segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Autárquicas: vitórias e derrotas

Não me vou alongar a comentar os resultados saídos das eleições autárquicas de ontem, até porque aqueles falam por si. Não me dispenso, em todo o caso, de umas quantas observações.
Para começar, não se pode negar que o PS teve uma excelente vitória que, no entanto, podia ter sido bem mais expressiva, se a direcção do partido não tivesse feito algumas más opções, como em Matosinhos, na Guarda e em Cascais, por exemplo, e se não tivesse perdido para a CDU, a meu ver, em grande parte por culpa própria, a presidência de um sem número de autarquias, sobretudo no Alentejo.
A CDU sai também destas eleições como uma claríssima vencedora, sobretudo à custa do PS, devido certamente ao mérito dos seus candidatos, mas também porque soube capitalizar o voto de protesto contra o Governo, usando a estratégia de meter no mesmo saco  o PSD e o CDS, mas também o PS, como não podia deixar de ser, visto que este é, sem dúvida, o seu adversário de estimação, estratégia que resultou e que se traduziu em corresponsabilizar os três partidos pela assinatura do memorando, estratégia que o PS não soube contrariar chamando a atenção para o facto de o PCP  ter alinhado ao lado da direita no derrube do Governo de Sócrates e de ser, por essa via, corresponsável pela vinda da troika e pela chegada da direita ao poder.
Vencedores saíram também vários candidatos a concorrer como independentes, com destaque para Rui Moreira, no Porto e Guilherme Pinto, em Matosinhos. Não estou certo sobre se o êxito dos independentes nestas eleições não é fruto de especiais circunstâncias não repetíveis no futuro. Em todo o caso, certo é que, para já, a sua eleição contribuiu, ainda que de forma modesta, para modificar o panorama autárquico e quem sabe se, com as vitórias dos independentes, os partidos não terão aprendido que não podem continuar a ser simples aparelhos formatados para a conquista do poder e que não são os únicos instrumentos utilizáveis para o exercício da cidadania.
Ao invés, não sofre contestação que o PSD averbou uma derrota em toda a linha, aliás admitida pelos seus dirigentes. Ainda assim, reconheço que, no interesse do país, tal derrota deveria ter sido ainda mais estrondosa. Tão estrondosa que não deixasse dúvidas ao residente em Belém sobre a necessidade de livrar o país da (des)governação de Passos Coelho.
Derrotado sai também o Bloco de Esquerda. Julgo que os seus dirigentes continuarão à procura de uma explicação para o desaire, o que não é fácil. Talvez essa explicação resida no facto de o BE ter fraca implantação a nível das autarquias e de ter sido esmagado, enquanto partido de protesto, pela força e pela implantação do PCP. Talvez.
Do CDS, em boa verdade, é difícil  falar em vitória ou em derrota, pela simples razão de que o CDS, no plano autárquico, é irrelevante e não é o facto de ter passado a deter a presidência de cinco câmaras municipais, em vez de uma, que muda a avaliação. Basta atentar na percentagem de votos alcançados no todo nacional para se chegar a tal conclusão.

2 comentários:

Anónimo disse...

Concordo quase em absoluto com o que aqui escreves. Só não me parece que a vitória da CDU em autarquias como Loures e muitas outras espalhadas pelo Alentejo tenha sido apenas por demérito do PS. A CDU tem realmente muito bons autarcas.
Pena é que o Jerónimo tenha borrado a pintura com o ataque descabelado ao PS. Mas isso, infelizmente´´e algo a que o PCP já nos habituou.

jose neves disse...

Bem, o bloguista assim como quase toda a gente afirma calma e levianamente que para o pcp "o PS é o inimigo de estimação".
Também no comentário acima de outro bloguista se diz "Pena é que jerónimo tenha borrado a pintura com o ataque descabelado ao PS...).
Ó meus, mas porque não pensam que é estratégia pura e dura como ensina a velha cartilha(m-l)? De certeza conhecem e até citam aquela do quanto pior melhor ou seja quanta mais austeridade o psd aplicar sobre os portugueses mais estes, martelados sobre outro slogan pcpista de "são todos o mesmo" ou como diz Jerónimo são todos farinha do mesmo saco, tombbam no regaço do pcp.
O trabalho do psd de destruir a classe média é um contributo de trabalho já feito face a uma eventual tomada de poder pelo pcp ou face ao tão sonhado assalto revolucionário ao poder.
Logo, o PS como o defensor da liberdade e do alargamento da classe média e do bem estar geral, o que significa a definhação e derrota do pcp logo a sua sobrevivência, não pode ser nunca o tal "inimigo de estimação" do pcp mas sim o inimigo contrarevolucionário a abater e não a tratar ou compreender sob qualquer estima ou estimação ou grama de simpatia.
A quetão é de vida ou morte para o pcp e seus imensos quadros que vivem do aparelho partidário, parlamentar, autárquico e sindical. Aqui não ha paninhos quentes de "inimigos de estimação" e por isso o pcp luta terrivelmente empenhado nos derrubes de governos PS enquanto luta fingidamente contra governos psd e ainda menos quando estes são bom pretexto para usar um "falatório" anti-fascista enquanto deixam correr o mal sobre os portugueses.
Porque é preciso entender que a ideologia pcp não é democrática e se jogam o jogo democrático não é sua intenção praticá-lo caso sejam poder.
Vejam ontem: o único cuja primeira declaração de vitória foi afirmar que a primeira medina que ia tomar era "mandar fazer uma auditoria" à CMLoures. Precisamente o que disse o psd quando ganhou as eleições para inventar "falcatruas" nas contas do PS que lhe sirvam de alibis para as suas falcatruas mentais e realizações ideológicas.
Muito mais havia a dizer sobre esta questão do "inimigo de estimação" que muitos PS tratam com algum paternalismo quando o caso merece atenção e grande realismo.