segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

"A nossa memória é curta, mas nem tanto"

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Marco António Costa, vice-presidente do PSD, assumiu ontem que é tempo de ser oposição, fiscalizando a "defesa do interesse nacional". Esta declaração seria responsável e séria, se não estivesse armadilhada no que a antecedeu e no que lhe sucedeu. Em ambos os casos, pelo meio das habituais expressões de que o poder foi tomado "de assalto", Marco António Costa referiu-se a contas.

Lembrou os cofres cheios e a dotação previsional de 62 milhões disponíveis para fazer face a imprevistos em dezembro (a tal almofada que não está tão macia como os recheados cofres). E voltou a garantir que os três por cento de défice serão atingidos "sem grande dificuldade", desde que António Costa e restante equipa "não estraguem", em 29 dias, o que PSD e CDS tão esforçadamente conseguiram em "1610 dias de trabalho".

O programa do PS foi aprovado no Parlamento há cinco dias, a 2 de dezembro. O país está a ser conduzido com base no Orçamento deixado pela coligação e começará 2016 a ser gerido em duodécimos. Por muito que o PS e a Esquerda sejam gastadores e responsáveis por nos deixar a troika à perna, é preciso ter esta cantiga entranhada no ouvido para acreditar que, se falharmos a meta do défice, a culpa só poderá ser destes terríveis assaltantes ilegítimos do poder.

Mas como a lógica não basta, olhemos então para as contas divulgadas, a fechar a semana, pela Unidade Técnica de Apoio Orçamental. Nos primeiros nove meses do ano, o Estado terá tido um défice de 3,7%, o que torna "exigente e de difícil concretização" a meta estipulada por Passos Coelho para o ano - exatamente um ponto abaixo. Mas se há derrapagem nas metas, esqueça-se quem esteve no poder 336 dias. A culpa será sempre dos últimos 29. Estranha matemática.
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(Inês Cardoso:"Memória curta". Na íntegra: aqui)

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