quarta-feira, 14 de maio de 2008

A Grande Fumaça



O facto de o Primeiro Ministro, José Sócrates e o Ministro da Economia, Manuel Pinho terem fumado no avião da TAP que levou a comitiva governamental na sua deslocação a Caracas para a realização duma visita oficial à Venezuela, levantou enorme alarido em tudo quanto é comunicação social, tendo-se chegado ao ponto de trazer à colação a opinião de constitucionalistas, não se percebendo bem a que título (pois não está em causa nenhum problema com relevo constitucional) e de ouvir toda a oposição parlamentar, como se estivesse em causa o regime.
É verdade que a atitude dos membros do Governo em causa é, neste caso, ilegal e censurável, como já tive oportunidade de escrever noutro local, mas neste, como em qualquer outro assunto, convém ter a noção da justa medida. Est modus in rebus, digo eu, pois há seguramente assuntos com bem maior relevância que correm o risco de ficarem esquecidos por detrás do barulho feito à volta de um assunto sem excessiva importância, como é o caso em apreço.
Cumpre, aliás, assinalar que, embora digno de censura, o procedimento dos ditos governantes tem, afinal, precedentes. Lê-se, com efeito, no "PÚBLICO" (na edição impressa, onde se dedica ao assunto nada menos que o título mais saliente da 1ª página, toda a página 6 e sensivelmente metade da página 8) que "a situação não é inédita, pois nas viagens com o Presidente da República (...) as pessoas que o acompanham também costumam fumar, embora o Presidente não fume". Por outro lado, a TAP, ainda segundo o "PÚBLICO", considerou "todos estes casos "normais" em serviços especiais fretados". O não inédito da situação foi também confirmado pelo Primeiro Ministro que reconheceu ter fumado, com o ministro da Economia, enquanto conversavam, mas no convencimento de que se podia fumar, porque assim sempre tinha acontecido nas outras viagens anteriores.
Estes antecedentes não justificam o que se passou, mas talvez possam servir de atenuantes, pois não é de excluir a hipótese de tais antecedentes terem contribuído para bloquear, no espírito dos infractores, a consciência da ilicitude de seu comportamento.
Diga-se, por último, que o empolamento dado ao caso pela comunicação social pode bem vir a ter o efeito perverso de transformar em anedótico um assunto que é sério. É o que eu sinto e exprimo com o título dado a este apontamento.

1 comentário:

MFerrer disse...

Sério, assunto sério ?
Mas este país é como dizia Filipe II de Castela: Não se governa nem se deixa governar!
De facto até leio por aí uns quantos iluminados que consideram desprezível quer o apoio à comunidade portuguesa na Venezuela, quer a protecção de fontes economicamente viáveis e interessantes para continuarmos a consumir petróleo !
Isto para não falar da exportação de bens alimentares e da nossa tecnologia na área da produção de energia renovável. Exportação que tem como contrapartida os postos d etrabalho em Portugal.
Nada demove estes desordeiros de jornalistas de sarjeta!
O que interessa discutir é literalmente uma nuvem de fumo, certamente para evitar deixar de facto ver quais são os nossos interesses!
MFerrer
http://homem-ao-mar.blogspot.com