domingo, 2 de junho de 2013

Uma voz no deserto?

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Num tempo em que o País desespera por uma ideologia alternativa à austeridade cega e violenta, por um compromisso que nos devolva ao crescimento e à criação de emprego, por um programa que nos retire da espiral de empobrecimento, por um ideal que preserve o Estado social e a dignidade de quem trabalha ou trabalhou uma vida inteira, os partidos da esquerda persistem teimosamente na luta de coutada.
E foi também contra esta forma de intervenção política, hesitante e oportunista, que António Sampaio da Nóvoa, reitor da Universidade de Lisboa, se insurgiu na derradeira intervenção do encontro promovido por Mário Soares. O apelo à renovação dos partidos e da política, o imperativo de criação de uma alternativa à austeridade que, "de ciência certa" não o é, a indignação contra a precariedade laboral, "cancro para o desenvolvimento económico", ou o combate ao desemprego jovem que é "a morte a prazo da sociedade", fazem parte de um manifesto de cidadania obrigatório.
Do que se trata, como bem disse Sampaio da Nóvoa, é de um novo combate pela liberdade, mas também pela soberania. Um combate que não é compatível com a prática da mão estendida perante uma Europa de que fazemos parte de pleno direito. Porque "não podemos perder a pátria nem por silêncio nem por renúncia". Porque, de facto, e como canta o Sérgio Godinho, "só há liberdade a sério quando houver a paz, o pão, habitação, saúde, educação". Tudo aquilo que, em nome da troika, está ameaçado.
António Sampaio da Nóvoa foi, na Aula Magna, pela lucidez e pela coragem, pela proposta e pela convicção, pelo desafio mas também pelo posicionamento ideológico face ao Estado, o denominador comum de tanta gente que não se resigna, que não baixa os braços, que está muito para além dos muros partidários. Basta, aliás, ouvir Pacheco Pereira e tantos outros que não se conformam com este talibanismo financeiro.
O que Sampaio da Nóvoa nos mostrou foi que ainda há esperança. Ao que Sampaio da Nóvoa nos desafiou foi a não desistir. O que Sampaio da Nóvoa nos impôs foi a obrigatoriedade de abrir caminhos que deem sentido ao cansaço de um povo exaurido pelo discurso obcecado e pela prática fanática dos que dizem que não há alternativa. Em democracia existe sempre alternativa. E foi isso, e é isso que o reitor da Universidade de Lisboa está a afirmar.
Não sei se a noite de quinta-feira dará algum fruto maior do que o mero propósito de dizer mal do Governo, da troika e da austeridade. Se for só isto, é só mais uma perda de tempo. Não sei sequer se a Aula Magna pode ter sido o embrião de um qualquer MANP (Movimento de Apoio Nóvoa à Presidência). De uma coisa, no entanto, estou absolutamente seguro. António Sampaio da Nóvoa tem perfil e categoria para ser mais do que o magnífico reitor da Universidade de Lisboa, mandato que, aliás, está prestes a concluir. E cumpre todos os requisitos para devolver credibilidade, confiança e prestígio à Presidência da República.
É certo que as eleições presidenciais ainda estão longe. Mas tenho confiança que, daqui até 2016, António Sampaio da Nóvoa nos continue a dar razões para acreditar e ter esperança no futuro."
(Nuno Saraiva; Manifesto da Esperança. Na íntegra: aqui)
Neste deserto de ideias e de soluções, será António Sampaio da Nóvoa a voz que falta?

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