Pode dar-se o caso de a culpa ser minha, porque estou a ser cada vez mais selectivo nas minhas leituras, mas manda a verdade que diga que ainda não li um só comentário que conclua que o esforço da coligação PSD/CDS para produzir um texto que viu a luz do dia com o extenso título "Linhas de orientação para a elaboração do programa eleitoral" tenha servido para alguma coisa. Por exemplo, para Bernardo Ferrão, se bem o compreendo, a coligação bem podia ter estado quieta, uma vez que não tem nada para dizer e, aparentemente, para Rafael Barbosa, também era aconselhável que estivesse calada, porque, se a intenção da coligação é "manter Portugal no 'caminho certo'", conhecidas as consequências do caminho percorrido, o melhor mesmo é não falar.
Reconheça-se que a dupla Passos/Portas alguma coisa tinha de dizer depois da apresentação por parte do PS de uma proposta de governação alternativa, considerada, por gente insuspeita, como válida e séria.
Constata-se, porém, que linhas de orientação é coisa que no documento não há, pois não passa de um exercício de auto-elogio e propaganda que nada tem a ver com a realidade. Esta está, sim, bem documentada num excelente trabalho de Christiana Martins e Raquel Albuquerque, com infografia de Carlos Esteves, cuja leitura se recomenda e que termina com uma afirmação de João Ferreira do Amaral que não resisto a citar: "Só dentro de alguns anos teremos uma noção mais aproximada da devastação provocada pela política de austeridade na economia europeia e na economia portuguesa."
Os dados e números disponibilizados no referido trabalho não deixam, no entanto, dúvidas sobre o legado desta infausta dupla governativa: uma grande devastação. E trágica, sobretudo para os desempregados, os forçados a emigrar e os lançados na pobreza.
3 comentários:
Chicamigo
As verdades doem, mas não deixam de ser verdades. O teu magnífico texto e também os citados lembram-se perante o fingido "programa não sei de que nem para quê" o anúncio protagonizado pelo Ricardo Araújo Pereira: falam, falam, falam e não fazem nada...
Nestas coisas há outras recordações, uma das quais também aqui deixo. Quando o Paiva Couceiro foi prender o Gungunhana, durante a penosa marcha apareceu-lhe um primo do régulo o qual queria aliar-se aos Portugueses e começou a falar durante tempo inexplicável e inesperado de tão longo.
O militar voltou-se para o intérprete nativo que assistia e perguntou-lhe: "Que disse ele" e a resposta foi conclusiva: "Por enquanto ele só falou, não disse nada..."
E assim estamos. E o óbice da questão é que os Portugueses (e não só) têm a memória curta...
Abç do Pernoca Marota
Excelente trabalho! Excelente a frase de conclusão. E estes energúmenos continuam de riso aberto de orelha a orelha como se tivessem feito um trabalho extraordinário! (E com o apoio do presidente escavacado, para maior drama e vergonha!)
Muito bom. Quando esses senhores Passos/Porta, abrem a boca fico com a sensação de que eles vivem noutro país.
Um abraço e bom fim de semana
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