sábado, 1 de julho de 2017

Um eurodeputado devoto do "Photoshop"

Para começo de conversa, há que reconhecer que o eurodeputado Paulo Rangel não tinha qualquer obrigação de comentar as lamentáveis declarações de Passos Coelho, líder do seu partido, sobre a suposta existência de suicídios por ele anunciados a toda a comunicação social e por ele atribuídos á falta de apoio psicológico às populações vítimas da grande calamidade que foram os incêndios que devastaram uma boa parte dos concelhos da Região Centro, suicídios que, afinal, não existiram a não ser na cabeça de quem não recua perante nada para colher dividendos políticos.
Sobre o assunto e sem reparo de maior, "de Conrado poderia ter guardado o prudente silêncio"  admito eu, mas a partir do momento em que se serve da coluna no "Público" (onde semanalmente pode destilar todo ou parte do seu veneno), para censurar um interveniente menor, o até então desconhecido João Marques, provedor da Misericórdia de Pedrógão Grande, alegadamente, futuro candidato pelo PSD à presidência da Câmara do mesmo concelho,  já lhe não é lícito escamotear a actuação vergonhosa de Passos Coelho em todo o caso.
E não pode escamotear, insisto, porque, na circunstância, se alguém agiu errada e levianamente foi precisamente Passos Coelho. Pese embora a Rangel, o dito João Marques é, no caso, um interveniente menor, mesmo que seja verdade ter sido ele quem forneceu a Coelho as (falsas) informações sobre os (inexistentes) suicídios, verdade de que duvido por razões que deixo para melhor ocasião, ou seja, para depois de obtida mais completa informação. O interveniente maior é, inquestionavelmente, Pedro Passos Coelho, porque, mesmo que a informação fosse verdadeira, só alguém sem escrúpulos é que se teria atrevido a usar a desgraça alheia para obter ganhos políticos falando de suicídios, um tema considerado pela generalidade dos especialistas como sendo de especial melindre, a merecer ser tratado com pinças.
Passos Coelho foi, por isso mesmo, objecto de censura generalizada a ponto de vários órgãos de comunicação social terem falado, a propósito do caso e do protagonista, em "suicídio político", fatalidade que, no entanto, não chegou à consumação, porque, passado o primeiro momento de estupefacção perante tamanho disparate, acabaram por surgir os socorristas de serviço.
O político salvou-se in extremis, é certo, mas as sequelas são, por enquanto, bem visíveis. Há, pois, todo um trabalho a desenvolver, pelo menos, para as disfarçar, se não for possível fazê-las desaparecer por completo. Esse é, claramente, o objectivo de Paulo Rangel com a nota por ele dedicada ao caso, ao fazer incidir todas as luzes sobre uma figura menor que pode ser conhecida localmente, mas que nada diz à generalidade dos portugueses, aproveitando a oportunidade para, ao mesmo tempo, apagar da fotografia a imagem de Passos Coelho. 
A técnica usada por Paulo Rangel não é nova e, se não estou em erro, é usada com alguma frequência por políticos, para falsear a história, sempre que tal se revela conveniente ao editor fotográfico. O procedimento, é óbvio, não abona nada a favor da honestidade intelectual de quem assim actua.
Não pretendendo, por ora, ir mais longe, por aqui me fico.
(ilustração daqui)

4 comentários:

Anónimo disse...

Muito bem, Francisco

Majo Dutra disse...

Os farsantes cujas artimanhas conhecemos há muito...
Oh, se conhecemos!
Bom Domingo.
~~~~~~

Francisco Clamote disse...

Grato aos dois (Carlos e Majo). Bom domingo também para ambos.

José Ferreira Marques disse...

Não se fique por aí. Dê-lhe mais...