terça-feira, 22 de dezembro de 2015

"Incompetência, irresponsabilidade e dolo"

O editorialista do "Público" não se contenta com menos: "O estouro do Banif é um exemplar manifesto de incompetência, irresponsabilidade e dolo." 

De facto até vai mais longe, zurzindo em Passos Coelho, Maria Luís Albuquerque e Carlos Costa, como quem malha em cereal na debulha: "Nestes três anos, Maria Luis Albuquerque, Pedro Passos Coelho e o Governador do Banco de Portugal limitaram-se (...) a tergiversar, a prometer soluções que ora não avançavam por causa da saída limpa, ora ficavam congeladas por causa do calendário eleitoral."

Eu não posso estar mais de acordo com estas conclusões, pois se impõem em face do que se ficou a saber sobre o caso Banif. O que me pergunto é onde é que o editorialista do Público descortinou uma suposta "aura de Pedro Passos Coelho como político responsável", aura que para ele só agora se apagou, mas que eu nunca vi. O que ao longo de mais de quatro anos me foi dado ver foi toda uma propaganda alicerçada em mentiras, sancionada e ampliada pela grande maioria dos órgãos de comunicação social. "Público" incluído. 

Será que agora, finalmente, com a direita afastada do poder, a comunicação social vai passar a encarar com objectividade a política de destruição do país que o governo Passos/Portas levou a cabo?
Estou para ver.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

"A política tem de começar a ser diferente da vigarice"

Oh sim, faço minhas as palavras do José Vítor Malheiros!
«(...)
Como se classifica um acto, praticado conscientemente, premeditadamente, por um grupo organizado de pessoas conhecedoras e com acesso a toda a informação, que se traduz na perda de milhares de milhões de euros para o Estado — no desaparecimento de milhares de milhões de euros dos nossos bolsos (para não falar nos prováveis despedimentos)? Como se classifica a propagação sistemática de mentiras sobre o nosso património por parte daqueles que foram encarregados de o gerir com o máximo de prudência, de transparência, de sensatez e no mais rigoroso respeito da legalidade? Como se classifica o recurso a mentiras e a esquivas sistemáticas para obter um benefício político imerecido? Como se classifica uma negligência reincidente desta dimensão por parte de uma (duas? três?) das principais entidades reguladoras nacionais?
(...)
É por isso que a primeira prioridade do Governo de António Costa e da esquerda que o apoia no Parlamento tem de ser devolver a credibilidade à acção política (apesar da herança do consulado do PSD e do CDS), devolver a credibilidade à acção governativa (apesar da herança do governo de Passos Coelho), devolver a credibilidade ao sistema financeiro (apesar do BPN, do BPP, do BCP, do BES, do Banif, do Montepio e do que mais adiante se verá) e devolver a credibilidade ao regime de regulação (apesar da inacção do Banco de Portugal e da CMVM), o que significará necessariamente reformar de forma profunda os procedimentos dos reguladores.

É preciso que o Governo actual e a esquerda que o apoia faça diferente e que mostre como é possível, necessário e benéfico fazer diferente. É por isso que a melhor notícia que tive nos últimos dias foi ouvir António Costa dizer que a solução encontrada para o Banif iria ter um "custo muito elevado para os contribuintes". Porquê? Porque, depois de quatro anos de falsidades e propaganda, cheguei a um ponto onde o que quero ouvir da boca do Governo não são boas notícias, mas apenas a verdade. Se pudermos ter um Governo que fala verdade, essa será a melhor notícia possível.
(Na íntegra: aqui
Destaque meu)

A mentira como banalidade

A mentira, durante a (des)governação Passos Coelho/Portas que contou sempre com o beneplácito e a cumplicidade de Cavaco, tornou-se uma banalidade. Ainda que não exactamente por estas palavras, foi este o sentido das declarações proferidas, há pouco, por Arménio Carlos, líder da CGTP, afirmação que ganha nova confirmação e mais elevada consistência se atentarmos no que foi a evolução, durante aquele período, do caso Banif.
A falta de seriedade das autoridades responsáveis pela solução do problema. durante o governo , felizmente, cessante  (o próprio Governo e o Banco de Portugal) fica bem clara perante estas notícias:
Só aldrabões ou também biltres?

sábado, 19 de dezembro de 2015

O candidato do "sim, mas também"

O candidato à Presidência da República, Marcelo Rebelo de Sousa (em quem em nenhuma circunstância votarei) retratado, como merece, na genial rábula dos "Gato Fedorento".

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Conta-me histórias, Pedro...

...para ver se eu acredito:
"O PPE reagiu com moderação [à mudança de Governo em Portugal]  como, de resto, eu solicitei que fizessem"
Ah! Ah! Ah!
(Imagem e citação: daqui)

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Pobreza: palavras para quê?

Sim, para quê as palavras, se os gráficos do INE (surripiados aqui)  são perfeitamente esclarecedores sobre o aumento dos níveis de pobreza, como consequência das políticas ditas de "ajustamento" levadas a cabo pelo governo Passos/Portas, com a cumplicidade e conivência de Cavaco?
(Clicando na imagem, amplia)

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Palácio de Belém: de mausoléu a pátio de recreio?


Que toda a gente esteja cansada de ver o Palácio de Belém transformado em mausoléu, compreende-se. Já é, quanto a mim, motivo de grande admiração ver que há uma multidão de interessados em transformá-lo num pátio de recreio.
Garotão inteligente ele é! O meu voto não terá, não menos certo é!

Até no clima, senhores!

Progredir é um verbo que a Direita no poder não soube conjugar. ao longo de mais quatro anos, ou seja, durante todo o tempo da última legislatura. O país regrediu em todos os aspectos. Até no âmbito do clima, imagine-se. Pelo menos é o que dizem as notícias: "Portugal caiu dez posições num ranking climático internacional realizado por organizações ambientalistas. O país estava na nona posição e agora está na 19.ª, entre 58 países incluídos no Índice de Desempenho em Alterações Climáticas, da organização German Watch e da Rede Europeia de Acção Climática, apresentado esta terça-feira na cimeira do clima em Paris. O país foi penalizado pelo uso da carvão na produção eléctrica, pelo travão nas renováveis, pelos incêndios florestais e pelas suas políticas internacionais."
Quando até o clima agradece, como não ficar feliz com o facto de a dupla Passos/Portas, ter sido posta a andar! 
(notícia e imagem do Público)

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

"A nossa memória é curta, mas nem tanto"

«(...)
Marco António Costa, vice-presidente do PSD, assumiu ontem que é tempo de ser oposição, fiscalizando a "defesa do interesse nacional". Esta declaração seria responsável e séria, se não estivesse armadilhada no que a antecedeu e no que lhe sucedeu. Em ambos os casos, pelo meio das habituais expressões de que o poder foi tomado "de assalto", Marco António Costa referiu-se a contas.

Lembrou os cofres cheios e a dotação previsional de 62 milhões disponíveis para fazer face a imprevistos em dezembro (a tal almofada que não está tão macia como os recheados cofres). E voltou a garantir que os três por cento de défice serão atingidos "sem grande dificuldade", desde que António Costa e restante equipa "não estraguem", em 29 dias, o que PSD e CDS tão esforçadamente conseguiram em "1610 dias de trabalho".

O programa do PS foi aprovado no Parlamento há cinco dias, a 2 de dezembro. O país está a ser conduzido com base no Orçamento deixado pela coligação e começará 2016 a ser gerido em duodécimos. Por muito que o PS e a Esquerda sejam gastadores e responsáveis por nos deixar a troika à perna, é preciso ter esta cantiga entranhada no ouvido para acreditar que, se falharmos a meta do défice, a culpa só poderá ser destes terríveis assaltantes ilegítimos do poder.

Mas como a lógica não basta, olhemos então para as contas divulgadas, a fechar a semana, pela Unidade Técnica de Apoio Orçamental. Nos primeiros nove meses do ano, o Estado terá tido um défice de 3,7%, o que torna "exigente e de difícil concretização" a meta estipulada por Passos Coelho para o ano - exatamente um ponto abaixo. Mas se há derrapagem nas metas, esqueça-se quem esteve no poder 336 dias. A culpa será sempre dos últimos 29. Estranha matemática.
(...)»
(Inês Cardoso:"Memória curta". Na íntegra: aqui)

Trabalhos de campo # 21 (Rola-do-mar)




Rola-do-mar ou Vira-pedras (Arenaria interpres L.)
Mais informação: aqui
Local e data: Setúbal; 5 - Dezembro - 2015
(Clicando ns imagens, amplia)

domingo, 6 de dezembro de 2015

Vão por bom caminho...

Duvidam? Ora vejam, o que diz o vosso amigo Pedro Marques Lopes:
«(...) Seja como for, não se percebe onde se quer chegar com a conversa de mau perdedor.
(...)
O que o discurso da ilegitimidade não dará ao PSD e ao CDS é qualquer legitimidade acrescida ou qualquer tipo de razão especial se este governo cair por falta de solidez dos apoios que hoje aparenta ter. Se o governo não conseguir manter-se em funções será porque os representantes do povo assim o decidiram, como decidiram agora viabilizá-lo. Só e apenas.
Esta espécie de estratégia de rapazinho a quem tiraram a bola não pode durar muito, claro está. Um partido como o PSD terá de ter uma oposição que mostre um caminho alternativo, mas ficará esta mancha dum tempo em que se mostrou não se saber lidar bem com as regras da democracia representativa, em que o partido não honrou o seu passado e deixou uma memória que pode sair-lhe cara no futuro.» (fonte)

sábado, 5 de dezembro de 2015

Por favor, continuem...

Portugal agradece.
Sim, o que é que o país pode esperar duma coligação cujos membros mais não fazem do que expressar azedume e raiva porque, julgando "ter ganho as eleições", julgavam-se também no direito de continuar a (des)governar o país, esquecendo-se que na Assembleia da República existe hoje uma maioria que decidiu, e bem, não permitir que levassem por diante a destruição do país, tarefa a que se dedicaram, com afinco e entusiasmo, durante mais de quatro anos.
Continuem, pois, a entreter-se a gritar, a insultar e a chorar baba e ranho. Eu estou a gostar de vos ver. 
E, confesso, já foi um prazer ver-vos ir ao ar!



O que é que mudou?

«(...)
Os governos, sejam conservadores, sejam socialistas, sejam o que forem, estão condenados a seguir a mesma política económica e social, e é essa política que define o “arco da governação”, o clube de partidos em que o voto dos eleitores serve para governar. O resto é um voto de segunda, tribunício e ineficaz, quase lúdico. Durante quatro anos em Portugal, só um punhado de pessoas que se contavam pelos dedos de uma mão é que resistiu a esta “inevitabilidade”, e mesmo os revoltados com a situação ficavam deprimidos com a falta de saídas previsíveis.

Pois tenho novidades para vos dar, surpresa!, de repente, saímos e saímos com uma genuína ruptura. Voltemos à história. O que hoje se passa em Portugal mostra como a história é sempre surpresa e é por isso que é inovadora, para o bem ou para o mal. A maioria dessas surpresas é má, algumas muito más. Existe uma maldição, que passa por ser chinesa, embora tenha sido escrita por um inglês, e que diz: “Que vivas em tempos interessantes.” Vivemos hoje em Portugal esses ”tempos interessantes”, com todos os riscos inerentes. A quantidade de coisas que mudou nas últimas semanas criou esse carácter poiético da história, criador e carismático, o que também significa que a sua novidade traz ao mesmo tempo esperança e insegurança. Insisto: nada garante que o que se está a passar é, como dizem as pessoas, “para melhor”, mas apenas que é diferente. E essa diferença exactamente por ser genuína não pode ser prevista, e as suas consequências e “normalização” também não. Mas uma coisa é certa: exactamente porque é uma genuína alteração, uma mudança, as pontes com o passado foram cortadas e o caminho para trás é impossível. Isso não significa que as forças do passado não estejam cá connosco, ainda assarapantadas com o que aconteceu, mas não menos vivas e perigosas. “Que vivas tempos interessantes.”

O que é que já mudou? Nos últimos meses, formou-se uma aliança, minimalista, débil, mas proactiva e aguerrida (o primeiro acto da coligação foi derrubar um governo) entre três partidos da esquerda, incluindo partidos desavindos há quarenta anos como o PS e o PCP. Por muitos sinais que houvesse, e nem sequer havia muitos, tal não era previsível que acontecesse. O facto de acontecer teve que ver com a existência de condições para que acontecesse, a perda de maioria absoluta em eleições de uma coligação que governava Portugal, mas tal já se tinha dado no passado sem estas consequências. É a aliança PS-PCP-BE que é nova e o novo ambiente que traz à vida política à esquerda e o efeito de acantonamento que traz à direita.

Essa aliança faz-se em volta de um governo de centro-esquerda que permanece no mainstream da vida política nacional e europeia, e que é tudo menos radical. Dizer que é uma “frente popular” só pode ser dito por ignorância, mas, para não variar, a ignorância floresce nestes epítetos. O Governo minoritário do PS assenta numa aceitação, com muita má vontade, diga-se, dos constrangimentos do Tratado Orçamental e num gradualismo que encontrou na voz do PCP, no debate da moção de rejeição, a sua melhor expressão, também ela contra-intuitiva, mas mais razoável inclusive do que no BE — Jerónimo de Sousa a dizer: “O nosso povo sabe que não pode tudo ser feito ao mesmo tempo.”

Ao mesmo tempo, uma direita cada vez mais à direita, que vinha de um razoável resultado eleitoral, se se tiver em conta as circunstâncias adversas, muito agressiva na comunicação social, detendo cumplicidades extensas com sectores económicos e os novos think tanks de direita nas universidades e fundações, e que governou como quis e lhe apeteceu nos últimos quatro anos, viu-se subitamente colocada em minoria e bloqueada de um acesso ao poder que entendia ter por direito próprio. Essa minoria da direita estava inscrita nos resultados eleitorais, mas a direita nunca pensou que a maioria adversa fosse materializada num entendimento político.
(...)»
(José Pacheco Pereira: A história é sempre surpresa. Na íntegra: aqui.)

Trabalhos de campo # 20 (Maçarico-das-rochas)




Maçarico-das-rochas (Actitis hypoleucos L.)
Mais informação: aqui)
Local e data: Parque da Paz - Almada; 4 - Dezembro - 2015
(Clicando nas imagens, amplia)

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

"O tabu da oposição"

«Primeiro-ministro, a palavra, é o tabu da oposição. Um deputado do PSD que passe por um governante e diga "o amigo é o primeiro ministro que vejo hoje nos corredores", sublinharia logo: "Primeiro ministro sem hífen, atenção!" À direita, a palavra "primeiro-ministro" está tão banida como "bomba" em aeroporto americano. Esta semana, na discussão do programa do Governo, Passos Coelho disse: "Este Governo, assim como o seu chefe..." Kaput ao inominável cargo! Como Portas é só líder secundário da oposição, já pode ser menos radical: "Senhor primeiro-ministro, vírgula, mas senhor primeiro-ministro que o povo não escolheu." E Telmo Correia, ainda mais secundário, também pode dizer o palavrão, já que lhe acrescenta a irrisão: "Primeiro-ministro não eleito." Primeiro-ministro sozinho é que não, é pecado capital, quem o disser denuncia-se como assinante do Avante. Entre a gente bem, dizer "primeiro-ministro" é como dar dois beijinhos na face, sei lá... Um anátema não se explica, diz-se pela boca fora. Telmo Correia - tão contra primeiros-ministros que não são eleitos como tal! -, quando foi ministro (do Turismo), foi com Santana Lopes que, substituindo Durão, saiu da Câmara de Lisboa para ocupar o cargo de primei..., perdão, coiso. E que dizer da semana passada, quando Cavaco empossou o Governo? Vocês julgam ter visto Passos cumprimentar o novo primeiro-ministro, mas não. Dizia-lhe: "Que faz aqui no bairro, António, veio aos pastéis?

"Acerca da ética do ódio e da credibilidade do jornalismo a sério"

«(...)
Diana Andringa, jornalista veterana, publicou há semanas Funcionários da Verdade, que nos ajuda a perceber alguns dos mais banais (...) riscos na vida dos jornalistas. O livro, que é uma tese de doutoramento e que apresenta uma investigação cuidada sobre a selecção das prioridades noticiosas, o alinhamento dos telejornais, a escolha dos temas noticiáveis e dos temas não-noticiáveis, usa alguns casos fortes para retratar a vida na TV portuguesa: o caso Subtil (um homem que se barricou numa casa de banho da entrada da RTP), a cobertura da campanha do referendo sobre o aborto e o caso do “arrastão” de Carcavelos. Em todos eles, houve enviesamento, escolhas duvidosas, populismo mediático, preconceitos, a lei do mercado das audiências a determinar erros de informação e até notícias falsas.

(...)

No entanto, nada nos prepararia para a ética do ódio, como a que surgiu vibrante no caso Sócrates. Ora, foi neste processo e foi entre jornalistas, como Manuel Carvalho sublinhou, que se exprimiu o mais desbragado ajuste de contas.

Francisco Gonçalves, “editor do Mundo” no Correio da Manhã, destacada função, escreve que José Sócrates não “parece merecer melhor destino do que a prisão”, até porque “se há alguma coisa a lamentar no seu caso é que a detenção tenha chegado tão tarde”.

No PÚBLICO, João Miguel Tavares clamou pelo seu direito pessoal “de presumir, face ao que leio nos jornais, às minhas deduções, às minhas convicções, à minha experiência, à minha memória e ao esgotamento de sete presunções de inocência, que Sócrates é culpado daquilo de que o acusam”. Ou seja, pelas “minhas deduções” e pela “minha experiência” em coisas como a compra da TVI pela PT, “presumo” que Sócrates recebeu não sei quantos milhões de euros sei lá de quem e que comprou uma casa milionária no Seizième.

Com o mesmo acinte, José Manuel Fernandes argumenta superiormente, noObservador, que “a a dúvida que havia sobre José Sócrates era sobre se seria algum dia apanhado”.

Ou seja, todos eles sabem que o homem é culpado e lamentam que a detenção seja tardia. Têm motivos de sobra para ter a certeza que ainda falta ao tribunal: João Miguel Tavares foi levado a tribunal por Sócrates, num processo patético por difamação, logo sabe que um sujeito tão arreliante só pode ser culpado; José Manuel Fernandes sabe, simplesmente porque sabe tudo; e o homem do Correio da Manhã sabe porque decerto leu as manchetes do seu jornal.

Ora, quando os jornalistas escrevem opinião – dizendo o que entendem sobre o que entendem – estão a arriscar-se a subordinar o seu dever de informação, bem como o peso social gerado pela visibilidade da função de informar, ao seu direito de ajustarem contas, de tomarem partido, até de suspeitarem. É porque são jornalistas com coluna publicada ou com editorial que a sua opinião conta, ou seja, importam porque se presume que farão o trabalho de jornalistas, mesmo quando o estão a contrariar, substituindo informação por uma campanha. Naturalmente, quando se dedicam a fazê-lo sob a forma sublime da conversa de café, o uso do poder discricionário da sua opinião sentenciosa é mais flagrante.

Este é o caso dos acórdãos de Tavares, Fernandes e Gonçalves sobre o processo em apreço. De facto, eles não sabem nada: não sabem o suficiente sobre os factos, porque ninguém o sabe entre o público, e mostram saber pouco sobre a lei, que tinham obrigação de conhecer. E, se apresentam conclusões, simplesmente porque consideram que o seu próprio ódio pessoal é suficiente para condenar outrem, estão não só a desmerecer a profissão de jornalista, porque abusam do seu poder, como estão a escrever torto por linhas pouco direitas.

O que se esperaria de um jornalista seria o tratamento da informação com os dados disponíveis, sem aceitar ser porta-voz de alguém que na acusação (ou, noutros casos, na acusação ou na defesa) use a comunicação social para ganhar tempo e convicção para a investigação que ainda não terá obtido resultados bastantes. E esperar-se-ia igualmente que tratasse todos os casos da justiça com o mesmo critério: seja Ricardo Salgado, seja José Sócrates, seja quem for tem o direito a essa resistente regra social, que abrange do mesmo modo as obrigações da informação e da opinião pública, que é o direito de defesa.

Se esse direito for enfraquecido, teremos o pior de todos os resultados: a corrupção será facilitada, pois a justiça claudicará, acusará erraticamente e condenará quando calha, porque lhe faltará investigação que conduza a acusações consistentes sobre factos, preferindo então usar a facilidade da coluna de jornal e substituindo as provas pelo imediatismo da sentença lavrada em ódios de estimação. Era melhor levar a sério o perigo da corrupção, que é monumental em Portugal: a transparência da vida social, a informação rigorosa e a lei equitativa podem combatê-la, mas o jornalismo serviçal de uma ideia, de uma pessoa ou de um ódio é manifestamente irrrelevante ou prejudicial contra a justiça justa.»

(Francisco Louçã. Na íntegra: aqui)

Uma almofada de ar e vento

Visto isto (Margem orçamental praticamente esgotada), a famosa "almofada" ficou reduzida a ar e vento.
Nada que não fosse expectável, tendo em conta que o governo Passos/Portas era um governo de farsantes. E de aldrabões, claro está.


A retórica e a realidade

Quem olha hoje para a Assembleia da República não pode deixar de reparar nas muitas mudanças operadas em poucos dias. Desde logo, a nova centralidade que o Parlamento assumiu na ausência de um governo de maioria absoluta. António Costa tem apoios parlamentares que faltaram a Passos Coelho, mas não se pode dizer que disponha de maioria absoluta. E isso faz toda a diferença.

A diferença de ser o primeiro governo socialista apoiado à sua esquerda. A diferença de ser o primeiro governo da responsabilidade do segundo partido saído das eleições. A diferença de, em três semanas, quem liderava a oposição ter passado a liderar o governo, e vice-versa. Tudo normal, democrático, constitucional e politicamente legítimo. Descontada a retórica e o discurso de conveniência, a realidade política é esta.
(António José Teixeira; "Isto anda tudo trocado". Na íntegra: aqui. Destaque meu.)

Trabalhos de campo # 19 (Pilrito-das-praias (Calidris alba)


 Pilrito-das-praias (Calidris alba Pallas)
(Local e data: Estuário do Tejo - Almada; 3 - Dezembro - 2015)
(Clicando nas imagens, amplia)

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Finalmente dispensado!

O ministro Vieira da Silva dirigindo-se a Paulo Portas durante o debate do Programa do XXI Governo Constitucional:"O povo disse que o seu  contributo para o Governo de Portugal era dispensável, está dispensado".

Gente (muito) burra!

Com a eleição do actual presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues; a rejeição do programa da 2ª versão do governo Passos/Portas; e com a derrota da moção de rejeição com que o PSD/PPD e o CDS/PP quiseram inviabilizar a entrada em funções do XXI Governo Constitucional, contam-se já por três as vezes que a direita teve a oportunidade de aprender a contar e de ficar a saber que 107, número de deputados que os dois partidos da direita têm na Assembleia da República, é um número inferior a 122, número de deputados dos partidos que se comprometeram com a viabilização de um Governo do PS.
A conclusão parece impor-se, atendendo à forma como os deputados de direita, a começar pelos seus líderes, Passos Coelho e Paulo Portas (na imagem), continuam a lamuriar-se por terem sido despedidos do governo pelo Parlamento, clamando ao mesmo tempo que é "ilegítimo" o Governo que hoje mesmo viu o seu Programa ser viabilizado pela Assembleia da República.
É verdade que, com esta conclusão, estou a chamar burra, muito burra mesmo, à representação parlamentar de direita e aos seus líderes, muito em particular, mas não é menos verdade que, procedendo desta forma, estou a levar a extremos a minha benevolência. De facto, se afastar aquela conclusão, teria de presumir que a direita parlamentar se dá muito mal com a democracia, a pontos de nem sequer conhecer as suas regras.
E de tal presunção, zeus me livre e guarde. 
(imagem do DN)

Para grande desgosto dos marretas

"Os juros das Obrigações do Tesouro a 10 anos abriram esta quarta-feira a cair para 2,26%, mantendo a trajetória de descida para mínimos de sete meses em dia de início do debate do programa do novo governo" (fonte)

Frases marcantes do debate sobre o Programa do XXI Governo Constitucional


«O anterior Governo disse aos jovens: "Vão-se embora porque não tem futuro em Portugal". Nós dizemos, voltem porque sem vocês Portugal não tem futuro.» (António Costa, primeiro-ministro)

«Apresentem pois a moção de rejeição, nós cá estaremos para a chumbar.» (Catarina Martins, porta-voz e deputada do Bloco de Esquerda)

«A precariedade já não é só do trabalho, mas da própria vida, todos os dramas que atingem milhões de portugueses, continuam a ser desprezados por PSD e CDS, que preferem alimentar uma estéril guerrilha política.» (Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP)

«A expressão "saída limpa" foi um resultado pequeno para uma propaganda enorme. Não vendemos ilusões, nem apresentamos quimeras, porque medimos económica e financeiramente todas as propostas que fazemos.» (Mário Centeno, ministro das Finanças)

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Cavaco: um caso perdido

Não é novidade para ninguém que Cavaco só indigitou António Costa para primeiro-ministro e só empossou o XXI Governo Constitucional, porque, nos termos da Constituição da República, não tinha outra alternativa,
Se alguém tinha dúvidas a respeito, Cavaco encarregou-se de as desfazer, não apenas através de dois discursos que nenhum democrata digno desse nome proferiria e impensáveis na boca de um Presidente da República empossado nos termos da vigente Constituição da República que atribui a quem desempenha tais funções o papel de árbitro, por definição, imparcial e, como tal, encarregado de garantir o regular funcionamento das instituições da República. Reporto-me aos discursos proferidos por Cavaco, um no momento da indigitação de Passos Coelho e outro aquando da tomada de posse do XX governo constitucional liderado pelo mesmo Passos Coelho, governo que, como se sabe, acabaria por ser demitido na sequência da rejeição do seu programa pela Assembleia da República. Em tais discursos, Cavaco não se inibiu de mostrar a sua forte oposição a uma solução governativa da responsabilidade do PS que pudesse vir a contar com o apoio parlamentar dos partidos à sua esquerda (PCP, Bloco de Esquerda e PEV) partidos em relação aos quais Cavaco teve palavras de puro ódio, inimagináveis mesmo para quem já o considerava, desde há muito, como um presidente de facção.
Se, apesar das evidências resultantes dos discursos, alguém ainda alimentava dúvidas sobre a falta de isenção de Cavaco no exercício das suas funções com presidente da República, o próprio tomou sobre si o encargo de as remover. De facto, Cavaco, após o derrube do XX governo constitucional, protelou, com grave prejuízo para o país, a indigitação de António Costa como primeiro-ministro do XXI Governo Constitucional, muito para lá do que seria expectável, a pretexto duma escusada e improfícua deslocação à Madeira e da pretensa necessidade de ouvir algumas individualidades, muitas delas com representatividade mais que duvidosa, e outras que não se representam senão a elas próprias. Protelamento que, de tão absurdo e prejudicial para a vida do país, só pode ser explicado pelo próprio Cavaco. Na falta de dados objectivos teremos de nos ficar pela conjectura e perguntar: será que Cavaco alimentou a secreta esperança de, com o decorrer tempo que ele propositadamente alongou,  ver desabar a solução governativa acordada entre os vários partidos da esquerda com assento no hemiciclo de S. Bento? 
Certo, certo é que a solução alternativa não desabou e certo é ainda que Cavaco desperdiçou uma última oportunidade de ouro para, de algum modo, refazer a imagem com que vai passar à história, imagem que, nesta altura, é a de um presidente da República desprestigiado que a grande maioria do povo português anseia por ver partir, As sondagens sucessivamente publicadas não deixam margem par dúvidas sobre esse ponto.
Quando falo em oportunidade desperdiçada refiro-me à cerimónia de posse do XXI Governo Constitucional. Cavaco é considerado como um institucionalista. Não sei se o qualificativo lhe assenta bem ou não. O que sei é que, mesmo num acto revestido da solenidade e da importância institucional duma posse de Governo, Cavaco foi incapaz de disfarçar a acrimónia com que tratou o primeiro-ministro e o Governo a que, forçado embora pelas normas constitucionais, deu posse. O discurso então proferido, repleto de ameaças veladas, mas, felizmente, inconsequentes, porque não conseguirá concretizá-las, e o facies crispado do empossante durante toda a longa cerimónia não deixam dúvidas sobre a parcialidade e a manifesta ineptidão de Cavaco para o desempenho do cargo de mais alto magistrado da nação.
Não tendo aproveitado a referida oportunidade,  Cavaco é, hoje, sem dúvida,  um caso perdido, pois já não terá outra para se redimir. E não terá, porque, Cavaco já não tem futuro. Como já alguém disse,"Cavaco Silva já só tem passado"

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Antes de o ser, já o era?

Apesar de lido, custa a acreditar que a falta de honestidade intelectual tenha chegado a tais extremos. Rezam "as crónicas" que a deputada da coligação PàF, e vice-presidente da bancada parlamentar do CDS, Cecília Meireles teve o desplante de atribuir ao PS a responsabilidade pela estagnação da economia portuguesa ontem anunciada pelo INE relativamente ao 3º trimestre deste ano, período, durante o qual, recorde-se, o país continuou a estar sujeito à governação da direita.
Diz a deputada que "o CDS alertou várias vezes para aquilo que infelizmente está agora a acontecer. A situação de instabilidade política que se gerou e que se gerou sobretudo pela actuação do PS tem consequências". 
Instabilidade política quando o país era governado pelos partidos da direita, PSD e CDS? Quem, antes das eleições, se teria lembrado de uma coisa destas? Nem a deputada Cecília Meireles, aposto eu.
Mesmo que para ser deputado/a não seja pedida aos candidatos a comprovação de posse de algum grau de sensatez, não pode deixar de ser exigido a quem se senta nas bancadas do Parlamento um mínimo de seriedade, mínimos que a deputada Meireles, pelos vistos, não tem.

"Uma moçãozinha se faz favor para destroçar a tropa fandanga que ocupou S. Bento"

«Estou indignado com a hesitação da direita acerca da insigne questão que mais se discute nos cafés, em casa e nos intervalos do trabalho e que tem Portugal em suspenso: vão ou não os legítimos apresentar uma moção de rejeição que arrase com o bando de irresponsáveis que ocupou o parlamento? Vão apresentar a folha que não vai deixar pedra sobre pedra, que rebenta tudo num fogo de artifício que ilumine Almada?

Chegou-me aos ouvidos, ou lendo uma gazeta, que havia dúvidas entre os legítimos. Não posso acreditar.

Anda o eurodeputado frenético na televisão, vociferam os cabos partidários, marcham as concelhias a oferecer tropas, houve até uma manifestação de 40 pessoas contra o golpe de Estado e eu sei que não são tantas quanto a indignação que ferve pelo país, mas são só os arautos da vaga fulminante que está para chegar, e há quem se amedronte, quem hesite, quem se pergunte, quem consulte o comité?

Já era de desconfiar pelo ar seráfico com que Passos Coelho se sentou para tirar fotografias para o cartão de deputado, ele, que é primeiro ministro pela graça altíssima. E pelo silêncio divertido de Portas, como se preferisse a farra dos debates, já não há mais viagens, nem feiras internacionais, nem contratos nos Emiratos Árabes Unidos, nem Cazaquitão, nem Venezuela, nem Roma, nem Berlim, nada de nada. Já era de desconfiar pelos abracinhos de Costa a Merkel, a fingida.

Há marosca no ar, notei isso quando os chefes dos legítimos passaram pelo corredor nos Passos Perdidos como se aquilo fosse o seu lugar, e então o destino, os deuses, o cosmos, até os amigos? Cem nomeações nas últimas horas, ora quantas famílias ficaram esquecidas, digam lá? Não, nunca, jamais, cada portaria, cada venda assinada à pressa foi uma confissão de que esperam que se instalem os ilegítimos ou, nem quero pensar, aceitam os golpistas e recomendam-lhes o ministério.

Foram traídos pelo homem de Belém, é certo. Magoou, não se esperava isto mas antes um arroubo de patriotismo e de partido que fechasse as portas, aqui não entra gentalha, não passarão nunca. O homem resmungou e exigiu explicações, logo ele que sabe tudo e raramente se engana, como se pudesse ter dúvidas sobre a tragédia nacional que foi aquela gente alcandorar-se ao poder, mas cedeu, traiu é a palavra certa, deu posse àquela maralha e retirou-se altivamente para o esquecimento.

Mas agora chegou a hora da decisão, da nossa decisão. E peço. Não, exijo, exijo mesmo uma moção, uma carga de cavalaria pelo menos em papel para dispersar a turba, para arrasar esses maltrapilhos, para pôr na ordem a multidão. Uma moção enérgica, uma rejeição firme que permita aos nossos deputados não serem enxovalhados pelos descamisados que lhes vão perguntar pela consequência. Havemos de levantar os olhos e dizer: aqui está a vossa lápide, a moção acaba com os ilegítimos, sacode os fracos, devasta os planos que andaram a negociar com esses suspeitos que nem são os do costume, restitui a economia aos seus donos, confirma o caminho árduo e certo que os nossos chefes traçaram para o país, dá rumo à vida. A moção reconquista o nosso Portugal.

É só isso que devem discutir hoje de manhã na comissão respectiva. Mandar uma bombarda contra S. Bento ou ficar sentados. O CDS, de sangue na guelra, já autorizou a moção defenestradora. O PSD é que hesita, logo ele, o legítimo dos legítimos. Constou-lhes que Costa põe uma vela pela moção, que lhe dá um jeitão, que assim lhe oferecemos tem a sua moção de confiança e que, alegando a moção que ele é ilegítimo, fica-lhe reconfirmada a legitimidade porque é voto maioritário em órgão soberano, ou seja, a moção teria a virtude de antes de o ser já não era. Parco resultado para muito esforço, ajudar o adversário então, dizem estas insinuações maledicentes.

Constou-lhes ainda, no PSD, que a esquerda, nos seus tratos com o PS, prefere um CDS colado ao PSD por pactos de sangue e morte, do que solto a fazer cálculos eleitorais. Parece até que prefere que jurem que vão juntos às putativas eleições, mesmo que elas sejam mais tarde, que isto de esperar pelas colheitas do Verão parece mais coisa de agricultor rotinado do que de político sábio.

Não liguem, companheiros. Senhores e senhoras, às vossas armas e fogo à peça. Ou uma moção, pelo menos. Não podemos passar quase dois meses em aflições para que os legítimos, que são Passos e Portas, saiam agora mansamente de cena como se a sua vez tivesse acabado.

Não se rendam, não se calem, não deixem de mocionar o parlamento, sempre em frente, carga a trote, berros ao alto, mostrem como se atropela o centro, moderados são os cobardes, guerra sem quartel, não há prisioneiros.

Mas se não for porque a afronta exige um banho de rejeição, que seja pelo menos para que Portugal possa saber que a maioria que ficou minoria e que sabe que ganha mesmo quando perde porque está escrito no destino, e quem escreve o destino perguntará você, pois é a minoria que se declara maioria mesmo quando continua minoria, que demanda votos mas que lhe faltam, tudo talvez um pouco confuso mas o resultado é que importa: rejeitar os ilegítimos e entregar o governo a quem deve mandar, ganhando ou perdendo.

Porque sim, é o destino, e o destino é mais belo do que a aparência e os bons costumes. Nascemos para governar, a ilegitimidade é afrontosa porque questiona o destino. Varramos essa gente com uma moção e tenho dito.»
(Francisco Louçã)
(Reproduzido na íntegra, porque julgo que a publicação original não é acessível a quem não seja assinante do "Público" on line. Imperdível.)