Vimos ontem o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, a anunciar que o seu partido tomou a decisão de apresentar na AR uma moção de censura ao governo do, agora publicamente confirmado espertalhão, Montenegro, sabendo antecipadamente que tal moção tem chumbo assegurado.
Montenegro tem todos os motivos para agradecer, visto que o governo com o chumbo do moção de censura, considera-se dispensado de apresentar a moção de confiança (com que ameaçou a oposição), moção que, sabe-se, seria também chumbada, o que levaria à queda do governo.
Temo, porém, que tal decisão venha a ter consequências bem nefastas para o PCP, pois tem todos os condimentos para contribuir para acelerar a sua marcha para a irrelevância política. Não será ainda caso para falar de suicídio político, mas é mais um passo nesse caminho.das as reaçõe
6 comentários:
Fez-me sorrir! Então a responsabilidade pela cobardia politica do PS é do PCP ?! Fantástico ! :)
Ainda bem que o fiz sorrir. Lamento não poder dizer o mesmo do seu comentário. Que, no entanto, também considero fantástico. Altamente fantástico.
Caro F Clamonte,
Não tenho qq problema em rever o meu espanto se me conseguir explicar o que de concreto há na moção do PCP que impeça o voto favorável do PS. No mais o que nos está a dizer é que o PCP deveria ter-se abstido hipocritamente de censurar o governo e o pm para assim obrigar este a uma moção de confiança que seria então chumbada pelo PS... Ora, até para mim, que não tenho grandes ilusões sobre a integridade dos bastidores da politica, ste tipo de jogadas parecem-me demasiado reles. Mas admito que possa estar a ver mal.
Cump.
MR
Viva, caro Manuel Rocha.
O PCP sabia desde o início da legislatura que o PS não viabilizaria qualquer moção de censura, porque sempre teve a noção que a AD desejava ir para eleições que lhe permitissem obter a maioria absoluta e nunca fez segredo disso. Fazendo-se de vítima e imputando à oposição a criação de instabilidade, contava que a maioria lhe iria parar às mãos. Sabendo tudo isso, é evidente que o PCP, antes de avançar deveria ter pensado duas vezes e, eventualmente, até deveria ter contactado os demais partidos para saber se havia ou não hipótese de êxito. Não tendo feito nem uma coisa, nem outra, o resultado, para já, traduz-se num favor feito ao Montenegro.
Há mais gente a pensar assim. Deixo-lhe aqui um pequeno extracto de um texto do Daniel Oliveira:
"Estou convencido que a AD não queria ir a eleições. O homem dos casinos fez “all in” porque acreditou que alguém se acobardaria. Foi o PCP que o salvou. Ao apresentar uma moção de censura, transferiu o ónus da crise política do governo para a oposição. Uma coisa é ir a votos com uma crise provocada pelo governo, com o chumbo de uma moção de confiança que só ele quis apresentar; outra é ir a votos com uma moção de censura aprovada pela oposição. Era óbvio que o PS não morderia esse isco.
E o PCP mordeu? Não sou tão benévolo. O PCP percebeu que a moção de confiança teria que ser chumbada, independentemente da vontade de cada um ir ou não a votos. Teríamos eleições em ano de autárquicas difíceis para o PCP. Não queria. De caminho, pode reforçar a ideia que o PS apoia este governo, tese que a moção de confiança mataria. Com a moção de censura, que atiraria a culpa da crise para a oposição, entala os socialistas. O resto era óbvio: com uma moção de censura chumbada, não restava qualquer margem para se apresentar uma moção de confiança. Montenegro dirá que a moção de censura do PCP funciona como moção de confiança ao governo. Os seus ministros começaram a dizê-lo logo na noite de sábado."
Cumprimentos.
Francisco Clamote
Caro FClamonte,
O que escreve pode perfeitamente coincidir com os meandros prevalecentes nos bastidores das tomadas de decisão vindas a público. Mas para o comum, onde me incluo, o que transparece é a existência de quem ainda poderá levar à letra os princípios que proclama por contraste com quem os tem de plasticina ( se estes não servirem, arranjamos outros ). Na realidade nem sei se não será o excesso de taticismo na politica um dos principais factores que tem elevado à descrença na democracia, como bem ilustram as taxas de abstenção em voga. Nos circuitos das parvónias onde me movimento, já ninguém dá um avo para os jogos florais da democracia burguesa para onde isto descambou. É da vida...
Salut!
MR
Caro Manuel Rocha,
os nossos pontos de vista estão já suficientemente clarificados pelo que me dispenso de acrecentar seja o que for. Só lhe peço, se entender prosseguir com esta troca de correspondência que não troque o meu apelido. Sans rancune!
Cumprimentos
Francisco Clamote
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