém sobre a necessidade de livrar o país da (des)governação de Passos Coelho.
Derrotado sai também o Bloco de Esquerda. Julgo que os seus dirigentes continuarão à procura de uma explicação para o desaire, o que não é fácil. Talvez essa explicação resida no facto de o BE ter fraca implantação a nível das autarquias e de ter sido esmagado, enquanto partido de protesto, pela força e pela implantação do PCP. Talvez.
Do CDS, em boa verdade, é difícil  falar em vitória ou em derrota, pela simples razão de que o CDS, no plano autárquico, é irrelevante e não é o facto de ter passado a deter a presidência de cinco câmaras municipais, em vez de uma, que muda a avaliação. Basta atentar na percentagem de votos alcançados no todo nacional para se chegar a tal conclusão.

Vitórias

Não, não me refiro às eleições autárquicas. Sobre os meus gostos e desgostos na matéria, escreverei mais tarde, se conseguir vencer a preguiça que, nesta altura, me afecta.
Refiro-me, sim, às excepcionais vitórias de dois portugueses:
Rui Costa (na imagem infra)



João Sousa (na imagem infra)


autor de outro feito inédito ao tornar-se o primeiro tenista português a ganhar um torneio do circuito ATP.

Por tais feitos é devida a ambos uma palavra de agradecimento, pois ambos contribuíram para amenizar a "apagada e vil tristeza" em que Portugal vive mergulhado, nos dias de hoje.

sábado, 28 de setembro de 2013

Dia de reflexão (II)

Mais uma boa achega para reflexão.

Dia de reflexão

Votar também pode ser uma forma de protestar. E é fácil.

Contra balelas, votar!

Só os néscios acreditam em balelas. Por estes dias, anda por aí muito em voga a ideia de que as eleições autárquicas não permitem que delas se tirem "leituras nacionais". Uma balela posta a circular por quem tem interesse em desvalorizar o voto, balela que é, aliás, historicamente, desmentida.
Que outras razões não houvesse, só o lutar contra balelas, já justificaria o voto.
Votar, pois, nem que seja contra!

O estado a que isto chegou!


É dia de reflexão. O "Público" oferece hoje aos seus leitores um excelente pretexto para reflectir.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

São autárquicas, são, mas também nacionais.Importa, por isso, lembrar o ponto a que isto chegou.

E, para começo de reflexão, proponho este texto:

"Falhada a data inicialmente prevista para o regresso de Portugal aos mercados (23 de Setembro), Passos Coelho veio reconhecer esta semana que “com os juros acima de 7%, como temos hoje” a perspectiva de regresso aos mercados “é mais difícil”.
E admitiu mesmo o cenário de "podermos ter de pedir um outro programa". O que ele andou para aqui chegar!
Convirá lembrar que no dia 11 de Março de 2011 - dia em que, no auge da crise das dívidas soberanas, Passos Coelho resolveu anunciar a rejeição do PEC IV - era também na casa dos 7% que estavam os juros da dívida pública portuguesa (a dez anos). Nessa altura, Passos Coelho, ansioso de chegar ao poder, fez uma escolha decisiva: preferiu precipitar uma crise política e com ela desprezar o apoio ao PEC IV que tinha sido prometido pelo BCE de modo a Portugal evitar o pedido de ajuda externa (tal como fizeram a Espanha e a Itália). Indiferente a todos os avisos do Governo minoritário de então e dos nossos parceiros europeus, Passos Coelho, à saída de um encontro com o Presidente da República, declarou-se "irredutível": tinha escolhido outro caminho, mesmo sabendo que isso iria forçar o País a um pedido de resgate - a ser negociado, aliás, em situação de emergência e por um Governo de gestão.

Lançado em campanha eleitoral, Passos Coelho tirou da cartola uma ideia mágica: cortar nas "gorduras" do Estado. As "gorduras" do Estado, lembram-se? Inspirado por Catroga, Moedas, Braga de Macedo e alguns outros génios das finanças, garantiu aos portugueses que tinha tudo bem estudado e que podiam dormir descansados: não seria preciso aumentar impostos, nem cortar nas pensões, nem reduzir salários, nem tirar subsídios de Natal, nem sequer despedir funcionários públicos. Bastaria cortar nuns enigmáticos "consumos intermédios", desmontar o "Estado paralelo" e fazer um governo pequeno, só com 10 ministros - mas dos bons. E assim que os mercados percebessem que o Governo tinha mudado, a confiança estaria de volta e o ‘rating' da República iria subir. São coisas que apetece recordar na mesma semana em que ouvimos Passos Coelho dizer que sempre achou que se deve falar verdade aos portugueses antes das eleições...!

O que se passou depois, é conhecido. Ao contrário do que prometeu, o Governo PSD/CDS trocou a moderação negociada no Memorando inicial da ‘troika' por um violento ‘frontloading' de austeridade para impressionar os mercados e consumar uma estratégia de acelerado empobrecimento. Ao fim de pouco mais de dois anos de duros sacrifícios, os resultados são estes: fracasso no calendário de regresso aos mercados e iminência de um segundo pedido de ajuda externa, seja na forma de "programa cautelar" seja na forma de um segundo "resgate". E se os juros da dívida pública estão sensivelmente como estavam antes do chumbo do PEC IV (em plena agitação nos mercados de dívida soberana), a economia portuguesa está agora muito mais debilitada por três anos de intensa recessão, com o desemprego em níveis insuportáveis, o défice acima das metas e a dívida pública a crescer como nunca, atingindo já cerca de 130% do PIB. Bem vistas as coisas, é esta economia mais enfraquecida que pretende agora conquistar a confiança dos mercados.

Será a alta dos juros sinal de que está finalmente a cair a máscara do sucesso do ajustamento ou será apenas um sinal de preconceito - como sugere o primeiro-ministro, antes tão crente na racionalidade dos mercados? Certo é que quando um destes dias a Standard and Poor´s anunciou que poderia baixar ainda mais o ‘rating' de Portugal, Maria luís Albuquerque, por estranho que pareça, apressou-se a dar-lhe razão: "a Standard and Poor's", explicou ela, "o que fez foi evidenciar um conjunto de riscos que existem e que são agora mais visíveis". Ora, quando, na mesma semana, a ministra das Finanças considera muito compreensível que uma agência de ‘rating' pré-anuncie que vai notar a dívida portuguesa abaixo de "lixo" e o primeiro-ministro não só admite o fracasso no regresso aos mercados como especula sobre um novo programa de ajuda externa, está tudo dito sobre o ponto a que isto chegou.
(Pedro Silva Pereira; "O que ele andou para aqui chegar". Realce meu)

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

"Sinais ténues"

Desde ontem que ando a ver "sinais ténues" de que vem aí chuva da grossa.
Espero que tais sinais se confirmem, porque os "montes e vales" por onde tenho andado estão mesmo a pedi-la. Conto, no entanto, que não sejam mesma espécie dos " ténues sinais", de que Passos e Portas têm andado a falar nos últimos tempos. 
Muita água prometem eles, é verdade, mas não é da que rega os campos. É água seca. Já ouviram falar?

sábado, 21 de setembro de 2013

Um aldrabão a mais ou a menos já nem se nota

Mutatis mutandis, o que aqui se escreveu a propósito das "contradições" de ministra Maria Luís Albuquerque, assenta que nem uma luva à "incorrecção factual" do ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete.
Este governo é, de facto, um governo de aldrabões, mas uns aldrabões criativos em termos de linguagem. Estes governantes não mentem. Têm é "lapsos", como Relvas;  "contradições" como Maria Luís Albuquerque. Machete descobriu agora as "incorreções factuais". 
Mentira é palavra que não figura no léxico governamental. A verdade, porém, é que "a mentira é a matriz deste governo". Por uma vez, António José Seguro acertou em cheio no alvo.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Bom senso: ter-lho-ão dado?

Li  algures e também ouvi dizer por aí que Cavaco Silva pediu bom senso aos homens da troika.
Que ele anda disso bem precisado, não restam dúvidas. Terão os homens da troika acedido ao pedido e ter-lho-ão dado?

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Crato: o estrangulador

O Crato é que sabe: o inglês não é para todos. Só para gente fina, ou seja, para quem tenha meios para escolher a escola privada que proporcione o ensino dessa língua, entretanto tornada indispensável nestes tempos de globalização.
Para a "escumalha", a escola pública, entretanto degradada em benefício da privada, serve perfeitamente. Pelo menos, se não é este o entendimento do ministro Crato, assim parece. Certo é que com esta decisão Crato dá mostras de que não esmorece na tentativa de levar a cabo a destruição da escola pública, assumindo, na perfeição, o papel de estrangulador do ensino público.
Ou ainda haverá margem para alguma dúvida?

Por montes e vales (17): (Jurinea humilis)

Só assim, percorrendo montes e vales, é que se encontram belezas destas.


(Jurinea humilis (Desf.) DC.) 
Nos próximos dias, é por onde vou andar. No dia das eleições, se não for antes, cá estarei para votar. Até lá!

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Uma aldrabona a mais ou a menos nem se nota

Em uníssono, PS, PCP e BE, reclamam a demissão da ministra das Finanças, apanhada em mais uma aldrabice em declarações prestadas no Parlamento.
Reclamam e com toda a razão. Todavia, não é de esperar que Passos Coelho lhes faça a vontade. Não digo que seja por boas razões, mas a sua atitude é, pelo menos, compreensível: num governo onde não faltam aldrabões (há excepções), uma aldrabona a mais ou a menos nem se nota.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

O "novo ciclo": antes, lapsos, agora,contradições

O ex-ministro Relvas era muito dado a "lapsos". A actual ministra das Finanças, pelos vistos, é muito atreita a "contradições".
Receio bem que a diferença entre o "novo ciclo" de que este governo agora fala e o "ciclo" que alegadamente o antecedeu, seja a mesma que existe entre os "lapsos" de Relvas e as "contradições" de Maria Luís Albuquerque. Ou seja, nenhuma.
(Reeditada)

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Como é possível?

"(...)
Como é possível que haja gente, presuntivamente de bem, a apoiar este mentiroso que não só nos empobreceu materialmente como nos enfraqueceu a alma, nos amolgou o espírito com perseverança infame, e continua a impelir-nos para uma perdição tão maldosa que, ela própria, nos escapa; como é possível?
A mentira multiplicada quebrou a coesão e colocou portugueses contra portugueses, numa endemia moral que irá prolongar-se. Com extrema dificuldade, os governos que se seguirão conseguirão repor o que nos indicava como o povo mais lógico, por mais unido, da Europa. O mentiroso conseguiu o que mais ninguém obteve, com repressão ou com o montante. Levou-nos até ao desgosto da palavra, porque houve quem acreditasse na voz de tenor, falsamente casta, e na insistência maviosa dos temas.
(...)"
(Baptista-Bastos; O mentiroso; Na íntegra: aqui)

terça-feira, 10 de setembro de 2013

"Este Candidato do PTP (...) é mesmo maluco"

"(...)
7. "Já alguém pensou perguntar aos 900 mil desempregados do país de que lhes valeu a constituição até hoje?"- Este Candidato do PTP, a Gaia, é mesmo maluco."
(João Quadros; "Querido, mudei o Zodíaco". Na íntegra: aqui)

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Dividir para reinar

Também acho que há quem ande a esforçar-se por dividir os portugueses entre novos e velhos; entre empregados e desempregados; entre trabalhadores da função pública e trabalhadores do sector privado e por aí a fora, mas não me parece que o Tribunal Constitucional seja o fautor da divisão. Muito pelo contrário. Tal tarefa tem sido levada a cabo por gente que dir-se-ia simplesmente vesga, se não fossem suficientemente conhecidas as suas intenções, gente que pulula nos gabinetes ministeriais, suportada por uma boa parte da comunicação social. Dir-se-ia vesga, mas na verdade, é bem pior, pois é gente que age conscientemente na lógica do "dividir para reinar" e que, para além disso, não se conforma com o facto de Portugal ainda ser uma democracia, onde, por enquanto, não vigora a regra do vale tudo, pese embora o empenho de gente com a qual, pelos vistos, o Bruno Proença se identifica perfeitamente.

Um "bluff", diz ela

Eu acho que isto aqui [ leia-se: as declarações de Passos Coelho afirmando que declaração de inconstitucionalidade proferida pelo Tribunal Constitucional sobre a lei da requalificação da função pública colocava o país mais perto de um novo resgate] é um bluff de todo o tamanho, diz Manuela Ferreira Leite.
E com razão, visto que, "Tudo isto é um processo que demoraria muito mais do que um ano, porque só na requalificação, eles [funcionários públicos] estariam um ano. Mesmo que não tivesse sido considerado inconstitucional isto nunca teria qualquer efeito orçamental neste ano nem no próximo. Não tem nada a ver nem com a despesa do próximo ano, nem com o orçamento do próximo ano, nem com a oitava avaliação da troika”.

Um desastre em forma de gente

Não bastava a Portas ter abalado, com a sua "demissão irrevogável", a confiança dos "mercados", contribuindo para a subida dos juros da dívida soberana portuguesa. Tinha ainda de dar um forte abanão na confiança depositada na banca portuguesa. Se "Portas colocou poupanças na Alemanha após o resgate", bem podem ele e Passos Coelho garantir a solidez da banca portuguesa que ninguém mais os vai levar a sério a tal respeito.É que há exemplos que valem mais que mil discursos.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Dinossauro voador

O Tribunal Constitucional, no recurso interposto, pelo mandatário eleitoral das listas do Bloco de Esquerda da decisão do 1.º Juízo Cível dos Juízos Cíveis do Porto que julgou elegível Luís Filipe Menezes Lopes, como “primeiro candidato da lista à Câmara Municipal do Porto apresentada pela coligação eleitoral «PORTO FORTE», constituída pelo PPD/PSD.PPM.MPT”. decidiu, pela pena do Conselheiro Pedro Machete, com o voto conforme de seis conselheiros e um de vencido da Conselheira Maria João Antunes, "negar provimento ao recurso e, em consequência, confirmar a decisão recorrida, julgando elegível o primeiro candidato da lista de candidatos à Câmara Municipal do Porto apresentada pela coligação eleitoral «PORTO FORTE», constituída pelos partidos PPD/PSD.PPM.MPT, Luís Filipe Menezes Lopes.", dando assim "luz verde aos candidatos autárquicos com três mandatos".
Decidiu está decidido, embora pessoalmente não esteja muito convencido da bondade de decisão, pois mais depressa e mais facilmente aderiria à argumentação aduzida pela Conselheira vencida.
No entanto, compreendo a decisão. De facto, os juizes/as conselheiros/as podem não ser especialistas em paleontologia, mas devem saber, tal como eu, que também não sou perito na matéria, que os dinossauros não eram (são) apenas terrestres. Também os havia (há) que são voadores. Na dúvida sobre como classificar o dinossauro Luís Filipe Menezes, acabaram, quem sabe se por uma questão de mera prudência, por o enquadrar na categoria dos voadores, dando-lhe a possibilidade de atravessar o Douro, voando de Gaia para o Porto.
Falta saber se tem asas para chegar à outra margem. Cabe agora aos eleitores a última palavra. Por mim,  sabendo o que sei dele (e não será da missa a metade) Menezes não chegava sequer a levantar voo. 

Muita parra, nenhuma uva

Esperava-se que Paulo Portas, agora arvorado em vice-primeiro ministro,  tivesse apresentado em Bruxelas, durante o périplo que está a efectuar junto dos membros da "troika", alguma proposta, quer relativamente à flexibilização do défice, quer no respeitante a alternativas em matéria de cortes na despesa pública. Esperava-se, dizia eu,  tendo em conta as críticas que ele foi dirigindo, antes da sua promoção, à "inflexibilidade" da "troika". 
Porém, segundo noticia o "Público", Portas e a ministra das Finanças que o acompanha limitaram-se a reafirmar o empenho de Portugal no cumprimento do programa de ajustamento assumido como contrapartida da assistência financeira externa.
Essa mesma notícia dá azo a que o mesmo jornal mostre, em editorial (aqui reproduzido) algum desapontamento perante a actuação de Paulo Portas, desapontamento que, em boa verdade, só pode ser fruto da injustificada subsistência de alguma ilusão sobre a verdadeira personalidade de Portas. De facto. está mais que visto que Portas é homem de muita parra e de pouca nenhuma uva.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Ultrapassados pelo Cazaquistão

Passos Coelho e o seu (des)governo conseguiram mais uma proeza difícil de igualar e impossível de ultrapassar.
Num relatório divulgado hoje pelo Fórum Económico Mundial, Portugal desce duas posições no ranking de competitividade, em relação ao ano passado, ocupando agora o 51.º lugar, tendo sido ultrapassado no ranking, por  países tão desenvolvidos como o Cazaquistão ou as Ilhas Maurícias. 
E, ironia das ironias, isto acontece, depois de, em nome da competitividade se terem: reduzido os direitos laborais; baixado os salários; facilitado os despedimentos; aumentado o número de horas e de dias de trabalho, (seja pela  via da redução do número de feriados, seja pela diminuição do número de dias de férias); e dificultado a contratação colectiva.
Este resultado prova que não é pela via que este (des)governo tem seguido que se consegue aumentar a competitividade e que não é pela degradação das condições dadas aos trabalhadores que se alcança aquele objectivo, conclusão que se torna tão mais evidente quando é certo que o relatório sublinha que a economia portuguesa continua a ter mau desempenho no que respeita à "eficiência do mercado laboral".
Não é, no entanto, de esperar que Passos Coelho mude de rumo. O sujeito é suficientemente teimoso  para persistir na política que tem vindo a conduzir o país para um beco sem saída e, como tolo fundamentalista que é, é também incapaz de ver que o caminho que tem vindo a seguir é errado.
O fulano garantiu que Portugal tinha que empobrecer e não se pode negar que, nesse particular, continua a somar sucessos e mais sucessos. Este é só mais um.

Com o mal dos outros pode ela bem


Esta prosa da autoria de Helena Garrido, directora-adjunta do Jornal de Negócios, é mais uma prova de que a grande maioria dos que têm voz na comunicação social estão de corpo e alma com a política seguida pelo executivo passista/portista, para o qual a reforma do Estado não passa de uma sucessão de cortes incidindo sempre sobre os rendimentos das mesmas vítimas: funcionários públicos, empregados de empresas públicas, reformados e pensionistas. 
Do ponto de vista daqueles e na lógica do "com o mal dos outros posso eu bem", a defesa dos cortes até se compreende. Como também se entende perfeitamente que, na mesma lógica, se recuse liminarmente o aumento de impostos, mesmo que abrangendo apenas os que estejam em condições de os pagar.
Todavia a quem tem a responsabilidade de escrever (ou de intervir de qualquer outra forma) em órgãos de comunicação social não se pede que se pronuncie tendo apenas em conta o seus particulares interesses, antes se exige um tratamento objectivo dos assuntos em questão.
Ora, deste ponto de vista, é óbvio que o aumento dos impostos, quando tal seja necessário em função das dificuldades que o país atravessa,  é uma opção que, sendo embora desagradável para quem os suporta, é muito mais justa do que a seguida pelo actual executivo traduzida em sucessivos cortes sobre os rendimentos só de alguns. 
Até o povo que, na sua grande maioria, não andou em nenhuma faculdade, nem cursou economia, tem perfeita noção de que é assim, quando, na sua sabedoria, recomenda que se "divida o mal pelas aldeias". De facto, só desta forma se tratam todos os cidadãos por igual, como manda a justiça.
Não será assim?

Tal é a "confiança" dos "mercados"!

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Fraudes e (falta de) estratégia

"Na semana que passou, ficámos a saber que o Governo enviou para o FMI dados falseados sobre a evolução dos salários em Portugal.
Ao invés de mostrar que cerca de um quarto dos trabalhadores portugueses tinham tido reduções salariais, os dados enviados pelo Governo davam a ideia (errada) de que teria havido apenas estagnação, mas não redução dos salários. Este ‘lapso', como veremos, é tudo menos inocente.
(...)
A cumplicidade do Governo com tudo isto é preocupante, porque mostra que, mais do que defender Portugal, a maioria PSD-CDS está mesmo empenhada em usar esta crise como pretexto para sujeitar os portugueses a uma experiência ideológica, cuja única fundamentação, como se vem tornando evidente, não é a realidade, mas o dogmatismo de quem, pura e simplesmente, não está disponível para encontrar uma alternativa."
(João Galamba, in "Fraudes convenientes")

"A falta de estratégia sobre a reforma do Estado condena o país a ter mais um orçamento baseado apenas num exercício contabilístico de cortes, em vez de conseguir um documento com soluções de aumento da eficiência e de poupança, mas também com reformas que contribuam para a melhoria do Estado. (...)"

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

O que é que Passos Coelho fez pelos 900 mil desempregados?

Passos Coelho (PC) no seu discurso proferido na Universidade (?!) de Verão do PSD fez a pergunta:  "O que é que a Constituição fez pelos 900 mil desempregados?"
Pois bem, PC já tem a resposta e bem contundente, dada por David Crisóstomo, através de um post que vale a pena ler: "Para que serve esta merda?
Não vou perder tempo a ensaiar outra resposta porque esta está dada e bem, mas, parafraseando o  sujeito, também eu tenho uma pergunta para fazer: O que é que Passos Coelho fez pelos 900 mil desempregados para além de ter aumentado o seu número (que supera 900 mil por ele arredondados) e de lhes ter diminuído o montante dos subsídios e o tempo de duração?
E, já agora, o que é que Passos Coelho fez pelo país, ao longo de mais de dois anos de (des)governação, a não ser a destruição da economia, o empobrecimento generalizado da sua população e o aumento da dívida pública? O quê mais, para além dum país esfrangalhado? 

"Quando o macaco não sabe dançar a culpa é do chão"

Diz o povo e lembra-o, muito a propósito, o Daniel Oliveira, aqui.

E, entretanto, Cavaco come e cala

Como é evidente, as acusações de falta de bom senso dirigidas por P. Coelho contra juízes do Tribunal Constitucional (TC) face à declaração de inconstitucionalidade proferida em relação à lei da requalificação na função pública, não podem também deixar de vistas, ainda que ele não seja expressamente visado, como um ataque ao próprio Cavaco Silva, visto que foi dele que partiu a iniciativa da fiscalização preventiva da lei, com fundamentos que vieram a obter acolhimento no TC. 
Além do mais, como já não é a primeira vez que tal sucede, a reiteração das críticas e acusações, por parte do primeiro-ministro, justificava amplamente que Cavaco Silva pusesse ordem na "casa", pondo termo à desordem institucional que Coelho tão esforçadamente tem vindo a instaurar.
Em vez disso, Cavaco, que tão susceptível se tem revelado com desconsiderações bem menores, perante os ataques de Coelho, limita-se a comer e a calar. 
E se assim é, por alguma razão é. Eu, em particular, gostaria de saber. E, se calhar, os portugueses também. 

Bom senso

Perante o "chumbo" pelo Tribunal Constitucional de mais um diploma da iniciativa do seu governo, a chamada lei da requalificação da função pública, mais correctamente designada por lei dos despedimentos na função pública, Passos Coelho veio mais uma vez atacar os juízes do TC, acusando-os, além do mais, de falta de bom senso. Acusação tanto mais insensata quando é certo que  Passos Coelho, ao fazer repetidos ataques ao TC, revela que bom senso é coisa que ele, manifestamente, não tem. E, muito menos, cultura democrática.