quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Qual é o espanto?

Em condições de normalidade democrática também eu estaria entre os que pronunciam um juízo de censura sobre os protestos que ultimamente têm atingido os ministros deste governo e, em particular, os dirigidos contra o (ainda) ministro Relvas.
A verdade, porém, é que os tempos que se vivem em Portugal não são tempos de normalidade democrática, porque este governo é filho da vigarice e, logo, carece de legitimidade. Vigarice que começou ainda quando a líder do PSD era Manuela Ferreira Leite, para quem a maior crise económica internacional não passou de um "abalozito de terra" e que prosseguiu com a nova liderança do senhor Coelho o qual antes e durante a campanha eleitoral que o levou ao poder não só não se cansou em atribuir a José Sócrates toda a responsabilidade pelas dificuldades que o país passou a atravessar a partir do desencadear da crise, como sempre afirmou que com eles no poder não haveria, nem cortes de  subsídios, nem mais impostos. Para conseguir a redução do défice e a consolidação das contas públicas bastava reduzir as "gorduras do Estado", garantia o senhor Coelho e seus apaniguados, que até já tinham as contas feitas. Tão bem feitas que, depois de alcançado o poder, o governo do senhor Coelho outra coisa não tem feito que não seja precisamente o contrário do prometido ao eleitorado.
Ora, se é compreensível que qualquer governo não cumpra integralmente o programa apresentado ao eleitorado porque, entretanto, surgiram factos novos e se alteraram as circunstâncias; e se, até certo ponto,  pode ser tida na conta de desculpável uma ou outra promessa eleitoral mais arriscada, este governo não beneficia de nenhuma destas atenuantes, porque, por um lado, as circunstâncias não se alteraram (até  a crise das dívidas soberanas já tinha surgido) e, por outro lado, os partidos que o integram conheciam, à partida, como nenhum outro antes deles, quais as reais dificuldades e quais problemas com que o país se defrontava, porque participaram na elaboração do memorando com a troika, cuja vinda forçaram por todos os meios, como é mais que sabido.
Chegados aqui é altura de lembrar que o programa que os partidos da direita têm vindo a executar desde que chegaram no poder é a completa negação do programa apresentado aos eleitores e por eles sufragado.  Não sendo fruto das circunstâncias, a contradição entre o anunciado e o executado só pode ser concebida como consciente e deliberada e, como tal,  resultado visível de fraude. 
Se um governo nascido nestas circunstâncias pode ser considerado legítimo, temo que também se possa admitir que a democracia possa ser o reino da vigarice. 
Só à luz deste conceito é compreensível a censura a todo e qualquer protesto contra membros deste governo, mesmo não violento, como tem sido o caso. Para quem o recuse, censurável e grave é a permanência deste governo em funções.
Se os enganados e os desiludidos se manifestam e protestam, qual é o espanto? 

2 comentários:

Evaristo Ferreira disse...

Boa peça analítica, sobre o estado do Governo (de mentirosos) e o desespero que inferniza a maioria dos portugueses.

Anónimo disse...

Governo filho da vigarice? Já tenho ouvido chamar outros nomes às mães deles, mas são todos sinónimos:-)
De resto, concordo em absoluto com o post.