É evidente, até para um leigo, que a redução do défice público para os números a que Portugal se obrigou, para o próximo ano, é inalcançável sem aumento de impostos, a menos que se aceitem cortes brutais nos vencimentos dos funcionários públicos e nos apoios sociais, cortes que suponho nenhum governo teria nesta altura a ousadia de fazer e muito menos um hipotético governo presidido por Pedro Passos Coelho, porque, muito simplesmente, não resistiria à contestação social que é fácil antever. Isto, porque é também claro que a diminuição da despesa por efeito da tão reclamada reorganização dos serviços e dos institutos públicos e do sector empresarial do Estado não só não é possível ser concretizada em meia dúzia de dias (porque implica estudos que não podem ser feitos do pé para a mão) como nem sequer é desejável que o seja para não se cometerem erros inevitáveis quando se actua sem estudar todas as consequências. Diria mais: a redução do défice sem recurso ao aumento dos impostos, para além de não ser alcançável, também não seria justa, porque faria incidir sobre os funcionários públicos e sobre os mais desfavorecidos todos os custos, isentando deles precisamente as classes com maiores rendimentos.
Por tudo isto, apresenta-se como completamente incompreensível a posição de Pedro Passos Coelho, sucessivamente reafirmada, com mais ou menos ênfase, de que o PSD não viabilizará um Orçamento de Estado para o próximo ano que preveja aumento de impostos.
Esta posição maximalista é tanto mais incompreensível quanto é certo que coloca Passos Coelho na situação desconfortável de um qualquer aprendiz de feiticeiro, da qual já não vai sair airosamente, qualquer que venha a ser a decisão final: se o PSD vier a viabilizar o Orçamento, ainda que pela via da abstenção, Passos Coelho terá de dar o dito pelo não dito, revelando falta de firmeza de convicções, pois, não havendo alteração das circunstâncias, sempre se poderá dizer que cedeu a pressões; se optar pela inviabilização, Passos Coelho será o primeiro a arcar com as consequências que estão à vista: agravamento das dificuldades de financiamento do Estado, das famílias e das empresas e aumento exponencial do desemprego.
O que, em boa verdade, isto demonstra é que a inexperiência sai cara e que a escolha de conselheiros como Marcos António ou Leite de Campos também não ajuda.
1 comentário:
Claro que o autor tem toda a razão e penso que poucos portugueses, lá no íntimo, não estejam convencidos!...
Todavia, a discussão, à boa tradição dos media do nosso Portugal, gira em torno de um jogo de futebol entre PS e PSD, ou entre Sócrates e Passos Coelho (novo primo divisionário),esquecendo-se que esse jogo é só nas quatro linhas, enquanto fora delas está tudo o resto, os espectadores que não podem viver só desse espectáculo.
Mais vale adiar esse jogo, suspendê-lo, para evitar que arda o estádio, isto é, o país. è momento de apoiar a seleção e não os clubes como já mostramos saber fazer.
Zé Mário
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