Depois de estabilizados dos fogos deflagrados nos últimos dias e feito "o balanço da tragédia", Marcelo Rebelo de Sousa, falou hoje ao país, conforme tinha sido anunciado em nota previamente publicada no "site" da Presidência da República.
Para ser franco, acho que Marcelo, num discurso que não me pareceu particularmente bem construído, não foi além do expectável do "Presidente dos afectos" e se alguma crítica lhe pode ser feita, do meu ponto de vista, é essa precisamente.
É que na nota citada renova-se o apelo "a uma mudança de ponto de vista, traduzida em atos e não em palavras", apelo que é naturalmente dirigido ao Governo, eventualmente também à Assembleia da República, mas que vincula igualmente quem o faz, sob pena de incoerência.
Ora, com o discurso que acaba de fazer, não parece que Marcelo tenha passado da palavra aos actos. Demonstrações de afecto, pedidos de desculpa caem sempre bem, e melhor ainda quando partem de alguém que exerce as funções de Presidente da República, mas a este, enquanto tal, tem que se exigir mais. Se está correcta a interpretação de quem afirma que nas palavras de Marcelo está implícita uma clara censura ao Governo, então Marcelo deveria, seguindo o seu próprio apelo, passar da palavra aos actos e usar dos poderes que a Constituição lhe confere, dissolvendo a Assembleia da República, ou porventura, demitindo o Governo, observando naturalmente o que a Constituição estatui, num caso e noutro, arcando também, obviamente, com os (elevados) custos inerentes a qualquer das hipóteses.
Limitar-se a esperar que a "Assembleia da República clarifique se quer ou não manter em funções o Governo" é, quanto a mim, fazer de frei Tomás.
Não estou com isto a dizer que Marcelo deveria ter agido desta ou daquela forma. O que pretendo significar é que nem sempre o que se nos afigura como o mais adequado ou o mais conveniente está ao alcance da mão. De quem quer que seja. Marcelo incluído.
(Imagem daqui)
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