sábado, 16 de julho de 2016

No "país dos impossíveis"

A expressão em título não é minha e, embora não me recorde onde a terei lido, quase posso garantir que terá sido cunhada recentemente com o propósito de celebrar o feito da, tida como improvável, conquista pela selecção portuguesa de futebol do título de campeã europeia da modalidade desportiva em causa.  A expressão, convenhamos, é perfeitamente adequada para enaltecer o feito realizado pelos futebolistas portugueses visto que, para a maioria das pessoas, a conquista do troféu por parte da selecção portuguesa não era só altamente improvável. Conhecida a equipa a defrontar na final, o resultado que se veio a verificar (a vitórias das cores portuguesas) passou de improvável a, muito simplesmente, impossível.
Não se julgue, porém, que este seja um caso único. Portugal, corroboro eu,  é mesmo o "país dos impossíveis", pois o que seria impossível noutro país, em Portugal é, ao que parece, não só possível, como é visto como do domínio da normalidade.  Acrescento: "país dos impossíveis" e capaz do melhor e do pior.
Do melhor temos um bom exemplo na actuação da selecção portuguesa no campeonato europeu de futebol. Para exemplo do pior podemos usar um outro caso recente que está mesmo à mão de semear. De facto,  o DN inclui hoje na sua edição on line, uma entrevista concedida por Passos Coelho, peça que é encabeçada por uma afirmação atribuída ao entrevistado que teria dito esta enormidade:  "O governo tem o dever de cumprir a legislatura que roubou". (Sublinhado meu).
Significa a afirmação que Passos Coelho continua a considerar como ilegítimo o Governo liderado por António Costa, não obstante tal Governo ser suportado na Assembleia da República por uma maioria inequívoca de deputados (todos os eleitos nas listas dos partidos de esquerda: PS,  BE, PCP e PEV). 
Como é evidente, uma afirmação deste tipo, partindo de um indivíduo que, ainda que infelizmente, foi  primeiro-ministro, seria impensável em qualquer outro país onde esteja em vigor um regime democrático. Ninguém com as responsabilidades de Passos Coelho se atreveria a fazer, noutro país, uma tal afirmação, pois saberia à partida que teria que haver-se com um coro de críticas vindas de todos os quadrantes, a começar pelos órgãos de comunicação social que, em Portugal, permanecem num silêncio que, se bem que confrangedor, já não espanta, tendo em conta os lamentáveis antecedentes. 
Seja como for, certo é que aquela afirmação não é coisa de somenos. De facto, um tal dito só pode partir de alguém que, ou não conhece as regras de funcionamento da democracia, ou que recusa conformar-se com elas, o que é, em qualquer caso, muito grave. A confirmar-se a primeira hipótese teríamos de concluir que o autor da afirmação não passa de idiota que, apesar de ter exercido actividade política ao longo de décadas, não foi capaz de apreender o essencial numa democracia. Na segunda hipótese, o autor teria, no mínimo, de  ser tido na conta de um não democrata. 
Das duas, uma. Venha o diabo e escolha.
(imagem daqui

1 comentário:

Majo Dutra disse...

Tão desclassificado que não lhe restam requícios
de orgulho, honra e verticalidade.
Muito bem destacado, neste país de impossíveis...
Uma semana agradabilíssima.
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