"Há uma coisa impossível de explicar a um jornalista. Na realidade, ela pode ser explicada a um jornalista e qualquer jornalista a consegue entender. Mas não a consegue usar no seu trabalho, que exige respostas e soluções simples e tão rápidas como as suas notícias. Essa coisa foi a que António Costa disse ontem: não só não pode garantir que o dia de ontem não se vai repetir como é seguro que, de alguma forma, vai acontecer de novo. O que o jornalista não pode compreender é que a resposta a um problema realmente importante é muitíssimo mais lenta do que o seu trabalho. É como pedir a um pugilista que jogue xadrez. Com luvas. Mas isso não pode determinar as decisões tomadas pelos políticos.(...)
(Daniel Oliveira: "Incêndios: claro que se vai repetir. Durante anos". Fonte)
Quem diz jornalista, diz outra pessoa qualquer. Quantos não ouvi já hoje lamentar que António Costa não tenha garantido que não voltará a haver incêndios com a gravidade e a dimensão dos que, este ano, têm ceifado vidas, devorado casas e florestas?
Não será, no entanto, bem evidente que só com enorme demagogia é que uma tal afirmação poderia ser feita? Pois não é também claro que, como salienta Daniel Oliveira na peça citada, os problemas que estão na base da dimensão das tragédias não se resolvem dum dia para o outro?
Quem é que gosta de ser enganado? Eu não.
Não prescindo, no entanto, da exigência de serem tomadas, com a maior urgência, medidas, designadamente no âmbito do ordenamento do território, que evitem, no futuro, tragédias com a gravidade e a dimensão das que temos vivido.
“Depois deste ano, nada poderá ficar como antes”, disse António Costa, já hoje. Espero que sim. De facto, repito, não gosto mesmo nada de ser enganado.
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