«Como não sou um latinista reputado para dizer que delatar e dedo têm a mesma origem, o que me daria jeito, sirvo-me da palavra dedo-duro. Os brasileiros, que são quem melhor manuseia a nossa língua, inventaram dedo-duro para dizer denunciante. Olhem o gesto: aponta quem, mas não diz o quê... E isso é importante? É, faz-nos andar para trás. Quando os deuses fizeram os seres vivos, dos lobos aos homens, deram-lhes ganas para fazer o que lhes apetecia, machucar e matar. Era bom, exceto, claro, para os que eram mortos segundo nos apetecia. Mas andámos, andámos e chegámos à lei, que acabou com o lobisomem. A lei, sancionando, permitiu que fosse metido na ordem quem ia contra as regras determinadas pela aldeia e pelo Tribunal Europeu de Justiça (estou a saltar etapas, mas a crónica é curta). Grosso modo, a lei funciona respondendo a esta pergunta: "O que há de errado, se há, no que foi feito e por quem?" Repararam na filosofia implícita da fórmula? Primeiro, verifica-se se houve crime e, havendo, vemos quem o cometeu para o castigar. Foi isso que nos levou a chegar a civilizados. Ora, esta civilização que tem sido combatida há séculos, por estes dias é-o por esta fórmula: "O que havemos de fazer com esta pessoa, apesar de não sabermos o que ela fez?" É a fórmula do dedo-duro. Por exemplo, a popular lista do banco suíço: "Olha a D. Sílvia, de Vila Real, a portuguesa dos 200 e tal milhões!!!"... Sim, mas ela fez o quê?»
(Ferreira Fernandes; "Tudo sobre a portuguesa dos muitos milhões!". Daqui)
2 comentários:
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~ ~ Dias tristes de miséria, a todos os níveis...
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Dias perigosos...
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