terça-feira, 3 de março de 2015

As explicações de Passos Coelho só têm sentido num filme de ficção científica *

«Eli Gold é homem-sombra de políticos. Sabido e sabedor, põe as mais difíceis perguntas às personalidades que serve - e estas deixam-se conduzir por ele. Se Passos Coelho tivesse um Eli Gold não teria dito: "Não tinha consciência de que essa obrigação era devida..." E isso quando essa tal obrigação é conhecida, e cumprida, pelos portugueses médios. E isso quando se é Passos Coelho, o português que faz gala, sobretudo lá fora, em mandar os portugueses cumprir obrigações. Não, Passos não diria essas asneiras. Mas, diga--se, também não podia ter Eli Gold a servi-lo: Gold é um personagem de série televisiva (The Good Wife, na Fox Life). Nesta temporada 6 de The Good Wife, ele propõe à protagonista, Alicia Florrick, que se candidate a procuradora-geral, o que na América é cargo eleito. Tendo ela aceitado, Eli ensinou-a a combater os esqueletos no armário (e que ela até desconhecia): o aborto que o filho dela ajudara a namorada menor a fazer, o irmão que tem um caso com um gay de filmes porno, a mãe que esbofeteara um garoto malcriado numa loja... Se bem repararam, The Good Wife alinhou segredos vulgares. É o que dá força às séries americanas: o respeito pela verosimilhança. Não cabia na cabeça de um guionista americano emprestar a um candidato a cargo público a condição de não ter pago a Segurança Social durante cinco anos. E, depois de eleito, dizer que não sabia que era obrigatório, só mesmo em ficção científica
(Ferreira Fernandes- "Passos Coelho devia ver mais séries de TV"- Aqui)

(*Um titulo que teve a pretensão de  resumir mais um excelente texto de Ferreira Fernandes, no DN)

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