Quando alguém afirma, como Vítor Gaspar, que as “políticas fiscais expansionistas” do anterior governo socialista são a única causa do 'défice orçamental “insustentável” que desencadeou uma crise e o pedido de ajuda financeira a entidades internacionais"' e que Portugal é um exemplo a evitar e "a prova de que “as políticas expansionistas não são uma condição favorável ao crescimento” é porque é míope e incapaz de ver que o fraco crescimento da economia portuguesa se ficou a dever a múltiplos factores, incluindo a maior crise económica mundial dos últimos 80 anos (crise que, tendo uma tal dimensão, até é perceptível para quem tenha fraca acuidade visual) e as dificuldades derivadas da entrada no euro, dificuldades que, na altura, muito pouca gente anteviu.
Os problemas visuais do ministro Gaspar não se ficam, porém, pela miopia. Com efeito, o homem não consegue ver as consequências da política de austeridade prosseguida pelo governo de que faz parte e por ele advogada. Essas consequências estão, no entanto, bem à vista, com a a economia portuguesa em recessão (-3,3% este ano, segundo as previsões do próprio governo, havendo porém quem, como o Citigroup, avance já com previsões bem mais alarmantes: recuo de 5,4% do PIB, este ano e de 3%, em 2013) e com o desemprego a atingir números impensáveis até à posse deste governo, desemprego que já vai nos 15% e a subir, para atingir, segundo as previsões do citado banco de investimentos, os números dramáticos de 15,6% este ano e de 17,3% em 2013. Isto, para já não falar do alastrar dos casos de penúria alimentar; do aumento do número de falências de pessoas individuais e do número de alunos do ensino superior a desistir dos estudos por dificuldades económicas. Por exemplo.
Se Vítor Gaspar, apesar dos avisos do FMI, é incapaz de encarar de frente estas realidades e continua a garantir que o programa de austeridade do tipo "custe o que custar", programa que ele advoga e o seu governo executa, tem “todos os ingredientes necessários para lidar com os problemas fundamentais da economia portuguesa” é porque não tem os olhos no sítio certo.
Tê-los-à, porventura, na nuca?
Comecei por Vítor Gaspar, mas o certo é que o discurso de Passos/Coelho é idêntico ao do seu ministro das Finanças. Assim sendo, não é nada difícil diagnosticar que ele sofre dos mesmos problemas de visão.
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