Não há maneira de a direita portuguesa perder o vezo de questionar a legitimidade da actual solução governativa, quer durante os debates parlamentares, quer fora deles. Os remoques a este respeito dirigidos ao primeiro-ministro durante os debates parlamentares, como os que ainda recentemente se ouviram durante o "Debate sobre o Estado da Nação", pela boca do deputado Montenegro (PSD) atingem as raias da obscenidade.
Se a direita supõe que ganha algo com tal exercício, que serve apenas para provar que quem a ele se dedica convive muito mal com as regras da democracia, está mesmo muito enganada.
A prova de que assim é podemos vê-la com toda a clareza na confiança depositada pelo povo na Assembleia da República, o órgão de soberania donde emana a legitimidade do Governo. De acordo com o Portal de Opinião Pública da Fundação Francisco Manuel dos Santos, a percentagem de portugueses que confiavam no Parlamento andava, em Maio de 2013, pelos 13% e em Dezembro de 2015%, pelos 19%. Em Maio deste ano, essa percentagem atinge os 46% .
Um salto desta dimensão tem um significado que não pode ser escamoteado: se hoje a confiança dos portugueses no Parlamento é muito superior à manifestada ao mesmo órgão de soberania durante a anterior sessão legislativa é porque há também uma muito maior identificação dos portugueses com os seus representantes. Existindo essa maior identificação, é evidente, perante aqueles números, que a legitimidade que poderia ser posta em dúvida, não poderia nunca ser a do actual Governo.
Se fizesse algum sentido levantar a questão da falta de legitimidade em relação a qualquer Governo com sustentação parlamentar essa questão teria de ser posta em relação ao anterior governo liderado por Passos Coelho e sustentado na Assembleia da República por uma maioria de direita ((PSD e CDS) em que os portugueses depositavam uma bem menor confiança.
Se fizesse algum sentido, dizia eu, mas, para mim, não faz. Só tem sentido para quem age, em política, com o descaramento e a pouca vergonha do deputado Montenegro. E não só.
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