quinta-feira, 29 de junho de 2017

Suicida sim, mas ressuscitado e com mortalha alvíssima

Não sei se a marca ainda existe, mas em tempos que já lá vão, era frequente o aparecimento de publicidade exaltando a excelência do OMO,  o detergente que, supostamente, é (era?) o que "lava [lavava?]mais branco".
Ignoro, repito, se o produto ainda existe, mas do que não tenho dúvidas é que, se alguma vez o citado detergente se impôs aos demais por "lavar mais branco", hoje tal seria impossível.
Na verdade, há actualmente na praça vários produtos com muito maior poder de branqueamento. Sem qualquer desprimor para os muitos e de vários tipos que são usados na comunicação social portuguesa, permito-me, atendendo a intervenções recentes, destacar um que actua sob a sigla JMT  (in extenso: João Miguel Tavares).  
Para demonstração da qualidade do agente de limpeza em questão, poderia chamar à colação dezenas das suas actuações, mas a mais recente, exibida hoje na última página da edição impressa do "Público", onde actua, dia sim, dia não, é suficiente. Numa crónica (a que dá o título de "O suicídio de Passos e a felicidade do PS" o agente em questão dá, aparentemente, como assente o suicídio de Passos Coelho a propósito das afirmações por ele feitas sobre uns supostos (e inexistentes) "suicídios em Pedrógão Grande", afirmações que o sobredito agente reconhece como inadmissíveis, quer os suicídios "tivessem existido ou não".
Dado Passos como morto, logo JMT o ressuscita, pois, embora Passos Coelho "estivesse tomado por um instinto politicamente suicidário que o leva a entregar corda, pescoço e patíbulo nas mãos da oposição", tudo se resume afinal a uma questão de forma. Passos, a falar de improviso, é, escreve JMT, um desastre. Não admira, por isso, que JMT repita o conselho "Ó Passos, escreve os discursos".
Ressuscitado o homem, eis que JMT se dá conta que nas vestes com que se amortalhou o suicida restam algumas manchas que é necessário remover e é verdadeiramente aqui que se revela toda a eficácia do detergente:
Primeira enxaguadela: "Passos Coelho tem três méritos enormes, que só não lhe são reconhecidos por quem não tem olhos na cara". É, claramente, o meu caso, que, com os olhos com que nasci, só vejo deméritos, onde JMT vê méritos. Sobre os méritos de Passos, passo, pois, adiante.
Segunda enxaguadela: "tão obsceno quanto a gafe de Passos Coelho foi a reacção da esquerda à sua gafe". Aos olhos de JMT, que, reparo, usa óculos, e, por isso, deduzo que também não deve ter muita acuidade visual, a eventual "felicidade" da esquerda é meio caminho andado para limpar a mortalha de Passos. 
Numa última enxaguadela, para completa limpeza, JMT acaba por lançar um desafio ao actual primeiro-ministro para que prove que é um verdadeiro líder, dando como mais que provado que Passos Coelho o é: "Os verdadeiros líderes conhecem-se nas más horas. Passos já provou estar à altura . Costa ainda não". 
O desplante de JMT a enaltecer um aldrabão contumaz, que, agora e antes como governante, deu provas de insensibilidade social nunca vista, nem antes, nem depois, e transformar um primeiro-ministro sempre agarrado às saias da senhora Merkel num estadista, é verdadeiramente homérico. Limito-me a constatar e termino:
Uma lavagem desta natureza, capaz de transformar um suicida num ressuscitado com vestes alvíssimas, não parece possível usando um simples detergente por muito excelente que seja. Um tal resultado só será alcançável, penso eu, com o uso de um produto que resulte da mistura de um detergente com um desinfectante. Uma tal mistura cheira mal? É evidente que sim!

3 comentários:

Majo Dutra disse...

MUITO BEM, FRANCISCO CLAMOTE!

A CRIATURA ESTÁ FINADÍSSIMA E PASSEIA-SE COM
ALVÍSSIMA CAPA DE FANTASMA TRAVESSO E TRAPALHÃO.
SE SÁ CARNEIRO PRESENCIASSE ESTAS IDIOTICES...
AO QUE CHEGARAM!

SAUDAÇÕES SOCIALISTAS.
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Graça Sampaio disse...

Este texto está uma maravilha! Só não entendo como consegue ter pachorra para ler o energúmeno do JMT...

Francisco Clamote disse...

Obrigado, amigas, pela simpatia.