quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Sê-lo e parecê-lo

O recandidato à Presidência da República, Cavaco Silva (que se auto-define como o  homem mais honesto deste mundo, pois, segundo as suas palavras, só alguém  que tivesse nascido duas vezes poderia rivalizar com ele e, em boa verdade, não se conhece ninguém que tenha realizado uma tal proeza) continua a recusar explicações sobre o negócio de compra e venda das acções da SLN, sociedade que era, na altura da transacção, proprietária do BPN.
Instado sobre o negócio por jornalistas à sua chegada a Ponta Delgada no âmbito da visita de pré-campanha aos Açores, (suponho que no seguimento do desafio apresentado pelo candidato Manuel Alegre no sentido de “revelar os termos do contrato das suas acções da SLN”) Cavaco Silva limitou-se a repetir o seu estafado "Depois de responder uma vez não respondo mais nenhuma vez", tendo acrescentado a expressão "Contratos há zero", porventura com a preocupação de não deixar o seu adversário de mãos completamente vazias, expressão que, todavia, não lhe é particularmente favorável, pois levanta ainda mais dúvidas sobre o negócio. Na verdade, cabe perguntar: se não há contrato, há o quê ?
O recandidato não ignora, porque já foram formuladas de vários modos, as dúvidas que subsistem e que não são esclarecidas pelo que está escrito no site da Presidência da República, como ainda hoje sublinha o JM Correia Pinto que adianta uma série de perguntas que continuam sem resposta: "A quem vendeu Cavaco as acções? A um banco? A uma empresa? A um particular? Ou a Oliveira e Costa em nome individual ou à entidade por ele representada? E por quanto se venderam à época as acções da mesma empresa em negócios particulares? Foram todas vendidas ou adquiridas pelo mesmo preço que pagaram a Cavaco?"
Se da mulher de César se diz que não basta ser séria, tem também de parecê-lo (entendido o dito no sentido de que a seriedade tem de ser demonstrada, não bastando afirmá-la), por maioria de razão se tem de exigir a César (neste caso, ao candidato Cavaco Silva) a prova da lisura da transacção.
Até porque a recusa por parte de Cavaco Silva em esclarecer, completamente e duma vez por todas, os meandros do negócio só contribui para avolumar a suspeição de que algo se terá passado de menos canónico. No mínimo.

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