quarta-feira, 31 de maio de 2023

Saberá, Mariana Mortágua, o significado da palavra "vexame" ?


"Não estamos condenados ao vexame que a maioria absoluta impõe” é uma declaração atribuída a Mariana Mortágua, actual líder do Bloco de Esquerda (BE) por ela proferida em 27 do corrente mês, então ainda na qualidade de candidata à liderança do partido.

Quer ela conheça o significado da palavra "vexame", quer não, tal declaração é, em qualquer dos casos, um perfeito disparate. No entanto, se ela não conhece ou se se equivocou sobre o significado da palavra estamos perante um caso de simples iliteracia, que, sendo grave, é, em todo o caso, politicamente irrelevante. Se, pelo contrário, conhece o significado da palavra, como é de supor, então tal afirmação só pode ter uma explicação: a nova líder do Bloco de Esquerda não tem uma ideia muito consolidada sobre o que seja uma democracia.
Mau sinal!

(Citação e foto daqui. Créditos da imagem supra: TIAGO PETINGA/LUSA)

domingo, 28 de maio de 2023

Modéstia não é o seu apelido do meio

"Ainda não viram nada da força que sabemos criar, reinventar e unir”  (Mariana Mortágua)
Tomando a expressão pelo valor facial, direi que, de facto, não vi, nem podia ter visto, e, como tal, também estou para ver.

No entanto, a expressão usada pela nova coordenadora do Bloco de Esquerda é de tal forma arrogante, que duvido que alguma vez chegue a ver essa força toda. Quem a ouvir, até há-de julgar que o Bloco acaba de nascer ou então que os que a precederam no lugar não serviram para mais nada, nem tiveram outro mérito que não fosse o de aplanar-lhe o caminho... 

A modéstia e o sentido das proporções até nos políticos fica bem. Ao invés, a arrogância nem por isso.
Mariana Mortágua começa mal!

(Citação e imagem: daqui; Créditos da imagem: ANTÓNIO COTRIM/LUSA.)

sexta-feira, 26 de maio de 2023

Com estes actores a política não passa de uma palhaçada

Dou a palavra ao Miguel Sousa Tavares: "A insuportável futilidade da política"

"Perguntava às tantas ao ministro João Galamba o deputado do PSD Paulo Rios de Oliveira, após fazer uma excitada e demagógica descrição dos acontecimentos vividos no gabinete do ministro, e na ausência dele, na noite de 26 de Abril: “E quem é o responsável político por isto?” Imaginei a mesma pergunta feita ao deputado, se o PSD tem despedido um assessor do seu grupo parlamentar e este, 15 minutos volvidos, tem entrado pelo gabinete do grupo adentro e, após confrontos físicos de responsabilidade por determinar, tem fugido com o computador do partido, queixando-se depois de ter sido “sequestrado” por ter sido pedido ao segurança que lhe barrasse a fuga com o computador. De quem seria a “responsabilidade política”: do líder do grupo parlamentar, do presidente do partido ou das “desvairadas” assessoras, para usar a elegante expressão do deputado Rios de Oliveira?

Convocado para assistir ao momento político mais importante dos últimos seis meses, o país mediático-lisboeta-parasita lá se instalou diante das televisões durante dois dias (e eu também, por dever de ofício e alguma curiosidade antropológica). Do alto da sua coluna no “Público”, o nosso comissário para a Repressão do Vício e Promoção da Virtude, João Miguel Tavares, chegou mesmo a fornecer aos leitores o horário das inquirições da CPI, para que pudessem partilhar com ele os orgasmos múltiplos que já antecipava. E o que vi eu? Nada que não esperasse e que não tivesse já previsto aqui. O professor de andebol e adjunto Pinheiro, cerimoniosamente tratado por “Sr. Dr.” o tempo todo, apresentou-se como o herói do dia, disposto a gozar até ao último minuto a sua tarde de glória e a fazer abalar sozinho o regular funcionamento das instituições democráticas. Acompanhado por um advogado criminal, de Código Penal em punho (não percebi se porque achou que lhe dava status, se porque temia poder auto-incriminar-se), o herói começou por ler um relambório de 40 minutos de auto-elogio, onde se apresentou como homem íntegro, servidor público exemplar, técnico absolutamente indispensável à rees­truturação da TAP e, porém, despedido sem causa, ameaçado com dois “socos” pelo ministro (não murros, como toda a gente diz, mas sim “socos” — talvez um uppercut e um “gancho” de esquerda), “empurrado” e “pressionado” por quatro mulheres e obrigado a fugir, ele, um atleta, depois sequestrado, ameaçado pelo SIS e ofendido e caluniado pelo ministro e pelo PM, contra os quais iria interpor as respectivas acções de reparação do seu bom nome (todavia, após 48 horas de ponderação, já só cogitadas). Anos de tribunal no meu longínquo passado fizeram com que, após ouvir o sofrido depoimento do adjunto Pinheiro, tivesse comentado para mim mesmo: “Mas que grandessíssimo vendedor de tapetes!” Mas também aprendi que há que esperar sempre pela outra versão da mesma história.

Porém, não foi o que sucedeu. Mal o adjunto Pinheiro tinha acabado de falar e todos — todos — os jornalistas e comentadores de serviço, sem sequer ouvirem os outros intervenientes, sem nenhum interesse no contraditório ou no que não convinha à versão dele, adoptaram-na de imediato como verdade única e inquestionável. Os “socos” que o ministro lhe terá oferecido e de que ele não tinha prova alguma, antes pelo contrário, ficaram de tal forma estabelecidos que Ana Sá Lopes pôde titular no “Público”: “João Dois Socos Galamba”; a demissão por telefone foi unanimemente tida como ilegítima, como se a demissão de um cargo de confiança política e pessoal pudesse esperar pela publicação em “Diário da República” — que, neste caso, demorou 14 dias; as queixas das agressões do adjunto a quatro mulheres, que teriam sido um escândalo se tivessem sido ao contrário, foram abafadas pelo invocado “crime de sequestro” do alegado agressor e apesar de este ter ficado manifestamente perturbado quando se sugeriu que as filmagens das câmaras de vigilância do Ministério fossem enviadas à CPI; o dito “crime de sequestro” deu-se por consumado apenas porque alguém tentou impedir, trancando as portas e chamando a polícia, que ele fugisse com o computador do Ministério; e a “ameaça” do SIS, objecto de nova anunciada CPI, consistiu em um agente ir a casa de Pinheiro pedir-lhe que entregasse o computador a bem para evitar mais chatices. Mas ninguém estranhou que nem um daqueles inquisidores da CPI, tão obstinados em outros pormenores, se tivesse lembrado de perguntar ao “Dr. Pinheiro” o essencial: porque não acatou a ordem recebida do ministro de não voltar ao Ministério e o fez logo 15 minutos depois? Se queria reaver as suas coisas, como disse, porque não combinou a entrega delas com a chefe de gabinete, como seria adequado? Que outras coisas suas reouve nessa incursão? Considerava o computador coisa sua? Ao fugir com ele, não considerou que o estava a roubar? Que continha o computador de tão importante para justificar tamanha urgência e tamanho desespero em ir buscá-lo? O que fez durante o tempo em que esteve com o computador — apagou ficheiros ou notas ou acrescentou outras?


Nada disto interessou aos senhores deputados da CPI, aos jornalistas e aos comentadores. O juízo já estava feito, e mesmo a desilusão que tiveram ao não obterem a esperada execução sumária do ministro Galamba os fez mudar de opinião. Galamba enfrentou cinco horas de perguntas repetidas até à exaustão e, perante a complacência de quem dirigia os trabalhos, encaixou o interrogatório mal-educado e ao estilo KGB do deputado do BE (substituindo uma Mariana Mortágua que, tendo exigido esta CPI, achou mais importante depois abandoná-la para se dedicar à sua eleição interna), encaixou a pseudo-ironia, apenas provocatória, do deputado Rios e esteve 20 minutos a ouvir o deputado André Ventura a querer que ele entregasse o seu telemóvel para, através dele, tentar saber o que se tinha passado no telemóvel do adjunto Pinheiro, numa pura tentativa de devassa pessoal sem qualquer sentido. E, obviamente, com a única excepção do deputado Bruno Dias, do PCP, em nada lhes interessou saber da TAP, mas sim eternizar o folhetim do gabinete, usando ainda o truque da sessão de perguntas ao primeiro-ministro em plenário para a transformar numa extensão da CPI.

De tudo isto resta uma forma de fazer política e de fazer oposição que parece que excita muito toda a gente que pensa, que causa muito ruído e muito escândalo mediático, mas que nada tem a ver com política, nada tem a ver com jornalismo e nada tem a ver com o exercício parlamentar de fiscalização da actividade governativa. Eu compreendo e subscrevo que muita gente esteja zangada com a governação e que queira coisas diferentes. Mas isso começa por fazer as coisas e a política de forma diferente. Esta CPI e esta forma de fazer oposição talvez desgaste o Governo, mas desgasta por igual a democracia e a oposição. E não é também porque, nos intervalos do frenesim criado artificialmente, o Presidente da República, na angústia para o jantar de que falava Sttau Monteiro e que Helena Matos tão bem analisou, sai do palácio e vem à rua à procura de jornalistas junto de quem fazer prova de vida que as coisas passam a adquirir uma importância que não possuem.

Como também não é porque, sazonalmente, Cavaco Silva precisa de destilar a sua dose de veneno para fazer prova de vida que nós ou as instituições devemos estremecer de medo. Sobretudo quando ele, ex-Presidente de todos os portugueses, dispara sempre ao abrigo do estrito círculo partidário de onde veio e, acusando o Governo de viver na mentira, nos prega três solenes mentiras: que o PSD tem causas, que tem propostas alternativas e que Montenegro está preparadíssimo para governar. Quais? Quem? Como?"

(Obviamente que subscrevo, na íntegra)
(Texto e imagem in Expresso, edição impressa - Caderno principal - Hoje)

quarta-feira, 24 de maio de 2023

Uns óculos para Cavaco...

Cavaco precisa de óculos, com urgência, para ver estes gráficos.

Como o homem é sério (ele garantiu que ainda está para nascer alguém mais sério do que ele) por certo que, depois de ver os gráficos, vai fazer um "mea culpa" em relação à quantidade de disparates proferidos durante o Encontro Nacional de Autarcas do PSD.

Para homem sério, outra solução não há. O leitor duvida que Cavaco seja sério?  Como assim, se o homem nem se ri?!

terça-feira, 23 de maio de 2023

"Múmia" ? Um bem-aventurado é que é!

Está na moda (a que nem eu resisto - me poenitet!) apodar Cavaco Silva de "múmia". Ora, a verdade é que, ainda ontem, António Costa, perguntado por um canal de televisão sobre o que pensava em relação à intervenção de Cavaco no Encontro Nacional de Autarcas do PSD, veio esclarecer que Cavaco "desceu à terra" para "alimentar aquele frenesim em que a direita portuguesa agora está de querer criar o mais rapidamente possível um crise política artificial". 
Se o nosso homem desceu à terra, como afirma António Costa é porque Cavaco já subiu ao céu. Costa, pelas funções que desempenha, está certamente muito melhor informado do que a generalidade dos portugueses, em relação a todos os cidadãos, Cavaco, incluído. A ser certo que o homem acabou de cair do céu, não só é impossível que ele seja ainda uma "múmia", como é mais que certo que Cavaco já figura entre os bem-aventurados. E dos mais felizardos, diga-se, pois, como é sabido, nem todos tem licença de vir até cá abaixo.
Falta dizer, de algum modo pondo em dúvida a declaração de António Costa, que também é verdade que as palavras que Cavaco proferiu na ocasião, são mais próprias de um arruaceiro do que de um bem-aventurado, mas se calhar, por vezes, até os bem-aventurados perdem a cabeça ou, no mínimo, as estribeiras.
Sim, quem sabe?

segunda-feira, 22 de maio de 2023

Quem precisa de curador?

 "Cavaco Silva, o curador do PSD" é o título da crónica da jornalista Sónia Sapage hoje publicada nas páginas do "Público" (edição impressa) crónica que, de algum modo, vai na linha do editorial subscrito pelo director do mesmo jornal, Manuel Carvalho, editorial a que este deu o título "Com o bálsamo de Cavaco Silva".

Qualquer dos textos dá a entender que Montenegro é um líder fraco que precisa de alguém como Cavaco que lhe sirva de tutor, o que quer dizer, inequivocamente, que Montenegro não é o líder de que o PSD precisa nas actuais circunstâncias. 

Que Montenegro é um fraco líder até eu posso concordar sem que para chegar a essa conclusão tenha de fazer grande esforço. Tenho, porém, absoluta convicção de que, se Montenegro carece de tutor, não é a Cavaco que deve recorrer, pois o tutor Cavaco é muito pior que o tutelado Montenegro. Quanto a mim, pior que Cavaco, só outro Cavaco.

Se o PSD quiser perder para o CHEGA, entregue-se nas mãos de Cavaco. Como arruaceiro, Ventura é muito mais competente. 

Arte urbana

Na Praia do Carvoeiro (Algarve)

(De autor não identificado)

domingo, 21 de maio de 2023

Deixem falar a "múmia"!

Não é novidade para ninguém que Cavaco Silva, no final do seu exercício presidencial, tinha batido todos os recordes de impopularidade como presidente da República, recorde de que continua a ser detentor e duvido que tal recorde alguma vez venha a ser superado.

Não admira, por isso, que Cavaco sinta a necessidade de, com frequência, vir dizer de sua (in)justiça, sobre tudo e mais alguma coisa, a propósito e a despropósito, aproveitando todos os pretextos, na esperança de ainda ir a tempo de suavizar e embelezar a sua imagem como político, tarefa que se afigura cada vez mais difícil, pois cada vez que abre a boca, se não entra mosca, sai asneira. E da grossa, como foi o caso agora.

Deixem, pois, falar  o Cavaco,  pois o homem quanto mais vezes fala, mais se enterra, embora, em boa verdade, nem precise de se enterrar mais. De facto, não foi ele quem garantiu que " nunca se engana e raramente tem dúvidas»"?  Tamanha prosápia é, só por si, mais que suficiente para o desqualificar de uma vez por todas. 

Não parece ser este o entendimento entre os aficionados do PSD que, pelo que li, ficaram muito entusiasmados com a recente intervenção de Cavaco no encerramento do Encontro Nacional de Autarcas do PSD. Desejo-lhes boa sorte, mas não me parece que venham a colher grandes frutos de tal discurso. Cavaco usou e desceu a um tom que não anda longe do usado pelo CHEGA. Acontece que nessse tom, André Ventura é imbatível e não me parece, por outro lado, que esse tom renda muitos votos. O povo não é tolo.  Se é para votar "bota abaixo", há que votar no mais "competente" em "botar abaixo". Montenegro, apesar de tudo, ainda tem muito que aprender. Com o Ventura, precisamente. E, com os anos que já leva de aprendizagem, duvido que ainda vá a tempo.

Seja como for, aqui fica o meu conselho: Deixem a "múmia" falar!

João Galamba

o conheço, pessoalmente, o ministro das Infraestruturas, mas tenho acompanhado o seu percurso enquanto pessoa e enquanto político, não só através de escritos seus, quer em blogues, quer noutros meios, mas sobretudo através das suas intervenções públicas como deputado, durante vários anos, e como secretário-de-Estado e como ministro, mais recentemente.

Como toda a gente, João Galamba, tem os seus defeitos, mas o que os seus adversários temem (e por isso reclamam a sua demissão) não são os seus defeitos, mas as suas muitas qualidades: inteligentíssimo, enquanto pessoa;  orador de primeira linha e de resposta pronta  e certeira, enquanto deputado e, em funções executivas, com capacidade de decisão e de concretizacão, tudo razões que me levam a mim a desejar-lhe longa vida como político e como ministro.

(Não, já não tenho idade para ser seu adjunto)

(Imagem daqui)


sábado, 20 de maio de 2023

"O grande perturbador" (uma adivinha)

Na semana passada,  num jornal dito de referência e que, por sinal, faz parte das minhas leituras diárias desde o seu aparecimento, atribuia-se, numa das suas colaborações habituais, o título de "o grande perturbador" a uma pessoa tão importante quanto interventiva na nossa vida pública. 

Julgo que não é difícil adivinhar a quem era dirigido o "honroso" qualificativo, que reputo de justíssimo, pois raro é o dia em que não faz jus ao título. Quem será ? E o que pensa o leitor da justiça da atribuição? 

sexta-feira, 19 de maio de 2023

Uma Comissão para lamentar

O que me foi dado presenciar durante a audição ao ministro João Galamba permite-me concluir que, no conjunto dos deputados que me foi dado ver e ouvir, ainda há na Comissão Parlamentar de Inquérito (à TAP?), alguns que continuarão a merecer o meu respeito e, eventualmente, o meu voto, mas confesso que são poucos. De facto, consigo contá-los usando os dedos de uma só mão.

E, das duas uma: ou eu sou muito exigente (como tenho de admitir) ou a dita CPI pode ter todos os nomes menos o de uma Comissão Parlamentar digna desse nome.

Vou por aqui.

quinta-feira, 18 de maio de 2023

O estranho caso do furto/roubo do computador no Ministério das Infraestruturas

Estranho não tanto pelo furto/roubo, em si, mas pelo tempo e empenho que a Comissão Parlamentar de Inquérito à Tap, dedicou ao caso.  
Na sessão de ontem foram ouvidos o alegado autor do furto/roubo (durante 5 horas) e a chefe de gabinete do Ministério das Infraestruturas cuja audição terminou a horas impróprias, já depois das 2 horas da manhã.
Pergunta-se: para concluir o quê, com relevância para o objecto da Comissão ?
Responde-se: absolutamente nada.
Uma sessão absolutamente deprimente. Concluo: alguém anda interessado em descredibilizar a democracia.
 Só pode!

quarta-feira, 17 de maio de 2023

Um saco roto

É no que se está a tornar a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) à TAP .

De facto, já vamos na segunda fuga de informação sobre matéria confidencial.

Assim o relata a comunicação social: 
"O presidente da comissão de inquérito à TAP informou esta terça-feira o presidente da Assembleia da República de nova fuga de informação de documentos que estão no arquivo da comissão, segundo o ofício a que a Lusa teve acesso.

'Vimos informar que tomámos hoje conhecimento, através dos meios de comunicação social, de nova divulgação pública de conteúdos, documentos e elementos que se encontram no arquivo documental desta comissão", lê-se no documento assinado por António Lacerda Sales, endereçado a Augusto Santos Silva, cujo assunto é "comunicação de nova fuga de informação'" (fonte).

Um saco roto e uma vergonha.


segunda-feira, 8 de maio de 2023

sábado, 6 de maio de 2023

Dando a palava ao outro (I)

" (... não sei se daqui a dez anos haverá uma escola ou um curso académico de Comunicação que estude o dia 2 de Maio de 2023, nas rádios e na televisão, e os dias subsequentes. De manhá à noite, não encontrará jornalismo. Pensem um pouco e afastem-se da excitação. O que se passou nada tem a ver com o jornalismo e o efeito desse comportamento é tão devastador que já não se sabe o que é jornalismo. Aquilo a que assistimos o dia todo foi a uma comunicação social transformada numa espécie de comício político, num estilo de planfleto exacerbado, com tudo o que não é jornalismo: intencionalidade política, dramatização, julgamentos de carácter, petições de princípio, argumentos ad terrorem (sic), encostar os agentes políticos à parede com dilemas 'humilhantes', apelos a acções cada vez mais drásticas, subindo a temperatura da crise, má-fé, [....] sempre com uma constante - a do maior dano possível para o Governo, o PS e António Costa.[...] 

(José Pacheco Pereira: "A crise do Governo, a crise do Presidente e a crise do jornalismo", in "Público"  - edição impressa de 6 Maio de 2023. 

(A ilustração supra figura no original citado).

sexta-feira, 5 de maio de 2023

Chega de incontinência verbal!

Miguel Sousa Tavares, hoje, no Expresso (edição impressa) em artigo intitulado "A importância do adjunto Pinheiro para os destinos da Nação" (artigo que vale a pena ler) escreve:  " Contra factos arrolados por Costa para não demitir o ministro, Marcelo veio contrapor a 'percepção pública' - um Presidente e professor de direito a defender a justiça popular contra a justiça fundada em factos ?"

Marcelo, apresentado, pela generalidade da comunicação social, (sem que esta se dê conta do ridículo em que incorre) como um mestre-escola a dar raspanetes a ministros e ao primeiro-ministro, tem em Miguel Sousa Tavares uma voz discordante que acompanho sem reservas.

Para bem do próprio e do país (que é o que mais importa) haja quem diga a Marcelo que chega de incontinência verbal! 

quinta-feira, 4 de maio de 2023

Uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma...

... ou quase.

Eis como resumiria, em poucas palavras, a declaração que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa achou por bem dirigir hoje ao país.

Entretanto e já agora, seja-me permitido acrescentar umas breves quanto inócuas considerações:
Marcelo é uma pessoa muito inteligente (toda a gente que o conhece pessoalmente o garante), mas chego à conclusão, depois de o ouvir hoje, que ainda não percebeu como é que se gerou o desaguisado entre o primeiro-ministro e ele. Inteligente como é, já deveria ter compreendido que, nos termos da Constituição, há assuntos em que não lhe cumpre a ele meter o bedelho e que o primeiro-ministro não pode estar a toda a hora condicionado pelas suas dicas na praça pública. 

Como já alguém disse, o maior responsável pela situação de instabilidade que se tem vivido nos últimos tempos é Marcelo, afirmação com que estou inteiramente de acordo. Foi seu autor o insuspeito Pacheco Pereira.

A Marcelo ouvi-o hoje falar longamente de responsabilidade. Compreensivelmente, ou não tanto, esqueceu-se, porém, de falar na dele e foi pena, porque se Marcelo não se contiver e continuar a falar a torto e a direito, como tem procedido até agora, em dissoluções e demissões, ainda que só para negar as suas intenções em tal sentido, por certo que vamos ter "o caldo mal parado", ou mesmo "entornado". Suponho que não é do interesse de Marcelo, nem de outro ninguém, salvo de algum desequilibrado ventura, que tal aconteça.

Jornalista ? A mim, dá-me mais ares de biciclista.

"O que deve fazer Marcelo? Nada. É deixar grelhar"
Um título rasca, indicutivelmente, à altura do seu autor que, pasme-se, se autointitula de jornalista. 
Perdoar-me-ão, mas confesso que a mim dá-me mais ares de biciclista. Disfarçado, é claro.
(Imagem do "Publico", edição impressa de hoje)

quarta-feira, 3 de maio de 2023

Recomendação: reler a Constituição da República !

A decisão tomada pelo primeiro-ministro António Costa de não aceitar a demissão de João Galamba do cargo de ministro das Insfraestruturas, não obstante as pressões advindas do Presidente da República e por este tornadas públicas, tem merecido os mais desvairados comentários, uns apoiando a decisão, outros censurando-a, o que é absolutamente expectável e natural, podendo ser aduzidas razões num sentido e noutro. Desde que, naturalmente, façam sentido. Ora, sentido é o que parece não existir no pronunciamento do actual e recente líder da IL (Rui Rocha) que não faz a coisa por menos: a atitude de António Costa não passou de uma vergonhosa encenação e de uma afronta dirigida directamente contra o Presidente da República. Não parando por aqui, o desvairado dirigente reclama a imediata dissolução do Parlamento. Mais estranha, ainda se possível, me parecem as declarações de um ex-ministro de um dos governos dirigidos por António Costa (Adalberto Campos Fernandes), onde também não falta a referência à sobredita afronta.
Declarações desta natureza, demonstram que quem as produz carece de reler, com urgência, a Constituição da República, onde existem regras que definem quais os poderes de cada um dos órgãos de soberania, regras donde resulta com clareza que a competência para aceitar ou demitir os membros do governo é da competência exclusiva do primeiro-ministro. António Costa, assumiu por inteiro essa responsabilidade e fez o que tinha a fazer.
Agir de acordo com as regras constituicionais não pode, em democracia, ser visto como ofensa a quem quer que seja. Muito simplesmente é a democracia a funcionar. Quem não aceitar este ponto de vista é porque tem da democracia um conceito muito sui generis, para não ir mais além.
Grave seria se António Costa tivesse cedido às pressões públicas (constitucionalmente ilegítimas) de Marcelo Rebelo de Sousa. Ter-se-se-ia transformado, contrariando frontalmente a Constituição, um moço de recados do Presidente da República. 
António Costa teve a coragem de dizer não. Ao fazê-lo, repôs o comboio (do regime democrático) nos carris. E não foi coisa pouca.