domingo, 17 de outubro de 2010

É também por aqui que "o gato vai às filhoses"

Aparentemente, ninguém gosta da proposta de Orçamento de Estado apresentada pelo Governo. Nem eu, nem, pelos vistos, o próprio Governo, que já o disse. Parece, no entanto, que face à pressão dos credores internacionais  não há alternativa. Ou antes, não há, nem alternativas melhores, nem alternativas exequíveis. A direita advoga mais cortes pelo lado da despesa, o que tornaria o Orçamento bem pior e mais injusto e as "propostas" da "esquerda da esquerda", tendo em conta o contexto internacional, teriam como consequência o isolamento do país e transformariam Portugal na Albânia do Século XXI. Ou antes, uma Cuba dos nossos dias ?  Não aprecio, nenhuma das soluções: nem aquela, nem estas.
Todavia, quando observo que dois terços das empresas apresentam, anos a fio, prejuízos, em vez de lucros, e que a economia paralela anda pelos 30% do PIB, forçoso é concluir que há muito boa gente que continua a rir-se dos sacrifícios que, uma vez mais, são exigidos aos mesmos de  sempre (os assalariados).
Ora, já vai sendo tempo de se acabar com uma tal situação socialmente injusta.
 A responsabilidade de acabar com ela cabe ao Governo certamente e reconhece-se que alguma coisa se tem feito em matéria de evasão fiscal. Mesmo na actual proposta de Orçamento são apresentadas algumas medidas nesse sentido, embora duvide da eficácia de muitas delas. Não, porque não sejam correctas, mas porque a evasão fiscal não é fácil de combater, sobretudo quando a falta de sentido cívico da generalidade da população não ajuda.
De facto, pergunto: quem é que pede, no restaurante, a factura ? Quem é que exige factura pelos trabalhos realizados lá em casa, logo que o prestador do serviço chama a atenção para o facto de que o serviço custa X, mas com factura custa X+Y (o valor do IVA) ?
Enquanto a maioria da população não assumir que também é responsável pela fuga ao fisco, não restem dúvidas de que a evasão fiscal vai continuar a assumir números que nos envergonham e que nos penalizam a todos. 
Será, por isso, caso para dizer que os culpados não são sempre, nem só, os outros. Também nesta matéria, vale o ditado: "quem boa cama fizer, nela se há-de deitar", ou vice-versa.

2 comentários:

mdsol disse...

Muito bem! Concordo plenamente. Engraçado que hoje no almoço (em família mais alargada) falou-se exactamente desse aspecto. E de como em POrtugal fugir aos impostos em vez de ser uma vergonha social é considerada esperteza e de como quem não foge é tido como não sabendo tratar da sua vida.
Creio que o ponto a que chegamos tem culpas fundas, muitas externas, outras tantas nos péssimos hábitos instalados ao longo de anos na gestão da coisa pública e outras ainda radicam num déficit cívico mais individual, em que todos somos responsáveis.

:))

Francisco Clamote disse...

Sim, MDSOL, é tudo a ajudar à "festa"