quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Cavaco: um caso perdido

Não é novidade para ninguém que Cavaco só indigitou António Costa para primeiro-ministro e só empossou o XXI Governo Constitucional, porque, nos termos da Constituição da República, não tinha outra alternativa,
Se alguém tinha dúvidas a respeito, Cavaco encarregou-se de as desfazer, não apenas através de dois discursos que nenhum democrata digno desse nome proferiria e impensáveis na boca de um Presidente da República empossado nos termos da vigente Constituição da República que atribui a quem desempenha tais funções o papel de árbitro, por definição, imparcial e, como tal, encarregado de garantir o regular funcionamento das instituições da República. Reporto-me aos discursos proferidos por Cavaco, um no momento da indigitação de Passos Coelho e outro aquando da tomada de posse do XX governo constitucional liderado pelo mesmo Passos Coelho, governo que, como se sabe, acabaria por ser demitido na sequência da rejeição do seu programa pela Assembleia da República. Em tais discursos, Cavaco não se inibiu de mostrar a sua forte oposição a uma solução governativa da responsabilidade do PS que pudesse vir a contar com o apoio parlamentar dos partidos à sua esquerda (PCP, Bloco de Esquerda e PEV) partidos em relação aos quais Cavaco teve palavras de puro ódio, inimagináveis mesmo para quem já o considerava, desde há muito, como um presidente de facção.
Se, apesar das evidências resultantes dos discursos, alguém ainda alimentava dúvidas sobre a falta de isenção de Cavaco no exercício das suas funções com presidente da República, o próprio tomou sobre si o encargo de as remover. De facto, Cavaco, após o derrube do XX governo constitucional, protelou, com grave prejuízo para o país, a indigitação de António Costa como primeiro-ministro do XXI Governo Constitucional, muito para lá do que seria expectável, a pretexto duma escusada e improfícua deslocação à Madeira e da pretensa necessidade de ouvir algumas individualidades, muitas delas com representatividade mais que duvidosa, e outras que não se representam senão a elas próprias. Protelamento que, de tão absurdo e prejudicial para a vida do país, só pode ser explicado pelo próprio Cavaco. Na falta de dados objectivos teremos de nos ficar pela conjectura e perguntar: será que Cavaco alimentou a secreta esperança de, com o decorrer tempo que ele propositadamente alongou,  ver desabar a solução governativa acordada entre os vários partidos da esquerda com assento no hemiciclo de S. Bento? 
Certo, certo é que a solução alternativa não desabou e certo é ainda que Cavaco desperdiçou uma última oportunidade de ouro para, de algum modo, refazer a imagem com que vai passar à história, imagem que, nesta altura, é a de um presidente da República desprestigiado que a grande maioria do povo português anseia por ver partir, As sondagens sucessivamente publicadas não deixam margem par dúvidas sobre esse ponto.
Quando falo em oportunidade desperdiçada refiro-me à cerimónia de posse do XXI Governo Constitucional. Cavaco é considerado como um institucionalista. Não sei se o qualificativo lhe assenta bem ou não. O que sei é que, mesmo num acto revestido da solenidade e da importância institucional duma posse de Governo, Cavaco foi incapaz de disfarçar a acrimónia com que tratou o primeiro-ministro e o Governo a que, forçado embora pelas normas constitucionais, deu posse. O discurso então proferido, repleto de ameaças veladas, mas, felizmente, inconsequentes, porque não conseguirá concretizá-las, e o facies crispado do empossante durante toda a longa cerimónia não deixam dúvidas sobre a parcialidade e a manifesta ineptidão de Cavaco para o desempenho do cargo de mais alto magistrado da nação.
Não tendo aproveitado a referida oportunidade,  Cavaco é, hoje, sem dúvida,  um caso perdido, pois já não terá outra para se redimir. E não terá, porque, Cavaco já não tem futuro. Como já alguém disse,"Cavaco Silva já só tem passado"

1 comentário:

Graça Sampaio disse...

Nem merece que se perca tempo e energias a falar e a escrever sobre esse coiso!