domingo, 31 de julho de 2011

Andam a gozar com o Zé

Marco António Costa, secretário de Estado da Solidariedade e da Segurança Social acaba de levantar o véu sobre o que será o "Plano de Emergência Social" anunciado por mais que uma vez por Passos Coelho com pompa e circunstância.
Levantado o véu, fica-se a saber que o Plano não é um envelope financeiro para gastar dinheiro” e que não passa de um conjunto de medidas articuladas com os  municípios e as freguesias   "para tornar possível uma maior sustentabilidade das respostas sociais em Portugal e se chegar a mais portugueses”, medidas onde se inclui a já anunciada pelo titular da pasta, de alterar  as regras de funcionamento das creches que, diz Marco António, repetindo o ministro, “permitirá, numa análise minimalista, um alargamento para mais 20 mil vagas – nas infra-estruturas que já existem” .
Bom, se isto não é gozar com o Zé, é o quê ? Uma montanha a parir um rato?

"Connosco ninguém fica para trás"

No título, cito, de memória, uma afirmação de Passos Coelho. E tem razão. Como vê, por esta notícia (Ministério suspende  novas turmas para adultos) as pessoas não são deixadas para trás, são, isso sim, postas de lado.

sábado, 30 de julho de 2011

(Des)mentidos

Ficámos a saber durante o debate na Assembleia da República, que o actual primeiro-ministro tem no seu arsenal vários tipos de desmentidos.
Temos, à cabeça, o "desmentido categórico" usado para negar as notícias sobre o pedido de informações dirigido aos serviços de informações sobre Bernardo Bairrão: "As notícias que circularam sobre o pedido de informações do Governo aos serviços de informações, simplesmente, não ocorreram. Já o desmenti categoricamente e não tenho por hábito desmentir categoricamente para ocultar a verdade".
O desmentido, neste caso, deve ser do tipo "faz de conta", porque ninguém acredita no desmentido, a começar por gente insuspeita de simpatias para com a oposição como José Manuel Fernandes ou Pedro Santos Guerreiro.
Perante tanta versatilidade em matéria de desmentidos, não será mais apropriado falar em (des)mentidos? 

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Diálogo de surdos ?

No final da primeira ronda negocial sobre o modelo de avaliação dos professores com os sindicatos do sector, o ministro da Educação, Nuno Crato, deu por assente que as quotas para as classificações de mérito vão manter-se: Não existindo quotas somos todos excelentes. Isto tem que ser regulamentado. Queremos que os melhores sejam incentivados".
Por sua vez, Mário Nogueira, secretário-geral da Fenprof, agora muito mais manso, afirmou, também no final, que na reunião fez perguntas sobre o tema das quotas e que não obteve resposta. A ser verdade a afirmação de Nogueira, tudo indica que a ronda negocial não passou dum diálogo de surdos.
E mais se acentua essa ideia quando se sabe, desde há muito, que a existência ou não de quotas é uma questão central para os sindicatos. Se a questão das quotas não foi sequer abordada na reunião, discutiu-se o quê ? O sexo dos anjos? 

Não foi v. quem pediu um Governo de direita ?


quarta-feira, 27 de julho de 2011

O porta-voz

"O Governo, quanto eu sei, aposta fortemente na concertação social", diz Cavaco armado em porta-voz do Governo. 
Tendo Cavaco Silva abandonado a função presidencial e tendo assumido as novas funções de porta-voz do Governo, por que razão se mantém ainda no Palácio de Belém? Não será boa altura para se mudar com armas e bagagens para o Palácio de São Bento? E como é que Cavaco e Passos Coelho ainda não viram que, numa altura em que o Governo não sabe onde cortar na despesa, o fecho do Palácio de Belém dava um jeitão?

Arte pública...





... em Sesimbra.

O Estado mãos largas

Pelas contas deste senhor, o Estado perdeu em 60 minutos, 2,7 mil milhões de euros, ao prescindir dos direitos especiais inerentes às quinhentas acções  (golden shares) que detinha na Portugal Telecom. Mas daí, diz o senhor Pedro Carvalho, subdirector do Diário Económico, "não vem grande mal ao mundo". 
Pois não, acrescento eu. De facto, não há forma mais expedita para se transformar um Estado "gordo" em Estado "magro". Realmente, o que são os pouco mais de 2 milhões de euros poupados com a extinção dos governos civis, quando comparados com os 2,7 mil milhões dados de mão beijada aos accionistas da PT? 
Com a direita no poder, o Estado português deixou num ápice de ser "gordo". Passou, sim, a ser um "mãos largas". Infelizmente, só para alguns (os grandes accionistas). 
Por este caminho, não tarda que, depois de se irem os anéis (dados à borla) também se vão os dedos. 
E vai daí, se calhar, talvez não. É que, até agora, pelo que se tem visto, a direita no poder tem podido contar com a boa vontade dos mesmos "tansos" de sempre, dispostos, agora mais que nunca (vá-se lá saber porquê*)  a suportar o saque fiscal, quer pela via dos impostos, quer através do aumento brutal do preço dos transportes públicos.
(*Quem, seguramente, é capaz de explicar isto muito bem é Cavaco Silva. Não era ele que afirmava, antes da entrada em funções do actual Governo, que os sacrifícios não só tinham que ter limites como tinham que ser justamente repartidos? Agora, segundo as declarações que tem vindo a proferir, não só já não há limites, como a justiça na repartição dos sacrifícios pode, com o seu aplauso, ser mandada às malvas. Ainda não conheço a explicação, mas continuo à espera que Cavaco se explique. Com vossa licença e à cautela, vou esperar sentado.)

Creches ou armazéns ?

O ministro da Solidariedade e da Segurança Social, Pedro Mota Soares quer albergar, nas creches actualmente existentes,  mais vinte mil crianças. E como é que o ministro consegue um tal feito ?
Muito simples: mudam-se as regras e transformam-se as creches em armazéns.
Como é que ainda ninguém tinha tido uma tão "brilhante" ideia ?
Se calhar, porque os governos anteriores (do PS) entendiam que a educação das crianças exige espaço e instalações com qualidade. Terá sido? 

terça-feira, 26 de julho de 2011

Marketing

A equipa portuguesa participante nas Olimpíadas Internacionais de Matemática acaba de realizar um feito tão notável, quanto inédito: obteve uma medalha de ouro (atribuída a Miguel Martins dos Santos, jovem de 16 anos, aluno do 10 º ano da Escola Secundária de Alcanena) duas medalhas de bronze e uma menção honrosa.
Pelos vistos, não foi preciso esperar pela chegada de Nuno Crato ao ministério da Educação, para que os alunos portugueses atingissem excelentes resultados a nível internacional. 
O ministro, no entanto, num gesto inédito e de puro marketing, não se esqueceu de comparecer no aeroporto para receber os "heróis" da proeza, para com eles compartilhar os louros, mesmo sabendo que em nada contribuiu para a obtenção de tão brilhante resultado.
(Imagem daqui)

Quase em directo

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Imagens de Sesimbra
Legenda:
Foto 1. Forte de Santiago (pormenor)
Foto 2. Castelo de Sesimbra, vendo-se em primeiro plano a torre de menagem e a alcáçova;
Foto 4. Sesimbra, vista parcial a partir do Castelo;
Foto 5. Praia (parte norte)
Foto 6. Praia (parte sul)
(Clicando nas imagens, amplia)

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Amnésias

É impensável supor que o actual primeiro-ministro e líder do Partido campeão da "transparência" e cultivador, em exclusivo, da "Política de Verdade" seja capaz de mentir. Por isso, as contradições entre o dito e o feito por Passos Coelho, só podem ser fruto  de ataques de amnésia, por sinal, cada vez mais frequentes.
Não vou, porém, enumerar aqui os casos de amnésia já detectados. Por um lado, seria fastidioso descrevê-los tão numerosos já eles são, tendo em conta o pouco tempo que Passos Coelho leva na chefia do Governo. Por outro lado, tal trabalho seria inútil, pois, graças ao labor de O Jumento, o leitor tem à sua disposição um Mentirómetro, onde facilmente pode seguir a evolução dos ataques de amnésia. 
Não resisto, no entanto, em trazer à colação o caso da administração da Caixa Geral de Depósitos que é, além do mais, um exemplo de amnésia dupla:
Esquecido da proclamada orientação do Governo de reduzir os cargos de gestores públicos, no caso da Caixa, Passos Coelho optou por aumentar o número de gestores de 7 para 11. Dir-se-á que não é nada de mais para quem tem que arranjar lugar para os muitos "companheiros" que há que tempos estão na fila à espera que chegue a sua hora. Digo "companheiros" e digo bem, porque no PSD não há boys, como se sabe, mas "companheiros" não faltam.
A amnésia, no entanto, não se ficou por aqui. Passos Coelho, ao optar por um novo modelo de gestão, com dois presidentes, um não executivo (Faria de Oliveira, presidente na administração anterior) e outro executivo (José de Matos, vindo do Banco de Portugal) esqueceu-se de que o modelo agora escolhido já teve uma anterior edição em que as coisas não correram nada bem. Melhor dizendo, a experiência acabou mesmo muito mal, com António Sousa, presidente não executivo (chairman)  às turras com Mira Amaral, presidente da comissão executiva (ceo).
Se tudo o que se diz aqui corresponde à realidade, é bem provável que o resultado da nova edição não seja melhor do que o da anterior. Direi mesmo que muito pelo contrário. A solução encontrada parece conter todos os ingredientes para conduzir ao desastre.

É, no entanto, de inteira justiça reconhecer que a amnésia de Passos Coelho tem intermitências. Por exemplo, Passos Coelho não se esqueceu  de recompensar o Doutor António Nogueira Leite pelos seus "conselhos" ao atribuir-lhe um lugar na nova administração. A escolha de Nogueira Leite prova, ademais, que a amnésia de Passos Coelho não é um caso completamente perdido. Felizmente, dirão os "companheiros" ainda em lista de espera.

domingo, 24 de julho de 2011

A cor do terror

A Noruega está a viver dias bem negros e bem dolorosos na sequência do ataque à bomba em Oslo e do massacre desencadeado na ilha de Utoeya onde decorria a Universidade de Verão do Partido Trabalhista, um e outro, aparentemente, da responsabilidade dum norueguês simpatizante das ideologias da extrema-direita. Desses actos criminosos resultaram numerosos mortos (já se contam 93 vítimas) e feridos, para além dos prejuízos materiais. 
Ainda será cedo para saber as motivações do suspeito Andres Behring Breivi e para saber se agiu sozinho ou se teve cúmplices. No entanto, pela documentação já encontrada pelos investigadores, parece não restarem dúvidas sobre a ideologia de extrema-direita professada pelo suspeito. 
Alegadamente, os serviços de segurança noruegueses não consideravam que a extrema-direita pudesse constituir uma "ameaça séria" e, ao invés, admitiam a hipótese de poder surgir um ataque por parte de radicais islamitas. Prova de que os serviços de informação se podem enganar, com facilidade, sobretudo quando se parte de preconceitos.
O caso demonstra, por outro lado, que o terror tem muitas cores e muitas caras. Não é verdade que "quem vê caras não vê corações"? O  "mal" até na pacífica Noruega pode surgir e atacar: eis a dolorosa constatação.
(Imagem daqui)

Seguro ?

Fora eu militante do PS, António José Seguro não seria a minha opção para secretário-geral do Partido. Agrada-me, no entanto, que na sua primeira intervenção, após a eleição, tenha declarado que, em matéria de revisão constitucional, deixará o PSD a falar sozinho (o PS não considera que exista um problema constitucional em Portugal) e que o PS se manterá firme na "defesa do Estado Social e das funções sociais do Estado".
Do mesmo passo, não posso deixar de sublinhar e louvar a atitude de Francisco Assis ao assumir a derrota e ao rejeitar assumir-se como protagonista de divisões internas “Não concebo a existência de oposições internas. Nunca me constituirei numa reserva moral ou política.”)
Em boa verdade, dele não esperava outra coisa.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Efeito Euromilhões

O nosso primeiro, sem jogar e sem meter prego nem estopa, acaba de ganhar o Euromilhões, graças à decisão tomada ontem,  em Bruxelas, durante a cimeira da Zona Euro, no sentido de resolver  a crise da dívida grega, decisão que, por tabela, se traduziu também na redução das taxas de juro dos empréstimos concedidos pelo FEEF a Portugal, para valores à volta dos 3,5%, e no alargamento do prazo de reembolso para 15 anos.
Sim, de facto, já todos percebemos que das duas uma: ou vai uma grande confusão na cabeça de Passos Coelho, ou o homem tem "lata" para dar e vender. Outra hipótese a considerar, porque não há duas sem três, é que a última afirmação se tenha ficado a dever simplesmente ao facto de ter ganho o prémio. Não me custa nada a admitir que o Euromilhões tenha feito mais um excêntrico. É que, dizem, há muitos por aí. Passos Coelho, se calhar, é só mais um deles.
(Reeditada)

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Promessa cumprida

Ao contrário do que para aí anda a dizer muito boa gente, Passos Coelho, afinal, cumpre. Não dizia ele, aqui há tempos, que "connosco ninguém é deixado para trás" (cito de memória). Pois bem, depois do corte do subsídio de Natal, que deixou de fora os trabalhadores e pensionistas com menores rendimentos, chegou  a hora destes não serem esquecidos.
Suponho que ninguém terá dúvidas de que o aumento dos transportes públicos em 15%, é uma medida que, embora não não se dirigindo só àqueles, vai afectar mais gravemente as pessoas com menores rendimentos.
Se assim é, temos mesmo que concluir que, com Passos Coelho, ninguém fica para trás. Duma maneira ou doutra, todos levam pela medida grossa.
Pode objectar-se, nesta altura, que Passos Coelho está, mesmo assim, a deixar alguém para trás: os detentores de grandes fortunas. É verdade. A  objecção, contudo, não procede, pois os detentores de grandes fortunas não são gente. São peixes graúdos e tubarões. E onde já se viu alguém meter-se com tubarões ?

Antes a pele que as gorduras

Estão de parabéns os portugueses. Escolheram um primeiro-ministro que se revelou até agora incapaz de cortar, como prometeu,  nas "gorduras" do Estado (seja lá o que isso for) mas que não hesita em arrancar-lhes a pele. Depois do saque de 50% do subsídio de Natal, presenteia-nos agora, duma só vez, com um aumento de 15%  no preço dos transportes públicos
Não duvido que, com estes métodos, Passos Coelho consiga alcançar um défice de 5,9%. A continuar neste ritmo, estou mesmo convencido que os primeiros a ficar surpreendidos serão os portugueses e não os "mercados". Até eu, por exemplo, já não escondo a minha surpresa. Nunca pensei que Passos Coelho tivesse tanta habilidade como "esfolador" de gansos de tansos.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Estranho fenómeno

Não há dúvida que Macário Correia é um homem com convicções (a minha opinião é a mesma de sempre, diz ele). No entanto, por um estranho fenómeno , eis que o homem, mantendo embora  as suas convicções, é simultaneamente capaz de mudar de posição: aceita agora o pagamento de portagens na Via do Infante, pagamento que até à entrada em funções do actual Governo sempre rejeitou.
Embora eu não esteja à altura de classificar tão singular fenómeno, não há dúvida que Macário Correia está a precisar de tratamento. Quem sabe se "lamber cinzeiros" não lhe resolveria o problema...

Farsa

 Estamos a assistir ao desrespeito pelos direitos de participação dos trabalhadores, o comportamento deste Governo mostra que o diálogo é uma farsa” diz  Manuel Carvalho da Silva, secretário-geral da CGTP, comentando o facto de o Governo ter aprovado hoje a proposta legislativa de redução das indemnizações por cessação do contrato de trabalho, quando a reunião na concertação social só está marcada por o próximo dia 27.
 "O Governo usa a política do bandido: dispara primeiro e pergunta depois", insiste Carvalho da Silva que só é para aqui chamado para lhe lembrar que a farsa já não é de agora. Já tem uns anitos. Pelo menos, tantos quantos os que durou a governação do PS.

Colossal desvio entre o dito e o feito

Há, de facto, colossais desvios, entre o dito e o feito e entre o "emagrecer" e o "engordar" do Estado.
Existindo já a AICEP (Agência para o Investimento e Comércio Externo) e a funcionar bem, como se pode concluir pelos resultados alcançados no sector das exportações, é fácil imaginar a falta que este grupo  de trabalho estava a fazer...para dar ocupação a mais uns quantos amigos.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

É preciso descaramento...

O estudo acompanhado e a área de projecto vão ser suprimidos no 3º ciclo, já a partir do próximo ano lectivo e no 2º ciclo também desaparece a Área de Projecto e será ajustada a carga horária de Estudo Acompanhado de forma a libertar tempo para reforçar a aprendizagem de Língua Portuguesa e Matemática nos dois ciclos finais do ensino básico, segundo informa o ministro da Educação, Nuno Crato.
Nem as medidas anunciadas merecem, da minha parte, contestação, nem a notícia mereceria qualquer comentário se não se desse o caso de, segundo a mesma peça, as  medidas serem, no essencial, "semelhantes às contempladas na reforma curricular aprovada pelo anterior Governo e que foi revogada pelo parlamento, com os votos a favor de todos os partidos da oposição, incluindo o PSD e o CDS."

Não me digam que não é preciso desplante e que gente que procede duma forma quando é oposição e de forma oposta quando no poder, é gente politicamente séria. Não me digam porque, simplesmente, não acredito. 

Lesto a "sacar", lento a cortar

Sobre a dissonância entre o que diz o ministro de Estado e das Finanças, Vítor Gaspar, nº 2 do Governo e o e o que sai da boca do nº 1 (Passos Coelho) sobre a justificação para o surpreendente  imposto extraordinário já disse aqui o que tinha a dizer.
Reparo agora, ao ler esta notícia, que Passos Coelho é tão lesto a criar novos impostos quão lento a cortar na despesa. Diz ele que as medidas de contenção serão anunciadas até ao final de Agosto.
Com franqueza, não se compreende como é que o homem que, aquando das negociações para a viabilização do Orçamento de Estado de 2011, já sabia onde é que havia que cortar na despesa para não haver aumento de impostos, agora, que é primeiro-ministro, não sabe ainda, a estas horas, por onde começar. No final de Agosto, saberá ?
Duvido e tenho todas as razões para duvidar. De facto, se a primeira medida que tomou foi precisamente a de criar um novo imposto, traduzindo-se a apregoada justiça na repartição dos sacrifícios em ir ao bolso dos mesmos contribuintes de sempre (os que vivem do fruto do seu trabalho) fica mais que legitimada a dúvida sobre a credibilidade a atribuir às palavras do primeiro-ministro. Isto, claro, para quem ainda lhe atribuía alguma. 

Não se falam, ou é um problema de linguagem ?

Para o ministro das Finanças, a criação do imposto extraordinário da sobretaxa extraordinária  é uma medida "imprescindível para acelerar o esforço de consolidação orçamental e cumprir o objectivo decisivo de um défice orçamental de 5,9% para este ano. Traduz uma necessidade de prudência, dada a inexistência de margem de fracasso." (in Apresentação da sobretaxa extraordinária)
Tratar-se-ia, se bem entendo o ministro, duma medida preventiva para prevenir qualquer surpresa  em matéria de execução orçamental.
Quem, pelos vistos, não está pelos ajustes é o primeiro-ministro que volta a falar no "desvio colossal", agora traduzido em números: "cerca de dois mil milhões de euros".
Perante esta divergência, é caso para  perguntar: será que o número um do Governo (Passos Coelho)  e o número dois (Vítor Gaspar) não se falam ? Ou será que a divergência resulta dum problema de linguagem, como me parece mais provável ? 
De facto, tudo indica que os dois não usam a mesma linguagem e por isso não se entendem: o ministro de Estado e das Finanças ainda não aprendeu a linguagem da demagogia. Ao invés, Passos Coelho, atendendo às declarações que tem vindo a proferir, tornou-se, em pouco tempo, um especialista.

domingo, 17 de julho de 2011

Uma história muito mal contada

Como é evidente, a história do "desconvite" a Bernardo Bairrão para integrar o actual executivo como secretário de Estado do ministro Miguel Macedo está muito mal contada, pois as interrogações são mais que muitas.
Desde logo fica-se sem se saber se Bairrão foi "desconvidado" ou se tomou ele, segundo a sua versão, a iniciativa de renunciar ao convite.  Depois, as "razões políticas e pessoais", invocadas por uma e outra parte, é óbvio que não explicam rigorosamente nada. Finalmente, o mistério adensa-se com a investigação à pessoa de Eduardo Bairrão levada a cabo pelos Serviços de Informação, noticiada pelo "Expresso" na edição de ontem, notícia que é negada pelo Governo, mas confirmada pelo director do semanário, que tem, segundo afirma, "a certeza absoluta que é verdadeira".
Para um Governo que afirma cultivar a "transparência" convenhamos que é mistério a mais à volta dum caso, aparentemente, tão fácil de explicar.
O que já não tem explicação possível é a forma como o Governo se serviu dos serviços secretos para coscuvilhar a vida dum particular sem que, presume-se, tenha estado em perigo a segurança do país.* E não tem, porque se trata dum caso de grave desvio do poder que carece, não de explicação, mas de ser esclarecido por uma comissão parlamentar eventual.
Ou será que as comissões parlamentares, com a queda do anterior Governo, também caíram em desuso ?
(* Dou por assente que a notícia do "Expresso" é verdadeira. Um órgão de informação que, à semelhança de muitos outros, andou com Passos Coelho ao colo até o levar ao poder, não se ia agora lembrar de inventar uma notícia tão grave e tão desagradável para o Governo. Este, sim, tem todas as razões e mais uma para a desmentir)

Mas que rica mina !

Quem disse que Portugal é uma "lixeira" ? Pelos vistos, é uma rica "mina". Para os alemães, claro.

Um peso morto

"Eu até gostaria que o dólar se valorizasse um pouco mais em relação ao euro para que a nossa indústria e o nosso comércio fossem mais competitivos". É Cavaco Silva a falar como se acabasse de descobrir a pólvora e como se o desejo que ele exprime não fosse compartilhado por qualquer leigo que tenha umas vagas noções de economia.
Não está em causa o acerto que, neste caso, as suas palavras traduzem. O problema é que nem "os mercados" o ouvem, nem já ninguém o leva a sério. E, de facto, não há como: um homem que é tido por "pai do monstro"; que inaugurou a época do consumismo desenfreado e desregulado com "os mundos e fundos" postos à disposição pela CEE que não foram devidamente aproveitados para aumentar a competitividade da economia; e que, ainda por cima, tem no seu currículo fazer afirmações de sentido contrário, consoante as suas conveniências e simpatias políticas, não passa dum peso morto.Trata-se duma simples constatação. Por muito que a constatação lhe custe.

sábado, 16 de julho de 2011

Esperem pela pancada

Não falta por aí quem se admire e simultaneamente se congratule com o facto de 45,6% dos portugueses considerarem o imposto extraordinário a sobretaxa extraordinária como uma "boa ideia", segundo uma sondagem da Aximage.
Não vejo razão para tanta admiração, sabendo-se que apenas vão ser afectados pela (extraordinária?) medida  35% por cento dos agregados familiares, ou seja, pouco mais de um terço, ficando de fora os restantes quase dois terços, de acordo com os dados constantes da apresentação feita pelo "se-nhor mi-nis-tro das Fi-nan-ças"
Para ser franco, perante estes dados, admira-me é que ainda haja tantos portugueses não pagantes solidários com os chamados "tansos fiscais", ou "burros de carga" que, já se sabe, são sempre os mesmos. 
Não há, de qualquer modo, razão para tanto "entusiasmo".  Esperem pela chegada efectiva do corte no subsídio de Natal e pelo reflexo do corte na facturação do comércio e dos serviços, designadamente, de restauração e afins, em boa medida na mãos de pequenos empresários que, não haja ilusões, na sua grande maioria não paga um "tusto" em sede de IRS, ou deixem chegar as alterações ao IVA, que toca a todos, que o caso depressa muda de figura. 
Nessa altura, esperem pela pancada. Essa será uma boa altura para voltarmos a falar. 

"O SE-NHOR MI-NIS-TRO DAS FI-NAN-ÇAS"

"O se-nhor mi-nis-tro das Fi-nan-ças es-cla-re-ceu  co-mo se-rá a-pli-ca-da a so-bre-ta-xa ex-tra-or-di-ná-ri-a, que a-fi-nal não vai ren-der €800 mi-lhões mas 1.025 mi-lhões e que se-rá su-por-ta-da pe-los do cos-tu-me ( 1,7 mi-lhões de a-gre-ga-dos fa-mi-li-a-res, os co-nhe-ci-dos tan-sos fis-cais), fi-can-do de fo-ra to-da a ban-ca (que, a-li-ás, se-rá a-poi-a-da com mais di-nhei-ro dos re-fe-ri-dos tan-sos) e as em-pre-sas, de on-de não vi-rá um tus-to pa-ra o es-for-ço de aus-te-ri-da-de que va-mos fa-zer, nem dos lu-cros nem dos di-vi-den-dos, e a is-to o se-nhor mi-nis-tro das Fi-nan-ças cha-ma e-qui-da-de so-ci-al na aus-te-ri-da-de e quan-to às pri-va-ti-za-ções i-rão to-das pa-rar aos in-ves-ti-do-res es-tran-gei-ros, mas is-so é fun-da-men-tal por-que per-mi-te a-ce-der a fi-nan-ci-a-men-to ex-ter-no in-de-pen-den-te do Es-ta-do e se tu-do cor-rer bem no fim do pro-ces-so Por-tu-gal te-rá u-ma e-co-no-mi-a com-pe-te-ti-va, co-mo es-tá no do-cu-men-to de su-por-te."
(Nicolau Santos, na edição de hoje do Expresso)
Parabéns, Nicolau Santos. Muito bem apanhado o se-nhor mi-nis-tro! 

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Muita carga para tão poucos "burros"

Se isto é verdade (65% dos agregados familiares e cerca de 80% dos pensionistas estão isentos do imposto extraordinário) e se já se sabe que o dito cujo não vai incidir, nem sobre os juros, nem sobre os dividendos, então não restam dúvidas de que, não contando com os impostos indirectos, como o IVA, o Estado é sustentado, essencialmente, à custa dos impostos cobrados aos trabalhadores e a alguns pensionistas, os mesmos que vão suportar mais esta carga e que, mesmo somados, não ultrapassam 35% da população.
Não será carga a mais para tão poucos " burros" (contribuintes) ?

Antes e depois

ANTES DA POSSE

O nosso partido cumpre o que promete. 
Só os tolos podem crer que
não lutaremos contra a corrupção.
Porque, se há algo certo para nós, é que
a honestidade e a transparência são fundamentais.
para alcançar os nossos ideais
Mostraremos que é uma grande estupidez crer que
as máfias continuarão no governo, como sempre.
Asseguramos sem dúvida que
a justiça social será o alvo da nossa acção.
Apesar disso, há idiotas que imaginam que
se possa governar com as manchas da velha política.
Quando assumirmos o poder, faremos tudo para que
se termine com os marajás e as negociatas.
Não permitiremos de nenhum modo que
as nossas crianças morram de fome.
Cumpriremos os nossos propósitos mesmo que
os recursos económicos do país se esgotem.
Exerceremos o poder até que
Compreendam que
Somos a nova política.

DEPOIS DA POSSE 
Basta ler o mesmo texto acima,DE BAIXO
PARA CIMA

(recebido via e-mail)

À procura de calculadoras

Dizia-nos o Governo de Passos Coelho até há poucos dias que o proveito do assalto ao bolso dos contribuintes "burros" (e só destes) perpetrado  através doimposto extraordinário sobretaxa extraordinária se cifrava em 800 milhões de euros. Somos agora avisados de que, afinal, a factura atinge o montante de 1025 milhões de euros. Este desconcerto entre os números prova à evidência que, na equipa de Passos Coelho, não há quem saiba fazer contas. 
Por certo que umas quantas calculadoras vinham mesmo a calhar. Não há por aí nenhum benemérito disposto a oferecer pelo menos duas: uma ao primeiro-ministro e outra ao ministro das Finanças ?
Esta aqui em baixo, mesmo sem marca, serve perfeitamente.

À procura dum dicionário

Sabendo-se que o imposto extraordinário (que nos vai cortar 50% do subsídio de Natal  e que aparece agora reduzido à categoria de simples sobretaxa) não abrange, nem os juros dos depósitos  e de outras aplicações financeiras, nem os lucros distribuídos pelas empresas aos seus accionistas sob a forma de dividendos, poderíamos ser levados a pensar que o ministro das Finanças pretende aldrabar-nos quando garante que o imposto é uma "medida universal". Nada mais errado !
O que verdadeiramente se passa é que o ministro não faz ideia do que significa, na língua portuguesa, a palavra "universal". Tem como óbvia atenuante o facto de ter andado muito pelo estrangeiro. Seja como for, é evidente que o ministro anda a precisar urgentemente dum dicionário da língua portuguesa  Não haverá por aí nenhum benemérito que lho faça chegar?
Este, por exemplo.

Asneira sobre asneira

Já toda a gente percebeu que Passos Coelho fez, mais uma vez, prova da sua incontinência verbal ao falar de "desvio colossal" nas contas públicas. Só que desta vez a asneira atingiu tal gravidade que o ministro das Finanças, Vítor Gaspar sentiu-se na obrigação de vir dar a sua "interpretação pessoal" das palavras do primeiro-ministro para minimizar os efeitos da desastrosa declaração de Passos Coelho.
A intenção até podia ser boa. Teve, porém, o senão de se traduzir numa asneira ainda maior. De facto, se o Governo entendia, como parece ser o caso, que havia necessidade de alguma explicação, era ao primeiro-ministro que cabia apresentá-la. Ao consentir que fosse o ministro das Finanças a apresentar a "interpretação pessoal" das suas palavras, Passos Coelho aceitou, pelos vistos, de bom grado, passar de chefe do executivo a subordinado, a precisar de ser corrigido, ainda por cima. Se queria sair menorizado de todo este "affaire", Passos Coelho não podia ter escolhido melhor meio.
A "interpretação pessoal" do ministro Gaspar (ver vídeo no "post" anterior) tão risível ela é, também esteve longe de contribuir para melhorar a "coisa".
Enfim, é asneira sobre asneira.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

O "desvio .... colossal" ou um "brilhante" contador de anedotas


(Nem a contar anedotas o ministro Gaspar larga a cara de pau. Brilhante !)

The right man in the right place

Em 2011 e 2012, o Governo prevê que o PIB recue, em 2011, 2,3% e em 2012, 1,7%. Mais pessimista que a Tróica e o Banco de Portugal em relação a 2011 e mais optimista que ambos relativamente a 2012. Percebe-se porquê.
As exportações, segundo o Governo vão crescer 6,7% este ano e apenas 5,6% em 2012. Em contrapartida, as importações irão diminuir 4,8% este ano e 1,3% em 2012.
A inflação deverá atingir 3,5% este ano e 2,3% no próximo ano.
E, finalmente e mais importante, o Governo prevê que aumente o número de desempregados, atingindo-se em 2012 a taxa de 13,2%.
Como se vê, é só "melhorias" em relação a 2010, o último ano completo da responsabilidade do "ominoso" Sócrates. 
Senão compare
Em 2010, o PIB cresceu, apesar da crise, 1,3%; as exportações cresceram 8,8%; a  inflação não foi além de 1,4%; a taxa de desemprego ficou-se pelos 10,8%.
Mas não desespere que, a partir de 2013, a economia portuguesa, diz Gaspar, vai conhecer uma recuperação "expressiva".
Ficamos sem saber o que é isso de "recuperação expressiva" porque o ministro Gaspar não adianta números e a gente compreende o porquê: não só não tem a capacidade de previsão da cartomante Maya, como, de facto, nem ele acredita nas suas previsões. É ele, na verdade, quem  nos deixa o alerta: o cenário apresentado "deve ser encarado com especial prudência devido à incerteza associada a factores de ordem interna e externa".
Nota complementar: o ministro Gaspar dá-nos todas estas "boas" notícias, sempre com a mesma cara de pau. Ele é, por isso e para já, the right man in the right place. Se é "brilhante" ou não ainda estou para saber.
(Os dados citados foram recolhidos aqui)

Os amigos são para as ocasiões

Semanas depois de Passos Coelho ter anunciado, sob o falso pretexto da derrapagem da execução orçamental, a criação do imposto extraordinário, o novo ministro das Finanças vai hoje, finalmente, explicar os contornos do saque.
O grosso da carga vai incidir, uma vez mais, segundo o comunicado do Conselho de Ministros, sobre os rendimentos do trabalho (dependente e independente) e as pensões, abrangendo também as rendas e as mais- valias. Em contrapartida, o imposto, agora apelidado de "sobretaxa extraordinária, não incidirá sobre os juros dos depósitos e doutras aplicações financeiras.
Se bem entendi, a explicação técnica para tal isenção residiria no facto de estes rendimentos estarem sujeitos a uma taxa liberatória. A explicação parece-me frouxa, pois não dá para entender que quem se mostra capaz de inventar uma medida tão gravosa, e porventura inconstitucional, como é a própria "sobretaxa extraordinária", em si, não esteja à altura de contornar um simples problema de semântica.
A explicação, adianta a mesma fonte, residirá na preocupação em "garantir que os bancos terão uma posição de financiamento estável" o que vale por dizer que o Governo teme uma corrida aos depósitos e o seu expatriamento.
O receio é, no entanto, infundado, dado que as pequenas poupanças não têm para onde ir e os detentores de grandes fortunas são, por norma, apoiantes dos partidos da direita, agora no poder e, por definição, a direita é altamente patriótica, como se tem visto ultimamente, pelo que, por uma razão, ou por outra, é impensável a transferência maciça de capitais para o estrangeiro e, designadamente, para os off shores.
Diria, por isso, que estamos sim perante mais uma confirmação do dito de que "os amigos são para as ocasiões" e que esta é uma excelente oportunidade, que o Governo não desaproveitou, para dar um sinal aos  "amigos" de que, nesta matéria, a tradição ainda é o que era.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Não foi v. quem pediu um Governo de direita ?

"Os verdadeiros detentores da riqueza continuam dispensados dos sacrifícios"; "Perguntámos se está ou não disponível para (...) apresentar um taxamento nas operações dos bancos que substitua os sacríficios dos trabalhadores. O primeiro-ministro disse que não".
(Afirmações atribuídas aqui a Carvalho da Silva que, hoje, à saída dum encontro com o primeiro-ministro, em S. Bento, se mostrou bastante preocupado com as políticas laborais e sociais seguidas pelo novo Governo.)
Pediram-no e tanto insistiram que não têm razão de queixa. Só têm o Governo que pediram.

Um elefante em loja de porcelana

Passos Coelho não se ensaia nada para dizer disparates como este de afirmar que há um "desvio colossal” nas contas públicas e outros quejandos.
Depois queixa-se que leva "murros no estômago" com decisões como a da Moody's.
Se Passos Coelho não se portasse como um elefante em loja de porcelana, talvez as coisas se passassem de modo diferente. Digo eu. Em todo o caso livrava-se da fama de estar a contribuir para denegrir a imagem do país face aos "mercados". É que, ainda por cima, a afirmação não só não foi ainda explicada, nem fundamentada, como é certo que dela não lhe advém nenhum proveito.

21 dias, noves fora, nada

O Velho, o Rapaz e o Burro
Decorridos 21 dias desde a posse do actual Governo, qual o resultado da actuação da equipa liderada pelo senhor Passos Coelho ? Além duns tantos anúncios de medidas que continuamos à espera de conhecer, onde avulta a criação do imposto extraordinário que nos vai levar, contra afirmação em contrário durante a campanha eleitoral, 50% do subsídio de Natal (e mesmo os contornos desta continuam no segredo dos gabinetes) e afora  uma ou duas medidas de cosmética para enganar parolos, como a decisão de viajar em classe económica nas viagens aéreas no espaço europeu (quando já se sabe que as viagens na TAP mesmo em classe executiva são à borla) o que nos resta a não ser outras tantas queixas (infundadas e contra promessa expressa) relativamente à "herança recebida"? 
Diria que é pouco. E, de positivo, pelas minhas contas, é, noves fora, nada.
Entretanto, até o irrequieto Paulo Portas, agora arvorado em ministro dos Negócios Estrangeiros e que poderia fazer de esperto numa nova versão da história d'O Velho, o Rapaz e o Burro*, continua em parte incerta.
(*Com o Esperto no lugar do Burro. Este, se bem se lembram, também monta.)
(imagem daqui)

terça-feira, 12 de julho de 2011

A irrelevância

Segundo o próprio, 180 segundos (3 minutos) foi o tempo que o "brilhante" ministro das Finanças, Vítor Gaspar,  demorou a fazer prova da irrelevância da sua participação na reunião dos ministros das Finanças da zona Euro e da União Europeia que hoje teve lugar.
Nem por isso deixou de ser "recebido com uma simpatia absolutamente inexcedível", nas palavras do ministro.
Ou talvez tenha sido mesmo por isso, admito eu. Não recomendavam já os latinos esto brevis et placebis?*
(*Traduzindo: Sê breve e agradarás)

Um primeiro-ministro "ambicioso"

No debate com José Sócrates, durante a pré-campanha para as últimas legislativas, com desfecho em 5 de Junho, Passos Coelho não se cansou de repetir o número de desempregados:  700.000, insistia ele.
Julgava eu que, com a repetição e a insistência naquele malfadado número, o actual primeiro-ministro estava a censurar o Governo anterior, deixando implícita a ideia de que, com ele a governar, aquele número viria por aí abaixo. Estava bem enganado.
Com efeito, estando já a direita no poder, com Passos Coelho a liderar o Governo, veio agora o Banco de Portugal anunciar que prevê, para Portugal, dois anos (2011 e 2012) de recessão profunda, com o consumo privado a recuar 3,8% este ano e 2,8% em 2012 (números que, salienta-se aqui, ultrapassam as quebras verificadas em 1978 e 1983, anos  em que ocorreram as últimas intervenções do FMI), com o investimento privado a diminuir 10% em cada ano e o consumo público a registar uma redução de 5%.
Graças, em boa medida, suponho eu, à política que o Governo do senhor Passos Coelho que, não contente com as restrições decorrentes do acordo com a UE, FMI e BCE, achou por bem ir mais além para "surpreender" os "mercados".
(É óbvio, porém, que estes, atenta a recente classificação da dívida pública portuguesa como "lixo", não ficaram mesmo nada "surpreendidos". Muito, pelo contrário. Quem ficou mesmo de cara à banda foram os trabalhadores e pensionistas que acabaram por ficar a saber que o senhor Passos Coelho decidiu, contra afirmação sua em contrário durante a campanha eleitoral, cortar-lhes 50% do subsídio de Natal e o mais que adiante se verá. Isto, porém, é outra história que fica para próxima oportunidade.)
Fechado o parêntesis, regressamos ao Boletim económico de verão do Banco de Portugal para verificar que a previsão referente aos números do desemprego (assunto que nos traz aqui) é simplesmente demolidora para a política do senhor Passos Coelho: nos dois anos considerados (2011 e 2012) prevê-se a perda de mais 100.000 postos de trabalho, número este que somado aos 700.000 que, pelas contas do então candidato Passos Coelho, vêm do anterior, perfaz o número impressionante de 800.000 desempregados. Este número leva-me a crer que, afinal,  o candidato Passos Coelho não estava nada preocupado quando lançava à cara de Sócrates os 700.000 desempregados. Pelos vistos, ele é muito mais "ambicioso". A sua "ambição" é atingir os 800.000 que até é um número muito mais redondo. E o que ele gosta de números redondos! Por exemplo: 10 ministros, 25 secretários de Estado, 50% do subsídio de Natal e por aí afora...

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Falsos ingénuos apelando à coesão nacional

A direita, com destaque para o PSD, contando demasiadas vezes com a colaboração da "esquerda da esquerda" (leia-se PCP e BE) e sempre com a indiferença, senão com a inspiração ou a cumplicidade de Cavaco Silva,  levou anos e anos a flagelar o PS e os seus Governos,  não recuando perante nenhum meio, por mais ilegítimo que fosse. De tudo se serviu para alcançar o poder, desde a mentira mais descarada, passando pela difamação, pela calúnia, e inclusive pela instrumentalização dos órgãos de soberania (Assembleia da República e tribunais).
Durante anos, a direita, ora no poder, com a colaboração da generalidade dos media, encheu-nos os ouvidos com a afirmação de que um só homem era responsável por todos os males do país. Descobrem agora, estes falsos ingénuos, que "Há 4 anos, começou nos EUA a crise financeira que ainda hoje nos atormenta"; que "a crise das dívidas soberanas não tem, apenas, uma dimensão nacional. Tem também uma dimensão europeia" e constata, finalmente que estamos numa  "Europa sem alma, sem estratégia, sem política e, sobretudo, sem líderes à altura do desafio que têm pela frente" (Marques Mendes).
O desafio até 5 de Junho era só nosso e, repito, culpa dum só homem. O desafio, com o PSD no Governo, passou a ser também europeu e a ter uma tal dimensão (com o fogo a alastrar) que não cessam os apelos à "coesão nacional".
Apesar de Passos Coelho ter fracas credenciais nessa matéria (na oposição deu mesmo provas de não conhecer tal conceito) o PS, pela voz da sua líder parlamentar interina e dos actuais candidatos à sua liderança, mostra-se sensível a tal apelo, demonstrando um sentido de responsabilidade e um patriotismo que de todo faltou à direita, quando na oposição. A invocação da "coesão nacional" não pode, no entanto, servir para a direita destruir, quando e como muito bem entender, o Serviço Nacional de Saúde e a Escola Pública, como é intenção do actual Governo contando, aliás, com a inequívoca e pública conivência de Cavaco Silva.
Espero bem que não.

Um rico legado!

"As importações de produtos somaram 24,8 mil milhões de euros nos primeiros cinco meses do ano, crescendo 10,2 por cento, enquanto as exportações subiram 18 por cento, para 17,3 mil milhões." 
A taxa de cobertura das importações pelas exportações atingiu 69,2%, o que constitui uma melhoria de 3,4% face ao período homólogo anterior.

Desafiando a lógica

Depois da golpada e com a chegada de Passos Coelho ao "pote", é um gosto ver o Prof. Marcelo a fazer   exercícios destituídos de qualquer lógica. Diz ele, trocando, porventura, a causa pelo efeito, a propósito da classificação da dívida pública portuguesa como "lixo", decretada pela Moody's, que  "Portugal foi utilizado para chegar à Grécia". Mas o desconcerto do Prof. Marcelo não se fica por aqui: o Presidente, coitado, anda a fazer figuras tristes, desdizendo o que sempre disse, antes da golpada, mas a culpa é dos partidos que deveriam ter tido uma reacção mais dura. Assim agindo, obrigaram Cavaco Silva a reagir. "Teriam poupado ao Presidente da República ter de o fazer".
Parece que não é só o Presidente quem anda a trocar os pés pelas mãos. O Prof. Marcelo, pelos vistos, também já não sabe  lá muito bem onde é que tem a cabeça.

Abriu mais cedo...


... a época da caça. Não, não é a caça ao coelho. É a caça aos boys: "Passos Coelho prometeu, durante a campanha eleitoral, não levar os boys do PSD para o governo, mas, aparentemente, o primeiro-ministro também não está disponível para manter os boys de Sócrates no poder. Num dos primeiros Conselhos de Ministros deste executivo, foram dadas indicações precisas para que todos os ministérios fizessem o levantamento de todas as nomeações socialistas, desde o início do primeiro governo de José Sócrates (2005). A radiografia completa engloba toda a orgânica do executivo: ministérios, secretarias de Estado, direcções--gerais e regionais, institutos, gabinetes e departamentos. Quem, onde trabalha, o que faz e se é útil nas funções que desempenha. São estas as questões às quais os ministérios vão ter de dar respostas sobre todas as nomeações desde 2005 e, preferencialmente, até ao final desta semana."

(Reeditada)
(Imagem daqui)

domingo, 10 de julho de 2011

Prazo de validade: dois meses

"(...) Infelizmente, o governo que se indigna com a Moody's é o mesmo que parece disposto a dar-lhe razão. Não apenas ao carregar nos impostos como todos os governos anteriores - o subsídio de Natal, o IVA, o IMI, os automóveis, etc. Mas ao chutar para a estratosfera as medidas difíceis que aliviariam o assalto aos contribuintes. A privatização da RTP é apenas um caso (adiado). A redução do número de autarquias é outro caso (adiado). Quando atinge pedra dura, o governo pára de cavar. Até quando ? Dois meses, não mais (...)
(João Pereira Coutinho, in CM, de hoje)

A coisa está preta, senhor Passos Coelho: até os mais fiéis começam a mostrar descrença. Dois meses, senhor Passos Coelho, é o prazo que a "sua" direita lhe dá para mostrar o que vale. Não mais.

sábado, 9 de julho de 2011

Apresento-vos ...

Ficheiro:Cavaco Silva 2007.jpg
...o Presidente do Conselho de Ministros.*
(* Tradução livre deste "post" da Sofia Loureiro dos Santos)
(Imagem daqui)

Um tanto "baralhado", para não dizer "à rasca"


'Confrontado pelos jornalistas sobre uma declaração sua de 2010, em que dizia não valer a pena “recriminar as agências de rating”, Cavaco respondeu: “Àqueles que sofrem de ignorância na análise, eu apenas posso recomendar um pouco mais de estudo”.' (in Público on line)
(Imagem retirada do Da Literatura do Eduardo Pitta, aqui).

Divertido, curioso, inquietante...

"Confesso que me diverti a ver tanta gente a clamar contra as agências de rating. Sobretudo tanta gente que achou desculpável a bizarra incompetência das três manas (Moody's, Standard & Poor's e Fitch) na crise de 2008.  [...] Não tomei nota de todos os que agora estão dispostos a pegar em armas prontos a marchar sobre Washington. Mas a esmagadora maioria não se indignou quando, em abril, a Fitch cortou o rating de Portugal em cinco níveis em apenas uma semana."
(Ricardo Costa; in "Expresso", edição impressa de hoje)

"É curioso - e seria cómico se não estivéssemos a entrar no buraco a que ninguém sabe como fugir - o coro de protestos contra as agências de rating por parte de quantos, ainda há pouco, se mostravam complacentes com elas. Desde o Presidente da República a Manuela Ferreira Leite, passando por outros agentes políticos, incluindo os que estão agora no poder, desde banqueiros a especialistas de vários matizes, todos se atiraram à Moody's, como se o cerco das agências tivesse começado nesta quarta-feira".
(Fernando Madrinha; idem, ibidem)

"[...] Mas foi inquietante ver aqueles que se indignavam quando o engenheiro Sócrates rugia contra a especulação internacional - prontos para lhe copiar os piores tiques à primeira oportunidade. Aparentemente, houve quem se tivesse convencido de que a crise era o engenheiro Sócrates e que removido este e declaradas duas ou três boas intenções, não seriam precisos esforços nem resultados para  tudo passar a correr muito bem."
(Rui Ramos; id.; ibid.)

De facto, é divertido, curioso e, ao mesmo tempo, inquietante ver estes jornalistas e comentadores a criticar aqueles cujas fantasias (o culpado era Sócrates) opiniões e opções partilhavam. O que é que esta gente escrevia antes do 5 de Junho?

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Poleiro, sim, tacho, não

O rejeitado candidato à presidência da República tem toda a razão. O Nobre, Fernando só queria "poleiro". Tacho já tinha. E tem.

Até me vêm as lágrimas aos olhos

E porque não "mea culpa"?


A 23 de Março de 2011 (data representada no gráfico pelo traço vertical) a direita (PSD e CDS) contando com a prestimosa colaboração do PCP e do Bloco de Esquerda votou contra o PEC 4, levando à queda do Governo liderado por José Sócrates. Desde aquela data, é ver os juros da dívida pública a subir (upa! upa!).
Não foram todos avisados, na devida altura, das consequências? O resultado está à vista. Por que razão se indignam agora com a classificação da Moody's ?
Não foi isto o que andaram a pedir? E que tal fazer "mea culpa"?
(Gráfico tirado daqui)

A Doutrina do Choque

É longo, mas vale a pena ver, ouvir e ler. Os Chicago Boys também já cá chegaram.
(Vídeo copiado daqui, com os devidos agradecimentos à MDSOL)

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Boas perguntas

Folgo em verificar que no meio da indignação, um tanto tardia, vindo donde vem, contra as agências de rating, provocada pela decisão da Moody's em classificar a dívida portuguesa com "lixo", surge alguém, como Vítor Bento, com a serenidade suficiente para pôr água na fervura:
"Se se acha que as decisões das agências são inconvenientes e dificultam, desnecessária e desmesuradamente, os processos políticos (e financeiros) de ajustamento, porque é que as autoridades lhes dão a importância que dão e lhes permitem condicionar as suas próprias políticas. Mais concretamente, porque é que o BCE condiciona a sua política de financiamento à avaliação das agências de ‘rating', em vez de usar a sua própria avaliação e/ou a das demais autoridades de supervisão? Porque é que, para o BCE, o ‘rating' da dívida dos países membros do euro tem mais valor do que o juízo dos órgãos comunitários? Porque é que, para o Sistema Europeu de Bancos Centrais, o juízo das agências de ‘rating' é mais importante do que o dos supervisores financeiros, a maioria dos quais integra directamente aquele Sistema?"
Boas perguntas.
Aparentemente, o BCE, já está a actuar em conformidade, ao decidir "suspender a aplicação do requisito mínimo para crédito em relação a obrigações garantidas pelo governo português".


Valha-nos Zeus, que dos nossos "indignados" recentes, incluindo Cavaco, Passos, Portas, Miras Amarais e outros que tais, perante o seu desnorte, face ao "murro no estômago" (Passos dixit), pouco/nada há a esperar.