Surpreende-me a ligeireza com que alguém, sobretudo se jurista, se atreve a considerar o (agora) ex-ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, independentemente de julgamento, como corresponsável pelo acidente que teve lugar em 18 de Junho último, na autoestrada A-6 de que resultou a morte de um trabalhador atropelado pelo veículo onde o ministro se fazia transportar. A surpresa é tanto mais justificada quando é certo que os apressados julgadores nem se dão ao trabalho de apresentar o mais pequeno indício que aponte para a culpa do visado, tarefa que, convenhamos, não seria fácil.
Pelo menos, para o Ministério Público, não foi, pois, ao deduzir a acusação no processo, não constituiu o ex-ministro como arguido.
E para os julgadores apressados muito menos o seria. De facto, quem poderá saber o que se passou dentro do veículo, a não ser o próprio ex-ministro e o motorista? Ou será que, a partir de agora, para os justiceiros da nossa praça, um ministro ou qualquer outro superior hierárquico com motorista ao seu serviço não pode tirar os olhos do conta-quilómetros?
Por que razão não se aguarda pelo julgamento e pela produção pública da prova ? Uma pessoa, só pelo facto de ser ministro, já não não tem direito à presunção de inocência? Se já chegámos a esse ponto, e assim parece, quem é que de futuro, quererá assumir tais responsabilidades ? Pergunto-me.
2 comentários:
Tb poderia perguntar se seria dado o mesmo tratamento ao PR, caso o azar tivesse sido com ele...
Claro que não, Manuel Rocha. O caso seria, devagar e sorrateiramente, varrido para debaixo do tapete e não se falava mais nele.
Tal como se o motorista fosse um qualquer cidadão ao volante da sua viatura.
Dava-se a notícia do sucedido, lamentava-se a perda de uma vida, falava-se na investigação ao sucedido e pronto. Excepto se o referido cidadão,por acaso, transportasse um qualquer elemento do governo ou do Partido Socialista, porque aí lá teríamos a baderna armada.
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