«Muito antes desta crise, a voz lúcida de Adriano Moreira alertou para a transformação de Portugal num "Estado exíguo". Onde os néscios de turno observam "gorduras", a inteligência descobre a esclerose funcional das instituições. Para uma comunidade nacional de dez milhões de cidadãos residentes, e com o nosso histórico código genético, a exiguidade do Estado sempre foi o preâmbulo para uma crise na viabilidade política nacional. As grandes tragédias fazem-se anunciar como símbolos. Numa altura em que existe uma clara renacionalização das políticas europeias - que em breve será acentuada no Reino Unido e na França - com sinais de protecionismo económico e exigências de devolução de soberania, o atual Governo continua, em claro registo de contraciclo, a desfazer-se das derradeiras alavancas económicas do País. A venda dos CTT, empresa prestigiada a nível mundial, até envergonharia os liberalíssimos EUA, que têm nos serviços postais uma das mais antigas empresas públicas federais. A venda da TAP - uma das maiores marcas de Portugal, um instrumento de política externa e um expoente da segurança no transporte aéreo - é um escândalo. Vamos terminar este ano com um défice de 10% do PIB (por mais que os malabarismos contabilísticos o queiram camuflar) e com uma dívida pública astronómica, mesmo sem incluir o aumento do perímetro orçamental exigido pelas novas regras do Sistema Europeu de Contas. A cultura do Governo, com a cumplicidade silenciosa de muita da oposição, parece ignorar que nenhum ranking internacional de competitividade substitui a decisiva missão da política, que é a de garantir o futuro da comunidade de destino a que chamamos Portugal.»
(Viriato Soromenho-Marques. Aqui. Destaque meu.)
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