... é como tenho visto qualificar o conjunto de medidas anunciadas pelo Governo para consolidar as contas públicas.
Duríssimo e insuportável será, sem dúvida, para os trabalhadores por conta de outrém se o salário mínimo não for actualizado para os 500 €, tal como foi acordado em sede de concertação social (o que espero não venha a acontecer, em conformidade, aliás, com as palavras da ministra do Trabalho e Emprego). Já quanto à generalidade da população, ainda que as medidas anunciadas sejam dolorosas (ninguém gosta de ver diminuir os seus rendimentos, nem prejudicada a sua qualidade de vida) aqueles qualificativos só podem ser tidos à conta de manifesto exagero.
As medidas podem, porém, ser encaradas de um outro ponto de vista que é o de saber se elas são ou não necessárias. Ora, sabendo-se que o valor do que consumimos é superior em 10% ao valor do que produzimos, tal significa que temos vivido (muitos de nós) acima das possibilidades, recorrendo sistematicamente ao endividamento externo para satisfazer as exigências do nosso nível de consumismo. Os credores, porém, mostram, designadamente através do agravamento das taxas de juro, que não estão dispostos a financiar o país, indefinidamente, a menos que demos sinais de moderação nos gastos, por forma a poder honrar anteriores compromissos. E aqui, não há volta dar, pois não está na nossa mão abrir os cordões à bolsa alheia. De forma que, por dolorosas que sejam as medidas, elas são antes de mais, necessárias. Ou, para ser mais preciso, inevitáveis.
2 comentários:
Caro Francisco Clamote
Para mim a questão nem sequer está nas medidas em si. Se elas são inevitáveis, não são precisos mais qualificativos. Tomam-se e pronto. Mesmo que se discuta o paradigma que torna as medidas inevitáveis, julgo que, momentaneamente, elas serão isso mesmo: inevitáveis. A questão está no facto de tudo ser apresentado como se viesse na sequência lógica do que tem sido dito. E, ou eu leio mesmo muito mal, ou não vem. Talvez por isso eu me questione seriamente se estas medidas vão ter utilidade na construção do futuro, para além de evitar chatices com credores no próximo fim de semana.
Cara MDSOL, eu também não tenho certezas, salvo, no que respeita à inevitabilidade das medidas, devido às circunstâncias e ao paradigma vigente (que não vejo como ultrapassar). Se aquelas vêm na sequência do que tem sido dito, admito que não, mas nos tempos que correm, parece-me que ninguém tem certezas. Todos os dias vemos as opiniões mais desencontradas, mesmo da parte de eminentes economistas.
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