Veja o texto da autoria de Fernanda Câncio (a seguir parcialmente reproduzido, mas que pode ler na íntegra aqui) e conclua:
«O caso do "sol e das vistas" que passariam, "agora", a ser taxados no IMI é só mais um num rol de "factos" sem qualquer consubstanciação propalados pelos media - os tradicionais e os ditos sociais - e por um não acabar de cabeças falantes. É falso? Não faz mal: dá manchetes com muitos cliques e para escrever "crónicas" superdivertidas. Já explicar a verdade - que o critério de avaliação em causa, certo ou errado, existe há anos e os partidos (PSD e CDS) que ora rasgam as vestes o aprovaram - é chato e não faz rir (é triste, até).
Por coincidência, li nesta semana na Granta um artigo intitulado "Why we are post-fact" - Porque somos pós-facto. O autor, Peter Pomerantsev, começa por relatar como Putin foi à TV, na semana em que anexou a Crimeia, dizer que não havia soldados seus na Ucrânia: "Não estava só a mentir, estava a dizer que a verdade não interessa." E prossegue: "Quando Trump inventa factos a seu bel-prazer (...) quando se verifica que 78% do que diz é mentira mas mesmo assim é candidato presidencial - então parece que os factos já não importam muito na terra dos livres." Na terra dos livres (EUA) e em todo o lado: de seguida Pomerantsev refere a campanha do brexit, que desmentiu as suas promessas na manhã seguinte ao referendo. "É óbvio que estamos a viver na era pós-facto ou pós-verdade", conclui. "Não meramente um mundo em que os políticos e os media mentem - sempre mentiram - mas no qual não se importam com estarem ou não a mentir." E não se importam porque ninguém - a começar pelos jornalistas - parece importar-se.
Como é que chegámos aqui, e ainda mais quando é fácil, em muitos casos, verificar por nós próprios (googlando) se algo é falso ou verdadeiro? Pomerantsev fala de uma "escola de pensamento" na qual se perverteu a máxima de Nietzsche "não há factos, só interpretações" de modo a significar que "as mentiras podem ser desculpadas como "um ponto de vista" ou "uma opinião" porque "tudo é relativo" e "toda a gente tem a sua verdade"". Um pensamento que determina que quanto menos "se complique" - e não há como a verdade para complicar - melhor. Dir-se-ia, aliás, que a maioria prefere uma "informação" que lhe corrobore os preconceitos, substituindo a adesão racional pela emocional.»
Acrescenta a autora que esta "escola (...) tem por cá ilustríssimos seguidores, de alguns dos mais lidos cronistas ao mais lido dos diários." Estou inteiramente de acordo, mas parece evidente que os seguidores não se restringem aos jornalistas e cronistas. Diria mesmo, por minha conta, que o expoente máximo dessa "escola" é, sem favor, um político que dá pelo nome de Pedro Passos Coelho.
Há alguma dúvida de que Coelho mente descaradamente e que não se incomoda minimamente que os factos o desmintam?
1 comentário:
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Muito bom, Francisco.
Excelente destaque.
Enquanto os próprios jornalista não criarem
um Conselho Deontológico, a comunicação será um caos.
É preciso acabar com a imunidade parlamentar vigente e criar
novas regras deontológicas.
Bom fim de semana, Francisco.
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