terça-feira, 14 de janeiro de 2014

O jornalismo que (não) temos

"Uma piada que corre há uns anos nos EUA diz que os americanos vêem programas de humor como o “Daily Show” do humorista Jon Stewart para ficarem informados e programas de informação como os da Fox News para se rirem. É verdade que os programas de Jon Stewart são particularmente informativos e fazem uma atenta leitura crítica da realidade poilítica americana e que os programas da reaccionária Fox News são particularmente manipuladores e desonestos, mas o aforismo é verdade em geral e não apenas para os EUA.
Humoristas como os americanos Jon Stewart e George Carlin, como os britânicos Monty Python ou Ricky Gervais, como o francês Coluche ou como os portugueses Mário Viegas, Bruno Nogueira ou Ricardo Araújo Pereira tiveram ou têm um papel mais importante na visão crítica da sociedade e na denúncia de injustiças ou de absurdos do que a esmagadora maioria dos media de informação e dos jornalistas profissionais.

(...)
Quem quiser saber o que se passa de facto na política portuguesa ou europeia, quais serão os impactos desta ou daquela política, tem hoje de dedicar um tempo insano à leitura de blogs de especialistas e comentadores independentes, de textos de organizações partidárias e profissionais, de estudos académicos. O jornalismo costumava fazer-nos poupar tempo mas deixou de o fazer. O que o grosso do jornalismo hoje nos oferece (e a televisão tem aqui o principal papel) não é mais do que a repetição de um discurso hegemónico, de carácter propagandístico, de direita (defensor da desigualdade), que nos repete que não há alternativa (TINA) ao crescimento da pobreza, à desigualdade, ao enriquecimento dos mais ricos, à destruição do estado social, à degradação do trabalho, à exclusão dos pobres.
(...)
Veja-se o que se passa com a invenção do “aumento do emprego” do discurso de Passos Coelho, ou com a aldrabice da “retoma económica” que o Governo tem vindo a repetir, ou com a ficção do “programa cautelar” delicodoce que Cavaco Silva elogia ou com a abjecção da “insustentabilidade das pensões” que PSD e CDS apregoam. Não há pessoas a denunciar estas e outras aldrabices? Há, e há-as da esquerda radical à direita democrata-cristã (a sério) e as vozes que o dizem são reconhecidamente competentes e respeitadas. Mas são vozes singulares num mar de discurso propagandístico avassalador que repete a voz do dono e onde as televisões ocupam a parte de leão. Este é o cancro que se encontra no centro do problema político das sociedades actuais."
(José Vítor Malheiros; "O sonho evanescente de um jornalismo independente". Na íntegra: aqui)


5 comentários:

Majo disse...

É pelas razões indicadas, que eu não assisto a noticiários televisos, cujo objetivo primordial é preencher os 90 mn de antena obrigatórios.
Já não suporto o tom bombástico ou enfático empregue para captar audiências.

Seleciono os assuntos que desejo, com um discurso e linguagem dignos; as fontes de informação que prefiro e que se completam, os comentadores que me merecem crédito.

Assim, acompanho este blogue com muito gosto.

Francisco Clamote disse...

Obrigado, Majo, pela simpatia. Imerecida, digo eu.

Francisco Clamote disse...

Obrigado, Majo, pela simpatia. Imerecida, digo eu.

Majo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Majo disse...

Merecida, digo eu.

Os neus cumprimentos, Francisco.