Aproveitando a oportunidade oferecida pela realização da Cimeira da NATO, decorreu hoje em Lisboa uma manifestação de protesto contra aquela Organização, sob o lema "Paz sim, NATO não", que terá reunido entre oito mil manifestantes, segundo esta contagem e trinta mil segundo os promotores.
Não se contesta, como é óbvio, a legitimidade da manifestação, nem se põe em dúvida o mérito de iniciativas que tenham como objectivo a promoção da paz, nem a genuinidade da motivação de alguns manifestantes.
Tendo, porém, em conta, segundo aquela notícia, que "apesar do motivo ser a NATO, o que se ouve de quem veio para o centro de Lisboa são protestos contra o governo, a crise, o desemprego" e que a maioria dos manifestantes era constituída por militantes do PCP, "vindos de várias cidades do país", embora não se questione a legitimidade, fica a dúvida sobre a real motivação da maioria.
Dúvida que se alimenta de uma dupla constatação: por um lado, verifica-se que as intervenções da NATO, após os tempos da "guerra fria", ou têm revestido um carácter humanitário (como na Bósnia e no Kosovo) ou têm sido levadas a cabo em defesa da liberdade de navegação marítima (nas costas do Índico, ao largo da Somália), ou ao abrigo da autorização do Conselho de Segurança das Nações Unidas (no Afeganistão); por outro, manda a verdade que se diga que o PCP nunca protestou contra invasão da Hungria pelas forças soviéticas em 1956, nem contra o esmagamento da "Primavera de Praga" pelas tropas do Pacto de Varsóvia, em 1968, nem contra a invasão e subsequente ocupação do Afeganistão, em 1979, pela União Soviética.
Fracas são, pois, as credenciais da maioria dos manifestantes como defensores da PAZ e, sendo assim, a manifestação por parte da mesma maioria só pode ser encarada como mais um exercício de hipocrisia.
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