Discursando na Assembleia da República, nas comemorações do 25 de Abril, Cavaco Silva voltou, uma vez mais, a apelar ao "diálogo e consenso" entre as forças partidárias como forma de garantir “estabilidade política e a governabilidade do país”, repetindo, no fundo, o discurso que vem fazendo desde o início da actual legislatura.
Sabe-se que Cavaco fez o papel de incendiário durante o Governo liderado por José Sócrates e que contribuiu decisivamente para o derrubar. Tal como se sabe que, desde o início da actual legislatura, se comprometeu definitivamente com a política (rasca) deste governo de gente rasca e já não está a tempo de se desvincular desse comprometimento, Tanto assim é que até o "moderado" António Costa se sente confortável em incluí-lo na nova "troika", como seu membro, a par de Coelho e Portas.
Assim sendo, é mais que óbvio que Cavaco não tem o mínimo de condições para apelar a consensos e menos ainda para os promover. Qualquer tentativa nesse sentido esbarrará na mais que justa recusa por parte dos partidos da oposição, Suponho, aliás, que nem Cavaco alimentará ilusões a esse respeito, tão clara tem sido posição do PS a tal propósito.
Mas se assim é, por que carga de água insistiu Cavaco em falar em consensos no último discurso que ele terá oportunidade de proferir nas comemorações do 25 de Abril e numa altura em que a grande maioria dos portugueses (a crer nas sondagens) já só espera que chegue o dia em que poderá ver Cavaco a sair de Belém pela porta dos fundos em direcção à casa da Coelha?
Dar-se-á o caso de Cavaco ter o disco dos discursos riscado ou estará ele a fazer uma última tentativa para salvar, pela via da retórica, um mandato que ficará para a história desta República como um verdadeiro desastre?
Se é esse o intento, votado está ao fracasso. Nos dias de hoje, Cavaco já não conta. Ainda que se chame Aníbal não passa de um Zé Ninguém.
(Título reeditado; imagem e citações: daqui)