"(...) Na verdade, um dos partidos do governo, o CDS-PP, hoje reunido em Congresso, é o maior partido unipessoal da democracia portuguesa, o partido de Paulo Portas (PP). Tanto assim é que na longa tentativa de suicídio estival do executivo ninguém ensaiou a hipótese - perfeitamente normal numa democracia com partidos normais - de conciliar o dilema moral de um ministro que apresentara a sua "irrevogável" demissão, com as aflições de um país inteiro que se arriscava a ser defenestrado segunda vez pelos mercados, através de uma remodelação que afastasse Portas, mantendo, contudo, a coligação.
(...) Há vinte anos, o CDS-PP tinha propostas nítidas. Poderia não se gostar, mas era um partido conservador com pensamento próprio. Foi a substância das ideias que levou ao afastamento, em 1992, do seu fundador, Freitas do Amaral, num voto pelo Tratado de Maastricht, que a crise atual revela ter sido mais ditado pela "convicção" do que pela razão. Em 1994, Portas juntava a sua voz na crítica aos riscos para o País da UEM (tal como o fez também o PCP, e vozes atentas como as de João Ferreira do Amaral). Nessa altura, o CDS era um partido sem poder, mas com uma visão para o futuro de Portugal. Numa estranha versão "burguesa" do culto estalinista da personalidade, hoje o CDS é um partido de poder, mas esvaziado de futuro. O seu "programa" confunde-se com os estados de alma do seu chefe perpétuo."
(Viriato Soromenho-Marques; «O congresso dos "PP"»; Na íntegra: aqui)
2 comentários:
Pois... «mudam-se os tempos, mudam-se as vontades...»
Francisco, muito interessante o artigo que selecionou para os seus leitores.
Uma análise sarcástica mas séria, de uma direita mumificada mas sequiosa de poder, em que Paulo Portas representa a maior ambição, porque é capaz de consensos assombrosos para participar no governo.
É sempre mais notória a sua enorme vaidade do que o seu sentimento de coerência e dignidade.
Uma excelente semana.
Enviar um comentário