terça-feira, 10 de novembro de 2009

Queda do Muro: ele baralhado e eu confuso

Num texto publicado no Esquerda.net, a propósito da queda do Muro de Berlim, Francisco Louçã ora vira o bico ao prego, ora o prego ao bico.
Não consegue, com efeito, disfarçar o seu desconforto com o histórico acontecimento, com afirmações como estas: "os vencedores estão sempre a reclamar a sua vitória, por medo dos que esmagaram" e "Vinte anos depois da queda do Muro de Berlim, floresce assim a ideologia contentatória". Porém, logo a seguir, no mesmo texto, afirma que é necessário "Compreender a derrocada de uma mentira, de um sistema social esgotado no privilégio e na desigualdade, na repressão e na censura, no militarismo e no Gulag". E conclui que "A queda do Muro foi o episódio final de uma agonia perante a tensão social insuportável. Mas também ensina que o socialismo só pode ser o contrário do Muro: liberdade contra a censura, responsabilidade contra o controlo sindical, todos os direitos sociais, incluindo o pluripartidarismo, a liberdade de formar sindicatos ou de fazer greve."
Esta última conclusão não me parece abonar-se nem com a prática, nem com a teoria dos defensores do sistema comunista, onde ele se inclui, se não erro. Seja, porém, como for, seguindo o seu raciocínio, não seria consequente da parte de Louçã juntar-se à multidão dos que festejam o acontecimento como sinal de uma libertação? Eu diria que sim. Todavia, Louçã não vai por aí, o que me leva a concluir que ele anda mesmo baralhado.
E eu a ficar confuso.

5 comentários:

Porfirio Silva disse...

Caro Francisco,
Sabe bem o que eu penso de Louçã... mas é historicamente injusto confundi-lo com o "socialismo real", nomeadamente o do "leste" europeu. Em geral, os trotsquistas tiveram uma posição crítica face aos regimes comunistas e foram até, em certas circunstâncias, aliados das oposições a esses regimes. O que acontece é que Louçã tem agora de fazer uma certa ginástica para não desagradar aos seus camaradas estalinistas, tipo Fazendo e companhia. Mas acho que nos compete sermos rigorosos e não acusar o homem de todos os pecados. Já bastam os que ele realmente tem, não é?
Cumprimentos.

HY disse...

É muito simples. Como bom troskysta, FL ainda continua a achar que o mal foi o estalisnismo, e que se Trostky tivesse sido o herdeiro de Lenine as coisas teriam corrido muito melhor e o socialismo real ainda aí estaria para durar...

Ou seja, isto da democracia e da liberdade...enfim, temos que aceitar, claro, mas continua a ser acessórios (quando não empecilhos)da construcção do socialismo.

Daí, a atrapalhação perante a questão da queda du muro...

Luís Vicente

Francisco Clamote disse...

Grato aos dois, pelos esclarecimentos. Abraço.

Quint disse...

Comungo exactamante da posição de quem aqui asseverou que Louçã tem sempre escapatória no argumento que tivesse sido Trotsky e não Estaline o sucessor, e hoje a URSS seria uma maravilha e a Europa um imenso campo de experimentalismo socialista.
Cada vez mais me convenço que o melhor castigo que se poderia dar ao Louçã era um dia dar-lhe a vitória em eleições legislativas!

Porfirio Silva disse...

A história é uma coisa complicada: não está tudo escrito nas estrelas. É possível que muita coisa tivesse sido diferente se Estaline não tivesse chegado ao topo. Também é verdade que Trotski também foi repressivo quando teve oportunidade, ainda no tempo de Lénine. A "natureza do comunismo" não estava nos livros, foi-se construindo com o tempo. Não esqueçamos que, mesmo em certos países do "leste europeu", foram comunistas a tomar as primeiras iniciativas de liberalização do regime, como na Hungria ou na Checoslováquia, embora tenham sido derrotados pelo "grande irmão". Isto para dizer o quê? Para dizer que não é correcto, do ponto de vista histórico e do ponto de vista da análise, meter todos os marxistas no mesmo saco. Não precisamos disso e até nos é mais útil perceber as diferenças para melhor os "esmiuçar".