Para começo de conversa, há que reconhecer que o eurodeputado Paulo Rangel não tinha qualquer obrigação de comentar as lamentáveis declarações de Passos Coelho, líder do seu partido, sobre a suposta existência de suicídios por ele anunciados a toda a comunicação social e por ele atribuídos á falta de apoio psicológico às populações vítimas da grande calamidade que foram os incêndios que devastaram uma boa parte dos concelhos da Região Centro, suicídios que, afinal, não existiram a não ser na cabeça de quem não recua perante nada para colher dividendos políticos.
Sobre o assunto e sem reparo de maior, "de Conrado poderia ter guardado o prudente silêncio" admito eu, mas a partir do momento em que se serve da coluna no "Público" (onde semanalmente pode destilar todo ou parte do seu veneno), para censurar um interveniente menor, o até então desconhecido João Marques, provedor da Misericórdia de Pedrógão Grande, alegadamente, futuro candidato pelo PSD à presidência da Câmara do mesmo concelho, já lhe não é lícito escamotear a actuação vergonhosa de Passos Coelho em todo o caso.
E não pode escamotear, insisto, porque, na circunstância, se alguém agiu errada e levianamente foi precisamente Passos Coelho. Pese embora a Rangel, o dito João Marques é, no caso, um interveniente menor, mesmo que seja verdade ter sido ele quem forneceu a Coelho as (falsas) informações sobre os (inexistentes) suicídios, verdade de que duvido por razões que deixo para melhor ocasião, ou seja, para depois de obtida mais completa informação. O interveniente maior é, inquestionavelmente, Pedro Passos Coelho, porque, mesmo que a informação fosse verdadeira, só alguém sem escrúpulos é que se teria atrevido a usar a desgraça alheia para obter ganhos políticos falando de suicídios, um tema considerado pela generalidade dos especialistas como sendo de especial melindre, a merecer ser tratado com pinças.
Passos Coelho foi, por isso mesmo, objecto de censura generalizada a ponto de vários órgãos de comunicação social terem falado, a propósito do caso e do protagonista, em "suicídio político", fatalidade que, no entanto, não chegou à consumação, porque, passado o primeiro momento de estupefacção perante tamanho disparate, acabaram por surgir os socorristas de serviço.
O político salvou-se in extremis, é certo, mas as sequelas são, por enquanto, bem visíveis. Há, pois, todo um trabalho a desenvolver, pelo menos, para as disfarçar, se não for possível fazê-las desaparecer por completo. Esse é, claramente, o objectivo de Paulo Rangel com a nota por ele dedicada ao caso, ao fazer incidir todas as luzes sobre uma figura menor que pode ser conhecida localmente, mas que nada diz à generalidade dos portugueses, aproveitando a oportunidade para, ao mesmo tempo, apagar da fotografia a imagem de Passos Coelho.
A técnica usada por Paulo Rangel não é nova e, se não estou em erro, é usada com alguma frequência por políticos, para falsear a história, sempre que tal se revela conveniente ao editor fotográfico. O procedimento, é óbvio, não abona nada a favor da honestidade intelectual de quem assim actua.
Não pretendendo, por ora, ir mais longe, por aqui me fico.
Não pretendendo, por ora, ir mais longe, por aqui me fico.
(ilustração daqui)
4 comentários:
Muito bem, Francisco
Os farsantes cujas artimanhas conhecemos há muito...
Oh, se conhecemos!
Bom Domingo.
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Grato aos dois (Carlos e Majo). Bom domingo também para ambos.
Não se fique por aí. Dê-lhe mais...
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