sexta-feira, 20 de março de 2015

"Esquerda caviar, direita chouriço"

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Para a direita chouriço tudo o que esteja para lá do limiar da miséria é viver acima das possibilidades. Não pode ser. Há por isso que empobrecer, cortar e impor respeitinho.

Não se pode permitir que um Varoufakis qualquer venha dizer que não é assim, que as ideias políticas e sociais nada têm a ver com a riqueza de cada um. Percebe-se. É que a direita chouriço também vive na miséria. Desde logo mental.

Este preconceito, como tantos, tem pouco a ver com a realidade. A esquerda organiza-se para defender os mais humildes e com menos poder, os descamisados, por imperativo de um pensamento e de uma visão elaborada do mundo. Mais liberdade, mais progresso, em resumo. Na origem das ideias de esquerda estão normalmente homens e mulheres com acesso à educação, algum bem-estar ou mesmo riqueza. Karl Marx nasceu numa família abastada de Trier. O seu parceiro de luta, Friedrich Engels, com quem escreveu o Manifesto Comunista, era rico por via da importante indústria têxtil familiar. O anarquista Mikhail Bakunin tinha ascendência nobre. (...) Álvaro Cunhal, para citar um comunista português, nasceu numa família da alta burguesia. Mário Soares sempre foi rico. Francisco Louçã nunca foi pobre.

São alguns exemplos, aleatórios, mas que demonstram que na origem das ideias de esquerda estão contextos de algum bem-estar que no mínimo permitem estudar e refletir. Daí que a esquerda insista na importância da educação e a direita chouriço a despreze e a reduza a uma mera fábrica de produção de mão-de-obra precária.

A miséria não é favorável ao pensamento. (...) Normalmente [os mais pobres] engrossam as hostes mais torpes da direita chouriço.

Pelo contrário, aqueles que desfruam de alguma riqueza têm condições para lutar pela solução dos desequilíbrios e injustiças sociais. Só mesmo a direita chouriço acha que a pobreza é o destino da humanidade. Qualquer sociedade que se preze deve ambicionar o enriquecimento coletivo, seja sob a forma de oportunidades para todos, seja de bem-estar e felicidade geral. A riqueza não é uma mera acumulação de dinheiro. A riqueza é aquilo que permite à espécie humana evoluir, desde o plano individual ao coletivo. Só a riqueza permite realizar as mais arrojadas ambições humanas. Curar todas as doenças, viver para sempre, conquistar o espaço, imaginar o impossível. Já para não falar de garantir condições de vida digna para todos. Por isso, da mesma forma que ser pobre não é sinónimo de ser de esquerda, ser rico não é sinónimo de ser de direita. Aliás, a esquerda é em si mesmo uma importante riqueza das nossas sociedades. Porque quer mudar o que está mal e se bate pelo bem coletivo. (...)»
(Leonel Moura. Na íntegra: aqui)

1 comentário:

Majo disse...

~
~ Não gostava nada de ter uma casa com vista para a Acrópole...

~ Felizardo por isso?!
~ Com tanto mar belíssimo...

~ Esta crónica não deixa de ser curiosa na defesa de Varoufakis.
~ O professor que apurou o seu gosto no ''UK'', Austrália e ''USA''...

~ Schauble sabe que os portugueses estão desejando-lhe a maior sorte.
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