sábado, 27 de setembro de 2008

Um relacionamento que faz sentido


Hugo Chávez poderá ser um pouco "tonto" no sentido de que diz tudo o que lhe passa pela cabeça e, por isso mesmo, é, muitas vezes, inconveniente. O seu conceito de democracia é também "original" e muitos venezuelanos estarão pouco entusiasmados com esse conceito e terão, porventura, razão de queixa em matéria de liberdades. Mas ele é também, simultaneamente, uma pessoa calorosa e genuinamente preocupada com a pobreza no seu país e não me custa a acreditar que os seus sucessos eleitorais se fiquem a dever a esse carácter e à sua preocupação na erradicação da pobreza.

A propósito, cabe lembrar que ele é um presidente eleito, que se saiba, sem grandes atropelos no que respeita aos actos eleitorais.

A sua relação com Portugal, pelo que se deduz das suas palavras, é também uma relação calorosa, como ficou agora demonstrado durante a visita ao nosso país em que foram assinados acordos nas áreas da educação, construção e energia , mas não reside aí a razão por que as relações comerciais entre Portugal e a Venezuela têm conhecido grande incremento nos últimos tempos. É que esse aumento faz todo o sentido e ao promover essas relações, Chávez revela que pode ser "tonto" mas não é "tolo".

Para Portugal, as vantagens são óbvias: o acesso a uma nova fonte de fornecimento de petróleo, matéria prima de que carecemos, permite diminuir os riscos no fornecimento; a abertura de um novo mercado aumenta as potencialidades de exportação das nossas empresas.

Para a Venezuela as vantagens não são menores, pois muitas empresas portuguesas dispõem já de tecnologias de ponta. Ao abrir o mercado venezuelano às empresas portuguesas, Chávez passa a dispor de uma alternativa que lhe permite alcançar uma independência que não teria se tivesse que recorrer a empresas sediadas noutras latitudes. Diversificar os fornecimentos, seja em matérias primas, seja em tecnologia, é sempre uma boa ideia e se essa diversificação puder basear-se em países (como Portugal) que não têm, nem podem ter, ambições imperialistas, melhor ainda. Ora, se há factor que Chávez valorize é a independência do seu país.

Portugal, nesse aspecto, pode dar-lhe uma boa ajuda. E, pelos vistos, dá.

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