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Portas foi aos pulinhos para o palco e apresentar, não promessas, mas garantias. Um verdadeiro momento de arrojo e um passo no futuro do discurso político, e a escolha do homem certo para nos dar garantias. Se há alguém capaz de nos dar garantias que não dá valor a promessas é Portas.
O vice, e líder da fatia pequena do coligação sem nome (uma espécie de No Name Boys), começou por dizer que a originalidade da proposta começava logo no número de garantia, que eram nove. Segundo Portas, não precisavam de inventar números redondos de propostas só porque isso é o costume. Mas, por acaso, não lhe deu para fazer onze, ou treze. Ficou-se pelas nove, com a desculpa dos números redondos. Um gazeteiro é sempre um gazeteiro. Seja na reforma do Estado, seja nos desejos que o Estado se reforme.
Depois, o vice começou a enumerar as nove garantias e senti falta que fossem doze, e que houvesse doze passas, porque aquilo eram desejos. Uma mistura entre desejos e... promessas. Uma espécie de conversa de "personal trainer" que também nos dá a catequese. Houve um momento em que o ouvi dizer "e comer batata doce e sumos de fruta". No final, quando já tudo dormitava, Portas garantiu que a reforma da Segurança Social será feita "por consenso", o que me leva a suspeitar que vamos ter de descontar para o consenso.
Depois surgiu Passos, com voz colocada, com ar de quem diz: "Chegou o pai. Eu explico o que se passa". Qual vendedor de aspiradores desata a dizer, não o que vai fazer, mas as tropelias que já fez? E descreve um Portugal absolutamente estonteante, com crescimento acima de todos os níveis europeus, desemprego a desaparecer a galope, um serviço de saúde como nunca se viu no mundo, feito com muito menos, e ficamos a pensar que fantástica deve ser a erva em Massamá.
Passos não faz promessas, nem garantias. Não tem discurso escrito, nem nome para a aliança. E não tem programa eleitoral. Passos só tem campanha.(...)»
(João Quadros; "Que se lixem os programas eleitorais" Na íntegra: aqui. Destaque meu)
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