«No primeiro debate entre Seguro e Costa, o secretário geral do PS quis justificar o resultado do partido nas europeias, reconhecendo-o afinal não tão espetacular como garantiu na noite eleitoral, com o facto de "uma parte dos portugueses ainda responsabilizarem o PS pela situação a que chegámos." Ora Seguro tem com certeza razão: uma parte dos portugueses pensará assim e de facto isso pode ser um motivo para não votarem PS.
Reconhecendo desde início - porque se colocou desde o início - esse problema, Seguro tinha um de dois caminhos: ou combatia essa noção, aproveitando todas as ocasiões para explicar por que motivo está errada, ou, caso concorde com ela, assumi-la-ia, não só por uma questão de honestidade mas também por estratégia, tornando claro não deverem esperar dele a repetição do que considerará erros indesculpáveis. Porém, como é sabido, não fez uma coisa nem outra.
Segundo o próprio, "anulou-se" para "manter a paz no partido".
Ou seja, o secretário-geral do PS terá decidido esconder quem é e o que pensa para evitar cisões nas hostes do PS, escondendo-se portanto do País do qual quereria ser primeiro-ministro. Assumiu ser capaz, por calculismo e taticismo, da maior das dissimulações; assumiu que entre a verdade e ocultação, optou pela ocultação; entre a coragem e a cobardia, pela cobardia; que entre a rutura e a paz podre, quis a paz podre. E quis assim porque se sabia sem autoridade - quiçá até legitimidade - para se manter líder se abjurasse o Governo anterior.
Esta confissão surge tanto mais chocante quando, decidido agora a revelar-se em todo o seu esplendor, (...) ele aventa que sabe coisas terríveis, às quais terá assistido bem caladinho e das quais nem depois de eleito chefe falou, para não chatear ninguém - sendo que nem agora, que finalmente se soltou, diz que coisas são.
Percebe-se que depois de ter feito e confessado tudo isto Seguro esteja de cabeça perdida por, afinal, estar em riscos de ver São Bento por um canudo. Percebe-se que alguém que achou que ser falso era a forma certa de manter o partido e chegar ao Governo não entenda que raio fez de errado; que quem acusa de traição aquele que o desafia não tenha capacidade ética para vislumbrar que a maior das traições - aos outros e a si - é fingir ser-se o que se não é.
Que seja esta fraude auto-desmascarada que pretende vitimizar-se imputando a outros oportunismo e golpes baixos e afirmar-se como epígono da transparência não deve ser grande surpresa. Quem se confessa capaz de ser nada para chegar onde quer é bem capaz de tudo.»
(Fernanda Câncio; Face desoculta. Na íntegra: aqui)
(Sem dúvida. Um Seguro, falso que nem Judas, é capaz de tudo e de mais alguma coisa.)
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